segunda-feira, 16 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9751: FAP (67): Os meus STRELAs. Factos e opiniões. (António Martins Matos)

1. O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen Pilav Res), enviou-nos em 5 de Abril a seguinte mensagem. 

Caros amigos 

A revista Mais Alto publicou nos seus números 392 e 393 dois artigos sobre os mísseis STRELA na Guiné e Moçambique. 

Por saber que dentro de 50 ou 100 anos esses textos serão tidos pelos “historiadores” da época como a “verdade” do que efectivamente aconteceu (ou não fossem eles publicados em revista oficial) e porque esses textos contêm falhas, lacunas, omissões, testemunhos de quem nem sequer passou pela Guiné, ou tendo por lá passado não esteve minimamente envolvido no tema, apenas repetindo o que ouviu contar..., por tudo isto.... resolvi escrever o que vivi desde o seu aparecimento em 20MAR73 até 10FEV74, data em que regressei à Metrópole (era assim que então chamávamos a este cantinho à beira mar plantado). 

Refiro apenas o que aconteceu “in loco” durante o período, quanto a dados referentes a decisões de Estado Maior em Lisboa, não confirmo nem desminto, não estava lá para saber o que discutiram ou decidiram, se é que decidiram alguma coisa, já que nunca tivemos qualquer informação do que se passaria nas altas esferas. 

Alguns dos acontecimentos já serão do conhecimento público, inclusive descritos nesta tertúlia, outros nunca terão sido revelados, as minhas desculpas se repito algo que já foi dito é apenas para encandear os acontecimentos numa sequência lógica. 

Um último reparo, em devido tempo e por não concordar com o que foi publicado, escrevi (por duas vezes) ao Director da revista Mais Alto, referindo as falhas do artigo e oferecendo-me para dar a minha modesta contribuição no sentido de dar um maior rigor ao documento... 

Não obtive qualquer reposta, pequenina que fosse. 


Os meus STRELAs 
Factos e opiniões 

No início de 1973 havia alguns rumores que a guerra se iria intensificar, que o PAIGC iria passar a dispor de armas mais sofisticadas, entre elas mísseis terra-ar,…. tão só informações semelhantes a tantas outras, nada de palpável que justificasse pela parte da Força Aérea (FAP) uma conduta diferente do até aí exercido. 

A FAP voava em todo o território da Guiné sem qualquer restrição, passávamos horas a sobrevoar o que “outros” chamavam de “áreas libertadas”, em busca de alvos camuflados debaixo do arvoredo, em voos a baixa altitude e baixa velocidade e, apesar de estarmos ao alcance de qualquer arma ligeira, sempre sem sermos incomodados. 

Ao contrário do apregoado por alguns nossos amigos, não havia (nunca houve) qualquer tabanca libertada e visível do ar, a pouca população controlada pelo PAIGC limitava-se a viver escondida na mata, algumas áreas cultivadas eram o único vestígio da sua presença. 

A área que me tinha sido atribuída para patrulhamento e identificação de eventuais alvos era a zona norte da Guiné, fiz inúmeros voos de DO-27 sobre o Morés e a Caboiana, às voltas e mais voltas à procura das tais “áreas libertadas”, nunca tive qualquer problema. 

A pergunta que desde logo se impõe..., se chegávamos a voar a cerca de 50 metros da copa das árvores, porque razão não nos alvejavam? 

Tínhamos uma regra que, pelos vistos, o PAIGC acatava, se disparassem um tiro contra uma aeronave não demorava mais de vinte minutos até essa área ser completamente bombardeada. 

Era assim em toda a Guiné, fosse no Choquemone, Morés, Caboiana ou Cantanhês. 

A 20Março73 uma parelha de Fiat G-91 que efectuava o patrulhamento ao longo da fronteira norte foi alvejada por algo que os pilotos (Tcor Brito+Ten Pessoa) não conseguiram identificar, tampouco souberam de onde tinha partido o disparo, apenas um rasto de fumo no ar, o assunto acabou por ser esquecido. 

Dois dias depois o Furriel M, pilotando um DO-27 e com a missão de dar o apoio semanal aos quartéis do sector a norte do rio Cacheu, foi alvejado por algo que identificou como tendo sido um disparo de RPG. 

De imediato informou as Operações da BA-12 do sucedido, tendo estas decidido enviar para o local a parelha de alerta dos Fiat G-91. 

Esta parelha era composta por mim e pelo Ten M, os nossos aviões armados com foguetes e metralhadoras. 

Chegados ao local e após uma troca de informações via rádio com o piloto do DO-27, logo se tornou evidente que o disparo não podia ter sido de RPG, tinha sido efectuado da orla da mata e, a acreditar no reporte, o projéctil tinha percorrido uma distancia superior a 1000 metros. 

Decidimos ir disparando alguns foguetes e metralhadoras ao longo dessa orla de mata e na direcção Norte até que, junto da fronteira, fomos subitamente surpreendidos por reacção inimiga com dois disparos bem diferentes dos habituais, dois traços de fumo branco acabaram por passar perto dos nossos aviões. 

