quarta-feira, 30 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)


Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > 1964 > Croquis da Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964) .... "A designada Ilha do Como é, na realidade, constituída por 3 ilhas: Caiar, Como e Catunco mas que formam na prática um todo, já que a separação entre elas é feita por canais relativamente estreitos e apenas na maré-cheia essa separação é notória". O Mário Dias, que participou na Operação Tridente, desenhou este croquis com base na carta da província da Guiné (1961). A vermelho, aparece assinalada a famosa Casa Brandão que esteve no centro da batalha da Ilha do Como, uma batalha mítica para o PAIGC e para a sua máquina de propaganda (LG).


Infogravura: © Mário Dias (2005). Direitos reservados.


1. Mensagem enviada por Gilda Bras:

Muito boa tarde,

Parabéns pela vossa página, pois ajudou-me a descobrir que a família que eu procuro há mais de 35 anos, foi importante para a formação da Guiné.

Não sei se alguém me pode ajudar, eu gostava de encontrar familiares do Afonso Pinho Brandão e Manuel Pinho Brandão, comerciantes importantes na Guiné na altura da Guerra (1).

Sou filha do Afonso Pinho Brandão, chamo-me Gilda Pinho Brandão. Se me puderem ajudar, podem fazê-lo para o meu e-mail.

Muito obrigada e continuem com o vosso bom trabalho.

Cumprimentos


Gilda Brás

2. Minha querida:

Dois dos nossos camaradas que estiveram na Ilha do Como e em Catió, têm apontamentos sobre a família Pinho Brandão. Pelo que presumo das suas palavras, o Afonso e o Manuel Pinho Brandão seriam irmãos. É isso ? Será que estamos a falar da mesma família ? Julgo que sim. Pode ser que que os nossos camaradas Mário Dias e Mendes Gomes possam acrescentar algo mais sobre estes importantes comerciantes e proprietários da Região de Tombali. Obrigado pela simpática apreciação que faz do nosso blogue. Apareça sempre. Saudações. Luís Graça & Camaradas da Guiné.

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Nota de L.G.

(1) Há várias referências no nosso blogue à Casa Brandão e à figura, já então lendária, do comerciante Manuel Pinho Brandão, da Ilha do Como. Vd. posts sobre a batalha da Ilha do Como (1964):

17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964) (Carlos Fortunato / Mário Dias)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

(...) "[A Ilha do Como] não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou por outra qualquer embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha" (...)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

(...) "A tabanca de Cauane, bem como as restantes, estava praticamente destruída assim como a casa do comerciante Brandão, ali bem próxima. Meses antes, já a aviação havia actuado na ilha bombardeando e destruindo todas as instalações que pudessem ser proveitosas ao IN. Recordo-me ainda de assistir no QG em Santa Luzia, onde ocasionalmente me encontrava, aos protestos do referido Brandão por lhe terem escavacado tudo quanto possuía no Como" (...).

(...) "Um dos pontos que pretendíamos dominar era a picada que, partindo das imediações da casa Brandão, seguia para Norte em direcção a Cassaca e Cachil. Tarefa difícil pois o inimigo tinha instaladas à entrada da mata metralhadoras no enfiamento da picada. No dia 23 o grupo de comandos reforçado com uma secção da CCAV 488 e uma secção de fuzileiros dirigiu-se ao local para tentar alcançar e destruir as metralhadoras. Escondidos na casa Brandão, fomos progredindo de um e outro lado do ourique. Porém, ao chegarmos junto ao rio que atravessa a bolanha tínhamos que subir para o ourique e passar por umas tábuas que faziam de ponte. Como era de esperar, as metralhadoras entraram em funcionamento. Zás. Tudo a saltar de novo para o desnível do ourique" (...).

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)

(...) "Passagem e pequena paragem na tabanca de Cauane, troca de informações com o comandante da CCAV 488, dono da casa, e iniciámos a penetração na mata à 1 hora do dia 21, partindo da casa Brandão. Reacção do IN?...nenhuma. Progredimos até Cassaca que foi alcançada às 02H30. Feita uma batida cuidadosa à região, encontraram-se a Norte algumas casas de mato quase destruídas e há muito abandonadas" (...).

