segunda-feira, 12 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6720: Álbum fotográfico de João Graça (4): Uma noite memorável na terra de Kimi Djabaté, a tabanca jacanca de Tabatô


















Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15/16 de Dezembro de 2009 > Músicos, homens e mulheres, da etnia minoritária jacanca (leia-se, djacanca), da famíla de Kimi Djabaté (*), tocando os seus instrumentos (balafón, kora...), experimentando os instrumentos (violino) do outro, mostrando  a sua música, oferecendo a sua hospitalidade... Uma noite memorável que emocionou o João Graça (**), médico e músico, em viagem  pelo Leste (Bambadina, Bafatá, Contuboel, Gabu...). 

O João ficou, nessa noite, na casa dos Super Camarimba,  o conhecido grupo de música afromandinga da aldeia de Tabatô, liderado por Mamadu Baio. No seu bloco de notas, o João registou (e a foto documenta...) que na casa havia uma pele de cascavel [?], de mais ou menos 7 metros, morta um mês antes. O João irá encontrar (e tocar com) os Super Camarimba, em Bissau, dois dias depois (haveremos também de publicar as fotos desse encontro)... Eles tinham acabado de participar num festival de música... 

Esperemos que o João arranje tempo para publicar aqui as suas prometidas notas de viagem, e transmitir-nos as emoções que sentiu ao ver reunir-se à sua volta 20 músicos que tocaram e cantaram, para ele,  nessa noite... Ele retribuiu essa magnífica hospitalidade tocando também, no seu violino, música do seu reportório "world music"... 

"Eles agradeceram que um músico europeu tenha vindo a Tabatô", escreveu o João no seu bloco de notas.
De facto, "o momento da viagem [à região de Bafatá] foi a recepção em Tabatô. Inicialmente o Homem Grande (o tio do Kimi Djabaté) estava a ver TV, mas o Demba [, primo do Mamadu Baio e do Kimi,]  lá o convenceu a mostrar o estaminé, à entrada da sua casa.  Era preciso meter gasolina no gerador, mais ou menos 1000 francos (cerca de 1,5 €) para amplificar as vozes. Chegaram os balafons, o kora, os djambés,  o coro feminino"...

Na sua biografia oficiosa, na sua página pessoal, em My Space / Kimi Djabaté, diz-se que Tabatô foi uma prenda do poder reinante na região, há muitos, muitos anos atrás,  aos seus antepassados, músicos ambulantes,  que vieram do Mali...e que encantaram os seus hóspedes com a sua música... Mais obscura parece ser a história da aldeia durante o período colonial... Kimi nasceu já depois da independência, em 1975, e como muitos outros meninos africanos (e portugueses...)  conheceu a dura experiência de ter um "pai e patrão"...

Kimi Djabaté, o filho mais ilustre de Tabató, viveu aqui até aos 21 anos. Na última foto, aqui publicada (a contar de cima para baixo), vê-se o chefe da aldeia, que é tio do Kimi...

(... )Kimi Djabaté was raised in Tabato, Guinea-Bissau, a village known for its griots, hereditary singer-poets whose songs of praise and tales of history and legends play an essential role in Africa's musical life.

Centuries ago, Djabaté's ancestors, a wandering troupe of musicians from Mali, traveled to the region and the king of Guinea so loved their songs he invited them to stay and offered them the territory of Tabato.

Ever since, the area has been a recognized center for music, dance, handcrafts and other creative arts. Djabaté was born into a poor but musically accomplished family in Tabato on January 20, 1975.

His parents, two brothers and his sister were all professional musicians. Recognized as a prodigy, Djabaté began playing the balafón, the African xylophone, when he was just three years old and soon after learned to play many other traditional instruments. As a pre-teen he was sent to the neighboring village of Sonako to study the kora, which provided a foundation for subsequent accomplishments as a guitarist.

As his musicianship developed, Djabaté also mastered a wide variety of traditional drums and other percussion instruments. Music was not a past time or a hobby for the young Djabaté, however, and from a very young age he was obliged to contribute to the family's income by performing at weddings and baptism ceremonies.

Djabaté's early talents proved both a gift and a burden, as his family often forced him to sing and dance against his will, and he had little time to partake in the carefree fun and games of other children his age.

Djabaté's parents as well as his uncle, provided the young phenom with excellent training in traditional Mandingo music, but Djabaté was also interested in popular African genres such as the local dance music style gumbé, Nigerian Afrobeat, Cape Verdean morna, not to mention western jazz and blues.

