terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5596: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (20): Antonio Reis, ex-1º Cabo Enf, Bissau, HM 241, 1966-1968, e escritor (Rui Alexandrino Ferreira / Luís Graça)

1. Um mensagem. perdida na nossa caixa de correio, enviadaa 6 de Março de 2009, pelo nosso amigo e camarada Rui Alexandrino Ferreira (ex-Alf Mil  e ex-Cap Mil Inf, hoje, Cor na reforma, com duas comissões na Guiné: CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67, e  CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72).

Assunto - Vamos falar do António Reis

Meus caros Luis, Carlos e Briote

Mais uma vez tenho de vos felicitar pela resposta que merecia o Sr jornalista da Visão cujo nome nem sei nem quero saber. É de facto lamentavel que se fale do que se não sabe.
Em compensação acabei mesmo agora, só passou o tempo necessário para abrir o computador, de falar telefonicamente com o António Reis que prepara a 3ª edição do seu livro A minha jornada em África a que acrescentou um texto que, começando por afirmar que a guerra nunca acabou para quem nela combateu ou a viveu de verdade, termina com a constatação que quão desgraçados nós fomos.

Texto que,  não só pela actualidade do tema mas também porque me parece oportuno e vrdadeiramente espectacular,  o incentivei a mandar para o nosso blogue, onde certamente terá o seu lugar como todos nós.
Resta-me desejar para nós todos quantos se revêem na nossa tertúlia,  muita saúde e as maiores felicidades, profissionais, pessoais e familiares.

Um grande abraço do
Rui Alexandrino Ferreira

PS - O livro  [do António Reis] é uma forma de contar  a história da guerra da Guiné por quem, no Hospital Militar 241,  recebia todos os dias os combatentes feridos.


2. Comentário de L.G.:

Acabei de falar com o António Reis, ontem à noite, ao telefone. Mora e trabalha em Mafamude. Tem uma oficina de pintura cerâmica, depois de se ter reformado dos telefones de Lisboa e Porto... Com 66 anos, tem uma vida de trabalho e meio século de descontos!

Confirmou-me os dados transmitidos pelo Luís Borrega. Reconheceu-me logo, como "sulista", pelo sotaque. Estivemos mais de meia hora a falar ao telefone. É um homem loquaz e frontal. Disse-me que vai fazer uma 3ª (e última) edição da sua "Jornada de África", antes de "arrumar as botas" (sic)... Disse-lhe que ainda é cedo, que devIa continuar a escrever, que tem jeito e talento para contar histórias... E aproveitei para lhe falar do nosso blogue, que ele já conhecia de nome... (Confessa que não  é homem de blogues, nem usa Internet, não tem e-mail, mas nem por isso é...menos feliz).

Na segunda edição do seu livro, incluiu mais algumas histórias do HM 241. O livro saiu na Editora Ausência, que era (ou ainda é) do filho, Manuel Reis. Essa editora deu lugar à 7 dias 6 noites, também com sede em Vila Nova de Gaia... É a editora do nosso Manuel Bastos, Cacimbados, de que o António Reis é admirador e amigo ("Gostava de ter a garra dele para a escrita", confidencia-me..).  Também é amigo do Rui Alexandrino Ferreira. (Aliás, ele foi ele que me chamou a atenção para o mail que o Rui nos mandara em Março do ano passado, e que reproduzo acima).

O António Reis ficou muito sensibilizado com o  prefácio escrito pelo Cor Cav Mendes Paulo (já falecido) para a 2ª edição (**).  Julgo que é a este texto que se refere o Rui Ferreira, no mail acima.

Confirmou que o Dr. Fernando Garcia é de Lisboa e estava vivo, pelo menos no penúltimo Natal... Nessa ocasião falaram ao telefone. O médico vive em Lisboa, é pessoa para 70 e tal anos. O Reis lembra-se de todos os médicos, e dos seus nomes, que prestaram serviço no HM 24, no seu tempo (1966/68). Ele estava no pior sítio, que era o SO... Falou-me de outras histórias: o alferes que apanhou sete tiros e que se safou; as camisas que se "trocavam" com os mortos...(em troca, estes eram amortalhados com as camisas velhas, gastas e regastas, do pessoal do hospital)... De radiologia, lembra-se do Setúbal...

Sendo de rendição individual, não costuma ir aos convívios do pessoal do HM 241... Ninguém se conhece, são de épocas diferentes... Foi uma vez, não gostou lá muito... Em contrapartida, gosta de ir aos convívios da primeira companhia onde esteve o Alf Mil Rui Ferreira, a CCAÇ 1420 (se bem percebi, é daí que o Rui o conhece).

