terça-feira, 17 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6864: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (18): A (mu)dança das bandeiras em Fajonquito, em 1974


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Fajonquito > Antigo quartel das NT > 2010 > Visita do Cherno Baldé e família > Local onde era o salão de futebol de cinco e a Casa (comercial) Ultramarina onde era a messe dos oficiais


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Fajonquito > Antigo quartel das NT > 2010 > Visita do Cherno Baldé e família > Inscrição da CCAÇ 2435, a companhia que construiu o aquartelamento em 1969


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Fajonquito > Antigo quartel das NT > 2010 > Visita do Cherno Baldé e família > Local onde estava situado o poste da bandeira; à esquerda as ruínas do refeitório com a padaria


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Fajonquito > Antigo quartel das NT > 2010 > Visita do Cherno Baldé e família > O antigo forno na padaria


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Fajonquito > Antigo quartel das NT > 2010 > Visita do Cherno Baldé e família >  Posto de vigilância permanente equipado com uma metralhadora.


Bissau > 2006 > Futuros jogadores (Yussuf e Domingos Baldé).

Fotos (e legendas): © Cherno Baldé (2010). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de 24 de Julho p.p., enviada pelo Cherno Abdulai Baldé

Assunto: Envio de mais uma crónica sobre Fajonquito

Estimado amigo e irmão Luís Graça,

Venho, como tem sido hábito, enviar mais uma crónica fazendo parte das minhas memórias de infância.

Estive, há poucos dias, em Fajonquito, com as crianças que já reclamavam uma visita aos locais citados na crónica sobre Canhamina: Surumael, Djunkoré e os seus djinés, o recinto da antiga mata dos poilões e o quartel de Fajonquito de cujas imagens aproveito para enviar algumas.

A crónica de hoje trata do período de transição para a independência e algumas turbulências e contradições que o acompanharam. Vejam se gostam e se não gostarem também digam. Espero não ter sido ousado demais e ferir algumas sensibilidades.

Um grande abraço,
Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)

2. Memórias do Chico, menino e moço > A MUDANÇA DAS BANDEIRAS (1974)
por Cherno Baldé

(i) Os sinais de uma mudança anunciada

Em Fajonquito, o período entre o mês de Junho a Agosto de 1974, tinha sido marcado pela chegada de uma nova companhia (BCaç 4514/72), conhecida entre nós como a companhia de Gadamael; a visita dos primeiros elementos da guerrilha e a saída definitiva das tropas portuguesas de Fajonquito. 

Período rico em acontecimentos, manifestações de apoio e festas, que algumas vezes assumiam formas dramáticas e outras simplesmente cómicas, mas foi sobretudo um período de indefinição, de ansiedades e de questões sem resposta, relativamente ao futuro.

No plano pessoal, tinha conseguido em Contuboel, um bom resultado nos exames da 4.ª Classe que fechavam o ciclo do ensino primário. Não fizemos nenhuma festa, porque o nosso capitão, Sambaro Djau, tinha reprovado nos exames. Para mim, isto representava uma bela “revanche”, pois, com mais de sete anos de serviço no grupo, e estando sempre na linha da frente, o melhor que tinha conseguido era a frustrante patente de 1.º cabo. Quase nada.

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Para as pessoas mais atentas, sempre há um prenúncio que serve de sinal para o que acontece a seguir. Entre os fulas são os chamados “dillé”. Assim, a queda repentina de uma pessoa adulta, a recepção na cabeça de excrementos de uma ave (se for de um Jagudi pode trazer consigo a marca de uma desgraça) etc., são sinais a ter seriamente em conta. 

Para mim, este sinal tinha sido uma informação que poderia ser muito importante não estivesse fora do seu contexto normal e transmitida por Marques, soldado operacional do 2.º Pelotão da CCAÇ 3549 (Deixós-Poisar), de forma clandestina a uma criança ainda inocente, logo a seguir ao assassinato de Amílcar Cabral em 1973.

Encontrou-me perto do salão preparando-se para mais uma partida de futebol com os colegas e, pegando no meu braço, afastou-me um pouco do grupo como sempre fazia quando queria falar comigo a sós. Fazendo parte dos meus admiradores, habitualmente, o tema era sobre futebol, desta vez, e sem qualquer preparação prévia, falou-me assim:

- Chico, olha que o vosso padrinho morreu, pá!

Não tendo percebido e, pensando que se tratava de algum acidente relacionado com os meus amigos, particularmente ao meu turbulento patrão Dias, condutor auto, perguntei:

- Qual dos meus padrinhos é que morreu, o Dias?

- Não,  pá, é o Cabral.