Com as munições entretanto esgotadas mas sentindo que havia necessidade de uma maior reacção, solicitámos que Bissau enviasse ao local uma segunda parelha de Fiat´s. 

Apenas um avião acabou por chegar em reforço, pilotado pelo Cap PF. 

Este piloto fez alguns disparos na direcção por nós indicada até que, quando efectuava a recuperação de um passe de metralhamento, nos apercebemos de um novo disparo, algo descrevia uma trajectória em direcção ao Fiat G-91. 

Tornou-se desde logo evidente que o “projéctil” tinha uma trajectória curva, como se procurasse perseguir o avião, só não embatendo na aeronave pela manobra de recurso in extremis efectuada pelo piloto. 

Ainda assim e como fosse sentido um estremecimento fora do normal, o piloto ficou com a ideia de ter sido atingido, regressando a Bissau com a maior das cautelas. 

Já aterrado verificou-se não ter havido qualquer estrago, concluímos que o estremecimento da aeronave teria sido provocado pela velocidade e respectiva “onda de choque” do foguete. 

Desta missão concluímos dois dados de alguma importância, o projéctil seguia em busca do alvo, corrigindo a sua trajectória no ar e a sua velocidade era superior à do som. 

Este terá sido o momento em que, a serem aceites as informações dos pilotos e recordando os rumores de que novo armamento do PAIGC estaria a chegar, tudo poderia ter sido diferente. 

Infelizmente as chefias da altura não aceitaram estas conclusões, insistindo na teoria absurda de um simples “foguete”, um RPG mais potente, com maior alcance mas sem ser direccionável. 

Em 25Março73 o Ten Pessoa foi abatido nas imediações do Guileje. (G-91 nº5413) 

A guerra tinha-se intensificado e era evidente que o apoio aos quartéis com metralhadoras e foguetes já não surtia o efeito desejado, necessitávamos de uma melhoria imediata no armamento, nada de exorbitante, apenas a substituição das metralhadoras 12,7 por canhões de 20 ou30milímetros. 
Enquanto os nossos requisitos não eram atendidos tínhamos encontrado uma solução à portuguesa, os dois pilotos de alerta passavam a dispor de quatro aviões preparados para saírem em 10 minutos, dois na versão normal, foguetes e depósitos de combustível nas asas, e dois em que os depósitos exteriores de combustível e os foguetes eram substituídos por bombas, reduzia-se o tempo em voo de 1:30 para :50 minutos mas aumentava-se o poder de fogo. 

Esses quatro aviões estavam sempre completamente inspeccionados, armados e prontos a descolar, os mecânicos tinham-nos preparado, o piloto só tinha que entrar e pôr em marcha. 

Desta maneira, em função da ameaça esperada e partindo do pressuposto de que o pedido era claro e preciso, os pilotos escolhiam quais os aviões a voar, com a configuração mais adequada.
Em casos omissos ou pouco claros, um dos pilotos seguia no avião com maior autonomia, avaliava a situação e, via rádio, dizia qual o tipo de aeronave que o segundo piloto deveria utilizar. 

O segundo avião chegava à área cerca de 10 minutos depois e podia largar de imediato o seu armamento, a sua menor autonomia era compensada pelo facto de todas as ambiguidades terem entretanto sido resolvidas pelo seu parceiro. 

Naquele dia o pedido do Guileje não era claro, apenas referiam que tinham sido alvejados, não se sabia de onde, nem com que arma, descolou um piloto no avião de maior autonomia, o outro ficou a aguardar para saber qual o avião utilizar. 

À chegada ao Guileje o primeiro piloto contactou o quartel mas nunca chegou a transmitir para Bissalanca o resultado da sua avaliação. 

De inicio ficou a dúvida se o avião se teria despenhado devido a uma eventual avaria ou se teria sido abatido, já que se sabia da existência de antiaéreas posicionadas no território vizinho, mesmo junto à fronteira. 

Durante o resto do dia foram feitos vários voos na região, não houve qualquer reacção IN, a localizaçãodo do piloto ocorreu já ao fim da tarde, razão pela qual a operação de resgate só veio a acontecer na manhã seguinte. 

No dia seguinte aconteceu um facto curioso, uma parelha de T-6 (Furriéis M e F) que patrulhavam a área mais a norte viu-se de repente alvo de alguns disparos da “tal arma”, os disparos feitos de frente para as aeronaves. 

Não intimidado com estes disparos, o Fur F largou todos os seus foguetes no local de onde tinham partido os disparos inimigos, causando eventualmente as primeiras baixas nas equipas Strela. 

Um dos dados que referiu à posteriori foi que “o foguete” era de cor vermelha! 

Em 28Março73 foi abatido o Tcor Almeida Brito (G-91 nº5419) 

Tendo sido recebida a informação de que Nino Vieira se estaria a deslocar numa picada junto à fronteira Sul, foi a razão para a saída imediata de uma parelha de Fiat G-91 (Tcor Brito+Cap PF). 

