sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10484: Controvérsias (128): Contemos as nossas experiências e deixemos as especulações para quem não esteve lá... Parte II (Carlos Vinhal / Luís Graça)

1.  Na sequência da manutenção periódica ou ocasional que fazemos do nosso blogue (em geral, eu ou o Carlos Vinhal) podem ocorrer "erros técnicos": basta carregar na tecla errada... 

Foi o que me aconteceu hoje com o poste P6207, de 2 de maio de 2010 (!), da autoria do Carlos Vinhal (*)... Ao fazer a sua atualização (automática), ele ficou com a data de hoje, e não com data  original (2/5/2010)... 

Como continha "material  explosivo, logo polémico", e para mais incluído numa série que se chama "Controvérsias", o poste P6207 foi logo alvo de comentários de leitores madrugadores... 

De manhã dei conta do meu lapso, mas não reparei na existência de novos comentários... Voltei a editar o poste e arrumei-o, direitinho, no sítio a que ele pertence, 2 de maio de 2010, entre o poste P6206 e o poste P6207.... 

Há um bocado, antes da hora do almoço, estava eu para sair de casa, telefona-me o nosso AGA a perguntar pelo poste, pelo comentário que tinha inserido, enfim, intrigado com o seu desaparecimento de "cena"... Lá lhe dei amavelmente, como sempre, as explicações técnicas que lhe tinha a dar... E que ele aceitou plenamente. 

No regresso a casa, decidi fazer um poste, na mesma série,  com o material dos comentários datados de hoje, de modo a permitir que a discussão prossiga entre bons camaradas e melhores amigos que todos nós somos...  Com esta história, ainda não almocei, mas é bem feito: para a próxima, terei mais cuidado de modo a não tocar na tecla errada...

As minhas desculpas a todos, a começar pelo Carlos Vinhal. com quem ainda não consegui falar ao telefone (fixo), e que não sei se chegou a ter tido o privilégio de ver o seu poste de novo reeditado,  dois anos e meio depois... LG

2. O poste original (*)  começava assim: 

"Comentário de Carlos Vinhal*, ex-Fur Mil, CART 2732 (Madeirense), Mansabá, 1970/72, na qualidade de tertuliano:

"Alguns considerandos em relação ao poste 6292** de hoje, 2 de Maio de 2010
"Camaradas
"Este blogue está a deixar-me deprimido.

"Julgava eu que nós, os portugueses, somos um povo de brandos costumes, hospitaleiros, afáveis, amantes da paz, amigos dos vizinhos, etc., e afinal somos (ou fomos) um bando de assassinos na guerra colonial. Posso excluir-me? Muito obrigado". (.-..)

3. Comentários com data de hoje, 5 de outubro de 2012, (último) feriado do dia da República, por ordem cronológica:

(i) Antº Rosinha

Em geral todos os massacres (Wiriamu, Pijiquiti, baixa de Cassange...) abusos e quaisquer maus tratos a civis ou guerrilheiros foram ou estão relatados, esmiuçados e sobredimensionados, caso do Pijiquiti que ficou para a história como 50 mortos arredondados e desmultiplicados.

Mas,  juntando às gabarolices e fanfarronices, muitas vezes de militares que nem tiros deram, havia a desinformação, ou contra informação organizada por gente de "muitas cores" que se encarregava de enviar tudo bem cozinhado para Brazaville, Argélia, Rádio Praga, Rádio Moscovo, Rádio Tirana...e à volta do mundo.

Sem falar nos comícios justificativos do 25 de Abril nas diversas cidades lusas e tropicais, em que se ia buscar até a escravatura para o Brasil.

Sou retornado, imaginem o que ouvi, e retive quando passei cá o verão de 1974.

Nos muito falados massacres de Luanda (da reacção dos brancos) em que até se fala em valas comuns, nem o MPLA e o FNLA, já organizados,  os mencionavam; no entanto ficou principalmente pela boca de muitos que nem um tiro sabiam dar, como tendo sido grandes massacres.

Individualmente e em reacções inesperadas não terá havido talvez companhias e unidades em que não tenha havido abusos, a que eu próprio assisti, mas  o colectivo em geral reage contra o ou os abusadores.

Ninguém tenha dúvidas que o IN estava devidamente organizado para que se fizesse qualquer abuso em segredo.

