quinta-feira, 16 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11578: In Memoriam (150): Henrique Rosa (1946-2013), ex-fur mil inf, Op Esp., CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Qubeo, 1969/71), e ex-presidente da República da Guiné-Bissau, interino (2003/05) (Francisco Barroqueiro / Manuel Amaro)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCAÇ 2614 (1969/71) > O fur mil ifn, op esp, Henrique Rosa, na margem esquerda  do Rio Corubal, nas proximidades de Aldeia Formosa.



Um homem, um empresário, um cidadão, um político que deixa saudades na Guiné-Bissau


Fotos: © Francisco Barroqueiro (2013). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de 15 de maio, do nosso leitor (e camarada) Francisco Barroqueiro, amigo do Facebook. vivendo em Castelo de Vide:


Henrique Pereira Rosa 1946-2013

Natural de Bafatá;
Residente em Bissau:
Cidadão Luso-Guineense:
Falecido hoje na cidade do Porto após doença prolongada.
Ex-fur mil,  CCa. 2614 / BCaç 2892, Guiné 1969-1971
Ex Presidente da República da Guiné Bissau.


Caro Luís,

De facto, assim foi, estivemos na Guiné, eu, tu e o Henrique Rosa que foi a pessoa mais marcante que conheci naquelas andanças.

A ideia é mesmo publicar a notícia no blogue. Poucos o conhecem mas é justo que a notícia chegue a alguns mais. Haveria muito a dizer, mas por manifesta incapacidade tenho que deixar isso para outros mais capazes. Se o Manuel Amaro aqui estivesse, daria uma ajuda. É só uma notícia pequena, para memória, num sítio digno e relevante como é "nosso" blogue.
Creio que a legenda da foto (um sítio lindo) e o texto marcado são suficientes para a edição. O restante texto é pessoal.

Um abraço.
Francisco Barroqueiro


2. Mensagem do nosso tabanqueiro Manuel Amaro (ex-fur mil enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971), em resposta a um pedido de esclarecimento meu, sobre o Henrique Rosa:

Meu Caro Luís Graça:

O Henrique Rosa, falecido no dia 15 de maio de 2013, no Hospital de S. João, no Porto, era um cidadão guineense, de origem portuguesa.

Foi Furriel Miliciano de Infantaria, com a especialidade de Operações Especiais,  da CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Quebo, 1969/71).

Conheci-o em Évora, antes do embarque [do batalhão]. E aí começamos a construir uma relação de amizade, que se manteve ao longo de toda a comissão de serviço.

Era um jovem desportista, com uma cultura política e social muito acima da média, no nosso escalão etário. Gerador de consensos, coisa tão necessária, naquele tempo, tal como hoje.

Nas minhas memórias da “Tropa”, anotei os nomes de alguns cidadãos de excecional qualidade humana: Henrique Rosa, Zé Teixeira e José F. Boita, são os primeiros.

Terminado o serviço militar, o Henrique Rosa regressou à sua vida familiar e empresarial, na Guiné. Em 2003 os autores do golpe de Estado que derrubou Kumba Ialá, convidaram-no e ele aceitou, a desempenhar o cargo de Presidente da República, interino, no período de transição até às eleições de 2005.

Desempenhou esta missão, como todas as outras, ao longo da sua vida, com grande competência e dedicação. Em 2009 e 2012, contra a sua vontade, acedeu à vontade dos amigos e candidatou-se, mas não foi eleito.

Um problema grave de saúde, que tratava em Portugal, há vários meses, levou-lhe a vida, no dia 15 de maio de 2013. Um dia destes, o corpo de Henrique Rosa fará a última viagem entre Portugal e a Guiné Bissau.

Um Abraço

3. Comentário do editor:

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné apresenta à sua família, em Portugal e na Guiné-Bissau,   bem como aos seus antigos camaradas de batalhão sentidas condolência pela perda do homem bom, cidadão de referência e saudoso camarada que foi  o Henrique Rosa.