Os aviões percorreram em voo baixo a referida picada, nada encontraram, regressaram pelo mesmo percurso, o número 1 foi abatido, o seu avião explodiu em pleno voo, um segundo disparo em direcção ao número 2 falhou o alvo. 

Mais tarde concluiu-se que a “arma” teria sido disparada por detrás e teria entrado no escape do avião, mais dois dados a juntar à informação sobre a nova arma, ... precisão e velocidade. 

Escusado será relembrar que a morte do Tcor Brito, foi um rude golpe no moral dos pilotos, para além de ser o piloto mais experiente na Guiné, era igualmente o nosso Comandante. 

Outro factor que nos afectou negativamente foi a decisão de não se tentar recuperar o seu corpo, os pára-quedistas estavam desde logo prontos a seguir para a zona mas, como o General Spínola de momento não estava em Bissau (estaria em Bolama) , o Brigadeiro que o substituía limitou-se a dizer “aguardemos pela chegada do nosso General”. 

Tal decisão valeu-lhe uns “mimos” em português vernáculo proferidos pelos presentes, a excelência corou mas não reagiu, nada se alterou. 

Quando mais tarde o Gen Spínola chegou à base e perguntou porque não se tinha saído para a missão já era demasiado tarde, a noite a chegar. 

Na manhã seguinte aconteceu algo inexplicável, foi decidido nada decidir, assim o corpo do Tcor Brito ficou uns vinte anos abandonado nas matas da Guiné. 

Um mau exemplo destruidor do moral dos presentes estava ali, para quem quisesse ver, se não se recuperava o corpo de um Tenente Coronel, Comandante do Grupo Operacional, muito menos vontade haveria para eventualmente recuperar o dos Tenentes, Alferes, Furriéis, ...

Entretanto continuávamos a tentar descobrir que arma era aquela, várias reuniões tiveram lugar a fim de se tentar compilar a informação até aí encontrada e que era escassa: 

Supersónico, alcance 1000 metros, pintado de vermelho. 

A grande dúvida continuava a ser o descobrir se o foguete era dirigível ou não, os pilotos a dizerem que sim, as chefias que não. 

Alguém estabeleceu a primeira “directiva”, passam a voar acima de 1000 metros, nessa altitude não há qualquer problema. 

Dito e feito. 

Em 06Abril73 foram abatidos o Fur Baltazar e o Maj Mantovani, tendo igualmente desaparecido o Fur. Carvalho. 

Não se soube como o Fur Baltazar foi atingido, transportava alguns passageiros, o seu avião já foi encontrado destruído no meio da mata. 

No caso do Fur Carvalho tampouco se soube se foi abatido, crê-se que sim, mas o seu avião nunca foi encontrado, com ele desapareceram igualmente os seus passageiros. 

Já o Maj Mantovani foi abatido à vista de todos, voava entre Bigene e Guidage e acima dos 1000 metros na suposta área de segurança, um “foguete” saiu da mata, apontou ao seu avião, rapidamente percorreu mais de 2000 metros e fê-lo explodir. 

Nessa tarde os pára-quedistas trouxeram o que era suposto ser os restos do disparo de um “foguete”. 

Não foi preciso muito para que as explicações das chefias caíssem por terra, estava ali à vista de todos que as alhetas dianteiras do “foguete” tinham movimento, mexiam!!!!!! 

Agora já não havia dúvidas, a arma era um míssil com sistema de direcção autónomo. 

No dia seguinte ocorreram vários acontecimentos dignos de realce: 

- Um piloto de Fiat G-91 recusou-se a voltar a voar. 

Esta recusa associada às recentes baixas tornaram a situação alarmante, restavam apenas 5 pilotos de G-91 disponíveis, 2 Coronéis (os Comandantes da Zona Aérea e da Base), 1 Major (Oficial de Operações, 1 Capitão (Comandante de Esquadra) e 1 Tenente. 

- Um piloto de AL-III arranjou uma maneira simples de acabar a sua comissão de serviço, dando um tiro numa perna. 

- Alguns pilotos recusaram-se a voar enquanto não lhes fosse explicado que arma era aquela.

Estavam os acontecimentos neste estado quando de súbito e sem que ninguém o esperasse, apareceu nas Operações do GO-121 um documento de origem americana com a T.O (Technical Order) do míssil soviético SA-7 GRAIL, designado com o código NATO de “STRELA”. 

Pelo documento constatamos que esta arma tinha sido introduzida há pouco tempo na guerra do Vietnam, as forças americanas tinham sofrido inúmeras baixas enquanto não tinham identificado o míssil, o documento continha todas as informações necessárias para o seu estudo e como se deveriam estabelecer as respectivas medidas de protecção. 

Das suas características sobressaía o alcance, 3,5 quilómetros, a altitude em que era efectivo, de 15 a 1.500 metros, velocidade 1,4 superior à do som e sistema autónomo de guiamento por infravermelhos. 

Não acredito em milagres, mas que os há... há. 

Não havendo nessa época internet ou fax, ainda hoje passados que são 39 anos não consigo perceber como o documento apareceu assim, de repente e do nada, não sendo milagre a única explicação é ter estado na gaveta de alguém a “marinar”. 

