sábado, 3 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10612: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte IV): As Nossas Tropas


1.  Texto do Manuel Serôdio, que vive em Rennes, Framça, enviado a 23 de outubro último:

Cher Luis, voici encore une page en continuation de la dernière. Je te demande, (si ça ne te gêne pas) de m'avertir chaque fois que tu reçois une nouvelle page, afin que je puisse envoyer une autre, sachant que c'est bien la continuation de la dernière. Merci. Cordialement  [  Caro Luis, aqui vai mais  uma página, em  continuação da última. . Peço-te (se nºao for muita maçada) para me avisares ssempre que receberes  o meu material, para que te possa envirar o seguinbte. Obrigado. saudações cordiais]


2. Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte IV): As Nossas Tropas (*)


Enquanto o inimigo evoluiu na sua organização e potencial de fogo, as nossas tropas continuaram na mesma, e o que é mais grave, as substituições de material, não se fazem ao ritmo que se impõe, apresentando-se o que agora existe, quando existe, em precárias condições de funcionamento. A mesma orgânica, cada vez mais fraca, não corresponde às necessidades existentes, e o armamento também não evoluiu como se impunha, não tendo hoje as nossas tropas com que contrabalançar o poder de fogo do inimigo. Basta ver o armamento de um bi-grupo inimigo, e compará-lo com o nosso, para imediatamente ressaltar a diferença.

Ao fim de 6 anos de luta, ainda não fomos capazes de dotar as nossas tropas com um lança-granadas tipo explosivo, como os que o inimigo dispõe, e em quantidade. Como é que as guarnições tipo Companhia ou Pelotão, resistem ao fogo dos canhões sem recuo, se estes ultrapassam o alcance do nosso morteiro médio?

Porque é que não se dota a Milícia com armamento eficaz? Só quem esteve em contacto com o inimigo, e lhes sentiu o potencial de fogo, pode apreciar as razões porque a maioria das Milícias se sentem complexadas.

Que dizer do material rádio, gasto e cansado, e que não é substituído?
Que dizer da falta de viaturas?
Que dizer da falta de explosivos?
Que dizer da falta de sobresselentes para tudo?
Que dizer da falta de equipamentos?
Que dizer da falta de artigos simples, como pás e picaretas?

Enfim, não nos alarguemos neste verdadeiro número de lamentações.

Da análise feita ao inimigo e às nossa tropas, resulta que os efetivos inimigos são superiores, que está melhor armado e ocupa áreas agricolamente ricas, onde pode subsistir perfeitamente, e ainda ajudar outras regiões. Que as operações levadas a efeito com várias Companhias,são frutuosas, na medida em que enfraquecem o inimigo, lhes causam perdas, e lhes destroem as instalações, mas que só a ocupação efetiva do terreno, e reordenamento das populações, são susceptíveis de terminar com a subversão.

Assim, para terminar com a subversão no sub-setor de Empada, torna-se necessário como mínimo o seguinte:

(i) Colocação de 1 Companhia de Caçadores em Gubia, com um destacamento em Paiunco, Ganafá ou Darsalame;

(ii) Construção de um novo aquartelamento na área de Cachobar em Ianguê, com elementos retirados de Gubia;

(iii) Uma Companhia de Intervenção para auxiliar a primeira fase de reordenamento da população;

(iv) Forçar as populações a reorganizarem-se em torno dos aquartelamentos, retirar 2 grupos de combate das áreas pacificadas, e construir um novo aquartelamento no cruzamento das estradas de Butumbali Beafada,dominando as bolanhas importantes da área, e forçando as populações a organizarem-se nas proximidades do aquartelamento;

(v) Estabelecimento em simultâneo de uma cobertura escolar e sanitária, conjuntamente com o dispositivo militar.

Este plano é concebido em linhas gerais, podendo se necessário, ser detalhado. Duas Companhias, uma das quais será recuperada no final da pacificação, é o mínimo que se julga necessário.

Caso não se queira resolver o problema, torna-se necessário reforçar a Companhia pelo menos com 2 grupos de combate, afim de poder atuar em profundidade, pois a atual dispersão não lhe permite grandes movimentos, e dotá-la de armamento suficientemente potente para inflingir ao inimigo em caso de ataque, perdas consideráveis.

Consideram-se,  neste caso, canhões sem recuo 10,6, e metrahadoras Breda, Brownig 12,7. Nas atuais circunstâncias, porque a própria formação da Companhia, que já é pequena, e se encontra dispersa por 3 aquartelamentos, quando a Companhia sai, muitos elementos têm que fazer serviço na véspera da operação, fazer esta, e no dia seguinte tornar a entrar de serviço, o que se torna extraordinariamente violento e contrapoducente.

É tudo quanto se afigura informar este Comando, esperando encontrar a compreenção e apoio, igual à vontade de bem cumprir, de que a Unidade se acha compenetrada.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10570: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte III): De Porto Gole a Cutia: Op Escudo Negro: conseguimos entrar no 'santuário' de Sará / Sarauol

1 comentário:

Anónimo disse...

Caamarada
Não conheci a zona de que falas, mas as considerações que fazes sobre o potencial relativo de combate entre as NT e o In são lógicas e já as defendi também, aqui e noutros lugares. Em algumas situações fui devidamente zurzido, poi estava a ser derrotista e sei lá masi o quê. Em 1968 era assim, mas as coisas não melhoraram nos anos seguintes.
Um Ab. do
António J. P. Costa