sábado, 18 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4205: In Memoriam (19): António Ferreira, 1.º Cabo TRMS da CCAÇ 3490, morto em combate no dia 17 de Abril de 1972 (Cátia Félix)

António Ferreira, 1.º Cabo TRMS da CCAÇ 3490, falecido em combate no dia 17 de Abril de 1972, durante uma emboscada no Quirafo.

1. Normalmente costumo apresentar, à esquerda dos postes, uma foto de um jovem militar, garboso, cheio de pose, independente do seu posto militar, porque isso não foi o mais importante para cada um de nós, e à direita um velhote, entradote, nos sessentas, a maioria das vezes, pai e avô.

Desta vez, se à esquerda aparece um militar com a mesma pose altiva, aparece do lado direito a mesma foto, mas... emoldurada com um rendilhado de metal e extraída de uma lápide de cemitério. Nunca tal me havia acontecido.

Este camarada nem sequer teve uma morte natural, se é que morrer aos vinte anos é natural, mas morreu violentamente, vítima de uma guerra que não provocou nem para a qual se ofereceu como voluntário, com o fito de ganhar principesco ordenado.

Feito este desabafo, neste domingo triste e chuvoso, passemos à cerimónia ontem acontecida, na passagem dos 37 anos da emboscada do Quirafo, no Cemitério de Águas Santas, Maia, em memória do nosso camarada António Ferreira.

Que a homenagem de ontem, fosse não só em memória do António Ferreira, mas de todos os nossos camaradas que perderam a sua vida ao serviço do país, na Guerra Colonial. Uma coisa foi a justeza da guerra, discutível, outra o cumprimento do dever para com Portugal.
CV


2. Mensagem da nossa jovem amiga Cátia Félix, datada de 17 de Abril de 2009:

Olá Amigos

O dia de hoje, passado 37 anos da fatídica Tragédia do Quirafo, ficará na memória de muitos como recordação de um dia cheio de amor, paz, amizade, camaradagem... ao contrário de há 37 anos atrás...

Eram 16h e eu, a Cidália e a filha chegavamos ao Cemitério de Águas Santas. Mal entramos na rua principal vemos ao longe um Batalhão de homens. O nosso coração tremeu... O desejo da Cidália iria agora tornar-se realidade. Juntar os camaradas do malugrado Ferreira e fazer a sua devida homenagem, a ele que morreu na emboscada do Quirafo, a todos os militares que não regressaram aos seus lares, aos que continuam entre nós... Apresentações feitas, rumamos juntos até ao talhão reservado a militares da Guerra Colonial naquele cemitério, onde também está António Ferreira.

Camaradas de guerra presentes, representando também os que não estavam entre nós, depositaram sob a campa uma bonita coroa de flores. Acenderam-se velas, deu-se o devido Alfa Bravo e, todos juntos falamos um pouco de toda esta história.

Como sugerido pelo Luís Graça, todos fizemos um minuto de silêncio em homenagem a todos os combatentes que perderam as suas vidas na Guerra Colonial. Digo-vos que esse minuto, sem ninguém contar, ficou marcado pelo tocar dos sinos...
Correram lágrimas...

No fim do merecido reconhecimento, todos abraçamos a Cidália e, os Camaradas presentes entregaram-lhe uma moldura com uma fotografia da Tabanca do Saltinho (penso eu...).

Todos juntos conseguimos que esta Senhora e a sua família enterrassem todas as interrogações que a vinham assombrando durante todos estes anos.

Assim passou 1 hora... Como ainda faltava algum tempo, juntamo-nos perto da Igreja do Marquês.
A missa que aí foi realizada por voltas das 19h15 encerrou dignamente o drama até então vivido.

Amigos, o vosso acto foi NOBRE e, não me canso de agradecer (também em nome da Cidália) tudo o que fizeram.
Pode-vos parecer estranho, mas o sentimento que nutro por todos vós é como o de uma 2.ª família para mim. Que apesar de vos ter conhecido por uma triste razão, foi das melhores coisas que me aconteceram ultimamente.

Irei fazer questão de no dia em que terminar o meu custoso curso de Ciências Farmacêuticas, estejam ao meu lado e me possam "dar 3 fortes bengaladas na minha cartola".

Alguns dos camaradas tiraram fotos do dia de hoje, que certamente chegarão em breve a vós. Se puderem publicá-las no blog, como o encerrar de tudo, ficaria muito grata.

Encerra-se uma história mas não se vão ver livres de mim. Estarei sempre presente na nossa Tabanca Grande e também na Pequena Tabanca de Matosinhos.

Despeço-me por hoje!

Um beijinho
Cátia

Campa de António Ferreira sita no Talhão dos Combatentes falecidos na Guerra Colonial

A jovem Cátia Félix, presta a sua homenagem ao amigo que não conheceu

Alguns dos presentes na cerimónia no cemitério de Águas Santas, Maia

Fotos: © Maria Luís Santiago (2009). Direitos reservados

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4199: In Memoriam (18): Francisco Gomes Nabais, morto por afogamento no Rio Geba, Bafatá, 13/4/65 (José Colaço / Francisco dos Santos)

2 comentários:

paulo santiago disse...

Camaradas
Só uma adenda à msg da Cátia.A foto
entregue à Cidália,assinada nas
costas pelos presentes,é uma foto,
já publicada no blogue, onde se vê,
em primeiro plano,a parada do
quartel com a Bandeira no mastro,e
ao fundo o rio Corubal.Como foi
escrito nas costas da moldura,é o
local onde o Ferreira passou os
meses de Março/abril/72 e de onde
partiu para a viagem eterna.
Abraço a todos

Anónimo disse...

Não tendo estado presente, mas "agarrado" ao computador quando ocorria parte desta
homenagem prestada a um dos muitos que deixaram as suas esperanças naquelas paragens, também me mantive silencioso e em respeito, associando-me assim ao evento.
Não posso deixar de admirar o belo gesto desta jovem, nossa companheira de Tabanca, que em nada se identifica com os "actuais valores da juventude de agora", sempre tão frívolos e desumanizados.
Que a vida te dê tudo de bom, Cátia, são os meus votos.
Abraços
Jorge Picado