segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15242: Inquérito "on line" (6): Spínola... e os outros Com-Chefes, antes e depois... (Comentários de Ferreira Neto, José Martins e Beja Santos)



Guiné > Brá, Outubro de 1965 > Governador-Geral e Com-Chefe, general Schultz, o Comandante Militar e o Capitão Nuno Rubim (atrás) recebendo honras militares dos comandos do CTIG em parada. Com o regresso a Portugal do Capitão Rubim, em Fevereiro 1966 ficou a comandar a Companhia de Comandos o Capitão de Artilharia José Eduardo Martinho Garcia Leandro, que até à data estava a comandar a Companhia 640, estacionada em Sangonhá.

Foto (e legenda) : © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados

 
Recorte de jornal (talvez de O Século), enviado pelo nosso camarada Joaquim Lúcio Ferreira Neto. Arnaldo Schulz entre outros cargos foi Director do Centro de Instrução da Milícia da Mocidade Portuguesa; na imagem parece ser o primeiro, a contar da direita,  não sabemos em que qualidade é que estava aqui, mais provavelmente como diretor do centro da milícia da MP; os  subsecretários de estado do exército, da aeronáutica e do educação nacional estavam à civil... De 1950 a 1956, o subsecretário de estado do exército era o Horácio Sá Viana Rebelo (1910-1995...  

Três anos depois, em 27 de Novembro de 1958, com o posto de tenente-coronel, Arnaldo Schulz será nomeado ministro do interior, cargo que exerce até 1961. Como brigadeiro, já em 1963, tem uma curta passagem por Angola, antes de ser nomeado, em maio de 1964 governador da Guiné Portuguesa e comandante-chefe, em substituição do comandante Vasco Rodrigues e do brigadeiro Fernando Louro de Sousa. É o primeiro a acumular estes dois cargos.

De referir ainda que, como jovem tenente, com 28 anos, Schulz fez parte da Missão Militar Portuguesa de Observação à Guerra Civila Espanhola, de junho a novembro de 1938, conforme consta do seu processo individual no Arquivo Históprico-Militar. Tal como Spínola, que nasceu no mesmo ano do Schulz (1910), também estaria, três anos depois,  em 1941, na frente russa,  como observador das movimentações da Wehrmacht, no início do cerco a Leninegrado. Dizia-se que era germanófilo, como muitos oficiais do exército português da época. E foi daí que lhe terá vindo o gosto pelo monóculo... Na Guiné, sempre lhe chamei Herr Spínola... (LG)


1. Mais 3 comentários sobre os homens que, do lado português.  comandaram os destinos da Guiné, antes da independência (*):

Joaquim Lúcio Ferreira Neto [, ex-cap mil, CART 2340, Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69]

Embora tivesse como comandantes os Generais Arnaldo Schulz e António de Spínola, só tive oportunidade de falar com António de Spínola, por duas vezes.

Quanto a Arnaldo Schulz, conheci-o em 1955, nas circunstâncias que figuram na fotografia publicada nos jornais, das quais envio uma cópia [, quando ele, juntamente subsecretário de Estado do Exército, da Aeronáutrica e da Educação,  passou revista à formatura antes do juramento de bandeira dos cadetes do 2º curso de preparação militar no XII Acampamento Nacional da Milícia da Mocidade Portuguesa, na Carregfueira]. Eu fazia parte desse grupo.


José Martins [ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos,  Canjadude, 1968/70]

Vasco António Martínez Rodrigues, Governador sem responsabilidades militares, entre 1962 e 1964, apenas "apanhou" o inicio e dois anos de guerra.

Arnaldo Schulz, Governador e Comandante Chefe, foi transferido de um Comando de Agrupamento em Angola, onde era Coronel (tirocinado). Foi para a Guiné, em 1964,  numa altura em que o efectivo ainda não se aproximava do que veio a ser, poucos anos depois. Consta que se dava melhor com o "alcatrão" do que com a "mata".

