segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12582: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Informação sobre o ex-1º srgt Fernando Brito, da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), que é meu avô, está reformado como major e vive em Coimbra (Cláudio Brito)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CSS/BART 2917 (1970/72) > c. 2º trimestre de 1970 > O então 1º sargento Fernando Brito, na estrada de Bambadinca-Bafatá às voltas, com o condutor e um outro militar, com um problema no motor do seu jipe.


Fotos: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: L.G.]



Coimbra > c. 2013 > Avô e neto, da esquerda para a direita, Fernando Brito e Cláudio Brito.

Foto: © Cláudio Brito (2014). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do nosso leitor Cláudio Brito:

De: Claudio Brito

Data: 12 de Janeiro de 2014 às 15:47

Assunto: Informação sobre o Capitão Fernando Brito



Boa Tarde, Caro Sr. Luís Graça,


Observei com atenção o seu blog, no qual fala, entre muitas outras coisas, do meu avô, o Capitão Fernando Brito, reformado como Major e, na altura da comissão na Guiné, 1º Sargento [, da CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72]. Foi numa pesquisa que encontrei, para minha felicidade, esta página, o poste P9144.(*)

Congratulo vossas excelências pelo magnífico trabalho da História militar que no blog em causa executaram. Eu próprio sou formado em História, licenciatura e mestrado, e muito (se não quase tudo) devo ao meu avô.

Quero então informar, para atualizar o seu blog, que o Capitão Fernando Brito, por quem expressam carinho e saudade na página em causa, está vivo, tem 82 anos, está de boa saúde e continua a morar em Coimbra, no mesmo prédio, só o telefone é que mudou [Endereço a comunicar aos camaradas de Bambadinca, pelo correio interno da nossa Tabanca Grande, incluindo os orgnaizadores dos encontros do pessoal do BART 2917, L.G].

A minha avó, a senhora com o nome russo que falaram na página, Natacha, infelizmente morreu no passado dia 23 de Março do ano 2012. A juntar com a morte do meu pai (seu filho), a 9 de fevereiro de 2001, como devem entender, foram dois duros golpes para o meu avô que, para minha admiração, continua "rijo que nem um pêro", mantendo o físico e o verbo.

Pedia, se quisessem, pois o deixaria muito feliz, que lhe ligassem e falassem um pouco com ele ou mesmo que um dia se pudesse organizar um almoço ou convívio para relembrar algo que ainda o deixa feliz, os dias da tropa (e não da guerra).

Gostaria também de adquirir esse Cancioneiro, de que falam com tanto orgulho no blog :)

Deixo então as informações, aguardando uma resposta. Envio, igualmente, uma foto atual do meu avô comigo. Espero que gostem.

Os meus melhores cumprimentos e saudações

Cláudio Fernando Brito


2. Comentário de L.G.:

Meu caro Cláudio: Como costumamos dizer o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Sem imodéstia: somos 636 "amigos e camaradas da Guiné", a maior parte combatentes. Acabei de falar, pelo telefone fixo que me deste, com o teu avô, e meu antigo camarada de armas de Bambadinca, onde estivemos kuntos cerca de 10 meses, entre maio de 1970 e março de 1971. Ele era o 1º srgt da CCS/BART 2917 e eu era o fur mil armas pesadas inf Henriques, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71). 

Reconheci-lhe a voz, de imediato, e perguntei-lhe se ainda cantava... Ele tinha uma bela voz de barítono... Continua, de facto, na mesma, em boa forma, pelo que me pareceu, à distância... Quarenta e três anos nos separam. Embora eu soubesse onde ele morava, em Coimbra, nunca mais nos encontrámos. Tentei, em vão, ligar-lhe algumas vezes. Foi graças ao teu mail, que acabo de descobrir o nosso Fernando Brito... E deixa-te tratar-te por tu porque os filhos e os netos dos nossos camaradas nossos filhos e netos são...