Eu não conhecia nenhum Cabral, nem de perto nem de longe, que pudesse ser meu padrinho, o Marques, pressentindo que iriam chover as perguntas, olhando para os lados como se estivesse com medo de alguém, afastou-se para o refeitório sem mais explicações, deixando-me coberto de perplexidade. Teria sido um simples desabafo e mais nada. Não me preocupei mais com isso, alias, era um grande alívio, afinal de contas, não tinha nenhum amigo com esse nome. No entanto este seria o tal sinal de aviso premonitório

Partindo desse pressuposto básico, na minha opinião, é mais fácil compreender o desenlace final que se seguiu ao 25 de Abril quando os portugueses muito apressadamente entregaram tudo, sem condições, sem contrapartidas


(ii) Os recados vindos de Oio ou a delegação que voltou bredouille

Quando se tornou claro para toda a gente que, com a partida das tropas portuguesas os guerrilheiros do PAIGC seriam os novos mestres do terreiro, dentre a população civil começou a ser delineado um plano de contacto e de recepção. 

Os fulas, maioritários, conscientes da alteração de forças e das novas condições que se desenhavam, da sua postura perante a guerra e face a uma guerrilha praticamente desconhecida, solicitaram aos seus vizinhos mandingas para que fossem eles a tomar a dianteira e servissem de porta-vozes da aldeia. Com essa táctica, pensavam poder sondar sobre as reais intenções da guerrilha e o que se escondia sob a etiqueta das bonitas palavras de “liberdade e unidade nacional”. Ė o que se poderia chamar “o jogo da lebre contra a perdiz” nos contos africanos.

Esta iniciativa tinha sido rapidamente apropriada por Ansumane Sissé,  um ex-guerrilheiro arrependido,  que, mais tarde soubemos, fazia um jogo duplo entre as duas partes em guerra, tinha beneficiado de apoios para a sua instalação e reinserção no quadro da política de (des)mobilização dos quadros do PAIGC, mas também mantinha os contactos com a guerrilha, fornecendo, de vez em quando, algumas informações. Não fosse o diabo tecê-las.

Embarcados num veículo de um comerciante local, os dignitários seguiram com destino a região de Oio, zona de Caresse, onde eram conhecidas as bases dos guerrilheiros. Dentre os numerosos candidatos, foram seleccionados apenas alguns ao critério e gosto do Sr. Ansumane, que, repentinamente, tinha assumido o estatuto de líder, fazendo valer os supostos conhecimentos e contactos que possuía. Depois de muitos anos de supremacia fula e dos seus patrões portugueses, parecia ter chegado, finalmente, a hora do ajuste de contas.

O meu pai, como muitos outros, não tinha sido escolhido e esta notícia tinha caído como uma bomba na sua cabeça de homem sensato e precavido. Lembro-me ainda do seu olhar vazio, algo aturdido e descontrolado, caminhando cabisbaixo e alheio a tudo, arrastando na estrada de terra vermelha e poeirenta o seu duplo “bubu” azul celeste bordado e suas “babuchas” árabes de cor branca, consumindo-se na preocupação engendrada pela precariedade e incerteza da situação. 

Por ironia do destino aqueles que até então eram os bandidos seriam agora os senhores. “Quem pode compreender as partidas que a vida nos prega, hein?” Estaria ele a pensar. Em casa ele tinha, pelo menos, dois retornados para proteger e sustentar, um antigo leopardo ferido de insónias e um gato preto já sem unhas, isto, sem falar do resto da família. O pior seria a humilhação pública de ser obrigado a fugir.

A delegação voltou ao pôr-do-sol e, ao contrário do que se esperava, não tinham regressado ao som dos tambores, flautas e nhanhero1 e logo que chegaram dispersaram-se,  desaparecendo nas sombras nocturnas das estreitas varandas de palhotas húmidas do mês de Agosto. Aos mais curiosos respondiam:

- “Disseram-nos para ficarmos quietos e esperar, no momento certo eles virão ter connosco”.

Na verdade, eles nem sequer tinham sido recebidos e por um triz não foram presos por invasão de zona de guerra, ainda repleto de minas. Teriam sido energicamente repreendidos pela sua precipitação e insensatez e, por fim, foram encarregues de transmitir a toda a população que, na óptica do partido e dos seus dirigentes, não havia cidadãos de primeira e de segunda, que o objectivo da luta armada era libertar o povo da dominação colonial e da opressão fascista e não trocar esta por outra com pessoas diferentes, por outras palavras, não havia diferenças entre fulas e mandingas, todos seriam tratados da mesma maneira, iguais perante a lei com direitos e obrigações para cumprir.

Por outro lado, o Ansumane não tinha obtido o reconhecimento que todos esperavam. Assim, as nuvens negras do céu tinham-se dissipado um pouco para dar lugar a um horizonte mais claro, mesmo se ainda era cedo demais para dançar. 

