segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12073: Notícia dos nossos amigos da AD-Bissau (29): Efeméride: Há 40 anos era proclamada, unilateralmente, a independência da Guiné-Bissau... (Não em Cubucaré, no sul, como estava inicialmente previsto, mas no leste, na região do Boé... E aqui não foi em Madina do Boé, nem em Lugajole, mas sim em... Vendu Leidi, um lugarejo fronteiriço)






A independência da Guiné-Bissau foi proclamada, unilateralmente,  pelo PAIGC, em 23 de setembro de 1973, na região do Boé, não em Madina do Boé, como durante anos se fez crer, nem sequer em Lugajole, mas sim em Vendu  Leidi, localidade fronteiriça da zona leste... Esteve inclusive planeada para ser no sul, na península de Cubucaré  (setor de Bedanda)... Os planos do PAIGC foram sucessivamente açterados, à última da hora, pro razões de segurança. Havia sérios riscos de bombardeamentos pela Força Aérea Portuguesa.

Hoje o dia 24 de setembro é feriado nacional na Guiné-Bissau. Portugal, como é sabido, só reconheceu a independência da Guiné-Bissau, um ano depois, em 10 de setembro de 1974.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).


 E a propósito desta iniciativa comemorativa, de um grupo de antigos combatentes do PAIGC do Cubucaré, na região de Tombali,  lê-se no sítio da AD-Bissau:

(...) Como jovem país, embora com conturbados desvios no seu caminho, [a Guiné-Bissau] procura recuperar a sua própria identidade e força para se afirmar como uma nação moderna e progressiva.

As sucessivas lideranças que fomos tendo, esqueceram-se claramente do pensamento de Amilcar Cabral e dos ensinamentos da Luta, embarcando em sucessivas aventuras militaristas e afastando-se dos ideais do Combate inicial.

Há quem chegue a pensar que a Luta foi uma operação militar e que por isso, todos os outros que a ela aderiram e que não pegaram em armas, não têm os mesmos direitos dos que vestem as fardas, grande parte delas apanhadas nos becos da História.

 (...) 
Todos contribuíram decisivamente para a vitória, incluindo mesmo aqueles que, durante estes 40 últimos anos, se esqueceram das tabancas onde vivem todos os seus antigos camaradas de Luta, para se sentarem a descansar em Bissau.(...)

______________

17 comentários:

Antº Rosinha disse...

Nos primeiros anos da independência era em Madina do Boé o lugar mítico da romaria de 24 de Setembro.

Mas apenas para os "membru" do PAIGC.

Para mobilizar o povo em África nos novos países, não se pode personalizar e localizar demasiado nem acontecimentos nem figuras heroicas.

Enquanto em Caboverde os caboverdeanos já estão a adoptar e oficializar o crioulo como lingua nacional, na Guiné nem isso é tentado pelos guineenses.

Quem tem tentado foram os suecos e agora há um tal cidadão Basco a tentar mobilizar os guineenses.

"Brincou-se" demasiado com as independências, e com demasiada violência e abruptamente.

Anónimo disse...

Cerca de cinco séculos para ensinar o português na Guiné?
Por razöes de falta de verdadera soberania,näo foi tentado de forma sistemática e principalmente "abrangedora.
Näo será de estranhar ,
se comparado com os níveis de analfabetismo na desenvolvida metrópole dos inícios dos anos sessenta.
Que alguns voluntários Suecos e Dinamarqueses o tenham tentado fazer (durante um par de anos) num "camoniano" ridículo....tudo dirá.
E viva a marcha dos antigos combatentes do Cabucaré!

JOSE CASIMIRO CARVALHO disse...

Fui da Ultima CCAV de Guileje.
Muito me honraria estar presente
Desejo a todos os Guineenses a PAZ que ainda não Têm
Estive aí em 2010...que tristeza que senti, pelas condições que vi, e pelas lamúrias que ouvi, no interior profundo

Força Guiné, fui TUGA, mas amo-vos.

Henrique Cerqueira disse...

Desejo as maiores felicidades á Guiné Bissau.Desejo ainda mais que o povo da Guiné consiga a ultrapassar todas as dificuldades que impedem a sua Independência Plena.
Mas não me sentiria honrado em estar presente nuns festejos comemorativos em que o seu programa prevê:" Simulação de arrebentamentos de minas","Almoço com dança de lutas "Etc...lutas e tal "
Mas então não haverá nada melhor que o povo da Guiné saiba fazer para festejar uma data tão importante?Não obrigado eu não gostaria de ser convidado.Desculpem lá é a minha opinião.
Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

Caros amigos e camaradas,

Sou suficientemente tolerante para com os sentimentos dos outros, mas intransigente com a minha dignidade de homem e de combatente.

