quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13601: Tabanca Grande (444): José Maria Pinto Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista de Eng.ª da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Biambe, 1969)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José Maria Pinto Claro, Deficiente das Forças Armadas (ex-Soldado Radiotelegrafista de Engenharia da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969), com data de hoje, 11 de Setembro de 2014, após ter sido convidado pelos editores a ingressar na nossa tertúlia:

Boa tarde camarada Vinhal

Conforme me foi pedido aqui seguem as informações pessoais.

A minha identificação:
- José Maria Pinto Claro
- Soldado Radiotelegrafista de Engenharia
- Profissão, 1.º Oficial Compositor de Artes Gráficas, Livraria Bertrand, Venda Nova-AMADORA
- Nascido a 23-02-1947
- Ingressei nas fileiras do Exército a 6 de Maio de 1968
- Fui para o Regimento de Transmissões 1 a 6 de Julho onde completei o curso a 9 de Novembro de 1968
- Fui para o Batalhão de Caçadores 10 a 8 de Dezembro de 1968 para ser integrado na CCAÇ 2464/BCAÇ 2861
 
José Maria Claro a bordo do Uíge

- Embarquei em Lisboa, com destino GUINÉ, a 5 de Fevereiro de 1969 no navio Uíge
- Fui ferido em campo de guerra (Biambe), por rebentamento de uma mina anti-pessoal, resultando a amputação da perna esquerda no dia 8 de Abril de 1969
- Saí do HM 241 de Bissau a 19 de Abril de 1969 com destino ao HMP
- Saí do HMP a 8 de Janeiro de 1970, dado como incapaz para todo o serviço militar, com 67,7% de incapacidade.

Quanto a louvores, louvo e felicito a Força Aérea e quem estava no outro lado da linha que atendeu todos os pedidos na prontidão, incluindo a minha evacuação pelo DO e Enfermeiros que quando cheguei ao quartel já estavam na pista à minha espera.

Mais acrescento algumas estórias e dados que considerem relevantes.

Conforme o que foi transmitido pela minha pessoa, é relevante que tinha muito trabalho e responsabilidade às minhas costas sem saber se poderia assim ser, visto que havia mais dois RTs e dois Transmissões de infantaria(*).

Eu era sempre o visado para todas as saídas para o mato, tenho uma versão que não mencionei, mas vou desenvolver:
Foi-me dada ordem pelo Cap. Pratas que tinha de ser eu a fazer as transmissões na saída que iria ser realizada, saída essa que seria às 22 horas para uma emboscada a um certo lugar, que agora não me recordo o nome.
Tinha dito ao Capitão que o aparelho não estava funcionar, mas ele insistiu e exigiu que tinha de lhe transmitir de 30 em 30 minutos.
Tudo bem, a coluna lá saiu, dentro da mata passado os tais 30 minutos, mandei parar os pelotões e tentei a transmissão, o rádio não dava nada, então com a ânsia de cumprir o que me foi exigido, mudei a banda Alta para a banda Baixa e o rádio deu um estoiro, mas ficou com bateria na mesma, então mudei para banda Alta e tive transmissões que foi uma categoria.

Biambe - José Maria Claro ao "telemóvel"

Já na posição de emboscada estou ao lado do alferes (não sei o nome dele, nem o mencionaria, se o soubesse) fiz uma transmissão e perguntam-me que barulho era aquele, eu na minha inocência encostei o micro e disse que era o alferes a ressonar.
À chegada ao quartel, o Capitão estava em cima dos blocos de terra que se tinha afundado para se fazer uma piscina, e quando o Alferes passou, chamou-o ao gabinete e levou uma descasca.

O Radiotelegrafista Claro

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2. Comentário do editor:

Caro camarada e amigo Claro,
Sê bem-vindo a este grupo de camaradas da Guiné que se serve desta página para contar as suas memórias, publicar as suas fotos, comentar postagens de outros camaradas, etc., participando assim na feitura deste espólio de ex-combatentes, melhor dizendo, combatentes, daquela guerra que ditou a morte prematura de quase 10.000 jovens e deixou marcas físicas e psicológicas a muitos milhares, dos quais tu és, infelimente, um testemunho. Esperamos que tenhas ultrapassado psicologicamente a tua deficiência física, se isso é possível na totalidade.
As minas e os fornilhos eram a forma mais cruel de combater, que nos esperava a cada esquina. De parte a parte não se evitava este meio mais covarde de atingir o IN. A cada passo a incerteza do seguinte.
O tempo que passaste nos hospitais, o sofrimento físico e psicológico a que foste sujeito e a adaptação à prótese e à nova vida, não devem ter sido fáceis de suportar. O teu testemunho pode ajudar camaradas na mesma situação que tu.

