domingo, 9 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12698: Manuscrito(s) (Luís Graça) (20): Gostei de voltar a Tavira (Parte III): E de ter tempo para a ver do alto do seu castelo...


Foto nº 1173


Foto nº 1174

Foto nº 1175

Foto nº 1162

Foto nº 1165


Foto nº 1181

Foto nº 1182

Foto nº 1183


Foto nº 1166


Tavira, 1 de fevereiro de 2014 >  Tavira vista do seu castelo...


Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados



1. Eu tive (e penso que muitos de nós tivemos ou ainda temos...) uma relação de amor-ódio pelas terras (cidades vilas, tabancas…) que nos calharam na lotaria da vida militar, cá e lá (na Guiné)…

No meu caso, e referindo-me apenas ao meu percurso militar na então chamada metrópole, essa relação de amor-ódio diz só respeito a 3 terras: Caldas da Raínha (RI 5), Tavira (CISMI) e BC 6 (Castelo Branco). As terras e as suas gentes só aqui são chamadas por albergarem unidades miliatares que fizeram parte das minhas/nossas  estações do calvário… De Santa Margarida não falo, porque não era terra de gente, era um imenso campo militar, medonho, desolador...

A de 4 de março de 1969, passei a pertencer, seguindo a minha caderneta militar, ao RI 2 (Abrantes), por ter sido mobilizado para o CTIG… Só que não me lembro sequer de me ter apresentado em Abrantes. Fui direitinho, tal como meia centena de quadros e especialistas da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), ao Campo Militar de Santa Margarida (CMSM) onde fizemos a Escola Preparatória de Quadros e a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO). A partir de 11 de abril de 1969, passámos a aguardar embarque. E na noite de 23 para 24 de maio lá fomos a caminho de Lisboa, do Cais da Rocha Conde Óbidos, de comboio. Aguardava-nos o Niassa, a nós e a mais uma série de companhias independentes…

Da Tavira desse tempo, das suas gentes,  ruas, monumentos e paisagem circundante, eu guardava algumas reminiscências, avivadas por passagens ocasionais em viagens de turismo a seguir ao 25 de abril (fiz umas férias, no início de 1980, num "turismo rural" a uns escassos quilómetros da cidade, mas nunca me deu para revisitar o quartel da Atalaia) ...

No tempo em que eu estive em Tavira (de 29 de setembro a 14 de dezembro de 1969), a fazer o 2º ciclo do CSM (especialidade de armas pesadas de infantaria) não tive tempo (nem  muito menos dinheiro) para fazer “turismo”: lembro-me  do centro de Tavira e de uns passeiso à volta, Santa Luzia, ilha de Tavira, Luz de Tavira, talvez Cacela A velha (não posso garantir)… Mas não sei se alguma vez, ali mesmo perto do quartel da Atalaia, na colina de Santa Maria, eu tinha entrado no castelo (de origem moura) e contemplado, com olhos de ver, a Tavira branca e cor de tijolo de que desfrutei há dias…

Na época não me interessava tanto por história e património como hoje. Confesso que não tinha, na véspera de fazer 22 anos, grande “tranquilidade e abertura de espírito” para tirar o melhor partido possível das circunstâncias… Hoje, tenho um outro olhar, mais distanciado e crítico,  sobre as coisas (e o meu passado). E agradeço à Alice a prenda de anos que foi este fim de semana, em Tavira, alojado no Convento das Bernardas… LG


Mapa das cidade de Tavira (pormenor). Edição do Turismo do Algarve. Redproduzido aqui com a devida vénia...

Legendas (de 1 a 8, a vermelho) (LG):

1 - Rio Séqua e, depois, da ponte romana,  Rio Gilão
2 - Ponte Romana
3 - Convento das Berrnardas
4 - Salinas
5 - Terminal ferroviário
6 - Quartel da Atalaia (antigo CISMI)
7 - Castelo e Igreja de Santa Maria do Castelo
8 - Estrada das 4 Águas (e acesso, por barco, à ilha de Tavira)

PS - Sobre o património de Tavira, vd. o excelente sítio da Câmara Municipal de Tavira
___________

7 comentários:

José Botelho Colaço disse...