Este Post ofende-me.

Cumprimentos.

José Câmara

Torcato Mendonca disse...

Francamente estas comemorações nada têm a ver comigo.

Porque escreves então?

Para enviar uma fraterna saudação a todos os meus camaradas, europeus ou africanos. que faleceram em combate, de outro modo mas sendo vitimas daquela guerra e ainda os que foram fuzilados.

NUNCA ESQUECER, JAMAIS PERDOAR!

Abraço ás Gentes das Tabancas, T.

Luís Graça disse...

José Câmara e Torcato Mendonça:

Tomo boa nota do vosso reparo, mais do que isso, da vossa crítica e protesto pela edição deste poste.

Este blogue é dos "camaradas da Guiné", dos antigos combatentes portugueses (incluindo os naturais da Guiné) que estiveram nas fileiras das forças armadas portugueses, na Guiné, entre 1961 e 1974... Não é nem nunca foi um blogue de simpatizantes, muito menos de militantes do PAIGC. Como também não é nem nunca foi umn blogue de desertores e refratários da guerra colonial...

E, no entanto, há entre nós, membros da Tabanca Grande, gente com diferentes atitudes, sensibilidades, leituras, etc., face àquela guerra...

A especificidade deste blogue não nos impede, todavia, de "fazer a ponte" com o "outro lado", em nome a história comum, da memória, da lusofonia, do presente e do futuro de Portugal e da Guiné-Bissau... Com bom senso, com bom gosto, com pluralismo político-ideológico, sem querer cair em unanismos, nem sequer em consensos...

Temos, ao longo destes mais de 9 anos de existência, falado do inimigo de então, o PAIGC, do seu dispositivo militar, da sua estratégia, do seu armamento, dos seus principais dirigentes e militantes, dos seus sucessos e insucessos, etc.

Se há um grupo de antigos (e anónimos, do Cubacuré) combatentes do PAIGG que hoje comemoram os 40 anos da independência da sua terra, em Guileje, com o apoio da ONG AD-Bissau, não vejo mal nenhum nisso... (É a minha opinião pessoal, não tendo que ser partilhada pro mais ninguém, editores e colaboaradores do blogue).

O nosso blogue é (ou procura ser) "fonte de informação e conhecimento"... A guerra acabou há 40 anos. Temos reencontrado (e falado com), aqui e na Guiné, homens que nos combateram na guerra, e contra os quais combatemos.

Não vejam, por favor, qualquer ação de "propaganda", a 40 anos de distância,a favor desta ou daquela causa... Falemos, sem complexos de nenhuma espécie, de uma guerra que opôs dois lados (ou mais). As suas histórias também nos interessam... Afinal, muitos deles morreram e ficaram feridos, para quê ? porquê ?... Alguns dos energúmenos que se apoderaram do poder de Estado, na Guiné-Bissau, também são os mesmos que "sequestraram" a história, e abandonaram o guerrilheiro pé descalço que lutou por uma causa, a independência conseguida há 40 anos...

Há sempre pontos comuns entre os inimigos de ontem... Os soldados de todas as guerras sõ sempre perdedores... São homens que, apesar de tudo, sabem dar valor á camaradagem, à bravura, à solidariedade, ao sofrimento... A guerra também pode aproximar os homens...

De qualquer modo, eu entendo a vossa reação. E peço perdão por, sem querer, vos ter magoado no mais íntimo dos vossos sentimentos e valores. Terei de ter mais cuidado face a situações semelhantes.


Um alfa bravo. Luís Graça

PS - O escritor francês André Breton dizia que "a pornografia é o erotismo dos outros"... Nem sempre a delimitação dos dois domíníos é fácil. O mesmo se passa entre informação e propaganda... De facto, a realidade não fala por si... É sempre bom pôr legendas nos "bonecos"... Era o que deveria ter feito...

Antº Rosinha disse...

Se neste blog fossemos todos unânimes, provavelmente o blog já estava "inanimado" há muito tempo.

Talvez alguns "desistentes" o sejam por não haver unanimidade com as suas ideias.

Com certeza que quem aqui continua é porque concorda com a pluralidade de ideias.

Será mais rica quanto mais abrangente fôr esta tertúlia.

Cumprimentos


Anónimo disse...