Importa dizer que esta informação foi salutar e teve o condão de evitar a situação de debandada geral que já se pressentia dentro da comunidade fula. O gado, principal riqueza da comunidade, já estava posicionado, havia muito tempo, perto da fronteira com o Senegal.
_________

1 - Instrumento de musica tradicional dos fulas feito de fios de cabelo extraídos do rabo de cavalo.


(iii) A chegada dos guerrilheiros

Passaram-se dias e semanas e quando menos se esperava, foi anunciada a chegada dos guerrilheiros que devia acontecer para os lados de Oio/Caresse, zona donde se esperava que viessem, naturalmente. Toda a aldeia saiu para assistir à  chegada mas, era falso alarme. No sítio indicado não estava ninguém.

Passados alguns dias, foi feito o mesmo anúncio mas, já metade da aldeia estava na dúvida e preferia esperar pela confirmação. Desta vez, efectivamente, estavam lá e, não era do lado de Caresse (oeste) mas do lado sul (Bairro Mandinga de Morcunda), donde menos se podia esperar. Tratava-se de uma táctica da guerrilha, simples diversão ou prudência de quem ainda não acreditava na sua sorte? Talvez fosse tudo isso ao mesmo tempo.

Rapidamente a notícia correu pelas aldeias da redondeza, as pessoas afluíram em massa. Crianças, jovens, mulheres, velhos; todos queriam ver a gente do mato, aliás, os “bandidos” agora convertidos em heróis da libertação nacional. Depois de todas as campanhas de desinformação do regime colonial, o que vimos era simplesmente inacreditável. Afinal, eram pessoas normais, como nós, dos pés a cabeça. Não tinham rabos como os animais, nem chifres como imaginamos os diabos. Encontrámo-los, alguns sentados, outros de pé, dispersos debaixo da sombra das mangueiras. Cabeludos, magricelas, olhos vermelhos, uma expressão visual que se situava algures entre o homem e o animal.

Exceptuando as armas e os uniformes que traziam, eram exactamente iguais aos prisioneiros que tínhamos visto no quartel alguns anos antes (na altura a população civil era muito céptica quanto ao serem verdadeiros “Paigecistas” inclinando-se mais para a ideia de que seriam, quando muito, cortadores de chabéu, perdidos entre as remotas aldeias oincas no mato de Caresse). 

Controvérsia a parte, aqueles prisioneiros, de facto, não estavam fardados e o aspecto esfarrapado, nauseabundo, mais metia dó que medo. Sempre que podíamos, metíamos algumas coisinhas por baixo das paredes de chapas que serviam de celas, com o nariz apertado entre os dedos. Porém, entre nós, nem todos partilhavam o mesmo sentimento e havia quem aproveitasse a ocasião para dar umas pisadelas nas mãos esfomeadas que apalpavam a terra e o ar a procura do abençoado pedaço de pão. Tinham fome.

- Quem são estes, os cubanos? 
- perguntava alguém ao vizinho do lado. Sem resposta.

- São estes que nos metiam tanto medo!? - comentou, incrédula, uma mulher fula que trazia ao colo uma criança, tendo no corpo apenas o pano amarrado até a cintura pondo a mostra os seios usados, elásticos, espalmados sobre o ventre (é uma pena o “nós Alfero” não ter passado por aqui).

- Não se iluda mulher, no mato, cada um destes bandidos vale por dez 
- explicou  o Quéta “chauffeur”, antigo companheiro do Tenente Jamanca.

Os homens que se apresentaram eram poucos, (um bigrupo?) e pareciam ser mais altos do que eram na realidade, como os corredores de fundo. O comandante era um homem de etnia mandinga, de meia-idade, alto e simpático que logo cativou as atenções, vindo a revelar-se um excelente orador. 

Ele mudou os hábitos da aldeia. As suas reuniões de presença obrigatória não demoravam menos de 12 horas, o que lhe valeu a alcunha de Presidente Seku Turé. Quando as pessoas eram convocadas, diziam as suas mulheres: “Mariama, prepare a comida de manhã cedo, porque vamos a reunião de Seku Turé”. No decorrer das longas reuniões do partido, aqueles que pediam para ir satisfazer alguma necessidade fisiológica, mulheres inclusive, eram acompanhados por homens armados. Começávamos a colher os frutos da verdadeira independência bem à moda dos movimentos de libertação em África.

Os guerrilheiros usavam uniformes castanhos ou cinzentos (pontilhados de pequenas formigas pretas). Eram diferentes dos sarapintados que estávamos habituados a ver. Pareciam novos e os corpos magros, quase esqueléticos, particularmente dos fulas, nadavam dentro dos uniformes o que dava a sensação de que não estariam lá muito habituados a usá-los. 

