quinta-feira, 17 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2768: Pensar em voz alta (Torcato Mendonça) (10): A nossa por vezes difícil mas sempre boa con(v)ivência

Vendas Novas > Escola Prática de Artilharia > Meados dos anos 60 > "Cadetes em Vendas Novas limpam armas em tempo de paz", diz laconicamente o Mendonça, ou melhor, o José, ou talvez o Silva, ou muito simplesmente o Torcato, o nosso Torcato... Citando um velho provérbio popular, ele sabe, melhor do que ninguém, que O dente morde na língua mas mesmo assim vivem juntos... (LG)

Vendas Novas ? Do tempo de tropa do pai do Torcato, imagino... "Anos 40? Ford Canada? Ainda as havia no meu tempo. Tinham a embraiagem ou acelerador fora do sítio habitual" (TM)... Julgo que na Guiné se chamavam Matadores e serviam, para além do transporte de carne para canhão (fui num do Xime a Contuboel, carregado de periquitos, no 2 de Junho de 1969, se bem me lembro), para rebocar os nossos velhos obuses da II Guerra Mundial... Terão desaparecido com a vinda das Berliet do Tramagal (LG)

Fotos: © Torcato Mendonça (2008). Direitos reservados


1. Mensagem do Torcato Mendonça, com data de 26 de Março último:

Caros Editores:

Anexo texto Pensa em Voz Alta - C; a merecer mais título de Mentes Perturbadas… Mexer na água com a mão faz ondas… Para quê ? Com pedrinha faz círculos concêntricos, todos iguais... Não quer dizer que mereça leitura atenta e menos ainda publicação. Sai pela bolha e toque de tecla.

Envio 8 fotos, divididas por três ou quatro mensagens [Artilharia 2, 3, 4 e 5]. Uma é de Vendas Novas e as outras dos anos quarenta.

Gostava de saber que raio de Peças e Obuses são estes. O Coronel Nuno Rubim sabe. Dizem-me algo as fotos. Questões afectivas. Vai breve legenda.

Agradeço, isso sim, que um de vós me diga – recebido.

Bem hajam

Um abraço,
Torcato Mendonça
Fundão


2. Pensar em Voz Alta - C
(O título do poste é da responsabilidade do editor, L.G.)

Pensa, pensa em voz baixa, deves concordar, aplaudir, louvar, enaltecer. Pensa, pensa mas guarda para ti. Se o não fizeres, ao menos bate palmas, ri, mostra a alegria própria dos teus verdes anos. Felizardo, sim tu que neste País vives. Felizardo. Tens o Benfica, uma canção que é nacional, uma Santa que olha por nós, por todos nós.

Quantos anos tens? Nem vinte... dezoito… não dizes? Olhas para onde? … Pareces olhar o vazio. Porquê? A tua geração não pode pensar em voz alta… para quê? Outros por ela o fazem, deixa-te disso. Cala-te e deixa o resto para os outros. O quê? A tua geração quê? Queriam castrá-la? Como assim, meu parvo… não podias falar, pensar em voz alta… para quê, macaquinho, não tens a mente perturbada…pois é isso…felizardos e ingratos…hein!...

Passa uma, duas, três décadas e hoje, pensar em voz alta é como respirar. Aceitar a opinião diversa é (ou tem que ser? – ou começa a ser e a não ser?) a normalidade. Na pluralidade e diversidade de opiniões será encontrada a razão, o rumo certo, a liberdade da vivência colectiva, depois de salutarmente debatida e aceite...

Não aqui, neste espaço plural, ou por isso mesmo aqui, neste espaço de Camaradas de outrora, porque não de agora, em busca do Rumo, do Caminho consensual de uma vivência comum, por todos vivida fortemente, mesmo em tempos ligeiramente diferentes.

Essa vivência comum que os une é a Guiné, a guerra colonial ou do ultramar em consonância ainda não completa e unanimemente aceite. Ou, para outros, guerra de libertação, será que foi? Será que já terminou? Será que falhou esse desígnio?

Talvez a Paz não seja sinónimo de Libertação, aqui ou lá, em maior justiça social, maior desenvolvimento, menores assimetrias ou a não existência de um fosso tão grande entre o Povo (de lá e de cá? ou só de lá? porque não de cá?) e as ditas elites dirigentes. Conjugado de dirigir: Há ainda a conjugação com digerir …outra estória…

Curiosamente há muitos anos atrás um homem compreendeu, brilhantemente, porque sendo de lá, foi educado cá, conheceu estas gentes, como no futuro, logo a seguir, melhor conheceu as gentes de lá, a sua gente. Anos depois diria: não faço guerra ao povo de lá, (ao de cá), faço aos políticos, à sua politica colonial. Esperto o homem de lá, conhecedor do povo de cá, pois alguns, os mais jovens, estavam em passagem curta e sofrida pela sua terra. Aplicava um sofisma mas, mesmo assim, a deixar marcas. Politíco a saber aplicar os seus conhecimentos. Discordamos dele lá e, mesmo depois de melhor conhecer o seu pensamento, cá. Não discordamos totalmente, é certo e respeitamos a sua memória.