Rever não é residir. Eu gosto de rever os lugares por onde por força do destino me serviram de residência, naquele momento sinto uma satisfação pessoal, mesmo que pessoalmente diga nem que me pagassem eu morava aqui.

Um abraço
Colaço.

Luís Graça disse...

Com a devida vénia, do sítio Arquivo Pessoa


Notas sobre Tavira,
de Álvaro de Campos


Cheguei finalmente à vila da minha infância.
Desci do comboio, recordei-me, olhei, vi, comparei.
(Tudo isto levou o espaço de tempo de um olhar cansado).
Tudo é velho onde fui novo.
Desde já — outras lojas, e outras frontarias de pinturas nos mesmos prédios —
Um automóvel que nunca vi (não os havia antes)
Estagna amarelo escuro ante uma porta entreaberta.
Tudo é velho onde fui novo.
Sim, porque até o mais novo que eu é ser velho o resto.
A casa que pintaram de novo é mais velha porque a pintaram de novo.
Paro diante da paisagem, e o que vejo sou eu.
Outrora aqui antevi-me esplendoroso aos 40 anos — Senhor do mundo —
É aos 41 que desembarco do comboio [indolentão?].
O que conquistei? Nada.
Nada, aliás, tenho a valer conquistado.
Trago o meu tédio e a minha falência fisicamente no pesar-me mais a mala...
De repente avanço seguro, resolutamente.
Passou roda a minha hesitação
Esta vila da minha infância é afinal uma cidade estrangeira.
(Estou à vontade, como sempre, perante o estranho, o que me não é nada)
Sou forasteiro tourist, transeunte.
E claro: é isso que sou.
Até em mim, meu Deus, até em mim.

8-12-1931

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 154.

http://arquivopessoa.net/textos/1010

Luís Graça disse...

tavira 1944

por Eugénio de Andrade


As mulheres sentavam-se às portas da noite
as mais novas riam
os dentes eram a sua coroa
ou tremiam ao pressentir os passos dos soldados
as crianças riscavam a cal com os seus gritos
cresciam para a morte com grandes olhos claros

ou ramos cegos.

in: Escrita da Terra (1974)

Reproduzido, com a devida vénia, de

http://saldalingua.wordpress.com/

Luís Graça disse...

A conquista de Cacela

por Sophia de Mello Breyner Andresen


As praças-fortes foram conquistadas
Por seu poder e foram sitiadas
As cidades do mar pela riqueza

Porém Cacela
Foi desejada só pela beleza


In: Livro Sexto. Lisboa: Livraria Moarais Editora, 1962

[Um dos livros de poesia que levei para a Guiné]

Anónimo disse...

Pois é, Caro Luis,

...a casa do meu avô, não é tão grande quanto eu pensava; o Eça que eu reli, é um desconhecido. Talvez nada seja o que parece.

Esta nossa viagem ao passado, quem sabe não é uma procura de explicações que não existem.Ou será que com a "memória voluntária" queremos reconstruí-lo?

Será que os meus "Fantasmas" ainda estão boiando lá no Rio Sapo? Ou nunca saíram de dentro de mim?

forte abraço

Vasco Pires

Luís Graça disse...

Vasco, voltemos aos poetas da nossa grande lusofonia:

TAVIRA I

Não brincam no jardim
as infâncias perdidas

O lago já secou
nas grades do coreto
enforcaram-se os músicos

E a palmeira
sem tâmaras
marca só o lugar
do tempo que passou.

Yvette K. Centeno [n. 1940]

In: "Entre Silêncios" (Guimarães: Pedra Formosa Edições, 1997)

[Reproduzido com a devida vénia do blogue "Vício da Poesia"

http://viciodapoesia.com/2010/12/16/quem-nao-recorda-nao-vive-%E2%80%93-tavira-e-3-poemas-de-yvette-k-centeno/ }

Manuel B Traquina disse...


Em janeiro do ano de 67 assentei praça no RI5 em Caldas da Raínha e, recordo que todos temiam que terminada a recruta o destino fosse Tavira.
Vi muitos dos meus amigos partirem para lá e, eu satisfeito fiquei por ir para a EPSM em Sacavém.
Um abraço para todos os camaradas.