A maioria tinha nos pés sapatos de cor castanha, feitos de um tecido duro e resistente, amarrados com cordel. Eram leves e combinavam bem com a cor das fardas. Alguns deles usavam, ainda, plásticos simples comprados, talvez, no Senegal. Não havia muito rigor no fardamento. Os seus olhos, esses, eram muito vivos e penetrantes, em alerta permanente, com as armas ao alcance das mãos. Pela primeira vez, víamos com os nossos olhos, a famosa RPG7.


(iv) A atracção pela metrópole

Mais tarde, quando a retirada do que restava das tropas portuguesas já era iminente, um outro soldado, mecânico-auto, o Jorge, da companhia de Gadamael, ofereceu-me o livro que seria o primeiro da minha vida, cujo título era: “inglês sem mestre” sob um fundo de tiras azuis e vermelhas cruzadas. 

Fiquei com vergonha de dizer que não o conseguia ler. Esta oferta tinha mexido comigo e tinha-me incitado a aprender a ler. Na época, não sabendo interpretar o seu conteúdo, ofereci-o ao meu irmão mais velho que estava mais avançado na escola e que o levaria consigo na sua primeira viagem de estudos a Portugal em 1980. Com ar muito triste e lamentando a nossa sorte,  o Jorge disse-me naquele dia:

- Olha, Chico, nós vamos embora, os “turras” vão tomar conta disto e são capazes de matar a todos, se quiseres ir comigo eu falo com o teu pai.

- Não, nós vamos dar-lhes as nossas vacas e ficamos em paz - respondi-lhe, rindo.

Não tinha reagido a sua oferta, como se não tivesse percebido, na realidade não estava interessado. Durante todo o tempo que passamos no quartel entre os portugueses, a informação que tínhamos da metrópole era muito escassa, dispersa, esporádica, idílica, feita principalmente de imagens de meninas brancas, cor da neve, anjos do céu, exibindo-se no jardim de Éden com os seus vestidos “volantes” (cheira bem… cheira a Lisboa!), docemente embaladas pelo fado da Amália e o trepidante futebol do Benfica de Eusébio da Silva Ferreira, o Pantera Negra, mas era, apesar de tudo, um país de brancos.

A ideia de viver, de forma permanente, no meio dos brancos e suas esquisitices não me seduzia muito, pese o facto de gostar infinitamente dos seus frangos gordurosos, da batata inglesa, do bacalhau salgado e do cheiro dos chouriços vermelhos (Alláh, o clemente e misericordioso, me perdoará por esta pequena fraqueza humana). 

Mesmo supondo que eu quisesse ir, de certeza que a minha avó não mo permitiria. Ela era o meu anjo da guarda e tinha horror aos soldados, com as suas orelhas vermelhas e seus modos libertinos. “Os brancos não respeitam a idade”, dizia. “Se não, como é que se explica que os chefes (os oficiais) sejam mais novos que os subordinados?”. A vista dos soldados, ela fugia e se entrincheirava dentro da sua palhota.

Entretanto, a sua neta, nascida em tempos de Guiné- melhor do seu único filho varão, passava horas a fio a namoricar, mesmo a porta, com um malandro de orelhas vermelhas que só aparecia envolto na escuridão da noite.

Mas, o verdadeiro motivo porque não fui tentado em viajar para a metrópole, estava ligado à forma de lá chegar. Tinham-nos informado, de fontes seguras, que a única forma de uma criança entrar no navio e fazer a viagem era estar metida dentro de um caixão como faziam com os periquitos ou outros animais de estimação. A minha ideia sobre o assunto era clara e firme. Viajar metido num caixão era não, nunca e jamais. Podiam ficar com todas as sardinhas da Europa.

No fundo, também, não acreditava muito nas afirmações do meu amigo Jorge pois, os germes do nacionalismo que tinham conquistado terreno no inicio dos anos 70 e a propaganda que tinha antecedido a entrada do PAIGC já estavam a fazer efeito na consciência de muitos guineenses que não estavam seriamente comprometidos com a guerra. 

O meu caso não era isolado pois, mesmo entre as pessoas adultas e que tinham servido na guerra e estando agora desmobilizadas como o Mamadu Baldé (mais conhecido por Mamadu Senegal, antigo chefe de milícias, originário do Senegal, citado numa das narrativas de José Cortes), e muitos outros naturais da zona encontravam-se no meio das pessoas que foram receber os guerrilheiros, num ambiente de festa e confraternização.

Depois da primeira visita, vieram mais outros grupos vindos de outras “barracas” (acampamentos), recebidos sempre com o mesmo entusiasmo pela população civil e militares portugueses e, no meio disso tudo, podia-se notar um facto bem curioso, a meu ver. Pela forma como os recebiam e se congratulavam, trocando pequenos presentes e “lembranças”, os soldados portugueses pareciam muito mais satisfeitos com o fim da guerra do que os guerrilheiros. 

