quinta-feira, 19 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14387: Pensamento do dia (23): No dia do pai... "Meu pai, estejas onde estiveres, saberás que te amo muito e te perdoei o nos teres deixado tão prematuramente" (José Carlos Gabriel, ex-1º cabo cripto, 2ª CCaç / BCaç. 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

1. Mensagem de José Carlos Gabriel, com data de hoje:

 Amigos Luis Graça e Carlos Vinhal.

Sendo hoje o dia do pai não pude deixar de escrever algumas palavras relacionadas com esta data que marca um pouco a minha vida.

Se acharem interessante podem publicar.

Um abraço.

José Carlos Gabriel
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[Foto à esquerda: Guiné > Região de Tombali > Setor S2 (Aldeia Formosa) > Nhala > 2ª CCaç / BCaç. 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973-74) > Nhala, JUN73 > O 1º cabo cripto Gabriel no desempenho de funções, Foto (e legenda) : © José Carlos Gabriel (2011). Todos os direitos reservados]
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Carlos Gabriel, meu pai - Um anigo de pouco tempo


Pela primeira vez na vida vou falar sobre o meu pai. A razão é porque o perdi quando tinha apenas 9 anos e de uma maneira que considero inapropriada (mas que foi consciente da sua parte).

Mas quem sou eu para o julgar?

Dos poucos anos de vida juntos tenho mais boas recordações que o contrário. Não terá sido um pai perfeito pois para o ser não nos teria deixado sozinhos tão cedo (eu com 9 anos a minha irmã com 11 e a minha mãe com 32,  mãe que dedicou o resto da sua vida aos filhos e que ainda vive junto a nós).

Mas será que eu como pai também fui o pai perfeito? E será que ele existe?

Penso que não existe o pai perfeito por muito que nos esforcemos. Aos olhos dos nossos filhos existe sempre algo que eles acham que falhamos.

Tinha-lhe um respeito enorme e que me recorde só uma vez me deu uma palmada em cada mão e muito bem dadas.

Tinha-lhe feito um pedido ao qual não acedeu e eu feito esperto pedi á minha mãe que acabou por ceder sem saber do antecedente. O meu pai ao ver que passado umas horas eu já tinha o que queria simplesmente me perguntou se eu tinha tirado ou se tinha pedido e claro confirmei que tinha pedido á mãe tendo-me interrogado:

- EU NÃO TE TINHA DITO QUE NÃO?

Foi nessa altura que me abriu a porta da escada que dava acesso 
José Carlos Gabriel, hoje
á nossa casa e aí deu-me uma palmada em cada mão mandando-me de castigo para casa.

Não me recordo de outra situação deste género nestes curtos 9 anos de convivência.

Com a idade a avançar cada vez mais sinto a sua falta. Sinto tristeza por não ter dado oportunidade á vida para conhecer a neta e os 2 bisnetos.

Existem datas que me são muito difíceis de ultrapassar a sua ausência tais como: O seu aniversário o meu e o Natal.

Esteja onde estiver saberá que o amo muito e lhe perdoei o nos ter deixado tão prematuramente.

José Carlos Gabriel

PS - Carlos Gabriel a bold e sublinhado é intencional pois era o nome pelo qual o meu pai era conhecido.

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14336: Pensamento do dia (22): Aprendi na guerra a pôr um pé à frente do outro e continuar a caminhada, mesmo quando tudo era difícil (José Belo)

5 comentários:

Luís Graça disse...

Zè Carlos, entendo esse "nó na garganta"...Mas faz bem "desatar o nó"...

Andamos uma vida inteira com "segredos íntimos" que não queremos ou não podemos partilhar, mas que são fonte de sofrimento, justamente por que os recalcamos... Muitas vezes não nos falta a vontade de "desabafar"... Mas há o controlo social, o medo de ser "julgado" pelos outros...

Por que é que há poucos camaradas a "dar a cara" no nosso blogue e a falar de coisas tão íntimas como a sua experiência de guerra ou o amor de pai ?

Tens a minha compreensão, a minha solidariedade, o meu abraço de amigo e camarada...

Também me apatecia escrever hoje um pequeno texto em memória do meu pai, Luís Henriques (1920-2012)... Mas não deu, o tempo foi curto e vou agora ter aulas até às 22h... Mas fica sabendo que gostei muito de ler o teu escrito... Que gesto tão lindo, o teu! Parabéns!

Luís Graça

Hélder Valério disse...

Caro amigo e camarada J. Carlos Gabriel

É só para te dar um forte abraço.
Sente-se a emoção que brota das palavras que escreveste.
Deve ter sido difícil, mas acho que fizeste bem.
Já não se pode resolver nada, nada volta atrás, mas soltaste as tuas recordações e certamente que aqui muitos te irão compreender e apoiar.

Hélder S.

Luís Graça disse...

Até Jesus Cristo, que era o filho de Deus, se voltou para o Pai, quando pragado num cruz, e exclamou:
- Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste ?! (Mateus 27:46).

Muitos filhos vivem com "humana" raiva e revolta este "abandono" dos progenitores... É duro de entender e de aceitar... a morte de um pai.

Anónimo disse...


Luis Dias
3/03/2015


Caro Luís Graça

É sempre saudável revivermos os nossos pais. Felizmente, em devido tempo, localizaste no blogue da minha companhia, um texto e fotos que escrevi sobre o meu paI e tiveste a gentileza de o publicar no nosso querido blogue da Tabanca Grande. Acho bem que outros camaradas possam contribuir com os seus textos sobre os pais que também foram militares.
Um forte abraço.
Luís Dias

José Carlos Gabriel disse...

Amigos e camaradas.
O meu obrigado pelas vossas palavras e compreensão. Por vezes temos vontade de gritar as nossas mágoas e não o fazemos com receio de sermos mal interpretados.
Um abraço amigo.

José Carlos Gabriel