Muito obrigado por te juntares a nós, que ficamos ao teu dispor para receber e publicar o que queiras, relacionado com a tua (má) experiência enquanto combatente.

(*) O material que tenho cá, teu, para publicar, sairá no início da próxima semana.

Não quero terminar, sem antes te deixar um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal

PS - O José Maria Calro passa a ser o nº 665 da lista dos amigoe e camaradas da Guiné, disponível na coluna do lado esquerdao, por ordem alfabética, de A a Z..

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13541: Tabanca Grande (443): Alberto Manuel Salvado dos Santos Grácio, ex- Alf Mil Op Esp/ Ranger da CCS do BCAÇ 4615/73 (Teixeira Pinto, 1973/74)

5 comentários:

Alfredo Miranda disse...

Vou-te tratar como amigo pois só não sei se estiveste na Gaca 3 em Espinho entrei a 07/de Maio de 68 as tuas datas são iguais as minhas e fui para ao 2861 a Chaves e também Radio telegrafista no Facebook sou amigo do furriel Nobre do alferes António José Vale e com Alexandre Cardoso o meu nome do fac é Alfredo Miranda um forte abraço

António José Vale disse...

Lembro-me como se tivesse sido hoje do rebentamento da mina que amputou o Claro e que me marcou profundamente, visto que foi o acidente mais grave a que assisti desde a chegada da CCAÇ. 2464 ao Biambe,em 15/02/1969, e no decorrer de uma operação que eu ía a comandar. Foi no dia 7 de Abril de 1969, quando íamos efectuar uma emboscada no Tama. Ainda não
tínhamos andado mais de 1 Km quando a coluna, com a milícia à frente parou, tendo-me chegado a mensagem de que havia sido detectado um campo de minas. Chamei o Viamonte para irmos à frente para vermos o que se passava e decidirmos o que fazer. Quando estavamos a chegar perto ouvimos o rebentamento duma mina. Ao avançarmos mais um pouco vinha na nossa direcção o Furriel Mendes,todo enfarruscado e sanguinolento que nos diz que quem tinha pisado a mina tinha sido o Claro. A seguir vimos o Quinze com 2 minas nas mãos e mais adiante o Radiotelegrafista Claro com metade da perna destroçada e o Milicia Sanha a pegar-lhe nos tendões descarnados e a recomendar-lhe calma que ele era um homem valente. A situação era chocante, com todo o pessoal com lágrimas nos olhos e as vozes embargadas. Foi pedida de imediato a evacuação e, como ainda estava-mos perto do quartel decidiu-se regressar aí, onde o helicóptero aterrou e levou para o HM de Bissau o Claro, o Mendes e um Milícia de que não me lembro o nome. Realço aqui a coragem e sangue frio do Claro,que mantendo-se sempre lúcido, só proferiu palavras de alento para todos os camaradas.

Antonio Nobre disse...

Olá Claro. Provávelmente já nem te lembras de mim. Sou o Nobre, ex-furriel Miliciano da C.Caç. 2464. O Alferes que falas no teu comentario supra é o Vale, excelente HOMEM e sempre solidario com os seus subordinados e xcamaradas. Espero que este ano nºao deixes de participar no almoço da nossa Companhia que ocorrerá no ultimo Sabado de Abril em Vila Real sob a habitual coordenação do 1ª cabo Pereira, nosso delegado da Companhia em Bissau. Um grande abraço para ti. Se passares por Leiria diz alguma coisa. NOBRE

Anónimo disse...

José Claro
Para o António José Vale
Retificação: A evacuação foi realmente feita através de uma DO e não de heli.
Abraço Camarada

Anónimo disse...

José Claro
Para António Nobre
Amigo e camarada Nobre conforme o meu documentário não sabia o nome do oficial e se o soubesse não o divulgava por respeito e lealdade ao nosso camarada. peço imensa desculpa mas a divulgação do nome era inútil.
Um abraço do camarada Claro