António Sebastião Ribeiro de Spínola, Governador e Comandante Chefe (1968-1973)  chegou e "mexeu e remexeu o xadrez da Guiné". Foi o homem escolhido do Marcelo Caetano, pelo que "pode tirar partido" da situação. Aumentou o efectivo e a actividade operacional. Foi o que mais tempo esteve á frente dos destinos da província, e quando o número de militares por metro quadrado atingiu o máximo de sempre. Foi o que criou mais instabilidade ao IN.

José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues, Governador e Comandante Chefe (1973-1974)  sucede a um militar que já tinha firmado as suas credenciais, não só na Guiné mas também na metrópole, pelas "dores de cabeça" provocadas pelas suas viagens frequentes a Lisboa, para falar com Marcelo Caetano e pelos ultimatos que fazia, até que apresentou a demissão e foi necessário criar um "impedimento" para o manter no "arco do poder": a Vice Chefia do EMGFA, único a ocupar esse cargo. Caiu-lhe em cima a Declaração da Independência, assim como o 25 Abril e o Golpe dos MFA/Guiné.

Mais importante para os militares naturais da Guiné do que para os europeus, ainda houve dois Governadores e Comandantes Chefe:

Mateus da Silva e São Gouveia, militares portugueses que, após a prisão do governador Bettencourt Rodrigues, no Forte da Amura, em Bissau, entre o dia 27 de Abril e o dia 7 de Maio de 1974, estiveram na governação interina da Guiné, até á chegada de Carlos Alberto Idães Soares Fabião, Ultimo Governador.

Fui fazer o levantamento de efectivos operacionais "presentes" no TO da Guiné, e constantes dos "5,517 - Os últimos anos da Guerra na Guiné Portuguesa" (***). para tentar "explicar" as preferências indicadas pelos camarigos.

Vejamos oe efectivos:

Governo de Vasco António Martínez Rodrigues

8 de Agosto 1962 - 2.817
8 de Setembro de 1963 - 4.118
8 de Novembro de 1963 - 6.005

Governo de Arnaldo Schulz

23 de Dezembro de 1966 - 18.920

Governo de António de Spinola

4 de Setembro de 1968 - 20.580
4 de Dezembro de 1968 - 20.488
3 de Agosto de 1969 - 24.425
2 de Agosto de 1970 - 23.196

Governo de José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues

7 de Setembro de 1973 - 23.471


Mário Beja Santos [, ex-alf mil, Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70]

Meu caro Luís,

Gabo-te a oportunidade do desafio (*).

Quando estava a ultimar “História(s) da Guiné Portuguesa” de que em breve darei notícias, logo que saiba a data do lançamento, deparei-me com esta lacuna fundamental da guerra da Guiné: o período de 1968-1974 está fartamente documentado, creio que em nenhuma frente de guerra haverá tanta documentação como desse período, respeitante ao carismático Spínola que tudo fez para que a sua encenação política pudesse ser vista lá como cá; ora a governação Schulz, tanto quanto sei, não tem livros, teses de doutoramento ou documentos aparentados, fala-se por alto que Schulz investiu de 1964 até 1968 a fundo na quadrícula e no uso das operações com tropas especiais. O resto é neblina.

Esta situação é prejudicial ao entendimento dos factos sequenciais entre 1962 e 1974. Nomeia-se Schulz e aconteceu o quê? A dar credibilidade ao que escreveram homens como Carlos Fabião, Schulz é um homem cansado e doente, em Fevereiro de 1968. André Gomes e um pequeno grupo flagelaram Bissalanca, o que teve repercussões em toda a cidade e no moral das tropas ali acantonadas, e fora delas.

Ainda não sabemos se este homem foi um puro joguete da História, atirou-se à missão com os seus conhecimentos de Estado-Maior e terá feito aquilo que era possível fazer com os recursos, efetivos e armamentos que Lisboa lhe fornecia, ou se entrou numa rotina perigosa, isto enquanto o PAIGC acumulava meios, prestígio e posições?

Talvez a chave da questão esteja no Arquivo Histórico-Militar, mas era muitíssimo importante que quem sabe da poda, aqui no blogue, desse o litro, contasse a verdade, tal como a viveu ou experienciou.