Falámos um bom bocado e eu confirmei aquilo que me transmitiste: a morte do seu filho e teu pai, num brutal acidente de viação, em 2001, e a perda, mais recente, da sua querida Natacha, sua esposa e tua avó. Foram dois duros golpes para a família, mas  também fiquei a perceber quanto ele te adora e admira.  Para ti, desejo boa sorte, em termos pessoais, académicos  e profissionais. Sei que gostas de história, como eu, oxalá tenhas oportunidade de trabalhar nessa área, como investigador e/ou docente.

Quanto ao teu avô, não sabia que ele tinha voltado à Guiné, para uma nova comuissão, desta vez em Madina Mandinga, na região do Gabu. onde terá apanhado "manga de porrada",  nos anos terminais da guerra. Também fiquei a saber que, depois da reforma, foi dirigente da Associação Académica de Coimbra – Secção de Futebol.

Para terminar, deixa-me dizer-te que eu convidei  o teu avô para integrar a nossa Tabanca Grande. Disse-me logo que sim, que teria muita honra. Prometeu-me ceder imagens dos seus diapositivos de Bambadinca e Madina Mandinga. Disse-lhe que tinha um lugar, o nº 637, à sua espera, para ele se sentar à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande (**). 

Muita saúde longa vida para ti, Fernando Brito.

PS - Quanto ao Cancioneiro de Bambadinca, para já só tem uma letra e uma música, o fado "Brito que és Militar"... Uma homenagem, na época ao teu avô (*)... Temos feito recolha de letras de canções de caserna, que cantávamos  durante a guerra colonial na Guiné. Pode ser que um dia  destes se publique um livrinho com esse material (ou uma seleção)... E nessa altura o fado "Brito que és militar" irá figurar nessa antologia...

______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

(**) Último poste da série > 15 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12297: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (77): Dois antigos camaradas da mesma unidade (CCAÇ 12), mas de épocas diferentes, sem grande tempo para se encontrarem em Lisboa, partem sábado, no mesmo avião, para Luanda, onde vão em trabalho...

15 comentários:

António Duarte disse...

Parabéns pela ternura e sensibilidade deste texto e também pelo feliz reencontro.
António Duarte

Luís Graça disse...

Luís Graça
13/1/2014 21:07

c/c António Levezinho, Humberto Reis, Gabriel Gonçalves, Abílio Machado, J.L. Vacas de Carvalho, Benjamim Durães António Fernando Marques, Migueis, Vitor Raposeiro Gualberto Passos Marques, David Guimarães

Olá, Cláudio. Como costumamos dizer o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Sem imodéstia: somos 636 "amigos e camaradas da Guiné", a maior parte combatentes.

Já falei com o teu avô. E ele aceitou ser o nº 637 da Tabanca Grande... Se ele não tiver endereço de email, podes emprestrar-lhe o teu...

Manda-me duas fotos dele, uma antiga e outra atual, tipo passe... Eu já o apresentei... Aqui tens:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2014/01/guine-6374-p12582-o-mundo-e-pequeno-e.html

Um abraço. Luís Graça

PS - Seguem alguns fotos para o teu avô me/nos reconhecer... Furriel Henriques, da CCAÇ 12...

Numa estou com o furriel Levezinho (autor da letra do fado "Brito que és militar")... Noutra com soldados africanos do meu Gr Comb / CCAÇ 12...

Noutra está o Levezinho com o 2º srgt Piça (82 anos, vive em Évora, também, rijo...). Noutra ainda, o Humberto Reis, também furriel mil operações especiais, da CCAÇ 12... e jogador de lerpa...e grande fotógrafo de Bambadinca e Bafatá (vistas aéreas) mais o Levezinho...

Vê também aqui:

http://www.ensp.unl.pt/lgraca/guine_guerracolonial_historia.html

Estou de óculos fumados...

Dou o contacto do teu avô a alguns camaradas do nosso tempo de Bambadinca, incluindo o ex-capitão da CSS, o Passos Marques (por quem ele me perguntou), bem como o alf Vacas de Carvalho, do Pelotão Diamler... de quem ele se lembra bem, do 2º srgt Piça (de quem não tenho endereço de email, só o nº de telemóvel)...