Camaradas,

Para todos aqueles que se congratulam e pensam unir-se à EXTRAORDINÁRIA e FANTÁSTICA “Comemoração, em Guileje, dos 40 anos da independência da Guiné-Bissau, organizada pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubucaré”, aqui fica a sugestão para a realização de uma colecta, para ofertar ao PAIGC uma prenda a preceito, pode ser numa belíssima pedra mármore lioz, com os dizeres mais ou menos assim:

“ALGUNS amigos e Camaradas do PAIGC (podes levar os nomes dos aderentes), reunidos no blogue de Luís Graça & Camaradas Guiné, CONGRATULAM-SE, VEEMENTE, SOLIDÁRIA e CAMARADAMENTE com a Comemoração dos 40 anos da independência da Guiné-Bissau, pela Comemoração dos 1.342 portugueses HONROSA & GLORIOSAMENTE mortos em combate, pela Comemoração das HERÓICAS EXECUÇÕES dos Majores Joaquim Pereira da Silva, Raul Passos Ramos e Magalhães Osório, Alferes Miliciano Joaquim João Palmeiro Mosca es dois soldados e um negro que os acompanhavam, assassinados à traição com um tiro na nuca, cujos corpos foram depois retalhados/desfeitos à catanada, quando se deslocaram DESARMADOS E DE BOA FÉ para conversações de PAZ e ainda pela Comemoração da FESTANÇA e ALEGRIA da mortandade de centenas de ex-comandos africanos, milícias, soldados regulares, faxinas, etc !
OFERENDA dos Camaradas do blogue de Luís Graça & Camaradas Guiné.”

É claro que o texto pode ser muito mais beneficiado pelos compadres solidários.

É óbvio que o Camarada: Eduardo Ribeiro, ex-Fur Mil Operações Especiais /RANGER, Companhia de Comandos e Serviços do Batalhão de Caçadores 4612/74, em Cumeré, Mansoa e Brá -1974, não comparticipará com qualquer cêntimo, nem para a “obra” de Guileje, nem para qualquer outra iniciativa do PAIGC.

JD disse...

Camaradas!
Fui alertado para este post pela retransmissão do comentário do nosso pira Eduardo.
Aqui chegado, verifico que o programa das festas não tem nada de evocativo dos objectivos da luta, nem dos superiores interesses do povo guineense. A Guiné tem sido vítima de uma clique sedenta e insaciaval de regalias, incompetente e ofensiva do povo que pretende representar. Não representa nada, apesar do cinismo das relações internacionais.
Portanto, aquele dia comemorativo, tudo o indica, vai ser de evocação fogachal, de bebedeira que perpetua a barbaridade. Note-se, que conheci uns poucos combatentes com espírito aberto e respeitador pelos antigos adversários, mas não é em nome desses que se fará a festa, a que não falta um (?) rebentamento.
Eu serei solidário com o povo que sofre, não com quem o humilha.
Quero aproveitar para aqui deixar uma homenagem pos-morten a um guineense de grande valor, seriedade e iniciativa, que amava a sua terra acima de tudo, o Henrique Rosa, falecido em Maio passado.
Para o povo guinéu e para os camaradas vai o meu abraço fraterno
JD

Carlos Vinhal disse...

Acho que o título do poste está inexacto. Devia ser Comemoração, em Guileje, dos 40 anos da proclamação da independência da Guiné-Bissau.
Nós, os portugueses ex-combatentes, sabemos que a independência da Guiné-Bissau, de jure, foi em Setembro de 1974 e que até esta data, infelizmente, morreram combatentes dos dois lados.
Julgo que esta comemoração não é oficial uma vez que é uma organização de antigos combatentes do PAIGC.
E porquê as comemorações em Guileje e não no Boé?
Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil da CART 2732
Mansabá 1970/72

Zé Ribeiro disse...

Meus Amigos e Camaradas!
Nunca pensei ver, num "Blogue" de ex-Combatentes, que o foram na Guiné-ex Portuguesa,....semelhante texto!
......e aqueles que por actos de bravura, da lei da morte se libertaram...., e aqueles Camaradas Africanos...fuzilados,....cujo crime foi lutar juntamente connosco contra o dito, P.A.I.G.C.????
Sinto-me triste e defraudado,....e mais não digo.

Anónimo disse...

Caro Luís Graça,
reconheço a sua bela prosa -ia a dizer retórica- mas reconheça que nada nela se refere, objectivamente, à missão dos militares portugueses que estiveram na Guiné ou ao seu reconhecimento ou elogio.
Que teria eu a ver com as anunciadas festividades presumivelmente afantochadas? Barulho por barulho, antes o foguetório das nossas aldeias que o estrondo evocativo das patas arrancadas que agora ali se evoca ou comemora!
Que teria eu a ver com um tal arraial?