Estarei atento, também eu preciso de juntar peças, as que temos não são satisfatórias. (**)
______________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de outubro de 2015 >9 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15227: Inquérito "on line" (4): "Dos 3 últimos com-chefes do CTIG, aquele de que tenho melhor opinião é... Arnaldo Schulz (1964/68), António de Spínola (1968/73) ou Bettencourt Rodrigues (1973/74) ?... Resposta até 5ª feira, dia 15, às 15h30

11 comentários:

Anónimo disse...

Na imagem do jornal, julgo que as individualidades à civil são, da esqª para a direita: Kaulza de Arriaga (Sec. Est. Aeronáutica ?), o Engº Arantes e Oliveira e o Dr. Rebelo de Sousa (talvez Sec. Estado da Educação).

V Briote

JD disse...

Camaradas,
Concordo com o Mário, quando refere que esta é uma boa oportunidade para juntarmos as nossas apreciações sobre os Comandantes-Chefes, que foram os arquitectos da reacção das NT à agressão das colónias portuguesas em África. No que respeita à Guiné, enviei hoje o meu contributo crítico, apesar dos constrangimentos que Portugal enfrentava na luta contra a guerrilha emancipalista. Se os sucessivos governos pareceram ter dificuldades para interpretarem da melhor maneira os acontecimentos, também os governos provinciais, e os Comandantes-Chefes da Guiné que acumularam as funções governativas, tiveram oportunidade para evidenciar acções diversas ou laxismo.
Aguardemos, portanto.
Abraços fraternos
JD

Anónimo disse...

Luiz Figueiredo
12 out 2015 20:43


Aquele que foi mais carismático é sem dúvida nenhuma o General Spínola. Tive a honra de lhe dar um aperto de mão em Pirada. Militarmente acho que foi um bom estratega, embora com muito sacrifício e empenho de todos os combatentes. Não tivemos nada em troca. Disciplinarmente era demasiado rigoroso. Para o povo da Guiné era o Papai Spínola.

Após o 25abr houve um outro Governador que, não me lembro se acumulou as funções de COM-CHEFE. Foi o Ten-Cor António Eduardo Mateus da Silva, que era o Comandante do Agrupamento de Transmissões em Bissau.

Abraço de Luiz Figueiredo

Anónimo disse...

Alcides Silva
12 out 2015 21:05

De dois chefes Militares do meu tempo na Guiné, o Schulz nunca lhe vi a cara.
O Marechal Spínola, tenho a melhor opinião a seu respeito, foi um Chefe Militar, que saiu do seu gabinete e visitou os aquartelamentos espalhados pela Guiné, algumas visitas fez a Catió.

José Marcelino Martins disse...

O comentário que postei e que agora e "repescado" para post, ficou incompleto, pelo que comento o que ficou em aberto.
Fui fazer o levantamento de efectivos operacionais "presentes" no TO da Guiné, e constantes dos "5,517 - Os últimos anos da Guerra na Guiné Portuguesa", para tentar "explicar" as preferências indicadas pelos camarigos.
Vejamos oe efectivos:
Governo de Vasco António Martínez Rodrigues
8 de Agosto 1962 - 2.817
8 de Setembro de 1963 - 4.118
8 de Novembro de 1963 - 6.005
Governo de Arnaldo Schulz
23 de Dezembro de 1966 - 18.920
Governo de António de Spinola
4 de Setembro de 1968 - 20.580
4 de Dezembro de 1968 - 20.488
3 de Agosto de 1969 - 24.425
2 de Agosto de 1970 - 23.196
Governo de José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues
7 de Setembro de 1973 - 23.471
7 de Abril de 1974 - 27.275

Pelos períodos de governação, houve mais militares no tempo de Spinola, este fez mais tempo que Bettencourt Rodrigues.

Por outro lado, os militares do tempo de Arnaldo Schulz, por terem mais "antiguidade e serem menos, "podem estar em desvantagem".