Morreu precocemente, o homem. Não viu, o seu povo, o de lá e mesmo o de cá a gritar liberdade. Seria diferente, certamente muito diferente, a vida em liberdade do seu povo se ele tivesse sobrevivido. Porque não o de cá… e há liberdade, cá ou lá, hoje, como ele a sonhou, ontem, cá e lá? … Dúvidas e incertezas, muitas…

Hoje penso em voz alta, respeitando a pluralidade do pensamento e livre expressão de outros. Assim vou aceitando, reflectindo e buscando o caminho desejado… É pena certas marcas do meu passado, certa má formação, difícil ou impossível de modificar. Não esquecer, não saber esquecer e, menos ainda perdoar... Irrelevante para quase todos ou todos... Irrelevante…

Posso é pensar em voz alta e assim:

1 – Prefiro repetir-me. Já falei da nossa Memória como Povo. É difícil viver sem conhecer e debater o nosso passado. Não pretendo recuar oito séculos, nem cinco para falar dos descobrimentos ou da exploração de terras de chegada, desbravadas, conquistadas em nome da fé, da civilização e, porque não, de muita pouca-vergonha. Outros, de forma diferente, mais agressivos e aguerridos, mais preocupados com o cofre e menos ainda, do que nós, com as gentes, nem sabemos se terão tratado da memória. Talvez não. A soberba da grande potência inibe certamente essa preocupação. Coisas menores… foram-se dessas terras mais cedo, compreendendo o processo evolutivo da história mas sempre foram ficando ou regressaram, aos poucos, de forma diferente para um neocolonialismo aceite ou consentido...

Nós nem por isso… temos regressos de afectos e parcerias. Sem querer desviamo-nos.

Devemos debater, tentar compreender o fim do Império. Fundamentalmente é isso que aqui nos interessa. Talvez tenha um certo interesse. Talvez evite o avolumar de certas tensões, incompreensões, só fruto da falta da busca do consenso – debatido e aceite.

Não para justificar uma qualquer verdade histórica. Trabalho para Historiadores. Não. Procuremos somente gerar consensos e ao tratarmos dessa Memória(s), da nossa memória, sintamos orgulho de nós como Povo.

Não sintamos qualquer vergonha como antigos combatentes em guerra de uma dúzia de anos. Porquê? Por alguns excessos? Mas guerra é guerra e existem sempre excessos, de ambos os lados. Um ataque a uma povoação com morte de civis versus uma emboscada, tipo Quirafo, feita pelo outro contendor? Diferenças?! Quantas gentes de lá, fulas, mandingas, balantas…foram por nós salvas. Quantos os que, lutando ao nosso lado, sofreram mais tarde, após a independência, fortes represálias.

Ouvimos há dias o relato de um Militar que prefere salvar soldados e populações. Como classificar? Como compreender o desejo dos seus compatriotas, Libertadores, prontos a tudo arrasar… guerra é guerra e assim se justifica….

2 – Ainda é cedo para falar do recente Simpósio de Guileje pois aos poucos ainda se juntam elementos. Certo é que se abriu uma porta de futuro. Não acrescentamos mais nada… Esperamos.

3 – Continuemos a pensar em voz alta nuns pontos mais… Talvez um intervalo seja preferível… Isso, façamos um intervalo, um voto e um desejo:

- Que os Guineenses encontrem a Paz e o Desenvolvimento que ambicionam e merecem;

- Que nós, antigos combatentes, não nos sintamos – menos ainda admitamos – que alguns tenham a veleidade de nos querer colocar no lado errado da história. Combatemos envergando a farda do Nosso País.

Parece haver incongruência. Não!

Reflictamos lentamente, de quando em vez no intervalo das estórias... Talvez assim se encontrem muitas respostas a tanta questão levantada… E aceitemos a diversidade de opiniões, fazendo a crítica que julguemos estar correcta…

(continua... um dia, melhor, numa noite de insónia...)

_________

Nota dos editores:

(1) Vd. último poste desta série:

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2758: Blogoterapia (47): Pensar em voz alta... O tédio que às vezes nos invade (Torcato Mendonça / Carlos Vinhal / Virgínio Briote)

O Torcato deixou lá o seguinte comentário:

Abri e oh...o Narciso, o grego da mitologia, como aqui se lastimava não sei quem. Sou de facto eu, não um jovem turco, menos narciso mas sim um parolo em Fá, no início de comissão, roncos, peles e artefactos junto a abrigo de adorno. O que tenho ao pescoço acompanha-me há 40 anos(agora no saco). Os abrigos de Mansambo era á prova de canhão. Caí da cama mas tudo bem (ver o Mosquiteiro-salvo erro). O Torcato anda triste com a morte do José. Mas o SILVA deve chegar amanhã a Fá...já saiu de Bissau. Tudo para dizer:Isto eram conversas demasiado intimistas e não esperava a publicação. Saiu. Os Editores são soberanos e eu, como facilmente se constata, continuo apanhado. AB doTM

2 comentários:

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