Foi preciso morrerem pilotos, mecânicos, enfermeiros, militares do Exército, para que finalmente soubéssemos que arma nos alvejava e pudéssemos estudar as respectivas contra-medidas. 

Nos dois dias seguintes praticamente não houve voos, estudaram-se as manobras que melhor poderiam proteger as aeronaves. 

Algo sobressaiu de imediato, ao contrário do que tinha sido “decidido” anteriormente, 1000 metros de altitude era precisamente a zona em que as aeronaves estavam mais expostas. 

Chegámos à conclusão que o míssil poderia ter um alcance até 4.000 metros e que tinha de ser disparado com um angulo mínimo de 5 graus em relação ao solo, caso contrários caia aos pés do atirador. 

Possuía duas espoletas, uma de impacto e outra de influência, não era necessário colidir com o alvo para se dar a explosão, bastava-lhe passar perto da aeronave. 

Uma conclusão importante e que não vinha no manual era o facto de não ser pintado de vermelho conforme alguns pilotos tinham referido, a cor vermelha que alguns tinham visto era tão só a chama do foguete propulsor quando visto de topo, ou por outras palavras, quando este vinha ao nosso encontro. 

Logo estabelecemos uma regra de ouro, quem avistasse o fumo branco do seu disparo podia ficar descansado, o míssil não lhe era dirigido, já quem o visse como uma bola vermelha podia estar certo que, se nada fizesse, esse seria o seu dia. 

Compilando todos os dados entretanto adquiridos conseguimos elaborar algumas contra-medidas, a saber: 

1. Nas suas deslocações em zonas suspeitas ou junto às fronteiras, todos os aviões passavam a voar abaixo de 60 ou acima de 3000 metros; 

2. O apoio fogo aos quartéis passava a ser feito com bombas em vez de metralhadoras e foguetes; 

3. Os T-6 terminavam a sua participação na guerra pois dada a sua baixa velocidade não conseguiam furtar-se a um disparo do míssil; 

4. Em função da ameaça, os quartéis da Guiné receberam uma nova classificação de Seguros, Médios e Inseguros; 

5. Quartéis Inseguros eram os situados junto à fronteira e onde houvesse movimentação confirmada do PAIGC, onde uma aeronave pudesse ser alvejada do próprio país vizinho. 

Caíram nesta classificação Guidage, Buruntuma, Guileje e Gadamael. 

6. O apoio logístico a estes quartéis ficava confinado ao quartel Médio mais próximo; 

7. Os quartéis Médios ou Seguros passavam assim a funcionar como o que hoje se designa de HUB Aeronáutico. 

8. Os DO-27 tinham 2 hipóteses, ou voavam abaixo de 60 metros, ou descolavam e subiam à vertical de um quartel Seguro, voavam a 3.000 metros até um outro quartel do mesmo tipo, descendo à sua vertical. 

9. Os AL-III evitavam áreas descampadas ou de grandes bolanhas, já que enquanto estivessem a voar sobre a floresta estariam seguros. 

Na prática todos os pilotos de DO-27 optaram por passar a voar baixo o que, minorando o risco do míssil, trazia um perigo acrescido. 

Foi assim que tivemos aeronaves a baterem em ramos de árvores ou entrarem rios adentro, caso de um ALIII a chegar a Cacine cheio de água, ou a foto do Mais Alto, onde, devido a uma falha de motor (e não de um míssil) uma aeronave DO-27 acabou por amarar perto da ilha do Como. 

Cabe aqui referir um ponto importante e que tem sido usado amiúde para denegrir a FAP ou justificar o injustificável, nunca o General Spínola deu ordem ou a FAP se recusou a ir buscar um ferido grave, fosse onde fosse, imprescindível era o conhecimento de que o ferido era mesmo grave, já que por vezes tal não se verificava. 

Para que conste, deixei algumas vezes de almoçar para ir buscar feridos supostamente graves e que apareciam pelo seu pé, prontos para ir de férias. 

Com as baixas entretanto verificadas (Tcor Brito e Ten Pessoa abatidos e Ten M “doente”), era evidente que os restantes pilotos de Fiat G-91 estavam numa situação delicada, era humanamente impossível manter o ritmo de 3 voos diários, a Esquadra estava reduzida a dois pilotos. 

Alguém em Lisboa decidiu enviar alguns pilotos de reforço a fim de tentar minorar o esforço exigido, esperávamos alguém que já conhecesse a Guiné, posteriormente constou-nos que não haveria voluntários, lá acabou por aparecer um piloto, o Cap BA, conhecia Moçambique mas nunca tinha estado na Guiné, manteve-se connosco cerca de 3 meses, o tempo da FAP se tentar recompor. 

Durante esse verão acabaram por chegar 7 novos pilotos, vinham suprir as baixas entretanto verificadas (3), e os que tinham terminado o seu tempo normal de comissão (2). 

Nesta matemática do deve-haver ficávamos a ganhar, tinham saído 5 pilotos e chegavam 7. 