In 1994, Djabaté toured Europe as a member of the national music and dance ensemble of Guinea-Bissau, and he decided to settle in Lisbon, Portugal. Djabaté's move to Europe proved to be one of the most difficult experiences of his life, and he faced many personal challenges adapting to a different culture and society. (...)



O cantor, guitarrista e exímio tocador de balafón [xilofone africano), vive em Portugal desde 1994. Próximos concertos do Kimi Djabaté (façam o favor de divulgar):

16 de Julho de 2010, 21h00 > Tom de Festa, ACERT, Tondela
30 de Jullho de 2010, 18h00 > Sines - Festival de Músicas do Mundo, Castelo de Sines, Sines
5 de Agosto de 2010, 21h30 > Festival Sons do Atlântico, Lagoa, Algarve
4 de Setembro de 2010, 21h30 > Festa do Avante, Seixal

Fonte: http://www.myspace.com/kimidjabate

Comprem o último álbum dele, saído em Julho de 2009, Karam (Educação, em mandinga), sob a prestigiada etiqueta norte-americana Cumbancha. É obrigatório comprar e ouvir muitas vezes... Um cheirinho (da sua música e da nossa querida Guiné...) pode ser sentido aqui:


Um dos músicos que toca com ele, é o Braima Galissá, o mestre do kora, já diversas vezes referido no nosso blogue. São dois grandes nomes da música e da cultura da Guiné-Bissau de hoje. (LG)

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7 comentários:

Anónimo disse...

Caro Camarigo Luís Graça
Eu tenho "um kora". A pele está muito ressequida e tenho receio que se estrague. Como hei-de fazer a sua manutenção ? Sabes como? Agradecia que me dissesses. Obviamente que não sei tocar, está em lugar de destaque na minha sala de estar (quase toda decorada com artigos de artesanato africanos).
Abraço do tamanho do Corubal
Luís Borrega

Fernando Gouveia disse...

Caro Luis Borrega:
A pergunta é para o Luis Graça mas posso adiantar-te que qualquer couro se conserva bezuntando-o com qualquer gordura. O sebo será talvez o melhor, mas se não gostares do cheiro podes usar vaselina.
Um abraço.

Fernando Gouveia

Luís Graça disse...

Luis, obrigado pela pergunta. Fernando, obrigado pela resposta... Não sou especialista de instrumentos, e muito menos africanos. Gosto da música que sai dessas caixas mágicas. Tenho alguma curiosidade "etnomusicológica", mas não sei como responder à pergunta do Luís.

O meu próprio filho, que é músico, só sabe de violinos... Se precisares de um bom, "luthier", em Lisboa, posso dar-te o contacto...

Quanto ao corá, aconselho-te a telefonar ao grande mestre Braima Galissá, natural do Gabu, e que vive em Lisboa, há mais de 20 anos, tocando a solo e ultimamente com o Kimi Djabaté:

Telefone: 938325723,964660125

Email: braimagalissa@gmail.com

Morada: Rua Cidade de Manchester nº6 - cv 1170-100 Lisboa

Luís Graça disse...

Luís:

A propósito ainda do "kora"... É tramado o aportuguesamento destes termos oriundos das línguas africanas. Neste caso, vem do mandinga korá... A grafia em português é corá, substantivo masculino... É assim que devemos grafar a palavra, e não kora, ou korá...


Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Luís Graça disse...

E já que estamos numa de "linguisticamente correcto", devemos escrever "balafom" e não balafon" ou "balafón"...

Refiro-me ao instrumento de percussão, tipo xilofone, que aparece nas fotos...

Sinónimos: balafão, balafó

Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

Luís Graça disse...

Já a palavra "jambé" (e não djambé) não consta do meu dicionário de referência como instrumento musical (tambor do Mali)...

Fui ao meu querido Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e lá encontrei a resposta:

(...) "É natural que não tenha encontrado a palavra 'jambé' dicionarizada, porque se trata de um termo recente que se aplica a um tipo de jovens caracterizados por andarem na rua a tocar um gé[ê]nero de tambor chamado 'jambé' (...). Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o substantivo masculino jambé designa pratos da cozinha brasileira: «1 Diacronismo: obsoleto. certo prato confeccionado com caruru (Amaranthus); 2 carne de porco cozida com hortaliças.»

http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=18244

Anónimo disse...

Caros Camarigos
Agradeço as dicas para a conservação do Cora.
Vou utilizar a vaselina, pois o sebo cheira mal e ainda confundem a minha sala com um curral de gado fula.
Abraço para todos vós.
Luís Borrega