São alguns nomes que me ocorreram, de imediato, e que fazem parte da nossa Tabanca Grande... Mas há mais nomes, que não menciono aqui por lapso meu ou falta de tempo para pesquisar...Poderei fazê-lo mais tarde...

Luís Graça disse...

Cláudio:

O endereço de email do Passos Marques que te enviei, deve estar desatualizado... A mensagem foi-me devolvida... Ele é nosso grã-tabanqueiro... Vuive em Faro, se não me engano... Mas diz ao teu avô que temos aqui fotos dele. Clicar aqui:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Passos%20Marques%20%28Cap%29

Abraço. Luis

Luís Graça disse...

Sim, António Duarte, concordo, é uma história bonita, de grande ternura da parte a parte, do neto pelo avô e do avô pelo neto...

Tu já chegaste a conhecer a malta do BART 2917, o teu batalhão foi substituí-los... Maa deves lembrar-te de ninguém, presumo...

Luís Graça disse...

Repito o que aqui há mais de 2 anos, a propósito do fado "Britop que és militar":

Este fado faz parte do Cancioneiro de Bambadinca. Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCASÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor, o nosso querido amigo Tony Levezinho.

Quanto ao homenageado, era o Fernando Brito, o 1º Sargento da CCS/BART 2917, que chegou a Bambadinca, para tomar conta do Sector L1, em finais de mais de 1970, quando a malta da CCAÇ 12 já pertencia à velhice, com um ano de porrada...

O Brito era um senhor, que se impunha não só pelo físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios. Tinha idade de ser nosso pai, era um homem esperto e sobretudo um grande sedutor...

Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo, Natasha.

Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes, que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamosum disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo!... (EWra o preço de uma granada de obus 10.5)...

Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 timha deixado cedo de ter 1º Sargento (O Fragata, de cavalaria, foi tirar o curso de oficial em Águeda), sendo essas funções desempenhadas interionamente pelo nosso querido 2º Sargento inf José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande compinha, grande amigo... Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3...

Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas, loucas, de Bambadinca.

Há 43 anos, desde março de 1971, que deixei de ter notícias dele, do nosso "primeiro Brito"...

Luís Graça disse...

Repito o que aqui há mais de 2 anos escrevi, a propósito do fado "Brito que és militar":

(i) Este fado faz parte do Cancioneiro de Bambadinca. Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCASÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor, o nosso querido amigo Tony Levezinho.

(ii) Quanto ao homenageado, era o Fernando Brito, o 1º Sargento da CCS/BART 2917, que chegou a Bambadinca, para tomar conta do Sector L1, em finais de mais de 1970, quando a malta da CCAÇ 12 já pertencia à velhice, com um ano de porrada...

O Brito era um senhor, que se impunha não só pelo físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios. Tinha idade de ser nosso pai, era um homem esperto e sobretudo um grande sedutor...

Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo, Natasha.

Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes, que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamosum disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo!... (EWra o preço de uma granada de obus 10.5)...

(iii) Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 timha deixado cedo de ter 1º Sargento (O Fragata, de cavalaria, foi tirar o curso de oficial em Águeda), sendo essas funções desempenhadas interionamente pelo nosso querido 2º Sargento inf José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande compinha, grande amigo... Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3...

Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas, loucas, de Bambadinca. O Brito tinha, além disso, um "tabanca" (leia-se: uma morança, dentro do períemetro de arame farpado do quartel, mas na parte civil, junto aos correios, escola, casa do chefe de posto... Era um refúgio, para nós... Íamos lá beber uns copos... Ele e o 2º comandante não se coziam lá muito bem (, segundo ele me cofirma agora)... Nós, por nosso lado, destetávamos o "militarista" do 2º comandante... Mas a "tabanca do BritoQ" provocava algumas ciumeiras, já que nem todos tinham acesso ao "sítio"... Só os amigos...

Há 43 anos, desde março de 1971, que deixei de ter notícias dele, do nosso "primeiro Brito"... Fixo felioz por o reencontrar... Fez parte da minha/nossa vida em Bambadinca...

Luís Graça disse...

Repito o que aqui há mais de 2 anos escrevi, a propósito do fado "Brito que és militar":

(i) Este fado faz parte do Cancioneiro de Bambadinca. Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCASÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor, o nosso querido amigo Tony Levezinho.