Talvez pela primeira vez na história dos conflitos armados, um dos beligerantes que, para todos os efeitos, tinha perdido a guerra, parecia estar feliz por não ter vencido. Era compreensível mas nem por isso deixava de ser intrigante.

Na minha infância, havia duas classes de pessoas as quais nutria uma grande admiração e cujo meio frequentava com muito gosto: Era a dos atletas/lutadores tradicionais (habitualmente fulas pretos) e a dos soldados (de todos os tipos), ambos apresentando características muito semelhantes no que se refere ao seu comportamento: Irreverência congénita, ousadia e provocação, ausência de pudor e inclinação para violar regras sociais pré-estabelecidas e/ou velhos tabus, a fraqueza pelas mulheres e sobretudo a predisposição constante para criar situações ridículas, hilariantes.

Lembro-me, a propósito, de uma conversa entre dois milícias em que um deles explicava ao outro, de forma convincente, que aos brancos não lhes interessava o fim das guerras, de todas as guerras e, acrescentava:

- “Na terra deles há uma coisa pequena do tamanho de uma agulha que era capaz de arrasar todo o território da Guiné e matar todos os terroristas num abrir e fechar de olhos”. 

Agora, eu sei que ele se referia as trágicas bombas largadas sobre Hiroshima e Nagasaki. O segundo milícia, mais lúcido, tinha replicado ao primeiro:
 - “Deus nos livra, se isso acontecesse, tu ias esconder o teu traseiro fedorento onde, na cova de um porco-espinho?” 

Perante a gargalhada geral dos presentes, a conversa que tinha começado de forma amena, terminara em pancadaria. Quem teria razão?


(v) A Mudança das bandeiras

Na manhã do dia 1 de Setembro de 1974, os poucos soldados que ainda estavam presentes, perfilaram no centro do aquartelamento para cumprir o último acto militar da entrega do quartel de Fajonquito. De um lado estavam os portugueses, doutro, os guerrilheiros. Frente a frente, pela última vez. Todos fardados com rigor. Cada grupo com a sua bandeira. As cores não eram muito diferentes, vermelha, verde e amarela. Só divergiam nos motivos, na origem e no destino. Os “ex-bandidos” também estavam distintos nesta derradeira cerimónia de passar o testemunho.

Notava-se que na fila dos portugueses, não havia muita diferença, pareciam ter sido escolhidos a dedo, altura mediana. Já do lado dos nossos, a disparidade era gritante, enquanto uns eram baixinhos,  outros eram desmesuradamente altos. Como na música e na dança, na África tropical a desordem é só aparente.

Da boca do oficial saíram, de forma vigorosa, os “firme” e “ombrós-arma”, acompanhados de movimentos da tropa a condizer, a corneta soou estridente seguida pelo coro dos cães da aldeia em protesto, as armas foram apresentadas a altura dos peitos soerguidos. Primeiro, arriaram a bandeira portuguesa, lentamente no início, mas quando ia quase a meio do percurso, contrariando o ritmo habitual, com largos esticões o soldado fê-la cair rapidamente, atirando o pano em cima dos ombros, enquanto desfazia o nó. O gesto denunciava alguma impaciência. Depois, foi a vez da nova bandeira subir e flutuar ao vento. Garanto-vos que estávamos ansiosos e orgulhosos.

O guerrilheiro encarregue do acto, deu dois passos a frente, encaixou a bandeira na corda e puxando uma das pontas, fê-la subir, normalmente. E quando estava quase a chegar ao topo, por qualquer razão, estas se emaranharam entre si deixando a bandeira presa, não podendo subir nem descer. Foi precisa uma pequena ajuda do soldado português para acabar com a trapalhada das cordas e terminar, finalmente, com a parada (seria isto um sinal para o futuro?). 

Depois houve uma troca de apertos de mãos de parte a parte. Havia uma pequena assistência de populares do lado de fora dos arames farpados. Não tinham sido convidados.

Olhando para trás no tempo, esta cena onde uma dúzia de soldados está perfilada frente a frente, procedendo a passagem simbólica do poder de uma terra que tinha sido administrada durante muitos anos por militares, na ausência de qualquer autoridade ou representantes da sociedade civil, desperta em mim, pouco a pouco, a sensação de que a Guiné, a nossa querida Guiné, de facto, não tinha sido preparada para viver sob um regime civil com base em princípios de governação democrática. 

Por outras palavras, a população da Guiné foi, e durante muito tempo, preparada para conviver com as ditaduras militares. Não surpreende muito, a ordem da sucessão parece inequívoca. De distrito militar repressivo (princípios do século XX), o território passou para uma província militarizada e em guerra (1963/74) e desta seguimos directamente para uma ditadura de guerrilheiros impreparados, ávidos de poder e sedentos de sangue. Não existe e nunca existiu uma tradição de poder civil, situada acima dos grupos étnicos. Neste aspecto, em particular, as ex-colónias francesas estavam ou ainda estão a milhas de avanço. As imagens filmadas sobre as independências desses países são disso um facto bastante revelador, pondo de parte o caso da Algéria.


