quinta-feira, 15 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9612: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (5): Lista de oficiais CEM do QG do CTIG (Luís Gonçalves Vaz)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Foto nº 5

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... 

Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), no último dia do evento. Na foto nº 1, o Coronel de Cavalaria do Exército Português, Carlos Matos Gomes, na situação de reforma, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz)... É também um conhecido historiógrafo da guerra do ultramar / guerra colonial, co-autor, juntamente com Aniceto Afonso, de diversas publicações.

Na foto nº 2, Matos Gomes está junto do catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário, em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa... Por detrás, vê-se o edifício, em ruína, da antiga (se não me engano)  2ª Rep do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. 

Na foto, por detrás do Matos Gomes, vê-se o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep (salvo erro) do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes...


Nas fotos nºs 3 e 4, vemos o Matos Gomes a servir de cicerone ao Paulo Santiago e a mim próprio. Entre os edifícios históricos, há o do antigo Com-Chefe (foto nº5). Foi aí que um grupo de conspiradores entrou de rompante no gabinete do Com-Chefe, e deu voz de prisão ao General Bettencourt Rodrigues, na manhã de  26 de Aril de 1974, o chamado golpe de Estado do MFA na Guiné. Portanto, foi na Amura e não no palácio do Governador que tudo aconteceu...

Desse grupo de oficiais revoltosos faziam parte Ten Cor Mateus da Silva (Eng Trms) (*), Ten Cor Maia e Costa (Eng), Maj Folques (Cmd), Maj Mensurado (Pára), Cap Simões da Silva (Art), Cap Sales Golias (Eng Trms), Cap Matos Gomes (Cmd), Cap Batista da Silva (Cmd), Cap Saiegh (Cmd Africanos), Cap Ten Pessoa Brandão (Armada ) e Cap Mil José Manuel Barroso.

Matos Gomes, na altura capitão do Batalhão de Comandos da Guiné, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história recente dos nossos dois países.. Voltou lá, à Amura,  34 anos depois...

Hoje, na Amura, repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros combatentes da liberdade da pátria, como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna, 'Nino' Vieira, etc. (LG).


Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, com data de hoje:


 Data: 15 de Março de 2012 15:03
Assunto: Lista de Oficiais do QG do CTIG

Olá,  Luís:


Conforme solicitaste, aí vai a lista de oficiais do QG, a saber:


Em  1973/74, eram estes os oficiais do QG (O meu pai, o ten cor Ventura e o major Cabrinha, sei que estiveram até ao fim de 74):

Chefe do Estado-Maior - Coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz

Chefe da 1ª Repartição - Tenente-coronel do CEM Cunha Ventura

Chefe da 2ª/3ª Repartição - Major do CEM Cabrinha (foi este oficial que representou o meu pai, CEM/CTIG e CCFAG na altura, na cerimónia de transmissão de soberania em 9 de Setembro, em Mansoa) [, cerimónia onde esteve também em destaque o nosso co-editor, o ex-Fur Mil Op Esp / Ranger Eduardo Magalhães Ribeiro]

Chefe da 4ª Repartição - Tenente-coronel do CEM Morgado

Chefe de Serviço de Transportes - Tenente-coronel de Infantaria Monsanto Fonseca

[Notas do LGV: (i) CEM - Corpo do Estado Maior (oficiais com o curso complementar de Estado Maior no Instituto de Altos Estudos Militares);  (ii) recorde-se, por outro lado, que em 17 de Agosto de 1974 foi  oficialmente criado o QG unificado para o CC (Comando Chefe) e CTIG . Assim, a 2ª Rep, por exemplo, passou a designar-se 2ª Rep do CC/FAG, ou seja, Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné]...

Abraço

Luís Beleza Vaz
______________


Nota do editor:


Último poste  da série > 13 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9602: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (4): Documentação referente a negociações entre Portugal e o PAIGC com vista à desmobilização das tropas africanas que combateram por Portugal (Carlos Filipe)

(*) Vd. aqui excerto das declarações do Gen Mateus da Silva, no âmbito do seu depoimento sobre a  descolonização (Estudos Gerais da Arrábida, painel dedicado à Guiné, 29 de agosto de 1995):

(...)  No dia 26 de Abril, logo de manhã, nós, este grupo que estava mais ligado, reunimo-nos no Batalhão de Pára-quedistas, em Bissau, às 8.30h, a discutir o que havíamos de fazer. E foi nessa reunião que decidimos intervir e, digamos, fazer aquilo a que eu chamo um golpe militar em Bissau, que na altura não teria esta percepção, mas, a posteriori, considero que de facto foi um golpe militar. (...)