Infelizmente não temos ninguém, aqui na Tabanca Grande, a representar a CCAÇ 2614. Temos o Manuel Amaro, da CCAÇ 2615, que foi seu amigo, tendo esatdo juntos em Évora e depois em Aldeia Formosa. E podemos vir a ter o Francisco Barroqueiro se ele aceitar o nosso convite para formalizar a sua entrada nesta grande família bloguística que se reúne à sombra de um velho, mágico, frondoso, fraterno, solidário e protetor poilão, o da camaradagem criada e cimentada na Guiné, nos idos tempos de 1961 a 1974. (**)

A CCAÇ 2614 pertencia ao BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71), partiu para a Guiné em 22/10/1969 e regressou em 6/9/1971. Esteve em Nhala e Aldeia Formosa. Foi seu comandante o cap mil inf José Manuel Baptista Rosa Pinto.

___________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 8 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11542: In Memoriam (149): Maio de 1973 - Guidaje - Campo da morte para os: 1.º Cabo Mil Bernardo Moreira Castro Neves e Soldado António Júlio Carvalho Redondo do BCAÇ 4512; Fur Mil Arnaldo Marques Bento e Soldado Lassana Calissa da CCAÇ 14 (Manuel Marinho)

(**) Em 12/8/2011, o Francisco Barroqueiro mandou-nos a seguinte mensagem:
"Caro Amigo: Só há minutos descobri o blogue. Incrível! Trabalho fantástico. Lá está o camarada Manuel Amaro,  da 2615. Bons tempos! Maus momentos. Ou nem tanto. Tenho uma encomenda para ele, será possível obter o contacto do professor? Um Abraço."

9 comentários:

Luís Graça disse...

Notícia do Jornal Digital,
15/5/2013

http://www.jornaldigital.com/noticias.php?noticia=36400

Bissau – O antigo Presidente de transição da Guiné-Bissau, Henrique Pereira Rosa, morreu esta quarta-feira, 15 de Maio, aos 66 anos de idade, depois de meses internado no Hospital de São João, no Porto, Portugal.

Henrique Rosa nasceu em Bafatá em 1946, descendente de pai português e de mãe guineense, de etnia fula, tendo-se destacado no sector empresarial.

Entre 1965 e 1971, integrou os serviços da Fazenda e foi distinguido como militar nos Rangers portugueses na Guiné. [CCAÇ 2614, Nhala e Quebo, 1969/71]

Foi membro do Conselho Inter-Diocesano de Projectos da Igreja Católica, do Conselho dos Assuntos Económicos da Diocese de Bissau, e também membro do Conselho de Administração da Caritas da Guiné.

Era agente da empresa britânica de seguros LIoyd´s of London e da seguradora francesa Cesam.

Henrique Rosa foi Director Executivo da Comissão Nacional de Eleições, nas primeiras eleições Presidenciais e Legislativas, em 1994, na Guiné-Bissau.

Durante a Guerra de 7 de Junho de 1998 foi coordenador do Comité Ad-hoc da Sociedade Civil para a Paz, primeiro movimento da Sociedade Civil para o restabelecimento da Paz na Guiné-Bissau, criado em Outubro de 1998.

Foi também Cônsul honorário da Costa do Marfim na Guiné-Bissau durante a Presidência de Laurent Gbagbo, tendo sido distinguido pela Costa do Marfim com as insígnias de Comendador da Ordem Nacional da Costa do Marfim.

Também a França distinguiu Henrique Pereira Rosa com as insígnias da Legião de Honra.

Depois do Golpe de militar que derrubou Kumba Yala, em 2003, Henrique Rosa assumiu a Presidência durante o período de transição, até às eleições Presidenciais, em 2005.

(c) PNN Portuguese News Network

Luís Graça disse...

Excerto de notícia da Lusa e do Público, de ontem:


(...)

Rosa conduziu o país até às eleições presidenciais de Julho de 2005, que deram o poder a João Bernardo “Nino” Vieira, mais tarde assassinado.

Concorreu às eleições presidenciais antecipadas de 2009 como independente e voltou a concorrer em 2012, num escrutínio do qual só se realizou a primeira volta devido a mais um golpe de Estado, a 12 de Abril do ano passado.