15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)

Há também uma referência a um outro (?) Brandão, de Ganjola, região de Catió, e que é aqui soberbamente evocado pelo nosso camarada Mendes Gomes:


22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira


(...) "Sete e Meio era o nome dado à casa que albergava os alferes da companhia de intervenção e mais alguns dos felizardos, residentes com o comando do batalhão (...).

"Era a casa do enfermeiro de antes da guerra. Como aconteceu a tantos outros, foi obrigado a cedê-la, de aquartelamento, aos militares.

"Uma pequena moradia, em cimento armado e tijolo, como as que se encontravam em qualquer parte da metrópole, ali, era um palacete de luxo, aos olhos dos indígenas das rudes tabancas de palha. Uma sala comum, quatro quartos e uma casa de banho, dava a sensação de estadia romanesca, para um aventureiro que viesse fazer uma caçada nas cerradas matas tropicais, ali ao pé.

"Era-nos fácil imaginar, com sadia cobiça, a deliciosa época da vida colonial, de antes da guerra, para os felizardos, a quem a sorte, em boa hora, escorraçara, com a pena de desterro, por feitos heterodoxos à moral reinante das gentes da metrópole.

"Era o caso do Sr. Brandão, de Ganjola, a quinze km de Catió, um injustiçado lavrador das terras de Arouca. Ali vivia há dezenas de anos, por assassínio, cometido numa das romarias da Senhora da Mó. No meio dos folguedos e romarias, por vezes, acertavam-se contas atrasadas, duma qualquer hora de desavença, mesmo no fim da missa domingueira.

"O Sr. Brandão, agora, era um velhote, rodeado de filhos e netos que foi gerando, ao sabor das madrugadas de batuque e da liberdade de escolha, sem custos, entre as mais viçosas bajudas da tabanca…

"Uma negra, velha, mas de rosto e olhar, ainda iluminados por olhos meigos, como a sua voz, doce, era a predilecta, de sempre. Seu nome, Sexta-Feira. Soava bem aos ouvidos dos falares balantas, fulas ou mandingas. Era ela quem lhe tratava das tarefas caseiras. Dedicada. Sem nada cobrar, para além do breve e malicioso sorriso do velho Brandão, quando lhe despontava o desejo do seu corpo, negro, sem idade. Podia despontar a qualquer hora. Sexta-Feira ali estava, sempre dócil e submissa.

"Uma loja farta de tudo o que chegava na carreira regular das barcaças de Bissau. Os lindos panos de cor garrida e os gordos cordões reluzentes, de fantasia, com que as negras tanto gostavam de se enfeitar.

"O vinho tinto da metrópole era o regalo dos ociosos negros, de rostos engelhados e curtidos pelo álcool, pela tarde fora, a par da cachaça de coco.O saboroso bacalhau, curado nas míticas secas da Figueira da Foz e Aveiro, tão apreciado e toda a sorte de ferragens eram tudo o que aguçava o desejo daquelas gentes, para a troca do arroz, milho, mandioca, galinhas e demais produtos que, em cortejo lento e constante, pelas picadas entre as frondosas matas, traziam em açafates, à cabeça.O preço era feito, à medida da vontade gulosa do velho, matreiro e bem afortunado, Brandão.

"Dizia-se que tinha metade das terras de Arouca… não fosse o diabo tecê-las. Ali, vivia, pacatamente, como se não houvesse guerra, numa típica mansão colonial, de um piso sobreelevado, com um varandim a toda a volta, com as dependências necessárias à farta panóplia de utensílios, alfaias e mercadoria.

"Ficava mesmo ao pé [do rio], rico de peixe, onde, infalivelmente, chegavam, em cada dia, as marés vivas capazes de lhe movimentar, de graça, os prodigiosos moinhos com que moía os cereais abundantes.

"Conhecia toda a gente, naquelas paragens, incluindo os turras, a quem pagava, com simpatia, os devidos tributos de guerra…quando não era o fornecimento das informações sobre os últimos planos de operações que, por artes obscuras, ali chegavam aos ouvidos bem afilados.

"Aquele sítio era estratégico e crucial. Por isso, um pelotão reforçado com uma metralhadora pesada, destacado de Catió, disputava-lhe os largos aposentos, como guarda avançada e tampão às possíveis arremetidas que os turras poderiam desfechar sobre Catió" (...).

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