segunda-feira, 21 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9931: Ser solidário (127): Anabela Pires, voluntária da AD, de regresso a casa, depois das suas (des)venturas em Iemberém e em Dakar

1. Mensagem que nos chega de Dakar, Senegal, onde está em trânsito, vinda de Iemberém, a nossa amiga Anabela Pires [, foto à esquerda, em janeiro de 2012, em Catesse, no Cantanhez; foto: cortesia da AD - Acção para o Desenvolvimento]:


Data: 21 de Maio de 2012 11:53
Assunto: De regresso a Portugal
Para: Família, amigos, amigas, ex-colegas e ex-vizinhos:



Tendo em conta a forma como as organizações internacionais, inclusive a ONU, resolveram o problema na Guiné-Bissau, penso que eventualmente poderei pensar em regressar à Guiné em 2013, após a realização de  eleições legislativas e presidenciais.

Assim, está na hora de regressar a Portugal e de procurar novos projetos. Irei na próxima 6ª feira para Lisboa, de onde seguirei de imediato para Alcobaça e depois dos anos da minha irmã irei para Coimbra. Lá para Julho/Agosto devo ir até ao Algarve e em Setembro Alcobaça/Coimbra. 

Sinto que preciso de fazer o "luto" da minha experiência interrompida na Guiné e por isso não tenho, para já, o meu coração muito aberto a  um trabalho como voluntária noutra ONG. 

Como há muitos anos que desejo aprender a cultivar estou à procura de uma quinta, de preferência de agricultura biológica, que me queira  receber em troca de trabalho. Estou a procurar no WWOOF. Pode ser em Portugal ou noutro país desde que a viagem para o mesmo não seja muito cara. Tenho especial interesse em aprender a cultivar legumes e eventualmente árvores de frutos. Gostaria de começar o mais tardar em  Outubro uma vez que, pelo menos em Portugal, é o início do ano agrícola. O ideal seria encontrar uma família portuguesa, daquelas que deixou a vida da cidade para ir para o campo. Se a família tiver uma componente de turismo rural tanto melhor pois aí também posso dar "uma mão". Gostaria de ir viver para o campo e ter uma actividade física.

Desde que vim da Guiné já comecei a ter dores na coluna por passar muitas mais horas ao computador. Se tiver engenho e arte ainda vos escreverei uma "crónica" sobre as  minhas aventuras e desventuras em Dakar.

Um abraço para todos e até breve,
Anabela

2. Comentário de L.G.:

Por razões de segurança, a Anabela Pires - desde janeiro de 2012, a viver e a trabalhar como voluntária da AD em Iemberém, no sul da Guiné-Bissau - foi temporariamente "deslocada" para o país vizinho, o Senegal, uns dias depois do golpe de estado de 12 de abril. Num dos mails que nos mandou, a 5 de maio, ela contava-nos as "venturas e desventuras de uma turista à força em Dakar" (sic), dava-nos conta das suas já muitas saudades da Guiné e das suas gentes e, por fim, concluía, com alguma amargura, mas também com uma réstea de esperança e sobretudo sem nunca perder o seu bom humor (e a sua cana de pesca): 


"(...) E nesta mágoa e impotência que pode uma alminha fazer? Bom, vou à pesca, mas o que me apetecia mesmo era voltar e já para a Guiné-Bissau. Se os meus colegas da AD e a população em geral lá podem estar, quer gostem ou não, por que é que eu não posso? Só não volto porque não quero poder ser mais uma preocupação para o Pepito, mas se ele me disser 'vem', eu vou. Não sei em que poderei ser útil nas atuais circunstancias, mas se houver alguma coisa em que possa ajudar… eu volto. Sinto que não tenho medo e todos os que lá estão, com medo ou sem ele, estão, até porque a maioria nem tem para onde ir." (...)


Infelizmente, a aventura guineense da Anabela fica por aqui este ano. Mas,  sabendo como ela é determinada e corajosa, voltaremos a ter notícias dela em breve, e daqui talvez a um ano, de novo na Guiné-Bissau, conforme é seu desejo. 


O exemplo desta mulher (, nossa amiga e recente membro da nossa Tabanca Grande) é inspirador e eu quero saudá-la, agora que volta a casa, com alguns sonhos desfeitos. Recebe, Anabela, um xicoração tão largo como o Rio Cacine destes teus amigos grã-tabanqueiros. Obrigado pela tua atitude positiva e pelo teu amor à Guiné e ao seu povo que, mais do que nunca, precisa de ser acarinhado e apoiado por todos os seus amigos em todo o mundo.


Não te esqueças, por outro lado, que tens para aí umas crónicas prometidas sobre a tua estadia em Iemberém (que foi, apesar de tudo, uma grata experiência para ti). Os amigos e os camaradas da Guiné agradecem-te o teu gesto solidário, e querem aprender com a tua sabedoria. Bom regresso a casa, o mesmo é dizer, à pátria, à mátria e à fátria... 
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Nota do editor:



Último poste da série > 4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9855: Ser solidário (126): Da mesma maneira que muitos dos ex-combatentes sentem aquela pulsão de regressar, eu também a sinto (Tiago Teixeira)

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