domingo, 3 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11049: (Ex)citações (208): Monóculo de Spínola oferecido ao Museu Etnográfico de Silgueiros - Viseu (Amaral Bernardo)



1. Mensagem do nosso camarada Amaral Bernardo (ex-Alf Mil Médico, CCS/BCAÇ 2930, Catió, 1970/72), com data de 30 de Janeiro de 2013:

Luís e Carlos,

À boa maneira portuguesa,"espero que se encontrem bem".

Ao ler o poste 11024, lembrei-me de um momento de espanto, incrédulo, e que por momentos me fez pôr em causa a legitimidade de continuar a conduzir nessa tarde, quando visitava o Museu Etnográfico de Silgueiros (naturalmente após o almoço da "ordem" no "Martelo" que aconselho, mesmo aos de estômago mais delicados, se fizerem uns estágios prévios no "Cortiço" na vizinha Viseu).

Do Museu Etnográfico de Silgueiros direi apenas que é uma pérola rara, praticamente desconhecida, e cuja alma, para além do conteúdo, é a determinação de um homem, seu director, o Comandante António Lopes Pires.

Acrescento, só como exemplo e para "aguçar" a curiosidade, que tem uma colecção com 72.000 (setenta e dois mil) botões - mil e tal à vista e os restantes em caixas! Mas eu conto:

Quando admirava com atenção a coleção de óculos (eu colecciono, melhor, junto óculos antigos), as minhas retinas foram atraídas para um conjunto singelo-monóculo em estojo apropriado e com um cartão de visita com uma dedicatória manuscrita, naturalmente.

Aproximei-me o quanto o vidro me permitiu... Sim, aquele conjunto foi oferecido pelo Gen Spínola, cujo nome e dedicatória eu vi com "estes que a terra (ou o fogo) há-de comer".

Apontando o dedo, perguntei a António Lopes Pires, que teve a gentileza de me guiar na visita:
- Como é que aquilo veio parar aqui?

E ele disse-me!

 Prometi ao António Lopes Pires que divulgaria o Museu sempre que eu pudesse (cheguei a enviar imagens para a RTP2 que nunca me respondeu).

Assim, quem quiser saber o que me foi dito... terá que ir a Silgueiros.Vai gostar, garanto. Ah, e levem os "complementos afectivos" (sem ofensa) - tem uma colecção de trajes antigos...!

Mas não resisto a deixar um pormenor, quiçá o mais importante e desconhecido, e provavelmente o que melhor documenta o traço de "actor," de "persona" do Gen Spínola, também conhecido na Guiné de então por "tres ulho"- três olhos: É que o "caco" não tem graduação, é de vidro neutro!!!

Polémico, sim... mas líder carismático, foi!

Abraço para ambos.
Amaral Bernardo

____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10940: (Ex)citações (207): Festejando a entrada do nosso seiscentésimo grã-tabanqueiro, Abílio Magro, natural de Fronteira, um dos seus 6 filhos que a família Magro ofereceu à ditosa Pátria amada para servir em África (Angola, Moçambique e Guiné) ...

4 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro camarada Amaral Bernardo

Desconhecia em absoluto a existência desse Museu Etnográfico do qual fazes uma excelente 'apresentação'.

Quanto ao monóculo de António Spínola, trata-se de uma peça que terá um valor histórico relevante, pelo menos para a nossa geração e para todos aqueles que se interessem pelo período da História de Portugal que abrange a guerra colonial, em que, como escreves e eu concordo, António Spínola é uma figura incontornável.

Abraço
Hélder S.

Antº Rosinha disse...

Vai demorar muitos anos até o Gen. Spínola ser devidamente avaliado e aceite como figura decisiva do seu tempo, por todos os seus concidadãos.

Curioso que Também existem reservas na Guiné-Bissau, por certos cidadãos guineenses quanto à figura de Amílcar Cabral.

Até dá ideia que "santos da casa não fazem milagres".

Anónimo disse...

Portanto, segundo este post, o monóculo sem graduação teria sido oferecido pelo próprio Spínola, sem dúvida ansioso por se desmascarar a si próprio. Faz todo o sentido, não é?...

Anónimo disse...

Ver aqui, para começar:
http://www.cmjornal.xl.pt/domingo/detalhe/o-nascimento-de-um-mito.html

Cito: «Em 1963, Mello Corrêa veio de férias a Portugal. Spínola pediu que lhe levasse uma caixa: "Eram 12 monóculos. Pedi a um oculista que os examinasse e só seis deles tinham uma graduação mínima. Os outros eram de vidro"».

Ora vamos lá então exercitar os neurónios.

Fraca graduação faz todo o sentido, uma vez que é justamente nesses casos, e não nos das lentes grossas, que o uso de monóculos é possível. E se não houvesse necessidade de graduação, obviamente que os 6 monóculos graduados não teriam razão de ser. Logo, podemos arrumar a hipótese do «puro teatro» no baú das peças não levadas à cena. Mas para quê os 6 monóculos sem graduação?

Muito simples, meu caro Watson: uma lente usada em monóculo destina-se a corrigir a visão próxima ou afastada, mas não pode funcionar como funcionam lentes bifocais em óculos (uma lente desse tipo não é prática num monóculo, por ter de ficar fixa, próxima do globo ocular e sem possibilidade de ajustamento de posição através de pequenos movimentos). Ou seja, o utilizador de monóculo, exactamente como o de óculos simples sem bifocais nem graduação progressiva, precisa de mudar de monóculo consoante o tipo de correcção da visão pretendida, como o outro muda de óculos.

Se precisa para perto e para longe, usa dois monóculos de diferentes graduações. Mas se só precisa, por exemplo, para ver ao longe e não para ler, o que faz é retirar o graduado e substitui-lo por outro sem graduação, não só para impedir alguma perda temporária do posicionamento da região da órbita que retém o monóculo em posição, como até pelo simples hábito de o sentir. Daí os 6 sem graduação.

Note que a falta de respeito pelo nosso general acompanha geralmente -- poderá não ser o seu caso -- a falta de imaginação para resolver um «enigma» tão infantilmente elementar como este. E não é para admirar. O que é para admirar é a forma como o nosso general conseguiu aguentar a guerrilha durante tanto tempo e derrubar a ditadura em tão pouco, com esta tropa fandanga. Veja, por exemplo, outra ocorrência aqui:
http://www.aterceiranoite.org/2009/03/18/o-enigma-do-monoculo/

«A solução é oferecida pelo testemunho de um ex-furriel que em 1962 transportou de Lisboa para Bissau uma pequena caixa de madeira destinada ao então Coronel de Cavalaria, diante da qual foi incapaz de resistir à tentação de espreitar aquilo que ela trazia lá dentro: uma colecção de seis reluzentes monóculos sem qualquer graduação».

E o mesmo foi publicado num livro recente, cujo autor repetiu, há poucos dias, a mesmíssima patetice numa entrevista a um canal de televisão.

Não há paciência!

Mamasuma sumaúma, das duas uma, pimba catrapumba, hurré hurré, e até qualquer dia.