Só que não foi bem assim, dos 7 recém chegados tivemos de imediato 3 baixas, 1 por “doença inesperada” e 2 por se terem ejectado logo durante as suas missões iniciais (Cap W e C). 

Estas duas ejecções ocorreram ambas durante operações na zona norte, uma sobre o Morés (G-91 nº5416) e outra junto ao Tancroal (G-91 nº5409), mas nada tiveram a ver com os mísseis ou antiaéreas, tão só falhas mecânicas, ambos os pilotos foram recuperados. 

Com a aplicação das contramedidas estudadas e não obstante o PAIGC ter disparado cerca de 60 mísseis, a FAP apenas teve mais um avião abatido, a 31 Janeiro74, (G-91 nº5437) na região de Canquelifá-Copá, tendo o piloto, Ten Gil, sido recuperado na manhã seguinte. 

Estes são os factos ocorridos em terras da Guiné entre Março73 e Fevereiro74. 

Passemos agora às opiniões, como alguém disse, cada um tem a sua. 

No meu entender o míssil Strela influenciou de algum modo a guerra mas não teve o papel determinante que alguns lhe querem dar. 

O seu sucesso limitou-se ao período de incerteza, quando não se sabia qual o tipo de arma com que o PAIGC nos flagelava. 

Após a sua identificação e estudo das respectivas características passou a ser considerado pelos pilotos como uma arma não mais perigosa que uma antiaérea, nada mais, reacção semelhante tinha igualmente acontecido com os pilotos americanos no Vietnam. 

O que na Guiné mudou foi o modo de operar dos Fiat G-91, passaram a voar mais alto, não por receio da ameaça (como é hábito os mais mal informados dizerem) mas sim pela necessidade de ter de se efectuar uma picada acentuada (60º) para a largada do armamento, as bombas daquela época só podiam ser largadas dessa maneira. 

Se por um lado o voar mais alto trouxe algum desalento entre as nossas tropas, já que deixaram de ver os aviões, por outro lado o apoio às mesmas foi altamente melhorado, as bombas de 750 libras eram efectivas num raio de 250 metros. 

Só quem não as ouviu a detonar (às vezes bem perto dos quartéis) podem tentar vender a ideia que o tiro de metralhadoras ou foguetes seria mais eficaz. 

Ao longo de todo o conflito a missão da FAP foi sempre a mesma, o apoio aos quartéis, logístico, sanitário ou de fogo. 

No caso dos apoio-fogo, para os pilotos era sempre imprescindível o conhecimento de quatro variáveis a saber 

- De onde tinha partido o ataque; 

- Com que armas; 

- Há quanto tempo; 

- Se (e onde) havia tropa fora do quartel. 

A partir de Março 73 e face a uma certa desorientação terrestre fomos forçados a ter que alterar a estratégia de operação, passando a contactar menos os quartéis e indo mais ao “estrangeiro”, os ataques a Kumbamori e Kandiafara disso são exemplos. 

Já a estratégia do PAIGC foi sempre a mesma, baseada nos conceitos da guerra de guerrilha de Mao Tse-Toung, a saber: 

- Quando o inimigo avança, nós retiramos! 
- Quando o inimigo faz alto, nós flagelamos! 
- Quando o inimigo tenta evitar a batalha, nós atacamos! 
- Quando o inimigo retira, nós perseguimos! 

Foi assim durante toda a guerra na Guiné. 

Foi assim em Guidage, Guilege, Gadamael, ……. 

Em conclusão: 

Ao fim e ao cabo e por mais voltas que tentem dar para justificar um ou outro lado da contenda, na Guiné nada foi inventado, ... 

Tudo se passou conforme vem descrito nos compêndios da especialidade. 

Abraços 
AMM 
Ten PilAv da BA12
___________ 
Nota de MR: 

Vd. último poste desta série em: 

21 DE FEVEREIRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9513: FAP (66): Buruntuma: lá no cu de Judas... o famoso ataque de 13 horas (em 27/2/1970), as represálias aéreas de Spínola (27 /11/1971 ) e a caça aos MIG imaginários (1973) (António Martins Matos / Luis Borrega / José Matos Dinis) 

16 comentários:

Anónimo disse...

Caro Camarada A.M.MATOS

Quero em primeiro lugar louvar a coragem e desassombro deste trabalho.
Será, julgo eu, caso único nas nossas Forças Armadas, um General,na reserva é certo, expor-se publicamente desta forma.
Dizer de forma clara e aberta muitas das situações que viveu e em alguns casos relatar comportamentos de algumas figuras tanto ao nível das chefias como até intermédias que em nada prestigiaram a F.A.P.,mas que felizmente foram excepções.
Revelar aqui a incúria e negligência e até a ignorância de alguns,sendo o que é,é para mim altamente louvável e só prestigia a Instituição a que pertence.

Sobre o conteúdo..Fala quem sabe e viveu e teve a experiência do saber feito.

Estou em sentido e em continência meu General (apesar de ser paisano).

Um grande alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

Obrigado António M. Matos.

Escreveu quem sabe e quem viveu!

