quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15469: Memórias de Gabú (José Saúde) (57): “Djubi”, crianças simpáticas. Na hora de matar a sede. (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 

“Djubi”, crianças simpáticas
Na hora de matar a sede

Revejo, ainda hoje, com uma nostalgia gigantesca os nossos tempos como militares enviados para as frentes de combate de além-mar. Coube-nos, em sorte, que os nossos destinos fosse o então território colonial da Guiné.

Em território guineense constatámos as mais vis e ortodoxas situações que o ser humano nas suas plenas faculdades mentais e físicas jamais ousou experimentar. Reconhece-se, contudo, que a máquina humana é possuidora de engrenagens complexas que quando necessárias corresponderam às suas solicitações dizem, pomposamente, presente.

Conhecemos situações de todo impensáveis. Conhecemos, repito, o teor de uma guerra que não dava tréguas. Visualizámos imagens que farão eternamente parte dos nossos “baús” como antigos combatentes.

Compreendo que não será por certo censurado que um velho combatente debite narrativas onde os nossos quotidianos cruzaram gerações. As realidades coincidiram e os factos, esses mesmos, são verdades comuns que transcendem inquestionáveis orientações geracionais.

Ora, não falarei, presentemente, dos tempos de uma guerrilha cujo puzzle passava pelo cosmos das armas. Falarei, sim, por momentos ímpares onde a simpatia de um “djubi”, crianças simpáticas, se predispunham a uma preciosa ajuda ao militar lusitano.

Algures na região de Gabu, após alguns quilómetros palmilhados pelo denso mato e quando o cantil já reclamava um profícuo recarregamento e a elevada temperatura se definhava por um saciar de gargantas entretanto já ressequidas pelas agruras de um tórrido calor, eis que em pleno mato me deparei com uma criança que afoitamente retirava água de um poço.

O arcaico reservatório ostentava saberes que só as etnias indígenas sabiam desfrutar. Recordo que o brotado líquido apresentava uma cor insípida, creio que barrenta, mas divinal para aqueles que ambicionavam algo que lhe gotejasse as suas efémeras necessidades.

E foi assim que na hora de matar a sede que um “djubi” amigo se predispôs a satisfazer carências que o tempo de guerra impôs a jovens soldados enviados para as frentes de combate.

Fica a imagem.


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 


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