quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10919: Memória dos lugares (204): Os meninos do Xime, do tempo da CART 3494 (1972/73) (José Carlos Mussá Biai)



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/74) > Meninos do Posto Escolar Militar nº 14.... Recorde-se que este batalhão esteve no TO da Guiné entre 28 de dezembro de 1971 (chegada a Bissau) e 3 de abril de 1974 (regresso). A CART 3494 esteve no Xime até abril de 1973, tendo sido depois transferida para Mansambo. E nessa altura a velhinha e cansada CCAÇ 12 passou a ser guarnecer o Xime como unidade de quadrícula.

Foto: © Ricardo Teixeira (2013). Todos os direitos reservados. [Foto editada por L.G.]


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 81968/70) > População do Cuor (Finete ou Missirá) cambando Rio Geba Estreito. Fopto do álbum do fur mil Lopes, o homem dos reabastecimentos da CCS/BCAÇ 2852.

Foto: © José Carlios Lopes  (2013). Todos os direitos reservados. [Foto editada por L.G.]


1. Mensagem do do nosso amigo José Carlos Mussá Biai:

Data: 9 de Janeiro de 2013 16:15

Assunto: Re: [Luís Graça & Camaradas da Guiné] Guiné 63/74 - P10907: Memória dos lugares (203): Xime, o Posto Escolar Militar nº 14 e os seus meninos, entre eles o José Carlos Mussá Biai, hoje engenheiro florestal a viver e a trabalhar em Portugal (Sousa de Castro) (*)



Meu Caro Luís,
Fico sempre muito emocionado quando vejo fotos da terra que me viu nascer e suas gentes.

As fotos do novo "tabanqueiro" Ricardo Teixeira, não foram exeção, pois levaram-me a reviver a minha infância.

Tempos muito difíceis, pois na minha opinião, as gerras nunca foram e jamais serão fáceis. Mas, apesar da guerra e do sofrimento causado, nós as crianças de então, vivíamos felizes.

Relativamente as fotos, infelizmente, não me encontro em nenhuma delas. Mas é com grande felicidade que vejo o meu irmão mais velho, hoje Juiz, na primeira fila, de camisa branca e alguns amigos da idade dele.
Cumprimentos e um abraço,
José C. Mussá Biai
PS: Muito agradeço o telefonema e como sempre a agradável conversa de segunda feira.


2. Comentário de L.G.:

De facto, já tínhamos falado ao telefone, eu e o  Zé Carlo, a trabalhar no  ex-IGP (Instituto Geográfico Português), agora Direção Geral do Território (, mudam os ministros, mudam as tabuletas dos serviços ministeriais).

Ele já tinha visto a foto do  Ricardo Teixeira e confirmado que não estava no grupo (que era de alunos mais velhos do Posto Escolar Militar do Xime).  Em contrapartida, reconhecia  um seu irmão,  que hoje é juiz em Bissau. É o moço, na primeira fila, à esquerda, de camisa branca. O Zé Carlos, nascido em 1963,  tem hoje 49 anos.

Perguntei-lhe por notícias da sua terra... aonde não vai há 12 anos. Quer levar lá as suas duas filhas, para conhecerem a terra do pai (e julgo que da mãe) mas ele espera por melhores dias...Mora em Odivelas. Naturalmente que ele tem desejo de lá voltar,  ao Xime, mas não quer ser apanhado, com a família portuguesa, no meio de mais um golpe de Estado. Como já aconteceu com amigos dele.

Sobre a família do Xime, diz que está bem. O Xime é que já tem pouco a ver com o do nosso tempo. O cais onde muitos de nós desembarcámos, vindos de Bissau em LDG, já há muito que desapareceu. Como desapareceu o cais flutuante montado pelos alemães, depois da independência. É com mágoa que o Zé Carlos vê o seu belo Rio Geba Estreito fechado à navegação. Dantes, no seu tempo de infância,  navegava-se de Bissau até ao Xime, e daqui até Bafatá. Havia um grande movimento de embarcações nomeadamente até ao porto fluvial de Bambadinca. Xime e Bambadinca eram a grande porta de entrada da zona leste.

Hoje a situação é desoladora: há muito que o Rio Geba Estreito está assoreado, por incúria da administração dos portos. A natureza seguiu o seu curso. E os homens nada fizeram para manter aberta a "autoestrada" fluvial do leste...

O Zé Carlos ficou muito feliz pelo meu telefonema. Já me procurou duas vezes, no meu local de trabalho. E eu já estive com ele uns bons minutos, da primeira vez. Da segunda, eu não estava no gabinete.