Quanto a relatórios e actas sabemos bem como muitos eram feitos, e ainda hoje são, não só nas Forças Armadas, mas em empresas, etc.,etc.

Um relatório redigido de determinada maneira, pode fazer com que aquilo que se pretende, (um reforço, por exemplo), venha a ser concedido por aqueles que ao lê-lo têm o poder de o conceder.

Um abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves
Um grande abraço

Anónimo disse...

Depois de ler FACTOS,clarinhos,clarinhos para militar entender,e sobrepondo-os a relatórios e actas do Estado Maior,sinto-me confundido e defraudado, no meu incomensurável respeito pelos meus "Hierarcas" de então. Um abraço

Luís Graça disse...

Os membros da Tabanca Grande, que aceitaram de bom grado as dez regras de ouro do nosso blogue, têm pelo menos a dupla obrigação de: (i) partilhar a informação e o conhecimento sobre a história da guerra na Guiné (1961/74); e (ii) respeitar e fazer respeitar a verdade dos factos.

Foi isso que acaba de fazer, mais uma vez, o nosso camarada António Martins Matos. Essa postura (ética) deve ser sublinhada e aplaudida publicamente.

Luís Graça

António Duarte disse...

Caro camarada António Matos,
Parabéns pelo excelente artigo. Lança factos e apresenta opiniões.
Senti-o com emoção particular, já que estive no TO de dez de 71 a jan de 74.
1 abraço e obrigado pelo trabalho
António Duarte

antonio graça de abreu disse...

Pois é Luís, respeitar a verdade dos factos.
Bem haja, meu caro general pelo teu
testemunho honesto e verdadeiro.
Andamos há anos a ser bombardeados neste blogue por ideias falsas, a muitos títulos injuriosas para quem viveu os dois últimos anos de guerra na Guiné.
A aviação que deixou de voar, pós Strela, a perda da supremacia aérea,as evacuações que não eram feitas, os Migs IN que vinham aí, a tropa que não saía dos aquartelamentos, os 3/4 do território da Guiné libertado pelo PAIGC, a superioridade militar do IN, enfim um ror de barbaridades, de falsidades.
Bem haja, meu general! Que não te doam as mãos...Trata-se de repôr a verdade, não a verdade absoluta, nem a verdade relativa (não estamos a discutir conceitos de verdade), mas a simples verdade dos factos. Também para merecermos o respeito das gerações mais jovens
que têm muitas razões para ter orgulho nos seus pais e avós.


Uma adenda apenas.
As teses que referes não são de Mao Zedong (leia-se Mao Tsé Tung) mas Sun Zi (sec. IV a. C.), o teórico que escreveu a "Arte da Guerra" e que era admirado por Mao e já por Napoleão que conhecia os seus textos traduzidos pela primeira vez em 1772 pelo jesuíta francês Luis Amiot, em Pequim. Mao Zedong usou as orientações de Sun Zi na guerra de guerrilha contra os japoneses, entre 1937 e 1945 e contra os exércitos do Guomindang, de Chiang Kai-shek, nos conflitos entre 1927 e 1936 (Longa Marcha, etc.) e depois na guerra civil entre 1945 e 1949.

Abraço amigo,

António Graça de Abreu

Antº Rosinha disse...

Nunca se faz a pergunta seguinte: "O aumento do esforço de guerra PAIGC/CUBA/URSS foi motivado pelo assassinato de Amílcar (20/Janº/73)?

Ou era preciso assassinar Amilcar, para justificar o tal esforço de guerra?"

Anónimo disse...

Muito obrigado pelo conciso relatório.
Quem fal'assim nunca foi gago de certeza.

SNogueira

Anónimo disse...

(e, corrigenda, já agora...)

Caro Graça de Abreu,
embora o pensamento de Sunzi (ou Sun Tzu) esteja genericamente subjacente à doutrina militar 'chinesa', os princípios designados pelo Gen Matos, ali em cima, ficam a dever-se à sistematização aplicada com que foram elaborados por Mao Tse Tung/Chu Teh; em síntese, "se o inimigo ataca, eu recuo; se o inimigo retira, eu persigo; se o inimigo estaciona, eu ataco; se o inimigo se agrupa, eu disperso-me".

SNogueira

Anónimo disse...

Excelente e rigorosa exposição que só confirma que há muita gente a ver fantasmas, como se pode deduzir do Post 9750 em que se presta homenagem a Amilcar Cabral por motivo da capa do livro do Beja Santos, quando na verdade a fotografia é do ex.Alf. Mil. João Crisóstomo a atravessar tranquilamente o Geba entre o Xime e o Enxalé. Henrique Matos

Juvenal Amado disse...