(vi)  Os meus amigos guerrilheiros

Foi preciso esperar pela terceira vaga de guerrilheiros, sempre em bigrupos, para finalmente conseguir fazer alguma amizade. Eram dois combatentes de etnia Balanta, naturais de Banta (região de Quinara), o Dinis e o Marcos. Pelo menos é o que me tinham dito.

Se os portugueses me tinham ensinado as primeiras letras de forma desinteressada, foi com esses jovens Balantas que acabei por assumir a real necessidade de aplicar-me aos estudos a fim de melhor poder contribuir para a construção da nossa pátria (um vocábulo novo, com consonância especial, na altura).

Com os soldados portugueses tinha começado a moldar um instrumento, uma ferramenta de pesquisa e de trabalho mas foram estes guerrilheiros do PAIGC, esfarrapados e desnutridos que, imbuídos do espírito genuíno de libertação e emancipação de todos os povos da Guiné sem distinção, na altura, me ajudaram na definição do objectivo da minha escola. O que antes era longínquo e desconhecido passou a ser conhecido e desejado.

Em casa o meu pai recebeu-os efusivamente, tirando o chapéu da cabeça e curvando-se em sinal de respeito antes de lhes apertar as mãos, como sempre fazia diante das autoridades. O Dinis, calma e serenamente, explicou-nos que estes gestos já não se justificavam pois, todos eles eram filhos do povo.

- Nós lutamos para acabar com a humilhação do nosso povo em geral e dos nossos pais em particular, homens e mulheres, foi isso que Cabral nos ensinou e é isso que vamos transmitir aos nossos irmãos mais novos. 

Ele falava olhando para mim, meigamente.

Na estrutura militar dos guerrilheiros, havia o comandante e o adjunto do comandante, mas a partir dali já era difícil descortinar a sequência hierárquica, tanto para cima como para baixo na cadeia. Eram sinais de uma desordem latente donde podia nascer a anarquia que viria ao de cima, anos depois. 

O Dinis era um combatente simples, um aldeão que, não sendo muito instruído era relativamente bem informado sobre as ideias e conceitos políticos da época. As suas palavras eram simples e claras e com ele iniciei a minha aprendizagem na escola do pensamento político que começava com Cabral e terminava em Marx e Engels ou vice-versa. 

Nesta viagem de iniciação político-ideológica, o Lenine era a criança prodígio que tinha encontrado o livro de um velho sábio (Marx) e graças ao qual ele tinha revelado ao mundo as ideias revolucionárias de como tornar o mundo mais justo, mais progressista, apesar das contrariedades criadas pelas forças reaccionárias da direita capitalista (os demónios). “Foram as ideias contidas nesse livro antigo que, também, permitiram a libertação do nosso povo, através de Amílcar e seus companheiros”, concluía Dinis.

No entanto ele não sabia dizer se, eventualmente, Cabral teria encontrado com o jovem Lenine, quando foi a Moscovo, a procura de tais ideias. Ele se defendia, dizendo: “Tu és jovem e já bastante avançado na escola, depois, quando fores para a União Soviética, perguntas a eles para saber, eu não sei, não estive lá, sou um simples combatente”. 

Saberia mais tarde que Cabral tinha nascido no ano de 1924, no mesmo ano em que morria o líder dos sovietes. O mais importante aqui não era a forma mas sim o conteúdo.

A passagem dos guerrilheiros por Fajonquito foi breve, mas antes de partir, desmantelaram completamente o quartel, onde nunca chegaram a se instalar verdadeiramente, seja pelo pobre número de efectivos ou por outras razões desconhecidas. A atenção estava, sobretudo, concentrada sobre Canhámina e os caminhos de acesso a fronteira com o Senegal. 

Quanto ao resto, os olhos atentos dos comissários políticos se encarregariam de velar. O fim do quartel representou, para a aldeia, o inicio da escuridão, a noite, com o desaparecimento do único grupo gerador da localidade. Ninguém tinha pensado nas consequências, aliás, nem sequer tinham dado a população a possibilidade de pensar.

Mais tarde soube que o Dinis e o Marcos se tinham voluntariamente desmobilizado e regressado para a sua aldeia natal onde continuariam a trabalhar com os jovens da sua tabanca, ajudando na recuperação das bolanhas abandonadas durante a guerra e continuando a sensibilização dos mais novos sobre os ensinamentos de Cabral no meio de histórias da luta de libertação nacional para a qual tinham dado o melhor da sua juventude.