(...) Às 9h (era feriado municipal em Bissau), fomos ao gabinete do comandante-naval, comodoro Almeida Brandão, convidá-lo a ser o nosso futuro comandante-chefe. Também tem piada porque, antes de destituirmos o governador, já estávamos a convidar o futuro
comandante-chefe. O comodoro hesitou um bocado e disse que não podia aceitar. Nós até queríamos que ele também fosse logo connosco ao gabinete do Bettencourt Rodrigues. Recusou-se mas acabou por dizer que aceitava ser comandante-chefe. Em seguida, ainda passámos pelo Palácio do Governador mas ele não estava, estava no comando-chefe na Amura. Fomos então à Amura. Na altura, houve uma companhia da polícia militar que cercou o comando-chefe, e também havia tropas pára-quedistas nossas que estavam ali à volta.


Entrámos de rompante no gabinete do general Bettencourt Rodrigues, o ajudante meteu-se à frente e levou um pinhão que voou por ali adentro… A porta abriu-se de escantilhão e nós entrámos. Agora imaginem, do ponto de vista do general comandante-chefe, que vê um grupo aí de doze oficiais, entrarem-lhe assim pelo gabinete… Ele ficou logo desequilibrado psicologicamente.


(...) O general Bettencourt Rodrigues perguntou se estava preso, e este também é um aspecto que acho muito interessante. É evidente que ele estava pelo menos bastante coagido, mas eu disse: «Não, o meu general não está preso, simplesmente vai ao palácio, faz as suas malas e embarca hoje no avião para Lisboa.» E foi o que ele fez, mas muito civilizadamente. (...)

10 comentários:

Luís Graça disse...

Escrevi, na altura, este irónico poema... Faço votos para que as forças armadas da Guiné-Bissau, o Governo, as suas elites, o au povo, os nossos amigos daquela terra "verde e vermelha"... saibam cuidar deste lugar, a Amura, que é património de todos nós... Sem paternalismo(s), com amizade... (LG).

___________________

Avelha Amura dos tugas,
por Luís Graça



A velha Amura dos tugas
agora cercada de guinéus
por todos os lados.
Ilha de areias movediças
num mar de belugas,
foi rampa de lançamento de lançados.
Dizem que aqui nasceu Bissau.
De linhas tortas,
as ruas direitas da capital.

Saúdo os ilhéus,
figuras de museu de cera,
de faces mortiças:
à frente, o capitão-diabo,
o bigode farfalhudo,
espadeirando a torto e a eito,
de peito feito
ao fogo do canhangulo.
Mais os seus soldadinhos de chumbo,
que eram uma ternura:
em linha,
em formatura,
nas suas fardas multicolores,
coloniais,
do tempo dos Cabrais.
Davam vivas à Pátria
e à Rainha.
Aqui como em toda a parte,
onde o Império tinha engenho e arte.

Ah! A velha Amura,
inútil baluarte,
com os seus canhões
de bronze,
incandescente...
Casamata,
prisão,
dormitório,
agora panteão,
nacional,
coberto de poilões.

Eram onze
os soldadinhos,
como no jogo de matraquilhos.
E combatentes da liberdade da Pátria,
contei-os pelos dedos da mão.

Que fazes aqui, Amílcar,
que já te mataram, Cabral ?
E de que traições podias falar,
se fosses vivo,
tu, Osvaldo ? E tu, Vieira ?

E quanto a ti, Titina,
que incendiavas paixões
pelo Oio ?
Que fazes também aqui,
jazida entre os poilões,
debruados de branco,
da triste Amura ?
Cuidado, Silá,
que os tugas montaram-te a cilada
na cambança do Rio Farim.

Vejo mais à frente o Domingos,
O valente Ramos,
herói de banda desenhada,
que irá morrer de morte matada
em Madina do Boé.

E tu, Rui Demba Djassi,
de quem eu não sei nada,
a não ser que morreste em 1964,
depois do mítico Congreso de Cassacá ?
Sei ainda que tens nome de rua,
suja e esburacada,
na capital da tua terra...

E o camponês balanta,
Pansau Na Isna,
herói do Como,
guerrilheiro-cowboy,
enfrentando as naves loucas dos tugas
com a sua Kalash de contrafacção ?

Na Amura fez-se história,
diz-me o guia.
Ou a história dos vencedores
que contam a história
de como venceram
os vencidos.

Luís Graça
Bissau, 7 de Março de 2008

Anónimo disse...

Não me parece decente proclamar 'aventuras de trazer por casa', sem importância e que de algum modo minimizam, se não achincalham distraidamente, a figura de um militar com a envergadura, a dignidade e o espírito de camaradagem do General Bettencourt Rodrigues.

Haja comedimento nesta chafarica, pede-se.

SNogueira

manuel amaro disse...

Interessante, muito interessante.

Gostei de ler o nome dos oficiais revoltosos que deram voz de prisão ao Governador e Com. Chefe.