(ii) Quanto ao homenageado, era o Fernando Brito, o 1º Sargento da CCS/BART 2917, que chegou a Bambadinca, para tomar conta do Sector L1, em finais de mais de 1970, quando a malta da CCAÇ 12 já pertencia à velhice, com um ano de porrada...

O Brito era um senhor, que se impunha não só pelo físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios. Tinha idade de ser nosso pai, era um homem esperto e sobretudo um grande sedutor...

Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo, Natasha.

Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes, que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamosum disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo!... (EWra o preço de uma granada de obus 10.5)...

(iii) Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 timha deixado cedo de ter 1º Sargento (O Fragata, de cavalaria, foi tirar o curso de oficial em Águeda), sendo essas funções desempenhadas interionamente pelo nosso querido 2º Sargento inf José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande compinha, grande amigo... Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3...

Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas, loucas, de Bambadinca. O Brito tinha, além disso, um "tabanca" (leia-se: uma morança, dentro do períemetro de arame farpado do quartel, mas na parte civil, junto aos correios, escola, casa do chefe de posto... Era um refúgio, para nós... Íamos lá beber uns copos... Ele e o 2º comandante não se coziam lá muito bem (, segundo ele me cofirma agora)... Nós, por nosso lado, destetávamos o "militarista" do 2º comandante... Mas a "tabanca do BritoQ" provocava algumas ciumeiras, já que nem todos tinham acesso ao "sítio"... Só os amigos...

Há 43 anos, desde março de 1971, que deixei de ter notícias dele, do nosso "primeiro Brito"... Fixo felioz por o reencontrar... Fez parte da minha/nossa vida em Bambadinca...

Luís Graça disse...

Repito o que aqui há mais de 2 anos escrevi, a propósito do fado "Brito que és militar":

(i) Este fado faz parte do Cancioneiro de Bambadinca. Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCASÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor, o nosso querido amigo Tony Levezinho.

(ii) Quanto ao homenageado, era o Fernando Brito, o 1º Sargento da CCS/BART 2917, que chegou a Bambadinca, para tomar conta do Sector L1, em finais de mais de 1970, quando a malta da CCAÇ 12 já pertencia à velhice, com um ano de porrada...

O Brito era um senhor, que se impunha não só pelo físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios. Tinha idade de ser nosso pai, era um homem esperto e sobretudo um grande sedutor...

Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo, Natasha.

Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes, que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamosum disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo!... (EWra o preço de uma granada de obus 10.5)...

(iii) Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 timha deixado cedo de ter 1º Sargento (O Fragata, de cavalaria, foi tirar o curso de oficial em Águeda), sendo essas funções desempenhadas interionamente pelo nosso querido 2º Sargento inf José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande compinha, grande amigo... Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3...

Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas, loucas, de Bambadinca. O Brito tinha, além disso, um "tabanca" (leia-se: uma morança, dentro do períemetro de arame farpado do quartel, mas na parte civil, junto aos correios, escola, casa do chefe de posto... Era um refúgio, para nós... Íamos lá beber uns copos... Ele e o 2º comandante não se coziam lá muito bem (, segundo ele me cofirma agora)... Nós, por nosso lado, destetávamos o "militarista" do 2º comandante... Mas a "tabanca do BritoQ" provocava algumas ciumeiras, já que nem todos tinham acesso ao "sítio"... Só os amigos...

Há 43 anos, desde março de 1971, que deixei de ter notícias dele, do nosso "primeiro Brito"... Fixo felioz por o reencontrar... Fez parte da minha/nossa vida em Bambadinca...

David Guimarães disse...

Olha o 1º Brito.... que giro.... Um indivíduo que soube viver e sabia fazer amigos - mesmo eu considerava-o bastante não como superior mas como um homem com mais experiência, sempre com uma graça, um 1ºSargeto à época... Soube que mal veio para a Metrópole após nosso Bart que dele era também que regressou noutro Batalhão para lá - sempre me lembrava dele até que soube que efectivamente ele tinha-se aposentado como Major - isto é pequeno Portugal e cá estamos.... Um abraço para ele e mando isto através do neto... Eis o nosso 1º Brito como o deixei na tropa - um amigo.... Fiquei contente de o ver e saber dele afinal

Anónimo disse...