No ano seguinte, após ter concluído o ensino primário, cumpriria a promessa feita ao Dinis de continuar os estudos na cidade, mais precisamente no ciclo preparatório de Bafatá que tinha sido aberto poucos anos antes. Já não era somente a fome e a batalha pelo reconhecimento do grupo que me impeliam para a frente mas, também, a fome pelos livros, pelo saber, pensando, no meu íntimo que, a única forma de voltar a reencontrar os meus divertidos e irreverentes amigos brancos era pela via da escola.

Antes porém, de fazer a minha primeira viagem a Europa em 1985, mais precisamente à URSS, tinha ido à tabanca de Banta, no sector de Empada, à procura dos meus velhos camaradas de 1974. Na localidade, esperava-me uma pequena surpresa, pois, ninguém se lembrava dos antigos combatentes do PAIGC com os nomes de Dinis e/ou Marcos. 

Penso que, teria acontecido uma dessas práticas muito comuns entre os Guineenses das zonas rurais, de usar nomes (cristãos, logo civilizados) fabricados para o momento e a ocasião aos quais podiam livrar-se mais rapidamente que um camaleão muda as suas cores. Na aldeia, teriam voltado aos seus verdadeiros nomes da terra, ocupando os assentos que as suas idades sociais lhes reservavam dentro da comunidade (que não coincidiam necessariamente com a idade biológica), animando as festas dos “ irãs” que habitam os grandes poilões da floresta sagrada do sul.

No caminho de regresso à cidade, perguntava-me a mim mesmo se eles existiram de facto ou se tudo não passara de pura imaginação do espírito fértil de uma criança que queria acordar cedo demais?

Fajonquito, 17 de Junho de 2010

Cherno Baldé

[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
_________________

Nota de L.G.:

(*) Vd último poste da série: 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6735: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (17): A desertificação da nossa terra: até os macacos pára-quedistas nos estão a deixar

Em tempo:

O autor do poste enviou novo texto, revisto, para substituir o publicado anteriormente.
CV
17AGO2010
22h30m

9 comentários:

Luís Graça disse...

Esqueci-me de dizer ao Cherno:

Obrigado por esta crónica. Aliás, há uma outra mais recente. Obrigado também pelas fotos. Não estranhes o atraso na publicação deste poste, os meses de Julho e de Agosto são sempre de fraca produtividade dos editores (mas também dos leitores) do nosso blogue. Gostei de te ver em, Fajonquito com os teus meninos e meninas. És um bom pai, um grande guineense, um homem bom e um cidadão do mundo. Todos temos a obrigação de ser um elo na cadeia de memórias que nos ligam às gerações que nos antecederam e às gerações futuras.

Daqui, da parte mais ocidental da Europa, daqui das praias do meu Atlântico, daqui do meu chão, Lourinhã, que os dinossauros dominavam há 150 milhões de anos, um grande Alfa Bravo.

Luís

Anónimo disse...

Gosto muito das tuas crónicas.

Continua Amigo.Aprendo contigo e

não só sobre Fajonquito..

Um Grande Abraço.

Jorge Cabral

Anónimo disse...

Caro Cherno
As tuas crónicas fazem-me retroceder no tempo e lembrar-me do meu amigo de Cambor Al Hadj Cherno Mamangari Djaló que me dava aulas de árabe, tendo-me oferecido um livro que traduzia o árabe para francês, que ainda hoje o guardo, juntamente com o Alcorão que levou a Meca (devidamente autografado por ele) um terço e o "sabiá" (?)(um barretinho branco que ele usava sempre). Falando com um dos seus netos que era um dos Djubis do quartel , em Lisboa num almoço da CCav.2749 fiquei a saber que faleceu em 2003.
Que Allah, o Clemente, o Misericordioso, o tenha no seu seio
Continua a mandar as crónicas que muito aprecio.
Mantanhas
Luís Borrega

Anónimo disse...

Andei pela Guiné, mas mais cá para baixo Cufar/Catió.
Havia também meninos Fulas, Mandingas, Balantas e Outros.
Tinhamos as nossas histórias a nossa escola em Cufar só com meninos Balantas e alguns Nalus.
Corria tudo bem junto de nós, mas tinhamos de sair e fazer a guerra.
Era assim!
Gostei muito da tua narrativa. Conta, conta mais para ver se toda esta história é compriendida. Ainda há muita gente que não compreende todos estes tempos problemáticos.
Chico meu amigo gostei muito! Não te esqueças de voltar, quero ficar maravilhado de novo.

Para ti também, um abraço do tamanho daquele estreito mas comprido rio Cumbijã.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Cherno Amigo
O teu escrito veio mesmo no momento próprio. Mesmo na hora. Mostra como nós, militares, nos relacionávamos com os meninos das Tabancas.

Sempre gostei de crianças e já aqui saíram fotos minhas com eles.
Dá a teus filhos o melhor e, se possível, um País onde viver seja "bom".

