quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Guiné 63/4 - P12090: (Ex)citações (225): O nosso blogue e o último dos nossos direitos como veteranos de guerra e cidadãos, o "jus esperniandi", o direito de espernear... (Vasco Pires, ex-cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72; e português da diáspora no Brasil)

1. Comentário de Vasco Pires, grã-tabanqueiro bairradino e "tuga" da diáspora no Brasil, ao poste P12073:

Caríssimos,

Em meados do ano 70, assumi o comando de uma unidade quase exclusivamente composta por tropa Africana, e por lá fiquei durante dois anos, em 72 saí de Portugal, e por aí vou andando, sou mais um desses milhões da Diáspora Lusitana. Logo não serei a pessoa habilitada para opinar sobre o pós 74.

 Diria: "Em briga de jacu,  inhambu não pia..", e terei que dar crédito de novo ao meu avô e à sua imensa sabedoria bairradino-brasílica. 

Todavia, sem fazer juízos de valor sobre a matéria, aqui de longe, não posso deixar de externar a minha profunda admiração pelo árduo, sereno, e sábio trabalho de edição de toda a equipe editorial, em assuntos apesar de distantes no tempo cronológico, ainda carregados de emoção. 

Equipe magistralmente comandada pelo Camarada Luis Graça, a quem eu qualifico, sem risco de exagero, como um Benemérito da nossa tão vilipendiada geração, nos proporcionando uma VOZ. É o último dos direitos do cidadão, o tal do "jus esperniandi".

forte abraço a todos
Vasco Pires
Ex-Comandante do 23° Pel Art
(Gadamael, 1970/72)

3 comentários:

Luís Graça disse...

Vasco:

Adorei a expressão do calão jurídico brasileiro "jus esperniandi"... o direito do cidadão espernear, estrebuchar... quando todos os meios de defesa da justiça falham (ou parecem falhar)...

De algum modo, haveria aqui uma analogia o "direito de pernada", e com o seu uso e abuso na Alta Idade Média europeia quando os senhores feudais (incluindo o alto clero...) tinha o "jus primae noctis", o direito de dormir, na primeira noite, com a noiva, a filha dos seus vasslos e servos da gleba... Em francês, "droit de cuissage", "droit de jambage"...

Em Portugal, não se usa o latinório "jus esperniandi", que eu acho delicioso. Em alternativa, podemos encontrar um termo mais ou menos equivalente, o "direito à indignação", todavia muito mais "soft"...

A expresão brasileira é muito mais sugestiva, mais forte: estou a imaginar o condenado à morte, no cadafalso, já com a corda ao pescoço, mas continuando a protestar a sua inocência ou a reclamar os seus direitos...

"Jus esperniandi" não é latim, é latinório, mas fica aqui, nas caves da nossa caserna, como possível arma de arremesso... Pode ser precisa um dia destes... Vou juntá-la ao arsenal de armas do blogue... E prometo dar-lhe bom uso...

Quanto ao nosso blogue, caro Vasco, é uma voz, sem dúvida, mas nem ela nem os seus editores, muito menos eu, seu fundador, têm o mérito que lhe atribuis... Sei que é generosidade tua. Mas não somos nem queremos ser santos ou heróis...

As coisas vistas de longe, do Brasil, com o grande Atlântico pelo meio, podem ter um falso brilho. e esconder um oásis no deserto que não psssa de uma miragem.

E, confesso, às vezes tenho dúvidas sobre se valeu a pena, se vale a pena... O que é humano, como compreendes... Também sei fazer análises de custo/benefício...

Mas deixa-me dizer-te quanto as tuas palavars amigas me souberam bem, por que representam um reforço positivo. Fazem-me bem à minha autoestima e à autoestima de todos os que continuam a gastar o seu "latinório" e sobretudo as suas energias neste projeto, porventura quixotesco e inconsequente, de "dar voz" aos camaradas da Guiné, muitos dos quais não a têm...

Se há algum mérito neste projeto (e eu acho que sim), tem que ser partilhado por todos nós que há mais de 9 anos fazemos todos os dias este blogue... E já são muitas centenas os que por aqui passaram ou assentaram arraiais..., partilhando memórias e emoções à volta da Guiné e da guerra para qual fomos apanhados, a malta da nossa geração...

Vasco, acho que temos mesmo de nos conhecer, pessoalmente, um dia destes.... Luis

Anónimo disse...

Caro Luis,

As palavras são de justiça, e agradecer não há que; não estou mitificando ninguém, a mim parece óbvio que a equipe que você lidera, presta relevante Serviço à nossa tão injustiçada geração.

Falando em justiça, não posso deixar de "confessar" a minha dívida pessoal, com duas pessoas, cada uma a seu modo, que me guiaram e incentivaram, nesses por vezes tão íngremes e tortuosos caminhos da memória; e só nós sabemos, que o "caminho da memória" dos veteranos de guerra, por vezes é ainda mais tortuoso que o do comum dos mortais:
A Maria Helena, minha companheira do pós guerra, que é psicóloga clínica, que me guiou com datas e factos que já estavam "jogados" subconsciente, e me incentivou a essa catarse.
E o Camarada Carlos Vinhal,que me recebeu nesta GRANDE TABANCA,criou até o caminho para os FANTASMAS saírem, e sempre me incentivou a encaminhá-los para o papel.

As palavras, como disse acima, são de JUSTIÇA e GRATIDÃO.

forte abraço a todos
Vasco Pires

Luís Graça disse...

Justíssima homenagem á tua Maria Helena, e ao nosso Carlos Vinhal, membro desta tripulação que tem o ADN dos nossos bravos de Quinhentos, gente que era capaz de ficar ao leme das nossas naus e caravelas dias e dias a fio, muitas vezes a pão e água... (Sei, aqui para nós,que ele vai tirar uns dias, para descansar, desopilar, mudar de ares..., com a sua adorada Dina e nossa grã-tabanqueira também!...A gente, que fica por cá, irá dar conta do recado...). LG