Repete-se aqui à exaustão a 'pluralidade' deste espaço
e
reitera-se também, até à náusea, um suporte de opinião apologética que, a não ser oportunista, é descabido e insultuoso.
Poderia ser apenas provocatório mas nem isso, visto o tom apaziguador e melífluo que se instalou, protegido pela ‘tutela’.
A maltosa, a populaça que aqui passa -como eu- vai mais ou menos atrás da banda enquanto a banda tocar o fandango dos amigos da Guiné, pretos e brancos irmanados não sei em quê...
não passa de uma falsidade e ignora a memória de quem la esteve e não anda a sonhar com passeatas ou revivalismos.


Bem sei que se perdem facilmente de vista a dignidade e os princípios, em nome de vislumbres e carreirismos mas
atente-se,
nem sempre isso produz efeitos, directos ou colaterais, muito para além do banal alcance de pequenos reconhecimentos e magras prebendas.

SNogueira
Ex-oficial páraquedista com
escassa experiência de guerra na Guiné

PS - Nossos amigos da 'AD-Bissau'; o que é isso?
Não são nada meus amigos, nem sei a quem abarca o pronome plural...

David Guimarães disse...

Tenho respeito pelo povo da Guiné, hoje independente - lutaram para isso e por isso. A guerra foi sangrenta, ainda hoje sofremos esses traumas. Tenho respeito peças festas que façam e que as façam todas não me cabendo a mim ex. combatente ser solidário com tais festas... Não são minhas, são deles... E daqui a pouco concluo que nós é que fomos os maus e eles os bons... Não podem responder aqueles que lá morreram. Bem ou mal na altura defendia a Pátria e era a Portuguesa, hoje reconhecer-lhes a independência acho justo, comemorar roncos entendo que não me cabe nem me sentiria bem.... E mais não digo respeitando todas as opiniões. Ah, eu não fui "terrorista" fui sim um combatente do exército Português e a minha bandeira é a verde rubra e o meu hino é a Portuguesa... Entendo que tudo deverá ter limites!

Anónimo disse...

Olá Camaradas
O Rosinha tem razão.
Para o Belo gostaria de dizer que os africanos, quando não aceitaram a língua portuguesa (podiam tê-lo feito, lentamente em cinco séculos e sem a ajuda directa de ninguem) resistiram à penetração e assimilação. Foi um modo de resistir numa área das que caracterizam qualquer civilização - a língua.
Não me parece construtivo que o "rebentamento de minas" seja uma maneira de celebrar a paz, a independência ou que quer que seja, mas isto não me diz respeito...
Quanto ao local de declaração da independência, seria bom que se organizassem (digo eu), mas isso não me diz respeito.
Mesmo como estrangeiro permito-me sugerir que, ao menos, honrem as memórias dos mortos que tiveram - civis e guerrilheiros - e os deficientes que ficaram após a independência e ainda apor lá devem andar...
Era belo e contribuiria para a unidade nacional...
Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Caros ex-combatentes:

Não há nada que pague a dignidade nacional e alguns, infelizmente, nem sempre o souberam fazer.
Alguns renegados pretenderam sair do anonimato e decidiram, face ao seu passado, defenderem os seus obscuros ideais e dessa forma traírem os seus camaradas(?) e quem sabe aqueles que os julgavam pessoas leais.

Cumprimentos,
Constantino Costa

Anónimo disse...

Caríssimos,

Em meados do ano 70, assumi o comando de uma unidade quase exclusivamente composta por tropa Africana, e por lá fiquei durante dois anos, em 72 saí de Portugal, e por aí vou andando, sou mais um desses milhões da Diáspora Lusitana.Logo não serei a pessoa habilitada para opinar sobre o pós 74.Diria : "em briga de jacu inhambu não pia..", e terei que dar crédito de novo ao meu avô e à sua imensa sabedoria bairradino-brasílica. Todavia, sem fazer juízos de valor sobre a matéria, aqui de longe, não posso deixar de externar a minha profunda admiração
pelo árduo, sereno, e sábio trabalho de edição de toda a equipe editorial, em assuntos apesar de distantes no tempo cronológico, ainda carregados de emoção.Equipe magistralmente comandada pelo Camarada Luis Graça,a quem eu qualifico, sem risco de exagero, como um Benemérito da nossa tão vilipendiada geração, nos proporcionando uma VOZ.É o último dos direitos do cidadão, o tal do "jus esperniandi".

forte abraço a todos
Vasco Pires
Ex-Comandante do 23° Pel Art