Continua a escrever e a mostrares a cultura de teu Povo. Faz-nos falta.

Um forte abraço amigo do Torcato

Anónimo disse...

Caro Cherno:
De certa forma repito aquilo que já comentei em relação aos teus posts anteriores ( todos de grande qualidade): é o outro lado da guerra visto com olhos de menino...e esta visão vai, com toda a certeza, contribuir para dissipar algumas nuvens que, desde aqueles tempos, sempre nos toldaram a cabeça.
Que dizer mais?
Estamos-te muito gratos e pedimos-te que nos digas mais coisas.
Carvalho -Mampatá (72/74)

Antº Rosinha disse...

Cherno, fazes uma análise do avanço das ex-colónias
francesas em relação à Guiné.

E tens razão,se disseres o mesmo em relação aos paises anglófonos.

Aliás, é aceite para muitos guineenses ser uma desvantagem a colonização portuguesa (país pobre e atrazado) em vez de ser pela França (país importante).

Cherno, se se fizer uma biopsia a África, à procura de todos os males, dá a ideia que a Guiné teria todos os males africanos. Até esse de a colonização ter sido portuguesa.

Mas talvez te esqueças que houve outra pequena potência colonial (a pequeníssima Belgica), que deixou o Congo, o Ruanda e o Burundi talvez nas mesmas ou piores condições políticas e sociais que a Guiné Bissau.

Sabes, é que tanto a França como a Inglaterra, apesar de terem falhado nalguns paises na protecção aos políticos africanos (com mercenários, legião francesa, e exército regular), a Bélgica não teve essa força, e talvez naquelas ex-colónias terão acontecido as piores chacinas modernas de toda a África.

Eu sei que tu sabes isto tudo o que digo.

Tambem sei que qualquer guineense em Portugal, desses que andam cá a assentar tijolo nas obras é mais politizado que qualquer ministro português, no que concerne à politica africana.

Mas o Amilcar ensinou-vos por escrito que não queria a independência para suportar o "neocolonialismo", ou resumindo aqui por nós o tal protecionismo que sempre existiu na anglofonia francofonia.

E mesmo entre os guineenses (PAIGC) sempre discutiram as vantagens ou desvantagens da ligação de Dakar à França, ao contrário de Conakry.

Acontece que todas as cooperações que ajudaram não se sabe bem se o PAIGC, ou o País, a Guiné pouco beneficiou.

Mas, quem pense bem na hipótese de Portugal ter feito o que fez a Bélgica em 1960, escolheu uma elite e arreou a bandeira Belga, tu amigo Cherno, estarias a escrever estes postes em Português?

Existiria aquela fronteira em Pirada e Varela? e mesmo em Buruntuma?

Cherno, não deixes de escrever e arrasta outros para cá.

um abraço

Anónimo disse...

Cherno

Contigo estou sempre a aprender e a descobrir novos pontos de vista da realidade da Guiné. Agora foi a chegada dos guerrilheiros depois de Abril de 74, observada pelos olhos de uma criança aculturada ao viver dos militares portugueses, mas também o modo como essa mesma criança observou as populações tentarem a "aproximação" a esses mesmos guerrilheiros e as suas dúvidas, medos do futuro próximo.
São sempre ângulos de ver uma realidade que, sem os teus escritos,nos escapavam.
Mais uma vez te digo - CONTINUA A ESCREVER.
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Caro Amigo Antº Rosinhas

O teu comentario é oportuno e as questoes colocadas bastante pertinentes.
Na minha opiniao, nao considero, de forma alguma, que a colonizacao Francesa fosse melhor ou pior.O melhor mesmo seria nao haver colonizaçao. Nesse ponto, acho que estamos todos de acordo. Também nao podemos deixar de notar que, por motivos e razoes diferentes, algumas colonias foram melhor preparadas que outras para assumir os seus destinos.
Por outro lado, concordo contigo em como a independencia da Guiné-Bissau, por ter sido da forma como foi, nao contribuiu para criar as condiçoes desejaveis para o normal processo de transição e de transformação politica, de desenvolvimento e de inserçao ao mundo.
A liberdade total num mundo dominado por fortes conflitos de interesses de paises mais poderosos, pode ter no seu reverso um isolamento total, que rapidamente pode transformar-se numa terra de ninguém, palco de rivalidades e de cobiças diversas.

O elo de ligação mantido entre a França e algumas das suas ex-colonias, sob a forma de uma aparente protecção, em certo sentido, foi muito importante para serenar os animos e dar uma certa orientação, mesmo se ainda nao conseguiram dar o tal salto necessario para uma autonomia mais solida.
Se observar-mos bem, mesmo entre os animais selvagens, as vitimas sao, invariavelmente, as mais fracas, mais isoladas e que se encontram sem protecção.

Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)