Está tudo bem denunciado e em geral por excesso, nos vários campos de guerra.

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 12:42:00 a.m. 

(ii) jpscandeias 

Só quem lá não esteve é que não sabe as histórias normalmente, com um pequeno fundo de verdade, que davam azo a que se fizessem as mais mirabolantes fábulas que depois circulavam pela província, tinham, normalmente, origem em Bissau, placa giratória, depois seguiam para o mato e eram divulgadas de boca em boca.

Como é apanágio do nosso povo, cada um acrescentava um ponto. Se alguma vez, penso que nunca será feito, alguém de der ao trabalho de contabilizar os IN abatidos pelas nossas tropas, excluindo as tropas da província da Guiné, companhias de comandos africanos, companhia de caçadores africanos e milícias, devemos encontrar um número superior a população da Guiné da época. 

Por outro lado o número de baixas, em combate, ou para ser correto, em campanha, também não vai coincidir com os números oficiais e por uma diferença abismal. É com espanto e admiração quando por vezes, felizmente poucas, sou confrontado em conversas informais sobre as experiências de ex-combatentes da Guiné, o que conheço, e é a mais “mediática”, penso: ´Foram eles que lá não estiveram ou fui eu?'...

 Até os que cumpriram o serviço em Bissau no QG, a controlar os passaportes, tem histórias de guerra de uma violência atroz. Passados 38 anos do arrear da bandeira ainda não conseguimos descer à terra e, provavelmente, enquanto houver gente viva, dos que por lá passaram, iremos continuar a ouvir estórias. 

Aos historiadores cabe, com o distanciamento que só o tempo permite, repor a verdade. Como, todos ouvimos, enquanto por lá andamos, todos querem fazer “manga de ronco”, mas a verdade é que poucos o fizeram. Poucos estiveram debaixo de fogo na mata. Muitos foram flagelados nos aquartelamentos. Outros sofreram ataques aos quartéis mas só o souberam depois e por exclusão de partes. Mas devo dizer que Bissau, Bolama, Gabu ( Nova Lamego), Bafatá, ou mesmo Cabuca eram uma coisa. Xime, Guileje, Buruntuma, etc, etc, etc. era outra coisa. 

E, já agora, as companhias africanas, nos anos de 1970 a 1974, também era outra música, e por lá passaram poucos. Termino com uma máxima utilizada no exército português: 'O boato fere mais que uma lâmina'.
jc

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 1:12:00 a.m. 

(iii) António Graça de Abreu

Não tenho vontade de alinhar comentários, mas tem de ser. 

Ainda há dois dias chamaram-me "ultracolonialista, super herói e vencedor" e logo algumas almas boas do blogue assinaram por baixo e bateram palmas. Bofetadas bem dadas, de luva branca, segundo escreveu o Manuel Reis.

"Assassinos coloniais", lembrou e bem o Mexia Alves, foi uma das muitas frases com que nos insultavam logo depois do 25 de Abril. Qual Shelltox? Nós éramos uma espécie de malfeitores e facínoras de guerra. Eram as orelhas dos africanos em frascos de álcool, os massacres quotidianos de homens, mulheres e crianças,etc. Nós havíamos sido os agentes militares do regime colonial fascista, ainda por cima vergonhosamente "derrotados militarmente" na Guiné. Éramos ou não éramos as tropas capazes de todos as carnificinas ao serviço da política criminosa de Salazar e
Caetano?

O historiador francês Pélissier, o tal que tem tantos admiradores no blogue, afirmou em 2007 (e recordo outra vez porque isto anda tudo ligado):

"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos".

Todos nós, ex-combatentes em África somos agentes e fautores da história colonial portuguesa, na sua fase final. Segundo o ilustre francês fomos ou não fomos gente "negreira, arcaica, brutal e incapaz"? Qual a surpresa de nos chamarem criminosos e "assassinos coloniais"?

O Carlos Vinhal tem toda a razão. Vamos contar as nossas experiências e mandar as especulações de quem não esteve lá, como o Pélissier que nunca foi sequer à Guiné, para o caixote do lixo da História. E estou a ser brando, às vezes apetece escrever um palavrão.

Fico por aqui. Somos pessoas dignas, merecemos todo o respeito como ex-militares e como homens, o respeito das gerações mais novas, o respeito da História.

