domingo, 30 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15055: Libertando-me (Tony Borié) (32): O Sonho Americano (2)

Trigésimo segundo episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 24 de Agosto de 2015.




“American Dream”

Capítulo II

Estamos a falar do Capitão Christopher Newport, corsário, vulgo “pirata”, que nós agora chamamos “Capitão Gancho”, a tal personagem que comandou a primeira frota de três navios vinda da Europa, financiada em parte pelos despojos do navio português “Madre de Deus”, capturado ao largo dos Açores, que foi considerado na altura a maior pilhagem do século, e que foi o fundador da colónia de Jamestown, no agora estado de Virginia e que, talvez sem saber, iniciou o tal “Sonho Americano”, pois foi ele que liderou a frota de colonos que estabeleceu o primeiro assentamento permanente de pessoas vindas da Europa, principalmente ingleses, no Novo Mundo.

Foi ele quem escolheu o local de Jamestown, levou a exploração inicial da pequena área, a que chamava “King James”, que foi negociada pacificamente com os índios, mas como havia poucos recursos, ele ia tirando a fome aos colonos com quatro viagens de reabastecimento, numa delas, durante um furacão, naufragou nas ilhas de Bermuda, o Capitão Christopher Newport, corsário, vulgo “pirata”, a quem chamavam o “Capitão Gancho”, como homem audaz, com mais 150 colonos, conseguem construir duas novas embarcações, mais pequenas que o normal navio usado na época, mas mais rápidas, (que mais tarde seria o tipo de embarcação que dava apoio aos seus saques e abalromentos a outros barcos, principalmente Portugueses e Espanhóis), libertando-se das ilhas, regressando de novo à colónia de Jamestown, no continente americano.

Era um navegador excelente, severo mas compreensivo, era um capitão de mar, um corsário, lendário líder de homens, que em quase 40 anos de viagens de mar fez algumas longas, comerciais para o Extremo Oriente, para a Companhia das Índias Orientais, levando os primeiros embaixadores ingleses para a Pérsia e Índia, lançando assim as bases para a evolução do Império Britânico, travando lutas ferozes, abalroando e saqueando alguns navios Portugueses e Espanhóis, onde também fugiu a muitas lutas, principalmente contra as “Carracas Portuguesas”, de que falaremos adiante, mas como corsário que era, a palavra sobrevivência era muito importante, apesar de usar meios de luta um pouco avançados para a época, mantendo sempre um ou dois segundos navios ao largo, um pouco mais pequenos, mas mais velozes, tipo plano “B”, sem participarem na luta. Vendo que não podia vencer, fugia, mas sobrevivia, desempenhando um papel importante, ajudando na evolução da Inglaterra a partir de uma ilha isolada da sociedade, para uma grande potência marítima com a expansão de colónias ultramarinas, que em última análise se tornou o Império Britânico, que durante muitos anos tomaram conta do mar do Caribe. Ele, juntamente com outros corsários ingleses, vulgo “piratas”, foram saqueando os barcos Portugueses e Espanhóis que tentavam regressar à Europa, carregados com verdadeiras fortunas, foram enriquecendo a monarquia Inglesa, fornecendo assim apoio financeiro para a futura colonização Inglesa da América do Norte.


Mas voltando à colónia de Jamestown, cumprindo ou não ordens do reino e dos comerciantes de Londres que o financiavam, ajudou sempre os colonos da colónia de Jamestown, pois pelo menos durante os primeiros cinco anos, que foram muito difíceis, ele manteve a colónia, lutando sempre pelo reabastecimento dos colonos, trazendo mesmo novos colonos para Jamestown, alguns, talvez prisioneiros dos barcos Portugueses e Espanhóis, supervisionou a construção da solução inicial de paliçada, armazém, igreja ou a doca. Com a sua capacidade de liderança, conhecimentos de navegação, marinharia, experiência e habilidade para negociar com os índios, ele, por muitas vezes, resgatou a colónia de Jamestown da extinção.