Também seria interessante saber, hoje, qual foi o percurso, revolucionário ou não, deste glorioso grupo.

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caro Manuel Amaro:

A saber:

Lista dos Oficiais revoltosos:

T-coronel Mateus da Silva Engº Tm


T-coronel Maia e Costa Engº


Major Folques Comandos


Major Mensurado Páraquedistas


Capitão Simões da Silva Art


Capitão Sales Golias Eng Tm


Capitão Matos Gomes Comandos


Capitão Batista da Silva Comandos


Capitão Saiegh Comandos (Africano)


Capitão-Ten. Pessoa Brandão Armada


Capitão mil. José Manuel Barroso


Cumprimentos:


Luís Gonçalves Vaz

(Filho do último CEM/CTIG)

Luís Graça disse...

Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2002)...

Chafarica (ou chafarrica) é:

1.Pequena venda ou loja ordinária;

2. Estabelecimento do tipo taberna;

3. Por extensão, ausência de ordem, de harmonia; confusão, desordem:

4. Por extensão, pejorativo, loja maçónica…

Etimologia de origem desconhecida.

Joaquim Mexia Alves disse...

Civilizadamente, sem dúvida, da parte do Gen Betencourt Rodrigues, que era um Senhor Militar.

O mesmo já não se pode dizer da pessoa que escreve tal prosa, com uma arrogância indigna de um militar.

«Levou um pinhão...»!!!

O Gen Betencourt Rodrigues abalado psicologicamente???

Enfim, tristezas de quem se coloca em "bicos dos pés".

Refiro-me obviamente ao depoimento final de um tal Gen Mateus da Silva.

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caro Joaquim Alves:

Para seu conhecimento,e para ilustrar mais um pouco, de que efectivamente o Sr. General Bethencourt Rodrigues nunca esqueceu "esse momento", sempre achou que "foi maltratado" na sua "Destituição" de Comandante-Chefe! Disse-o directamente ao Jornalista Joaquim Furtado, aquando de um pedido de uma entrevista para (por parte deste jornalista) o seu filme.
Numa das minhas histórias na Guiné narradas neste Blog, conto acerca deste "episódio", numa introdução o seguinte:
"...O meu falecido pai, Coronel Henrique Gonçalves Vaz, Chefe do Estado-Maior do CTIG, teve conhecimento durante a noite de 25 para 26 de Abril, pois na madrugada recebeu, pelo seu telefone “civil” (não o militar!), a notícia de que na Metrópole decorria um “Golpe de Estado” para derrubar o sistema político de então (sei que foi um oficial da sua confiança que lhe ligou aqui da Metrópole).

Logo de manhã o meu pai dirigiu-se para a reunião do costume, com o General Comandante-Chefe no Palácio do Governador (pelo que li há pouco,acho que foi no Forte da Amura...). Quando lá chega vê o edifício cercado por tropas especiais e deparou-se com a “destituição” de Bettencourt Rodrigues. É claro que o coronel Henrique Vaz não pertencia ao MFA, mas isso não o impediu de se insurgir contra alguns “modos um pouco rudes” (em sua opinião, é claro) com que estariam a conduzir o processo de destituição (ou prisão?) do Comandante-Chefe, e ofereceu-se para o acompanhar ao avião que o conduziria de regresso a Lisboa, via Cabo-Verde.

O General Bettencourt Rodrigues despediu-se com um abraço do meu pai, e agradeceu-lhe o “respeito” demonstrado, apesar de saber que o meu falecido pai iria continuar a ocupar o seu posto no Teatro de Operações da Guiné. ..."

Abraço

Luís Gonçalves Vaz

Luís Gonçalves Vaz disse...

Continuação:

Caro Joaquim Alves:

Conto-lhe estes "episódios", para que se possa inferir, de que esta "historieta" do «Levou um pinhão...»!!! terá o seu quê de verdade, e vem "ilustrar" a parte de que "revelei" na minha "estória" em:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2012/01/guine-6374-p9399-no-25-de-abril-de-1974.html

Abraço

Luís Gonçalves Vaz

Luís Gonçalves Vaz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Caros camarigos

Dá-me licença meu General..
Sentido...continência.
Vimos informar V.exa para fazer o obséquio de se destituir...
É que ocorreu um golpe de estado em Portugal e não queremos que V.exa continue no cargo.. se não se importa.

A sério.
Qualquer acto desta natureza é sempre mais ou menos violento.
Poderá haver ou não maior ou menor comportamento de urbanidade de quem o pratica.
Para quem o sofre..é sempre traumatizante..

Imaginem o mesmo..em qualquer País da América Latina..ou até em Espanha.. "se sente..coño..que te vás à sentar.. cabron...tá..tá..puffff.

Não pretendo ofender ninguém.
É apenas ironia..não sei se tenho piada..

C.Martins