Temos que ver, também, que Spínola "conviveu mais" com a malta do mato, quer em aquartelamentos quer em operação. Também foi o que mais tempo governou a Guiné.

Estive com Spínola no Burneleu, durante a Operação Lacoste, junto ao Corubal e perto do Che-che, em Julho de 1969.

Em 1996 estava no Hospital de Belém, o meu genro estava hospitalizado, e fui cumprimentar o já Marechal Spínola, que se encontrava lá em tratamentos.

Primeira pergunta que me dirigiu: Nós conhece-mo-nos de onde?
Quando lhe falei da visita a Burmeleu, e que o heli teve de levantar perante uma "hipotética" saída de morteiro, perguntou.me como tinha decorrido a resto da operação.
Lembrava-se daquele episódio.

Anónimo disse...

HA UM ERRO QUALQUER!
Eu, explico
Quando em Junho a Agosto/1963, duas secções do 3º pelotão da minha companhia 412
estavamos destacados no Xitole, recebemos uma Ordem vinda de Bafatá(C.Caç 412 e B.Caç 506) para efectuarmos determinada operação. Analisando a Ordem-rádio,reunimo-nos o Alferes Miliciano Manuel Cardoso Pires, Furriel Miliciano Fernando Condez, e eu, discutimos, pois era uma operação tão sigilosa e arriscada, que mesmo hoje, não me é possivel descrevê-la. Então, exigimos que a Ordem viesse do Comando Militar de Bissau por escrito. No dia seguinte chegou ao Xitole, uma coluna comandada pelo capitão Braga que nos apresentou a ordem assinada pelo Schulz, recordo-me perfeitamente, pois estive com ela na mão. O Capitão fez-nos um sermão, dizendo que tivemos muita sorte pois podiamos ter levado um porrada cada um.
Explicamos a nossa posição e a operação foi efectuada, esteve um dia de chuva intensa pois era Julho época das chuvas.
Por estes factos em julho de 1963 já era Comandante militar o Schulz, não me recordo se era Brigadeiro ou General
Aliás, Luis eu já te falei dessa Operação, e tu me recomendaste que a não divulgasse, pois hoje é altamente perigosa a sua divulgaçao.

Alcidio marinho

Anónimo disse...

Aliás já vi diversas datas de documentos oficiais daquele tempo, que não batem
com as datas em que esses factos na realidade se passaram pois em alguns estive presente neles
Alcidio

Luís Graça disse...

Zé: estes números ajudam-nos realmente a entender melhor os resultados do nosso inquérito... O Spínola esteve lá, no TO da Guiné, à frente dos nossos destinos mais tempo (5 anos) do que os outros Com-chefes: Schulz (4) e Bettencourt Rodrigues (1)... Tens que juntar aos efetivos existentes no tempo de Spínola, os soldados do recrutamento local bem como as milícias...

Já atualizei o teu texto... Obrigado. Luís

Anónimo disse...

António José Pereira da Costa
13 out 2015 09:40

As sondages "balem o que balem", mas as maiorias dão muito jeito...
Um Ab.
TZ

Luís Graça disse...

Tó Zé:

As sondagens (e não apenas eleitorais= servem, cada vez, para mentir, manipular, convencer, intimidar, formatar, vender, criar vagas de fundo, condicionar o pensamento, criar o pensamento único... As sondagens são um negócio... São um instrumento de manipulação... As sondagens são um invencão do "Brig Brother" que pretende substituir a democracia pela "Ciência"...

Os nossos "inquéritos on line" não são sondagens.. São um mero passatempo... Como as palavras cruzadas, por exenplo... Fica descansado: não vamos "desenterrar" o Spínola... Que só vi duas vezesz, se não erro, à chegada, em Brá, em 1 de junho de 1969, e em 1 ou 2 de janeiro de 1971, na ponte do Rio Undunduma... Bati-lhe a pala, dessa vez... Continuei a chamar-lhe "Herr" Spínola.. Trazia o monóculo... LG

Anónimo disse...

jose mmartins

13 out 2015 14:28

Os "números chamados a debate", já incluem as tropas de recrutamento local e milícias..

Ab.