quarta-feira, 4 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10113: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (1): Mandem a Marinha

1. Mensagem de Augusto Silva Santos*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, com data de 30 de Junho de 2012:

Olá Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Indo ao encontro do desafio do Luís Graça, com alguma saudade mas não de nostalgia, e muito mais com o intuito de ajudar a “alimentar” aquele que denominamos de “nosso” blogue, atrevo-me a enviar algumas fotos da minha passagem pelas terras da Guiné, mais precisamente por Jolmete no Chão Manjaco, acompanhadas de três curtas mas engraçadas histórias, pois felizmente no meio de tantas situações desagradáveis por nós vividas, sempre se registaram algumas que hoje ao recordarmos se tornam ainda mais hilariantes ou caricatas.

Não cito nomes nem datas para não ferir possíveis susceptibilidades.
Augusto Santos


ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (1)

Mandem também a Marinha

A primeira que vos passo a relatar, embora não tivesse estado pessoalmente presente, foi-me contada de viva voz por alguns elementos e inclusive pelo próprio protagonista, passou-se muito perto do local onde foram barbaramente assassinados os oficiais que estariam algum tempo antes a negociar a paz no Chão Manjaco, local mais ou menos assinalado de possível passagem dos guerrilheiros do PAIGC.

Sabendo o Comandante de Companhia dessa situação, era habitual mandar emboscar nas proximidades dois grupos de combate (normalmente emboscadas nocturnas), sendo que numa das ocasiões, e já de dia, se estabeleceu mesmo contacto com o inimigo.

Se não me falha a memória, nesse contacto foi mesmo feito um prisioneiro que se encontrava ferido.
Tendo as nossas tropas ficado durante algum tempo debaixo de fogo, o Alferes que na altura as comandava, apressou-se a solicitar apoio aéreo, sem que no entanto (segundo algumas opiniões) tal se justificasse, pois o contacto teria sido breve e o pequeno grupo do inimigo se dispersado rapidamente.

Ora estando o tal Alferes excitadíssimo (aos berros) a pedir o apoio em questão e, tendo o contacto já acabado, um dos Soldados que o acompanhava de perto sacou-lhe o rádio das mãos e disse alto e bom som:

- Já agora mandem a Marinha também!

Como devem calcular, este episódio foi durante algum tempo objecto de comentários mais ou menos jocosos por toda a Companhia.

Foto 1 - Jolmete, Fevereiro de 1972 > Tabanca

Foto 2 > Jolmete, Março de 1972 > Mamas de Badã

Foto 3 > Jolmete, Abril de 1972 > Matança de uma vaca

Foto 4 > Jolmete, Maio de 1972 > A vala e o aramen farpado

Foto 5 > Jolmete, Junho de 1972 > Trilhos de Pioce
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9674: Meu pai, meu velho, meu camarada (27): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto S. Santos)

1 comentário:

Luís Graça disse...

Augusto:

Deliciosa essa história do pedido de apoio aéreo, na sequência de uma pequena escaramuça... E bem reveladora da nossa proverbial mania da grandiloquência e do genético gosto pela hipérbole:
- Mandem os aviões e já agora os navios, que a coisa está preta!..

Podíamos, a partir daqui, fazer um tratado sobre a nossa idiossincrasia, a nossa maneira de ser e de estar como povo...