As suas viagens posteriores para as Índias Orientais, além das suas lutas, onde atacava quase todos os navios estranhos, em particular os Portugueses, confirmou a viabilidade da negociação por mar, com o Leste e os grandes lucros comerciais que a Inglaterra poderia esperar destas expedições. Nas suas viagens para a Índia, lançou as bases para o risco do mar, com a conclusão com êxito das viagens em alguns navios menores, os tais mais pequenos e velozes, que nas suas lutas de abalroamentos, saques e pilhagens, faziam parte do tal plano “B”, construídos a partir das ilhas de Bermuda, com madeira de cedro, e que levou diretamente à fundação da colónia de Bermuda, que continua a ser um protectorado britânico até hoje e um dos os últimos do Império Britânico.

Uma característica marcante da carreira de sucesso do “Capitão Gancho”, é que ele era um plebeu, com pouca educação formal. Muitos dos primeiros líderes de viagens inglesas de exploração e colonização eram filhos de famílias inglesas ricas, muitas vezes donos de grandes propriedades, vários destes líderes tiveram educações avançadas, alguns na Universidade de Cambridge, mas o Capitão Christopher Newport, corsário, vulgo “pirata”, a quem também chamavam “Capitão Gancho”, tinha alguma educação pois uma carta que escreveu ao conde de Salisbury, secretário da Companhia Virgínia de Londres, indica que ele escrevia bem, usando ornamentos e fases estilistas da época.

Temos que realçar o facto de que o “Capitão Gancho” foi escolhido para liderar uma grande expedição Inglesa, apesar de sua falta de educação formal ou vantagens de nascimento, é uma prova de sua capacidade de liderança e, ao alto nível de respeito que ele ganhou de todos os empresários de Londres, que desenvolveram a Companhia da Virgínia.

Além disso, a sua escolha para liderar as viagens para Virgínia, onde estava localizada a tal colónia de Jamestown, com base em sua experiência e capacidade, em vez do seu estado social, exemplificou a erosão gradual da estrutura social medieval e a evolução dos valores da Renascença na Inglaterra. Os homens eram cada vez mais escolhidos para posições de liderança com base nos seus atributos e experiências individuais, em vez de “canudos” e títulos, como acontecia na época, principalmente nos países do sul da Europa, em que o senhor duque, conde ou visconde, que pertencia à família real, podia ser uma pessoa com poucos recursos, tanto físicos como mentais, mas era o senhor que mandava, sacrificando, colocando numa frente de batalha um povo, onde havia pessoas com dotes de força, inteligência e audácia muito superiores à pessoa que era o seu comandante.

(continua)

Tony Borie, Agosto de 2015
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Nota do editor

Poste anterior de 23 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15030: Libertando-me (Tony Borié) (31): O Sonho Americano (1)

1 comentário:

Antº Rosinha disse...

Pois é Tony, o rei inglês até um maneta aproveitou para nos chatear a pinha.

Estes heróis que encontras por aí, de uma maneira ou outra fazem parte das nossas andanças coloniais.

Porque onde quer que andássemos ou aparecia um inglês ou holandês ou francês, ou espanhol, para nos moer o juízo.

Até em Bolama, os ingleses nos foram lá para expulsar.

Em Moçambique , a raínha Victória mandou o Cécil Rhodes fornecer armas melhores que as nossas aos Vátuas do Gungunhana, para nos mandar borda fora.

Os Holandeses foram ao Brasil para correr com a gente e foram a Luanda e Timor (Indonésia) fazer a mesma coisa.

E os Franceses só nos deixaram ficar na Guiné, porque pensavam que na maré cheia morríamos afogados.

Mas a colonização da América pelos ingleses deixou uma "marca moralizadora" diferente daquela que eles próprios universalizaram sobre os portugueses e espanhois na América do Sul.

Enquanto que na América do Sul, que ainda sobraram imensos índios, até às independências, dizem que foi o Pizzarro, um Vellasquez e outros espanhois que liquidaram todos os índios.

No caso do Brasil até corre a ideia nos livros escolares que os portugueses nem deixaram um indiozinho pata os brasileiros matarem.

E os garotos brasileiros como nunca vêm um indio, a não ser na TV e no cinema, até pensam que é verdade, assim como aprendem que não têm ouro porque o roubamos todo.

Quando na América do Norte que é difícil encontrar índios em qualquer rua mais remota, corre a ideia que os índios morreram na brincadeira de «índios e cow boys», isto é morreram na coboiada.

Isto é, os ingleses sairam-me cá uns piratas!

Nunca se ouve a um americano dizer que os ingleses lhe mataram os índios todos.

Continua Tony que a América ainda é um país da idade dos nossos bisavós.