segunda-feira, 6 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14438: Notas de leitura (700): “Operação Gata Brava": A BD original de António Vassalo Miranda (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Junho de 2014:

Queridos amigos,
Este criador de BD não é um nome estranho no blogue, já foi mencionado a propósito de outro trabalho “Operação Mar Verde”.
Tem um traço esplêndido, a ilustração é acompanhada de um texto sugestivo, trama dinâmica que assegura uma leitura absorvente. Bom seria que os nossos confrades abrissem os cordões à bolsa e mostrassem o que têm de BD e as guerras em África.
Foi graças à gentileza da Associação dos Comandos que tive acesso a esta preciosidade. A BD precisa de ser acarinhada. Tem reais potencialidades para chegar a um outro público que não o dos devoradores de livros.

Um abraço do
Mário


Operação Gata Brava: A BD original de António Vassalo Miranda

Beja Santos

A BD na guerra colonial tem dado provas de boa saúde, artistas meritórios revelam sucesso mas carecem de chegar ao grande público. Entre os nomes mais destacados desta expressão artística temos António Vassalo Miranda, de quem já fizemos referência. Para o conhecer melhor, o Google faz dele uma cabal apresentação e das suas obras mais representativas.

Falemos hoje do seu álbum "Operação Gata Brava", prova inegável do seu indiscutível talento. A BD ilumina os factos fundamentais que levaram Alpoim Calvão novamente ao Sul da Guiné onde destruiu um barco que tinha sido capturado pelo PAIGC no início da guerra, uma operação de grande arrojo e heroísmo.

Em 5 de março de 1970, os serviços de Radiotelegrafia em Bissau apanharam uma mensagem de Quitáfine para Boké, ficava-se a saber que o navio ia em breve recolher o agente Marcel a Kadigne. Calvão já afundara o “Patrice Lumumba” e aprisionara alguns dos seus elementos. Virá a descobrir-se que o barco que recolherá o agente Marcel era o “Bandim”, capturado pelo PAIGC em maio de 1963 na região de Cacine. Calvão é transportado pelo patrulha “Lira”, vai em direção à foz do rio Cacine. São arreados dois zebros, os botes com oito homens mergulham na noite, aproximam-se do canal e pelas 5h30 da manhã os botes anicham-se no tarrafo onde ficam emboscados. Já fora assim na Operação Nebulosa, em que se afundara o navio-motor Patrice Lumumba. Ali ficam, enquanto a Força Aérea informa que Bandim já partira de Kadigne.

Para movimentar a história, o autor, durante a longa espera, põe os militares a conversar sobre proezas anteriores e figuras de porte excecional. São lembrados os Furriéis Miranda e Artur Pires, o Cabo Marcelino da Mata e o Alferes Leonel Saraiva e os episódios vividos na Ilha do Como. Miranda dera provas de ser destemido e dotado de um impressionante sangue frio, como também se comprovou na “passagem do inferno”, que era uma passagem que ligava Cavane, na Ilha do Como, à floresta através de um arrozal. Miranda, aproveitando os intensos bombardeamentos da Força Aérea lança um ataque sobre as linhas inimigas, não desfaleceram mesmo quando um T6 foi atingido.

Entretanto, passam dois guerrilheiros numa canoa, os emboscados deixaram-nos seguir. O Tenente Barbieri insiste com Galvão para que conte mais façanhas da Operação Tridente que ele vai descrever e BD ilustra. A “Tridente” fora a maior escola de guerrilha que houvera até então. Para Calvão, não se soubera tirar partido dos resultados. Tudo começara depois do PAIGC ter anunciado que havia a República Independente do Como. O comandante Paulo Costa Santos propusera a Tridente, e assim tivera origem a operação mais longa, mais dura e a que mais efetivos envolveu e que fora para o narrador a melhor escola prática que nos graduara na arte da guerra. Calvão descreve o desembarque dos fuzileiros em Caiar de colaboração com a CCAÇ 557 e com os Comandos. O PAIGC tentou desalojá-los, em vão. A artilharia, formada por dois canhões 8,8, sediada na base da praia de Caiar, foi batendo com uma precisão admirável as zonas pré-estabelecidas; e a força aérea deu constantemente o seu apoio. Fuzileiros, Paraquedistas e Comandos e Exército, foram devassando o reduto defensivo do PAIGC. Calvão continua a sua narrativa relatando casos de heroísmo e desprezo pela morte, e de novo refere o Sargento Miranda, os 1ºs Cabos Marcelino da Mata e Jamanca que tinham ido ao socorro do Sargento Perry. No final da operação, o PIAGC retirou para o continente. O Tenente-Coronel Fernando Cavaleiro passeou-se no interior da ilha acompanhado de meia dúzia de homens. Deixou-se uma pequena guarnição em Cachil Pequeno. É nisto que alguém visa que se está a ouvir um barco, de facto era o navio-motor Bandim a aproximar-se. Inicia-se a caçada, um dos zebros, onde vai Barbieri, ataca por estibordo, Calvão e os seus homens por bombordo.

A BD torna-se um documentário poderoso, avassalador, o Bandim cercado, as tropas da Guiné Conacri a ripostar da margem esquerda, sem qualquer efeito. Uma granada de bazuca entra pelo albói da popa e vai explodir no interior da embarcação, o barco perde velocidade, e depois encalha. Trava-se a última batalha, assalta-se o Bandim, todos estão mortos. É impossível tirar dali o Bandim, ele vai ser destruído com petardos de trotil. Assim terminara a operação Gata Brava, os botes afastam-se e noite alta os fuzileiros são recolhidos pelo navio-patrulha Lira. A BD termina com António Spínola a felicitar Alpoim Calvão.

Este é, em síntese, o conteúdo de uma BD muito expressiva produzida por alguém que tem um traço magnífico.


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Nota do editor

Último poste da série de 4 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14432: Notas de leitura (699): “Elefante Dundum – Missão, testemunho e reconhecimento”, por João Luíz Mendes Paulo, edição de autor, 2006 (2) (Mário Beja Santos)

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