sábado, 30 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12366: Bom ou mau tempo na bolanha (37): Temos boca, falamos (Tony Borié)

Trigésimo sétimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.



Nós, os antigos combatentes, às vezes excedemo-nos quando escrevemos algumas memórias, e dizemos o que nos vai na alma e não só, até chegamos ao ponto de dizer coisas que vão ferir a sensibilidade de terceiros. Sim é verdade, mas faz parte das nossas memórias que normalmente, são boas e más, e para sermos honestos, temos que dizer tudo. Já lá vão quase cinquenta anos, quanto mais dissermos, mais ajudamos a nova geração, para que no futuro vejam em nós um exemplo, tanto do lado bom, como do lado mal, para que não cometam os mesmos erros que nós, talvez sem querer, ou por falta de informação, seguindo princípios menos recomendáveis, cometemos.

As novas gerações querem e vão construir um mundo melhor, oxalá que sim, e nós vamos ajudá-los, contando-lhes o que de bom e de mau a nossa longa vida nos trouxe, só assim contribuiremos para um mundo melhor e mais justo, onde todos possam viver em paz, com saúde, trabalho e educação.


O Cifra, quer ver se não guarda nada das suas memórias de guerra e não só, às vezes, as suas narrativas não têm muito interesse, mas sempre há uma frase, ou uma passagem que vai alertar alguém, ou vai fazer lembrar uma história parecida com aquela que viveu, e pelo menos naqueles segundos em que o amigo antigo combatente teve pachorra para ler, se esquece de uma dor em qualquer parte do seu corpo, ou da amargura que essa maldita guerra lhe deixou.


Fala-se em crimes de guerra, sim, poderá haver alguns, nós militares de Portugal, éramos um povo ordeiro, que sofremos ao ter contacto com uma guerra, e com situações, que nunca imaginaríamos que existissem, adaptámo-nos, sobrevivemos, mas não creio que nenhum de nós tenha matado alguém a sangue frio, ou praticado qualquer acção que não estivesse de acordo com as normas e a maneira como fomos educados em nossas casas, seguindo um regime de educação em família. Poderá ter havido alguma conduta menos correta, mas em ambiente de conflito, vendo companheiros agonizando, banhados em sangue, pedindo que alguém lhes dê um tiro de misericórdia e acabe com o seu horroroso sofrimento, muitas vezes o homem deixa de ser homem, por momentos, isso é dos livros, não é nenhuma novidade.
O Cifra arranjou estas fotografias que adaptou ao nosso caso e até parecem sugestivas, portanto reparte-as com todos vocês.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12330: Bom ou mau tempo na bolanha (36): Quem se lembra do Soares da Messe dos Oficiais? (Toni Borié)

1 comentário:

Anónimo disse...

Amigo Tony. Façamos o possível para deixar esta herança de memórias. Acontece porém, que começo a duvidar do interesse da juventude por aquilo que vamos debitando. Continua eu também vou dando umas achegas. Um abraço.
Do Veríssimo Ferreira