Abraço do "ultracolonialista, super herói e vencedor",

António Graça de Abreu
Sexta-feira, Outubro 05, 2012 3:11:00 a.m.

(iv) C. Martins

Mas que descriminaxão é esta.
Nos beirões ninguém fala.
Nós ca té xomos comó granito "bem rigios e morenos".
Donde é que era o xenhor Viriáto ? ...oh cambada.
Fiquem xabendo que não xomos nada inferiores a voxezes..a matar..claro.
Cais madeirenxes cais carapuxa.
Um beirão ofendidiximo.

C.Martins

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 5:29:00 a.m. 

(v) Jorge Cabral [ alma ]:

Humildade! Humildade! Humildade!

A nível individual, mas também e  talvez principalmente, a nível colectivo.

Distinguir o relato da ficção! Não olhar o ontem apenas com os olhos de hoje! Não transformar Alferes em Coronéis!

E ter a consciência que milhares e milhares de ex-combatentes nunca ouviram falar do Senhor Pélissier.. nem nunca pensaram se a Guerra foi ganha ou perdida..

Um Micro-Tabanqueiro, que foi uma espécie de Alfero-Básico.

JCabral

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 10:04:00 a.m. 

(vi) Cherno Baldé

Caros amigos,

Não queria comentar, mas tem que ser.

Depois da confusão que, para mim, representou o acordo ortográfico que, parafraseando J. Cabral, nos retirou os nossos "afectos" e já agora, os nossos factos com "c"; agora é o AGA que impõe, sem reservas e sem qualquer acordo, que "ultranacionalista" é, também, sinónimo de "ultracolonialista". Uma manobra de vitimização?

Eh. Eh... A gente está sempre a aprender..., mas atenção!, antigos combatentes, o Pélissier, no caso da Guiné, que eu saiba, não se debruçou sobre a guerra colonial. O seu livro estabelece claramente os marcos (1841-1936).

Vamos acompanhar a recensão do MBS para podermos fazer o nosso próprio juízo, nacionalismos à parte.

Um abraço amigo para todos e um especial ao C. Vinhal que tem todo o meu apoio.

Cherno Baldé

Sexta-feira, Outubro 05, 2012 11:08:00 a.m. (***)


2 comentários:

Anónimo disse...

É,de facto um blog de ex-combatentes.Alguns aparentam näo ter esquecido as já mais que velhas(!) G-3.Li com atencäo e calma(certamente favorecidas pelos sete graus negativos lá fora),o que foi escrito pelo nosso Amigo Carlos Vinhal.Um poste com alguma ironia positiva quanto aos exageros que todos nós encontramos em alguns dos relatos,quão mais espectaculares quanto menos operacional fora o relator.Porque quanto a "mortandades","banhos de sangue","massacres" e outros que tais,os pouquíssimos que terão existido näo faziam nem parte da Doutrina do Governo da Ditadura,nem da Deontologia Militar que regia procedimentos das nossas tropas.Uma guerra com a duracäo de 13 anos;com 3 frentes de combate (Angola,Guiné,Moçambique);com a quantidade de homens envolvidos neste muito especial tipo de combate e com um tal mínimo pontual(!) de casos abrangidos pelos conceitos de "crimes de guerra"...é algo que nos deveria orgulhar.O mesmo näo se poderá dizer de outros Exércitos que enfrentaram conflitos do mesmo tipo após a Segunda Guerra Mundial,como nos casos da Franca,Inglaterra ou Estados Unidos.Talvez os 36 anos que já levo de "assuecado" me tenham feito compreender mal,mas senti que alguns terão sido menos justos para com o autor do poste nas leituras que fizeram do mesmo. Um abraco.

alma disse...

Claro que concordo com o C.Vinhal.Penso que isso se infere do que escrevi.

Cherno Amigo,como sabes este livro de René Pélissier,já foi publicado em Portugal há mais de vinte anos,altura em que o li.É principalmente uma história de campanhas militares,apoiada em ampla documentação.Será certamente muito útil para o trabalho que o B.S.está a desenvolver...mas não é uma História da Guiné.


Um Grande Abraço.

PS-Facto continua a ser facto,até porque contra factos não há argumentos...


J.Cabral































































































































































































































































































































trabalho