quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Guiné 53/74 - P5172: Estórias cabralianas (56): Cum caneco, alfero apanhado à unha! (Jorge Cabral)

Um caneco que ainda vai fazer furor entre as bajudas da Guiné-Bissau, na próxima incarnação dos guerreiros do Império: "Kiss me, I'm an Alfero" [Beija-me, sou um Alfero]...

Foto: © Jorge Cabral (2009). Direitos reservados.


1. Mensagem de Jorge Cabral (que já não precisa de apresentações ao fim destes anos todos, é como o meu velhote, que é o sócio nº 1 do Sporting Clube Lourinhanense, por morte de todos os outros gajos que eram mais importantes do que ele):

Amigos!

Uma 'estória' que fala em apanhados à mão, mas que nada tem a ver com o Anónimo de Pirada! Talvez tenha sim, com os Pirados de Missirá...

Abraços Grandes

Jorge Cabral


PS - Quando voltar à Guiné, em vez dos 'corpinhos' (*), vou oferecer às Bajudas, estas belas canecas


2. Estórias cabralianas (**) > Alfero apanhado à mão
por Jorge Cabral


Alferes apanhado à mão? Helicópteros e Cavalaria Turra?

Há uns dias telefonou-me o nosso Amigo Durães [, da CCS/do BART 2917, Bambadinca, 1970/72]. Estava em Setúbal, com um ex-cabo do Pelotão de Intendência de Bambadinca, o qual lhe jurava que o Alferes Cabral de Missirá havia sido, em 1971, apanhado à mão, quando regressava ao seu Destacamento.

Desaparecido durante dias, fora muito bem tratado pelo pessoal de Madina, passando a não ser incomodado pelos Turras. Garantia o homem da Intendência, a absoluta veracidade do evento, conhecido por todos os seus Camaradas. Queria o Durães saber se eu confirmava o facto.

Aqui, muito entre nós, confesso que hesitei na resposta. Que bela 'estória'! Podia aproveitar e descrever umas bem regadas churrascadas com o Comandante Corca Só (***) e talvez mesmo uns serões de striptease balanta…

Mitos, lendas, ficções. Por mim, tudo bem. Também fazem parte da História…

Não observaram os meus soldados, aviões e até helicópteros turras? Contra os quais aliás, descarregavam as G-3, num esforço tão absurdo quanto inglório.

E como em Missirá se exagerava sempre, chegaram a ouvir durante a noite ruídos próprios de Tanques, para os lados de Salá. A Cavalaria Blindada Turra em manobras, garanti eu, tendo no entanto recusado ensaiar umas morteiradas como me pediram insistentemente.

Quase no fim da Comissão, cheguei a ir a Madina com os Páras, e entrei mesmo na Base, pois os Guerrilheiros retiraram, indo montar uma emboscada, que me apanhou no meio da CCaç 12, a caminho do Enxalé.

Tendo ido sem o Pelotão, quando voltei a Missirá fui objecto da curiosidade de todo o Pessoal.
- Como era? E os Tanques?
- Claro que os vi - assegurei - Dois soviéticos, um chinês e quatro cubanos…

Veículos na Base? Encontrei pois, duas bicicletas…

Jorge Cabral

2. Comentário de L.G.:

A cabraliana, a estória cabraliana, é já um género literário, reconhecido e estudado na Universidade. Daqui uns anos alguém fará douramentos sobre este material altamente revelador da dissonância cognitiva e falta de alinhamento dos bandos que, na Guiné, por detrás do arame farpado, defendiam a honra da Pátria (Bruno dixit)...

Como se pode deduzir da leitura de mais esta cabraliana, o boato (desmoralizante) tinha um efeito dissolvente no moral das nossos tropas, como um dia opinou um PIDE/DGS à minha frente, no Café do Teófilo, em Bafatá. Como é possível imaginar o nosso Cabral, o único, o verdadeiro (porque o outro era um renegado...) (***), apanhado à unha e depois em altos conciliábulos e quiçá orgias com o Corca Só e a sua corja de Madina/Belel ?!...