Um Grande Abraço ao BRITO,que chegou

a visitar-me em Missirá.

J.Cabral

Luís Graça disse...

Já agora, auqi fica a leltar do fado, que era cantado no bar de sargentos da Bambadinca e na célebre tabanca do "nosso 1º Brito":


Brito... que és militar!

Letra: Tony Levezinho

[Adpat: Fado "Povo que lavas no rio"

[Música: Fado Victória, composição original de Joaquim Campos (1911-1981)
Letra: Pedro Homem de Melo (***)
Criação de Amália Rodrigues, 1961]



Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.

Fui ver à secretaria,
Por ouvir a gritaria
Que fazia confusão:
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que mim cá têm patacão!

Filho da puta e sacana
É o que eles te chamam,
Tenho a mesma condição
- Mamadús, eu vos adoro,
se for preciso eu choro,
mas Patacão... é que não!

Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.

[ Recolha: Gabriel Gonçalves / Revisão: LG]

Anónimo disse...

Antonio Levezinho
14 jan 2013 11:02


Mas que boa surpresa a localização do nosso "BRITO QUE ÉS MILITAR...".

Apesar das marcas do tempo (comuns a todos nós) através desta foto com o seu neto, consigo reconher-lhe aquela expressão no olhar que, para mim, deixava muito facilmente adivinhar o que lhe ia na alma.

Se a ideia tiver pernas para andar juntar-me-ei com prazer aqueles que quiserem estar com ele. Só preciso de ser avisado com algum tempo de antecedência.
Um forte abraço

Tony LEVEZINHO

Enviado de Samsung Mobile

José Saúde disse...

Eureka! Descobri o então 1º Sargento Brito, aposentado como Major, nesta encruzilhada de transversais encontros com gentes que palmilharam o solo guineense.

A informação sobre este nosso velho camarada, foi-me fornecida pelo antigo Alferes Miliciano Barbosa, também nosso camarada do BART 6523, e disso fiz referência, não só num post por mim publicado no blogue, bem como no livro que publiquei GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU 1973/74.

Aliás, tenho uma foto com o então 1º Sargento Brito, agora Major, em Madina Mandiga, já em tempo de paz, onde brindamos com whisky a nossa viagem aos seus aposentamos.

Recordo que se tratou de um convívio de amizade entre um grupo pertencente à CCS e outro de camaradas da Companhia instalada em Madina Mandinga.

Cláudio, neto do nosso camarada, deixo aqui o meu apreço pelo teu avô, um homem integro com o qual me cruzei na região de Gabu, ficando-me na memória a sua sensatez humana para com o próximo.

Meu Major, julgo que não será indigno da minha parte, mas de todo justo, pois conservo um respeito enorme por si, se deixar o pedido ao nosso Grande Tabanqueiro, Luís Grança, que sirva de intermediário para a nossa reaproximação mesmo que ela, por enquanto, seja virtual.

Tanto mais que o Luís tem esse contacto. Pelo menos fiquei com essa ideia.

Um abraço,

Zé Saúde

Agostinho Gaspar disse...

Tambem era mecanico e fiz muitas reparações com o martelo,mas com pedras nunca vi (em casa de ferreiro espeto de pau) um abraço amigos da ferrugem.

Agostinho da ferrugem de Mansoa

Luís Graça disse...

Zé Saúde:

Imaginei logo que tivesses conhecido o nosso camarada Brito em Nova Lamego ou em Madina Mandinga (Tens, no teu livro, uma história passada lá, uma futebolada, em meados de 1974, antes da enterga do aquartelamento ao PAIGC).

Manda-me lá essa foto com o então 1º Brito para a gente publicar ou faz um poste com este teu comentário.

Vou-te mandar os contactos do Fernando Brito (telefone e morada). Ainda não sei se ele tem ou usa email. O contacto é feito através do neto.

O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

Luis Graça