Enfim, vejo que temos homem! Ficou de me mandar um texto que escreveu para o jovem pároco da terra, a mostrar as diferenças entre os militares, patriotas, do seu tempo, e estes jovens que vão hoje em missões da NATO ou da ONU (Bósnia, Timor, Jugoslávia...).
- As condições são outras, completamente diferentes! Não dá para comparar, arremata ele.

Gostei muito falar com ele e prometi visitá-lo em Mafamude...

Gostei das duas últimas linhas do seu livro de histórias do HM 241: "Exteriorizei  aquilo que me ia na alma. Se alguém me quiser julgar que o faça, mas que esse juiz tenha vivido no mínimo aquilo que eu vivi" (Reis, A.- A minha Joranda em África, 1ª ed. Vila Nova de Gaia: Ed. Ausência. 1999. p. 67).

Convidei-o a juntar-se a nós, aos seus amigos e camaradas da Guiné... Entretanto, acabo de receber um telefonema do filho, Manuel Reis, a perguntar-me pela morada, pelo mail e pelo endereço do blogue. Tem um texto do pai para publicação no nosso blogue, como prometido.

Não conhece o nosso blogue mas, como editor (tem 4 editoras, Ausência, 7 Noites 6 Dias, Babel, e uma outra que não retive), tem um interesse de longa data pela literatura da guerra colonial. Afinal, cresceu a ouvir contar as histórias do pai... Falou-e de dois livros, editados por ele, o do Manuel Bastos (Cacimbados) e do Lobato Lobato (Liberdade ou Evasão, há muito esgotado e agora reeditado). Prometeu enviar-lhe outros livros das suas editores, para recensão crítica e divulgação, gentileza que desde já lhe agradeço.

Fico, pois. a aguardar o texto do António Reis e eventualmente um exemplar da 2ª edição do seu livro (que está praticamente esgotado). E espero tê-lo, ao nosso camarada, junto de nós, como membro de pleno direito da Tabanca Grande.
________________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 3 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5581: Os nossos médicos (13): Deus no céu e o Dr. Fernando Garcia... no HM 241 (António Reis / Luis Graça)

(**)  Escreve o Luís Borrega, em comentário ao poste anterior: "Conheci-o [, a ele, António Reis,] através do Major Cav João Mendes Paulo (autor do livro Elefante Dumdum), infelizmente já falecido, que era oficial de Operações do meu Batalhão (BCav 2922)".

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5426: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (19): Que emoção ouvir alguém que não se vê há 40 anos (Jorge Teixeira/Portojo)

10 comentários:

Anónimo disse...

Caro Luis Graça

Tendo sido o HM241 a unidade militar onde prestei serviço durante 24 meses e 7 dias, de junho de 68 a junho de 70, não conheci nenhum médico de nome Fernando Garcia,nem nenhum 1º cabo António Reis em SO.
Posso estar enganado.

Um Abraço
António Paiva

Anónimo disse...

Gostava de deixar aqui claro que, depois do comentário anterior sobre a obra deste camarada, contactei, por escrito, conforme indicado no sítio (site) da editora, mas nenhuma resposta obtive.

Ou está esgotada de facto...

Diz o Luis Graça que vão fazer a 3ª edição, não sei quantos exemplares teve cada uma das anteriores, mas quantas não teria se houvesse interesse em vender.

Afinal vendem-se livros em Portugal. Se o ediotr é filho do autor, tem quatro editoras e dá este tratamento à obra, é caso para dizer, é obra.
Belarmino Sardinha

Anónimo disse...

Pelos dados insertos no poste 5581, o médico terá terminado a comissão em 1967 e o autor do livro, em Março de 1968. António Paiva não teve, pois, possibilidades de os conhecer na Guiné.
Cumprimentos,
Carlos Cordeiro

Luís Graça disse...

António (Paiva):
Tens toda a razão... O outro António (Reis) esteve no HM 241 entre 1966 e 1968... Creio que acabou a comissão em Março (cito de cor). Logo tu não o apanhaste. Daí também não teres conhecido o Dr.Fernando Garcia, que deve ter regressado à Metrópole ainda em 1967... (O Reis fala, no livro, do substituto do Dr.Garcia...). Foi lapso meu, já corrigido.

Anónimo disse...

Caros
Luis e Carlos,

Os anos passam e a cabeça vai ficando mais vazia das certezas de 4o anos atrás.
Obrigado aos dois,por eu não estar errado.
São 19 horas e 05 minutos,momento em que terminei conversa telefónica com o Dr. Fernando Garcia, ficamos em marcar um encontro brevemente,moramos a curta distancia um do outro,falou-me que tem o livro do António Reis, eu é que não e gostava de saber como o posso obter.
O Dr. Fernando Garcia era de cirurgis Geral e foi substituido pelo Dr. Diaz Gonçalves que passou a chefe de cirurgia,tendo como sua enfermeira de confiança Alice Simões,que tambem já trabalhava com ele cá no Hospital de Santa Maria.

