segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3661: Blogoterapia (84): Vai-te embora, tuga dum carago! (José Teixeira)

1.Mensagem do José Teixeira, com data de 21 de Dezembro:


Querido amigo Luís.

És um chatarrão (não sei se vem no dicionário) do carago, mas amigo de coração (*).

Então, desde que tive o grato prazer de conhecer a tua Alice no QG de Bissau, agora com o nome pomposo de hotel 24 de Setembro (nem de propósito), ainda mais preso a vocês, fiquei.

Admiro a tua garra e teimosia e agora a tua /vossa (os três bloguistas mor) em manterem esta chama blogosférica acesa, contra alguns ventos e marés (poucos, felizmente). É um ninho permanente de novidades verdadeiramente vividas e sentidas. São histórias de arrepiar, que muitas vezes fazem o coração tremer e as lágrimas teimosas descerem pela face, apesar de tantos anos se terem passado, já. São um reviver da nossa própria história, quando ouvíamos o estrondo da saída, lá longe. reflexo de alguém que me gritava no mato:
- Tuga, vai-te embora !

Vou tentando dar o meu singelo contributo. Sou só e apenas, alguém, que esforça para que a nossa história seja contada pelos nós próprios. A história dos combatentes por uma Guiné que os senhores do poder de então queriam que fosse portuguesa à força das armas e se serviam do melhor tesouro de Portugal (o verdadeiro, com mais de 900 anos de história),a juventude para abafar a força da razão de um povo - o direito a ser livre e condutor do seu próprio destino, nem que esse destino fosse o caminhar para um inferno. Seria correcto, sim, procurar dar-lhe condições para eles, os naturais da Guiné, evoluirem culturalmente, política e economicamente para o grande passo, tal com nós, os que somos pais, fazemos com muito amor, dedicação, carinho e sacrificio para com os nossos filhos.

Essa história foi vivida por nós, é nossa (**).

É urgente que a contemos antes de passarmos para o outro lado da vida e já faltou mais do o que falta agora. Assim estamos a evitar que a nossa história a verdadeira, porque vivida no terreno e sentida na vida seja construida na base da corrente politica que impere na altura em que algum historiador /inventor, tente passar ao papel a sua interpretação histórica dos nossos gestos e actos.

Será que não os vemos já por aí, a insultar-nos, chamarem-nos cobardes e até a perguntarem porque é que fomos, se não queríamos defender a dita (sua) pátria - Portugal pluri-continental e pluri-racial à força, esquecendo-se que havia um Estado totalitário, que nos impunha um único caminho - Carne para canhão ou fuga para o estrangeiro com o anátema de cobarde ou de traidor à pátria.

Os nosso filhos, os nossos netos e vindouros que irão perpetuar o nosso sangue, não podem ficar a navegar nas águas da mentira histórica que é construída de acordo com os ventos políticos que na altura (data) correrão. Não nos podemos demitir, agora que temos na mão os meios possíveis para o fazer. Bem hajas pela coragem que tiveste em arrancar com este projecto que ficará, não tenho dúvidas na História de Portugal e será no futuro uma fonte grandiosa de pesquisa e estudo. Fonte verdadeira, que não permitirá extrapolações ou deturpações da nossa verdadeira história.

Por tudo isto, vou escrevendo umas asneiras, que vocês dão a lume, com tanto carinho que me deixam deslumbrado e, porque não, um pouco vaidoso.

Luís amigo, espero que tenhais uma boa viagem até à terra dos morcões que o Natal seja verdadeiramente Natal para todos quantos vos são queridos e aguardo o prazer de vos Ver na Madalena nos próximos dias.

AS melhoras da Alice para que possa comer umas rabanaditas, carago !

Fraternal abraço do
José Teixeira

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 19 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3652: Blogoterapia (83): Voltamos a pôr a Ana (e o José...) a sorrir, na nossa fotogaleria (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3651: Estórias do Zé Teixeira (31): Um Pide, um marabu e um balanta de Bula que se converte ao Islamismo (José Teixeira)


(...) Comentário de L.G.:

Grande Zé! Que em 2009 a gente possa fazer uma festinha, na Tabanca de Matosinhos, para comemorar o lançamento do teu primeiro livro de contos!Quem te deu esse talento, meu morcão ?Hoje não vou estar aí, com muita pena minha, mas olha, dá uma cópia do meu "Poemombro ou um ombro amigo" a quem sentires mais em baixo, mais triste ou mais cansado da vida... São os meus dois cêntimos para a festa da Tabanca de Matosinhos. Diz à malta que eu fico a roer as unhas de pena (e de inveja) por não poder estar aí vocês todos, como ainda planeei...Alice tem estado adoentada... Devo chegar só à tarde, no sábado, e vou primeiro direito à aldeia (Candoz)... Passo o Natal na Madalena. A gente há-de se ver...Luís

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro josé Teixeira
Bato palmas às tuas palavras e faço votos para que em 2009 novos camaradas apareçam a contar o seu passado, naquele "cantinho" que também é "à beira mar plantado".
Quantos mais aparecerem, tantos mais testemunhos ficarão para o futuro, duma época de sofrimento, de tanto esforço e meios desperdiçados (que poderiam e deveriam ter sido usados para desenvolvimento do "nosso cantinho"), mas também demonstrativo do grande valor de todos aqueles que se bateram, tantos com sacrifício das próprias vidas e, sabe-se lá quantos, sem saberem qual a razão...~
Um grande abraço
Jorge Picado