Nunca duvidei da coragem dos soldados, marinheiros e pilotos, o que sempre pus em causa foi a impossibilidade de ganharmos a guerra, que quando se deu o 25 de Abril a estávamos a perder de forma acelerada e o porquê, acaba por ser explanado aqui neste poste, bem como nos comentários.
Põem-se em dúvida os relatórios, duvida-se das assinaturas independentemente da época em que foram feitos. Acaba-se por pôr em causa a qualidade do nosso estado maior na Guiné, com o tão aclamado Spinola e posteriormente B. Rodrigues à cabeça.
Este tipo de suspeitas vem dar razão de que, efectivamente a guerra estava perdida e que o nossos governantes militares e civis, tinham perdido completamente o Norte.
Com tais chefes que nem liam e pior assinavam sem ler, como é que íamos ganhar a guerra?
Temos aqui lido sobre a qualidade do nosso armamento.
Passo a sitar: Uma bomba de 750 libras largada de avião teria um efeito de destruição de duzentos e cinquenta metros e provocava um terramoto de grau 5. Que um obus 14, fazia uma razia tal que nem árvores de grande porte ficavam de pé. Multipliquem-se por 3 obuses 14, mais morteiros, mais aviões a bombardear em voo picado, ou simplesmente aviões com a porta aberta, donde se atiravam bombas de 750 libras à mão (já aqui li isto também, o que prova que embora estando lá, não sabia da missa a metade) sobre as posições atacantes. Depois tínhamos no terreno o equivalente a seis soldados por cada guerrilheiro, (nas contas do Marcelino da Mata eram ainda mais pois ele acrescentou quase 60.000 soldados sobre a nossa bandeira, com o agravante de operacionais só haver 1000 ou 999 mais ele). A maioria desses soldados estavam aquartelados em zonas que dominavam policiavam e defendiam dos ataques do IN ( embora também tivéssemos sido acusados de não sair do arame por um general, que causou grande indignação nos camaradas deste blogue).
E agora pergunto eu quais eram os resultados ?
Como é que o IN escapava ao poder destruidor das nossas bombas? À partida eles quando atacavam não tinham protecção, pois não podiam andar com um abrigo às costas, contra semelhante poder de destruição, com o agravante de que muitos dos ataques deles não eram esporádicos, mas por vezes atacavam vários dias seguidos.
Onde é que estão relatórios das baixas infligidas ao IN? Não falemos por favor de propaganda.
Em que altura perante tanto poder de fogo se tornou visível a nossa vitória militar? O aniquilamento do inimigo e a ocupação do terreno não deveria ser uma consequência lógica?
Voltamos a finais de 1968 quando o brigadeiro Hélio Felgueiras disse por outras palavras, que não era possível bater o IN embora o enorme dispêndio de homens e meios em operações militares, que após o seu fim voltava tudo ao mesmo nas zonas intervencionadas .
Gostei de ler o poste do general, porque acho com peso conta e medida. Também o considero muito corajoso. Nele é e explicada a forma como se tentou resolver a crise dos Strella, mas também é posto a nu as nossas fragilidades em equipamentos, a confrangedora economia de recursos, bem como a falta de pilotos. Onde é que se viu atirar bombas à mão pela porta do avião? Na 1º Guerra Mundial, nos livros do major Alvega e na Guiné em 1973.
Nunca haverá uma verdade para todos e se o que está escrito por quem nos comandou como ponto de partida não serve, estamo-nos a entreter e nada do que deixarmos para o futuro terá qualquer valor.

Anónimo disse...

Sem querer beliscar o conteúdo deste post, aliás, em comentários nos post 7035, 7113, etc, enalteço-vos pelo vosso trabalho em prol dos "terrestres", fica um reparo:
Em Junho, Julho de 1973 não era permitido a evacuação de feridos por via aérea em Gadamael: consequência - furriel de minas e armadilhas de Espinho foi transportado de sintex para Cacine e aí veio a falecer.
Bernardo

Luís Dias disse...

Caro Camarada A. M. Matos

Em primeiro lugar agradecer-lhe a forma e o conteúdo da sua exposição sobre o problema dos misseis "Strella" na Guiné. Ficámos elucidados por quem viveu "in loco", por quem sentiu e viu esse novo problema, sem "fantasias".
Como sempre e à portuguesa (o desenrascar), a FAP teve de enfrentar esta arma primeiramente com o que pensaram ser mais sensato e, depois, com o conhecimento obtido dos norte-americanos e com a normalidade de quem enfrenta mais uma arma, -terrível- é certo, mas depois de conhecidas as suas potencialidades, rapidamente se encontraram soluções para minorar e evitar os seus efeitos.
É evidente que o IN a partir de 1973 iniciou diversas ofensivas diferentes e bem conduzidas sobre os aquartelamentos de fronteira da Guiné. O que ninguém consegue dizer é se, de facto, as forças do PAIGC também teriam a capacidade, quer em termos humanos, quer em termos materiais, de manter o território sob essa pressão por muito mais tempo. É que se nós estávamos fartos da guerra, também daquele lado havia muito "cansaço e descrença".

Um abraço.