Sei que vai ser dificil lembrar de todos os médicos e especialidades,mas vamos lá fazer um esforço:

CIRURGIÕES:
Dr.DIAZ GONÇALVES C.Geral
" CAVADINHA GOMES N. Cirurgia
" SAVEDRA MACHADO C.vascular
" HERCULANO BISCAIA DA SILVA Ortopedista e Inspector Chefe do Serviço de Saúde.
" VENTURA Ortopedista
" TRIGO DE SOUSA Ortopedista
" MARTINS FERNANDES Otorrino
" DIAMANTINO LOPES não me lembro a esp.
De ESTOMATOLOGIA:
Dr. ANTÓNIO LEBRE MOREIRA DE FIGUEIREDO(a) Inspector Chefe do Serviço de Saude
Drs. ERNESTO MENDES FERRÃO, VIEIRA ALVES e MALICIA.
Serviço de Sangue:
Dr. ARLINDO BAPTISTA
Serviço de RX:
Dr. NASCIMENTO

Mais Médicos;
Drs. MAURICIO, MAYMONE MARTINS.
TRINDADE, VICTOR DE SOUSA(regressou comigo no Carvalho Araujo, onde a bordo do mesmo tivemos um trabalho bem dificil por causa do apêndice de um camarada).

Meus olhos estão vendo mais alguns, mas não consigo chegar aos nomes, cabeça está fraca.

Desde já as minhas desculpas, se entre estes nomes e especialidades, houverem erros ou falhas.

(a) Camarigo Joaquim Mexia Alves,o Dr. MOreira de Figueiredo, era médico no Hospital de Leiria,a esposa tambem é médica Drª. Helena,um casal prefeito,dois seres maravilhos,foi essa senhora que tambem deu a sua ajuda nos 4 dias de Inferno.
poderás saber alguma coisa sobre eles? Te agradeço.

Um Abraço a todos
António Paiva

Anónimo disse...

Para os camaradas a quem interesse, incluindo o António Paiva claro.

Recebi resposta ao meu pedido para aquisição do livro, por uma das editoras referidas pelo Luis Graça, 7 dias 6 noites, que me disse custar 8,50€ cada exemplar.

Desde que se envie o dinheiro ou faça transferência, eles dizem que enviam por correio. Também enviam à cobrança, mas aí acrescido de mais 3,50€, quer dizer um total de 12€.

O contacto é: info@7dias6noites.com

O NIB posso facultá-lo a quem o quiser, mas seria melhor contactarem o editor.

Espero que isto ajude.

Um abraço
Belarmino Sardinha

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro camarigo António Paiva

Conheço bastante bem o Dr Moreira de Figueiredo e a sua mulher Dra Helena.

Há já uns tempos que não o encontro, mas julgo que ainda vive em Leiria.

Para além de médico é um homem dado às artes, pois encontrava-o normalmente em exposições, inaugurações, etc.

Tanto ele como a mulher são pessoas muito estimadas aqui em Leiria.

Tentarei saber mais para te dizer, se quiseres.

Julgo até que o seu número de telefone virá na lista de Leiria, o que irei verificar.

Um abraço

Anónimo disse...

Caro Belarmino
Te agradeço a informação de como obter o livro.

Já fiz a encomenda.

Um abraço
António Paiva

Anónimo disse...

Caro Camarigo Mexia Alves,

Obrigado pela atenção que deste ao meu pedido,meu coração está mais alegre.
Se a vida me permitir dia 27 ai estarei, por duas boas causas:

Comer um cozido á portuguesa e voltar a ver 2 pessoas por quem tive muita admiração no meu tempo na guiné.
Não tenho carro,mas se daqui fôr algum camarada que me possa dar uma boleia agradeço.
Entrando com o meu contributo, claro.

Um Abraço
António Paiva

Joaquim Mexia Alves disse...

caro António Paiva

Fico contente de te ver contente!!!

Bem, atenção que Leiria fica a 16 kms de Monte Real e por isso se quiseres ver o Dr. Moreira de Figueiredo terás que arranjar maneira de o fazer e antes tentares entrar em contacto com ele.

Quanto à boleia diz-me onde vives, para não ter que ir à procura e eu coloco no blogue da Tabanca do Centro um poste falando dessa tua "necessidade".

Vou tenatr arranjar contacto do Dr. MF mas se ligares para o Hospital de Santo André, Leiria talvez te digam alguma coisa.

Abraço camarigo e ao dispor.

Podes "falar" comigo pelo meu mail joquim.alves@gmail.com

Atenção é joquim e não joaquim