Filho de pai português e de mãe guineense, Henrique Rosa deixou boa imagem como Presidente de transição e conseguiu em 2009 quase um quarto dos votos, 24,19%, e resultados expressivos em Bissau. Na primeira volta das presidenciais de Março de 2012 não foi além de 5% de votos.

Foi um dos cinco candidatos que exigiram a “nulidade” da votação da primeira volta e qualificaram o processo eleitoral como “fraudulento”. Poucos dias depois, um golpe de Estado interrompeu o processo eleitoral e afastou o Governo do primeiro-ministro e também candidato presidencial Carlos Gomes Júnior e do Presidente interino, Raimundo Pereira.

O corpo do antigo dirigente guineense deve chegar no fim-de-semana a Bissau para as cerimónias fúnebres. (...)

http://www.publico.pt/mundo/noticia/morreu-henrique-rosa-expresidente-de-transicao-da-guinebissau-1594484

Luís Graça disse...

Excerto de notícia da Lusa e do Público, de ontem:


(...)

Rosa conduziu o país até às eleições presidenciais de Julho de 2005, que deram o poder a João Bernardo “Nino” Vieira, mais tarde assassinado.

Concorreu às eleições presidenciais antecipadas de 2009 como independente e voltou a concorrer em 2012, num escrutínio do qual só se realizou a primeira volta devido a mais um golpe de Estado, a 12 de Abril do ano passado.

Filho de pai português e de mãe guineense, Henrique Rosa deixou boa imagem como Presidente de transição e conseguiu em 2009 quase um quarto dos votos, 24,19%, e resultados expressivos em Bissau. Na primeira volta das presidenciais de Março de 2012 não foi além de 5% de votos.

Foi um dos cinco candidatos que exigiram a “nulidade” da votação da primeira volta e qualificaram o processo eleitoral como “fraudulento”. Poucos dias depois, um golpe de Estado interrompeu o processo eleitoral e afastou o Governo do primeiro-ministro e também candidato presidencial Carlos Gomes Júnior e do Presidente interino, Raimundo Pereira.

O corpo do antigo dirigente guineense deve chegar no fim-de-semana a Bissau para as cerimónias fúnebres. (...)

http://www.publico.pt/mundo/noticia/morreu-henrique-rosa-expresidente-de-transicao-da-guinebissau-1594484

Luís Graça disse...

Notícia da Lusa e Diário de Notícias:

Henrique Rosa era empresário e fervoroso católico

por Agência Lusa, publicado por Susana SalvadorOntemComentar

Empresário e fervoroso católico, Henrique Rosa, que hoje morreu, no Porto, foi Presidente de transição da Guiné-Bissau e candidato em duas eleições ao mais alto cargo da Nação.
Há vários meses em Portugal, devido a questões de saúde, de que acabaria por morrer hoje, no Hospital de São João, Henrique Pereira Rosa era filho de pai português, tendo-se assumido sempre como "um patriota amante da paz". Nasceu em Bafatá, leste da Guiné-Bissau, a 18 de janeiro de 1946.
Sempre ligado a negócios e à Igreja Católica, os primeiros através de uma empresa de importação e exportação e, no segundo caso, homem de fé e amigo da hierarquia da Igreja (nomeadamente o antigo bispo Dom Septimio Ferrazzetta, com quem trabalhou para o fim da guerra civil na Guiné-Bissau de 1998/99), apenas entrou para a política ativa em 2003, quando foi a personalidade escolhida para Presidente de transição.
Na altura, a Guiné-Bissau atravessava mais uma das suas cíclicas crises, tendo o Presidente eleito, Kumba Ialá, sido derrubado num golpe militar.
Henrique Rosa, um civil, assumiu a Presidência e levou o país até às eleições legislativas de março de 2004 e presidenciais de julho de 2005, tendo entregado o poder a João Bernardo "Nino" Vieira.
A Presidência que protagonizou foi elogiada por toda a comunidade internacional, tendo os parceiros que mais perto com ele lidaram considerado na altura que se tratava de um homem de "uma qualidade extraordinária" e a personalidade ideal para o período de transição. (...)

http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3220534&seccao=CPLP

Luís Graça disse...