Luís Dias

Gil Moutinho disse...

quero simplesmente acrescentar/corrigir alguns factos.
A parelha de T6's alvejada na zona de guileje,foi pouco depois do abate do ten.pessoa e não no dia seguinte(devem ter sido as primeiras aeronaves a fazer as buscas).Os pormenores estão descritos no post.7088.
Durante o restante ano de 73,fiz umas boas dezenas de missões de T6's,claro que adaptados às circunstâncias(até bombardeamentos em voo nocturno fizemos com eficácia duvidosa).
Custa-me a crer que alguém enfie uma bala de walther no joelho e saindo no tornozelo,para se esquivar,e não terminou a comissão
com essa facilidade.
abraços Gil Moutinho

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Acabado agora de ler este postal e sucedâneos 14 comentários, desejo aqui congratular o TGen pilav António Martins de Matos.

De entre aqueles comentários, há um cujo autor – apesar de deixar afirmado que não pretendia «beliscar o conteúdo deste post» –, na aparente tentativa de apoucar missões de elevado risco então desempenhadas pela FAP naquela época e naquele TO, especificamente sobre a região sudoeste, socorreu-se de um "exemplo"... Azar: devia ter escolhido outro, porque o conteúdo do «reparo» em nada coincide com os factos.
– O furriel miliciano Clemente Pinto de Castro, pertencia a um dos dois pelotões da CCac4743 ainda afectos ao COP5 e aquartelados em Gadamael: não era de «minas e armadilhas», era atirador de infantaria; foi gravemente ferido em 11Jul73 em Gadamael-Porto, devido ao «accionamento de engenho explosivo»; e não veio a falecer em Cacine, mas sim no Hospital Militar de Bissau, seis dias depois.
Paz à sua Alma.
___

Simoa disse...

A FA esteve presente, além de outros, nos momentos críticos e decisivos na batalha de Guidage, apesar do alto risco:
- No dia 6 de Abril, são alvejados com mísseis Strela cinco aeronaves, tendo sido abatidos dois DO 27 e um T-6G. Morreram: dois Majores (1 Maj PilAv e 1 Maj Inf), dois Fur PilAv, um Alf Mil médico, um 1.º Sarg da CCaç 19, um 1.º Cabo Enf e um ferido mandinga nativo de Guidage. Oito mortos num só dia.
O ataque com armas ligeiras pelas 7, 45 h, revelou-se ser um chamariz para o IN alvejar os nossos aviões. Apesar de logo no início se temer a forte possibilidade de ser atingida, a FA acorreu: Com 3 DO 27, 2 Fiat`s G-91 e 2 T-6G.
- Nos dias 8, 9, 10, 16, 19, 23, 28 e 29 de Maio de 73. Onde actuou ou tentou ajudar, no Quartel, na estrada, nas colunas auto e apeadas, em Cumbamory. Mantendo uma avioneta no ar, servindo de apoio às n/ forças no terreno. Tendo provocado baixas numerosas ao PAIGCV no dia 8 de Maio em Guidage e no dia 19 no Cufeu.
A seguir ao abate dos nossos aviões e as baixas sofridas, a força aérea não ia a Guidage, ficou quase se diria inoperacional, houve feridos que morreram e lá ficaram enterrados.
Os soldados não compreendiam esta ausência e apesar de tentar dizer que era compreensível, até eles arranjarem uma solução, respondiam com a cabeça quente…
No dia 11 de Maio 73 ouve uma tentativa de “insubordinação” dos 2 Pel da 38ª CCmds brancos, evacuarem num unimog o seu camarada 1º Cabo Filipe, decepado de um pé por mina, no dia 10 entre o Ujeque e Guidage. Foi com dificuldade que o Ten Cor Correia Campos os conteve…
No dia “16” de Maio apareceram 2 Hélis, onde foi o Gen Spínola e evacuou feridos graves.
No dia “25”, a seguir à morte do ferido 1º Cabo Pára ApMet G42 Peixoto (de Gião, Vila do Conde) ouvi dizer que houve movimentação de viatura pelos páras para evacuar o seu ferido Melo, mas não resultou… Mais uma vez o Ten Cor os convenceu a não deixar o quartel de Guidage (atitude inglória, acabariam com minas, mais feridos e dificilmente chegariam a Binta…)
No dia “28” apareceram 2 Hélis, rente e por entre as árvores. Levaram medicamentos, etc., para evacuar os feridos em estado mais gravoso.
Fiquei com a sensação que lá foram devido à pressão dos páras (?). Os soldados afirmavam: se vieram duas vezes, porque não vieram buscar os que morreram?
A FAP, sempre que os chamávamos, aparecia quase na totalidade, nas acções anteriores ao "cerco" em Guidage. Ouve vezes, que me pareceu exagerado o seu chamamento, para acções do IN que não justificavam a sua actuação… A proceder em todo o território deste modo, quem beneficiava era o PAIGC, graças ao desgaste do material aéreo e cansaço dos pilotos…

O meu parecer:

A actuação da FA foi bastante positiva no decorrer da guerra na Guiné.

As informações que chegavam a Guidage, davam a entender que os Guerrilheiros acusavam cansaço, principalmente a população das suas áreas de influência. A Guerra a continuar não passaria de 1975?

Um abraço a todos,
José Pechorro
Ex. 1º Cabo Op Cripto - CCaç 19 – Guidage - Guiné