sábado, 25 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13798: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (9): o 'making of' do livrinho (Parte II)

Capa



B. O CADERNO DE POESIAS «POILÃO» (*) (Continuação)

por Albano Mendes de Matos


[ Albano Mendes de Matos, ten cor art ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, como tenente, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo] [, foto à direita, como 2º srgt].


Procurei o Valdemar Rocha (Unidade de Transmissões), Armando Lopes (GA 7), Joaquim Lopes (QG-CTIG) e o Carlos Ramos, que logo concordaram com a ideia e os dois primeiros entregaram-me poemas. O Valdemar entregou-me, também, poemas do Jales de Oliveira.

Planeei «POILÃO». Sem jeito para desenho, rascunhei, a esferográfica, o esboço de um poilão (árvore típica da Guiné) estilizado, que tenho, porque quase todos os rascunhos foram perdidos quando vinham, da Guiné, num caixote que foi arrombado no cais de Santa Apolónia e pilhadas algumas coisas. Os poemas de «POILÃO» salvaram-se porque os touxe numa pasta.

De 2 comissões em Angola, trouxe muitos apontamentos e fotos que me serviram para publicar o caderno de contos «O Jangadeiro», o livro «Meninos da Mucanda» e diversas publicações em jornais e revistas, além de um livro «Por Angola – Etnografia e Guerra», que está a ser teminado.

 


Esboço, feito a esferográfica, para capa de «POILÃO» e paginação, de Albano Mendes de Matos.


Uma noite, ao sair de um café, com Valdemar Rocha, onde nos encontrámos para falar do «POILÃO», encontrei o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano, funcionário do BNU e dirigente do Clube Desportivo e Cultural do Pessoal do BNU, que conhecia da UDIB, União Desportiva Internacional de Bissau.

É aqui que entra o Aguinaldo, nas aventuras de «POILÃO» Contei-lhe que estava a organizar o caderno, com poemas de militares, e que seria interessante incluir alguns guineenses e caboverdianos. Achou a ideia interessante. Como eu não conhecia pessoalmente os «poetas» locais, pedi ao Aguinaldo para falar com alguns e pedir-lhes originais, se tivessem interesse em colaborar. Depois, o Aguinaldo apresentou-me alguns no Clube Desportivo e Cultural do BNU. E assim surgiram os poemas.

Foi numa ida para o Clube do BNU que vi o Pascoal D’Artagnan, filho de um italiano e de uma mulher Balanta, subgrupo mansoanca daquela etnia, que só conhecia de nome. Pareceu-me muito tímido.

Entreguei os originais ao Aguinaldo para ler, que devolveu. Escrevi um prefácio, para «POILÃO», cujo original também se perdeu no Cais de Santa Apolónia.

Num econtro com o Aguinaldo e o Valdemar Rocha, eu propus que não fosse incluído o meu prefácio em «POILÃO», e que o Aguinaldo devia de fazer uma introdução, como aconteceu. Eu dactilografei o caderno em «stencil», dei o papel, imprimi e agrafei a capa, com a ajuda de colegas militares. O Grupo Desportivo e Cultural do BNU ofereceu a capa para «POILÃO».

Um alferes miliciano da Unidade de Tarnsmissões desenhou a capa para «POILÃO» a pedido de Valdemar Rocha.

O segundo caderno seria um trabalho meu, com o título de «BATUQUE», já preparado, que foi publicado mais tarde em edição artesanal restrita [Oeiras. 1987]. O terceiro seria com poemas de Pascoal D’Artagnan.

Eu propus o seguinte;

- Que seria o Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino a publicar «POILÃO».  O dinheiro obtido com a venda de «POILÃO» seria doado à Leprosaria da Cumura.

«POILÃO» foi apresentado após distribuição de prémios de uns Jogos Florais, na Associação Comercial da Guiné, organizados pelo Grupo Desportivo e Cultural do Pessoal do Banco Nacional Ultramarino, e posto à venda sem preço. Os preços oscilaram entre 20$00 e 100$00. Cerca de 300 exemplares foram vendidos num dia e 400 exemplares, uma segunda edição, também num só dia.

Não foram publicados mais cadernos de poesias, porque eu vim de férias, aconteceu a revolta das Caldas da Rainha ], 16 de Março,] e, a seguir, o 25 de Abril. Estava tudo em ebulição.

Agostinho de Azevedo, chefe de redacção de «Voz da Guiné», refere a publicação de «POILÃO» no jornal de 28-02-1974.






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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de outubro de  DE 2014 > Guiné 63/74 - P13796: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (8): Respondo a algumas perguntas: (i) o poeta Pascoal D' Artagnan, que era filho de mãe balanta e pai italiano; e (ii) o 'making of' do livrinho (Parte I)

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