O PR de Cabo Verde comentaou a mprte de Henrique Rosa nestes termos:


(...) «É uma perda importante para a Guiné-Bissau e para os guineenses, que estão desejosos de ver encontrado o caminho da estabilidade definitiva e do progresso», sublinhou.

O chefe do Estado cabo-verdiano considerou que Henrique Rosa percebeu «com muita lucidez e inteligência» os caminhos que a Guiné-Bissau deveria seguir.

«Infelizmente, o processo eleitoral foi interrompido por um golpe de Estado [12 de Abril de 2012], mas o exemplo de Henrique Rosa, a sua postura de estadista, de pessoa lúcida, pode servir de referência para que, neste momento em que se vislumbra a possibilidade de encontrar soluções viáveis para a Guiné-Bissau, se torne uma referência nestes tempos», acrescentou.

Já o ex-presidente de Cabo Verde Pedro Pires disse ter perdido um «amigo».

«A morte de Henrique Rosa é uma grande perda. O caso de Henrique Rosa é a prova de que há gente disponível e séria, na Guiné-Bissau, para contribuir para a resolução dos problemas. Atualmente, a Guiné-Bissau precisa de mais Henriques Rosas, simples, fora do sistema, mas que podem contribuir para resolver a grave situação com que o país se confronta», disse, confessando que anteriormente Henrique Rosa lhe tinha telefonado a pedir conselhos.

«Surpreendeu-me, porque não o conhecia. Telefonou-me a dizer que precisava dos meus conselhos. Procurei, na medida das minhas possibilidades, ser útil, mas esse gesto reflete a sua humildade e disponibilidade. A humildade de saber que faltava-lhe alguma experiência e de recorrer às pessoas que considerava amigas e que podiam ajudá-lo a organizar e a orientar a vida do país.»

A Bola, 15/5/2013

http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=402151

José Marcelino Martins disse...

A lei da vida volta a dar sinal.
Desta vez toca a dois países: Portugal e Guiné.
Mais um camarada que parte.
Condolências à família e aos camaradas que de mais perto lidaram com ele.

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Continuam as notícias de falecimentos de amigos, camaradas e conhecidos.
Já escrevi por aqui que é a 'lei da Vida', que é inevitável, que 'vai tocar a todos' mas a verdade é que sempre dá um aperto.

Para os familiares e amigos do Henrique Rosa ficam aqui expressos os meus pêsames e votos de que o Povo da Guiné saiba honrar aqueles que se empenharam para o seu bem.

Como nota à margem aproveito para dizer que a escolha das fotos é digna de realce pois estão muitos boas. Acho que ajudam a cumprir o desejo do Francisco Barroqueiro de lhe prestar uma homenagem digna.

Hélder Sousa

mario gualter rodrigues pinto disse...

Certamente que o conheci o Henrique Rosa,pois a CCAÇ 2614 é do meu tempo em Ald. Formosa, contudo não me lembro deste camarada porque a memória e convivência desses tempos perde-se no decorrer dos anos......
Lamento profundamente mais uma perda de um camarada, á família enlutada os meus sentidos pêsames e descança em Paz camarada....

Mário Pinto



Nau disse...

Conheci o Rosa, o meu amigo Rosa. Aparentava muito mais maturidade do que os colegas do seu grupo etário.
Um dia, numa das muitas conversas que tivemos (em Aldeia Formosa), confessou-me as suas mágoas pela miséria em que via a «sua» gente e pelo atraso em que via a «sua» terra. Também me falou da mágoa pela maneira como muitos continentais tratavam os guineenses. Mas não lhe senti rancores, nem a mais pequena sombra de dúvida na sua ação de militar das nossas forças armadas - ele era, de facto, e como alguém já referiu, um homem ponderado, sereno e de consensos. E compreendia (disse-mo) o que nos custaria, a nós, continentais, estarmos tão longe das nossas famílias. Um grande senhor, o Rosa, para a idade que tinha na altura.
Foi um desgosto ter sabido da sua morte.
RIP, amigo Rosa.
Juvenal José Cordeiro Danado, furriel miliciano sapador de infantaria, batalhão 2892 (Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1969-1971).