Ainda bem que o Cabral tem, por fim, a oportunidade histórica e soberana de , aqui, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, de lavar a sua honra e reafirmar o seu impoluto patriotismo. A guerra da Guiné foi demasiado real para a gente sequer poder ficcioná-la ou fazer humor negro, com ela, com os seus heróis e com as suas vítimas.
__________

Notas de L.G.:

(*) Sutiãs: vd. 16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

(**) Vd. último poste desta série > 17 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5117: Estórias cabralianas (55): Marqueses e murquesas ou... Peludas e Peluda... (Jorge Cabral)

4 de Julho de 2006 >Guiné 63/74 - P935: Porque não me mataram ou apanharam à mão em Missirá ? (Jorge Cabral, Pel Caç Nat 63)

(***) Corca Só: Comandante das forças do PAIGC, na 'base' de Madina / Belel, a noroeste de Missirá, a norte do Rio Geba, já no limite do Sector 1, nos finais de 1960 e princípios de 1971...

Vd. poste de 22 de Novembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2294: De Madina para Missirá... com amor: a mina da despedida (Luís Graça / Humberto Reis / Beja Santos)

(...) Na véspera de sair do destacamento de Missirá, com os seus homens do Pel Caç Nat 52 - para ser colocado em Bambadinca, sede do BCAÇ 2852 (1968/70) - o Alf Mil Mário Beja Santos é vítima de uma mina anticarro, no percurso de regresso a casa, na estrada Finete-Missirá, perto de Canturé... Ele e mais duas secções (...)

Diz a lenda que a mina era para o Beja Santos e trazia um bilhete do Corca Só, o comandante da base do PAIGC em Madina/Belel... Nunca ninguém leu o alegado bilhete, pregado numa árvore e que se terá volatizado... Mas se o Corca Só fosse um verdadeiro cavalheiro e conhecesse os romances e/ou os filmes da série James Bond - o que era de todo improvável - teria escrito, ao melhor estilo da luta de libertação, o seguinte bilhete: 'De Madina para Missirá... com amor' . (...)


Vd. também:

16 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2270: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (9): E de súbito uma explosão, uma emboscada, um caos...

24 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P905: A morte na estrada Finete-Missirá ou um homem com a cabeça a prémio (Luís Graça)

26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P911: Uma mina para o 'tigre de Missirá' (Luís Graça)(...)

(...) Era voz corrente que o Beja Santos, conhecido entre os seus camaradas milicianos como o Tigre de Missirá, tinha a cabeça a prémio no regulado do Cuor... Exagero ou não, o próprio Beja Santos reconhece publicamente este facto (...) (Vd. post de 24 de Junho de 2006): A 15 de Outubro devíamos ter regressado mais cedo. O Comandante local do PAIGC, Corca Só, já me tinha ameaçado de morte, tendo mesmo deixado um bilhete na estrada. Saímos tardíssimo de Finete, o sol a cair a pique, como acontece nos trópicos (...).


(***) Vd. postes de:

10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4403 - P4494: A Tabanca Grande no 10 de Unho de 2009 (2): Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum (Luís Graça)

4 de Julho de 2006 >Guiné 63/74 - P935: Porque não me mataram ou apanharam à mão em Missirá ? (Jorge Cabral, Pel Caç Nat 63)

3 comentários:

Joaquim Mexia Alves disse...

Ó Jorge...à mão!!!

Bem conforme a mão que fosse e o corpo a que estivesse agarrada, um gajo lá se poderia deixar apanhar!!!

Abraço camarigo

José Marcelino Martins disse...

Não é possível!!!!!!!
Não acredito no que vi!!!!
É mesmo verdade???????

Parabéns pelo êxito obtido!!!

(refiro-me à caneca, que o resto é possível a existência dos veículos)

José Martins

Anónimo disse...

Ganda Jorge
Com meia dúzia daquelas canecas e a tal casa em Finete, é sempre a abrir... até a barraca abana!!! Lol
Aquele abraço Henrique Matos