Como se vê, pelço seu email, ele continua a  acompanhar  o nosso blogue. Com a saudade e  a paixão de um guineense da diáspora,  e também português, de alma e coração. Um grande abraço para ele e família alargada, em Portugal e na Guiné-Bissau.

5 comentários:

Luís Graça disse...

Uma tristeza! Aquele rio, poderoso, o Geba Estreito, já não é navegável!... Enfim, eu já o sabia, o embaixador guineense aqui em Lisboa, que é o dono da "Ponta do Inglês" (herança de família, 50 hectares!), já mo tinha dito há uns dois ou três anos atrás... Em 2008, passei perto mas não fui ao Xime...

Luís Graça disse...

Ver o "site" da Administração dos Portos da Guiné-Bissau... Para além do Porto de Bissau, o principal e o maior, há 14 outros portos, de interior, donde constam os do Xime e de Bambadinca.

Vd. também o vídeo disponível.


http://www.portosdaguinebissau.com/

Luís Graça disse...

A "arte de cambar"!... Não era para todos... Mas continua a ser um encanto ver aqueles pirogas no Rio Geba com gente acocorada, disciplinada, a passar para a outra banda!... Vir a Bambadinca era "ronco"!...

Luís Graça disse...

A importância dos portos do Xime e de Bambadinca, no Rio Geba, era amplamente reconhecida, no nosso tempo, pelas autoridades militares... O Rio Corubal, por sua vez, estava interdito.

Eis aqui um excerto da história do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72:

(...)
- Durante a época seca é possível a circulação de viaturas em todas as vias de comunicação do SECTOR.
- Na época das chuvas, com excepção das estradas BAMBADINCA-BAFATÁ e BAMBADINCA-XIME, a circulação em todas as outras, torna-se difícil, chegando mesmo a ser impossível em algumas delas.
- Dos rios do SECTOR só o RIO GEGA durante todo o seu percurso no SECTOR, e o RIO CORUBAL para jusante dos rápidos de CUSSELINTA, são navegáveis por barcos de médio calado, embora os barcos militares deste calado ”LDG” se desloquem apenas até ao XIME.
- No entanto como as margens do RIO CORUBAL são na sua quase total extensão dominadas pelo IN, só no RIO GEBA se verifica tal facto.

(...)
-Os dois portos com importância para o SECTOR LESTE, são: o de BAMBADINCA e o do XIME.
- O Porto de BAMBADINCA é de extraordinária importância pois é através dele que é reabastecido todo o SECTOR LESTE.
- Ultimamente todo o tráfego pesado tem sido feito através do porto do XIME, embora este não esteja apetrechado com guindaste e rampa de abicagem, o que torna difícil as operações de carga e descarga.
- Com influência na manobra dentro do quadro do Batalhão situam-se ainda:
o porto de ENXALÉ (só utilizável na época seca), os portos de GÃ GEMEOS, o Porto Velho do ENXALÉ, FÁ PORTO e MATO CÃO. (,,,)


8 DE JUNHO DE 2010
Guiné 63/74 - P6557: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (5): A zona de acção do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e os seus principais aglomerados populacionais (Benjamim Durães)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/06/guine-6374-p6557-elementos-para.html

Quinta-feira, Janeiro 10, 2013 12:31:00 p.m.

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luis Graça,

A Guiné-Bissau, após a independencia, por várias razões, foi confrontada com o dificil dilema de ter que optar entre a manutenção e desenvolvimento das vias de comunicação terrestre e/ou maritimo-fluvial.

Houve alguma falta de visão, certo, mas talvez a mais forte das razões, esteja ligada a exclusiva dependencia do país em relação ao financiamento em infraestruturas de transportes.

Durante os primeiros anos, periodo que coincide com a presidencia do Luis Cabral (1975-80), ainda não havia uma opção politica clara na matéria e faziam-se esforços nas duas modalidades, inclusive foi introduzida uma terceira, a área, transportando civis, mas depois, a balança pendeu claramente para a opção terrestre, também ela condicionada, até certa medida, pela opção dos financiadores que, como sabemos, era e continua a ser 100% de origem externa (BM, UE, BAD, BOAD, entre outros).

Pessoalmente, acho que a manutenção das duas modalidades seria a melhor opção, tendo em conta as caracteristicas geograficas e outras do país, o Ministério da tutela do sector sempre defendeu essa ideia, mas a verdade é que nem sempre a opção e o ponto de vista dos países prevalecem diante dos paradigmas das organizações internacionais e com a crise europeia como pano de fundo, é mais facil compreender as razões e motivações que, tratando-se de países ainda mais débeis, os cenários não são comparáveis.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé