terça-feira, 20 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6765: (In)citações (3): A lavadeira de Guileje: 'Já passei a roupa a ferro, já lavei o meu vestido, amanhã vou-me casar e o Manuel é meu marido' (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné-Bissau >  Região de Tombali >  Guileje > Uma  antiga lavadeira, bajuda, fula, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973.  


 


Guiné-Bissau >  Região de Tombali >  Guileje > Uma  antiga lavadeira, bajuda, fula, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Local: Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009.  Fragmentos da memória musical deixada pela tropa portuguesa (*)... 

Nesta versão há pelo menos duas conhecidíssimas canções populares portuguesas (de que se reproduz a seguir a letra completa)... Esta mulher, que não terá 50 anos, era uma bajuda, quando as NT retiraram, com toda a população, de Guileje para Gadamael... (LG)...

Vídeo (''24): Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2009).
 Alojado em You Tube > Nhabijoes (Em alternativa, clicar aqui para ver e ouvir o vídeo)

Letra e música:  Popular

Ó malhão, malhão,
que vida é a tua?
Comer e beber, ó tirim-tim-tim,
passear na rua.

Ó malhão, malhão,
Malhão de Lisboa,
Sempre a passear, ó tirim-tim-tim,
A vida é boa.

Ó malhão, malhão,
Ó malhão do Porto,
Andaste a beber, ó tirim-tim-tim,
E ficaste torto.

Ó malhão, malhão,
Quem te não dançou?
Por causa de ti, ó tirim-tim-tim,
O meu pai casou.

Ó malhão, malhão,
Quem te deu as meias?
Foi o caixeirinho, foi o caixeirinho
Das pernas feias.

Ó malhão, malhão,
Quem te deu as botas?
Foi o caixeirinho, foi o caixeirinho
Das pernas tortas.

Ó malhão, malhão,
Ó Margaridinha,
Quem te pôs a mão, quem te pôs a mão,
Sabendo que és minha?

Eras do teu pai, eras do teu pai,
Mas agora és minha.

Letra e música:  Popular

Já passei a roupa a ferro,
já passei o meu vestido,
Amanhã vou-me casar
e o Manel é meu marido.

(Refrão)

Todos me querem,
eu quero algum,
quero o meu amor,
não quero mais nenhum.

(Bis)

O Manel é meu marido,
O Manel é quem me adora,
O Manel é que me leva,
da minha casa p'ra fora.

Da minha casa p'ra fora,
da minha casa p'ra dentro,
O Manel é quem me leva,
no dia do casamento.

(Refrão)


 

Guiné-Bissau >  Região de  Tombali > Guileje >  Dança de duas jovens em homenagem (?) à tropa portuguesa que passou pelo aquartelamento de Guileje, abandonado pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Local: Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009.

Vídeo (''24): Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). 

Alojado em You Tube > Nhabijoes (Em alternativa, clicar aqui para ver e ouvir o vídeo)

_____________
 
Nota do editor LG:
 
(*) Vd. postes anteriores desta série:
 
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6751: (In)citações (1): O tocador de harmónica de Guileje (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)
 
19 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6761: (in)citações (2): Mais duas músicas do tocador de harmónica de Guileje (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)
 
Comentários de alguns camaradas nossos a estes dois postes:
 
(i) Alberto Branquinho:
 
Impressionante! Fiquei comovido. 40 anos depois...

(ii) Hélder Valério:
 
Sem dúvida que aqui está uma demonstração plena de como as pessoas se podem entender e de como a música é um poderoso veículo para tal. Como comentou o A. Branquinho, é impressionante e comovente. Podemos pensar que isto se revela no interior profundo, longe da capital e dos seus problemas mas não deixa de ser verdade que é onde as coisas e as pessoas são mais genuínas (...)

(iii) José Corceiro: 

Para o meu sentir é emocionante ouvir, esta melodia popular portuguesa ao som do 'realejo', por duas razões: Ser tocada com sensibilidade por um nativo da Guiné, que a sentiu e captou outrora no seio das nossas tropas e que passados estes anos todos a toca com carga nostálgica.

Transporta-me à minha meninice, à primeira vez que a ouvi tocar, com 10 ou 11 anos de idade, tal como agora ao som da gaita-de-beiços, por um dos grupos de trabalhadores da minha aldeia, que a ensaiou, como novidade, ao regressar da apanha da azeitona nas propriedades em Espanha, onde alguns naturais da minha terra tinham oliveiras, como tinha o meu avô. Era comum, nestes grupos de trabalhadores, isolados um grupo do outro, cada um na sua propriedade, formados por homens e mulheres, na sua maioria jovens, que viviam cerca dum mês fora da aldeia, enquanto durava a apanha da azeitona. Durante os serões, das longas noites de Inverno, ensaiavam melodias, acompanhadas ao som do 'realejo' ou concertina, para apresentar ao povo quando regressassem da faina e competir, um grupo com o outro, para aferir qual o que cativava e entusiasmava mais o povo.

Lembro desses tempos, em que não havia televisão e escasseavam os aparelhos de rádio, melodias tais como: 'Oliveirinha da serra', 'A saia da Carolina', 'Era ainda eu pequenino, 'Já passei a roupa a ferro', 'Ó Rosa arredonda a saia' … e tantas outras. Outras vezes faziam-se adaptações por curiosos anónimos do Povo.

Parabéns e muita saúde para o Guinéu que proporcionou este momento grato. 

(iv) José Corceiro:


Fantástico, tem que se ter sensibilidade e dote artístico, para poder tocar com realejo, passados 40 anos, as melodias que outrora se ouviu trautear aos militares Portugueses, que estavam na Guiné, que eram interpretadas, sabe-se lá com que sentimento de dor e nostalgia, misturados com saudades das nossas terras.

São melodias genuinamente populares da música Portuguesa, que são tocadas no realejo por um Guinéu, com alma lusa. Ouvi na minha meninice, na minha aldeia, cada uma destas notas também saídas do som do realejo.

A primeira, não me recordo bem do nome e do intérprete, mas creio que começa assim: 'Ainda agora aqui cheguei/ já me estou a ir embora'... Que creio que foi o grupo folclórico de Manhouce que a popularizou.

A segunda, o título creio que é 'Santa Luzia',  popularizada pelo 'Conjunto Típico de Maria Albertina'.

Parabéns ao Pepito, por ter feito o registo e tê-lo dado a conhecer e parabéns e felicidades ao intérprete, que nos possa brindar com mais.
 
(v) Amílcar Ventura:
 
É fabuloso, não tenho palavras paera descrever a alegria que me vai na alma ao ouvir este amigo africano tocar harmónica,  músicas do nosso Cancioneiro Nacional. É mesmo bom. Pepito, obrigado por este momento musical. (...)
 
(vi)  Luís Graça:

Num sítio, muito interessante, sobre instrumentos tradicionais portugueses (criado pelo Agrupamento de Escolas Padre Vitor Milícias, do concelho de Torres Vedras, Disciplina de Música, 7º e 8º anos), pode ler-se:


"A gaita de beiços, harmónica, ou harmónica de boca (também conhecida como realejo) é um instrumento musical de sopro cujos sons são produzidos por um conjunto de palhetas livres em vibração.

"A gaita possui na sua embocadura um conjunto de furos por onde o instrumentista sopra ou suga o ar. Devido ao seu pequeno tamanho, a gaita não possui caixa de ressonância. O tocador usa as mãos em concha para amplificar o som do instrumento e também para produzir efeitos, como variações de afinação e intensidade ou vibrato. Quando executada em conjunto com outros instrumentos, é comum que ela seja amplificada eletronicamente. A gaita é bastante usada no blues, rock and roll, jazz e música clássica. Também são muito comuns os conjuntos compostos apenas de gaitas, as chamadas Orquestras de Harmónicas, que normalmente tocam músicas tradicionais ou folclóricas.

"A harmónica, também conhecida por flaita, gaita de beiços, gaita das vozes, realejo e piano da cavalariça. era o instrumento mais frequentemente usado para acompanhar os bailadores de fandango ribatejano.

"O realejo é um instrumento de sopro portátil, cabendo tipicamente num bolso.

"A harmónica/gaita de beiços foi inventada na Alemanha". (...)


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