quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15535: Memórias de Gabú (José Saúde) (58): Noite de consoada em Gabu

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

As minhas memórias de Gabu

Noite de consoada em Gabu

Recordando

Passaram 42 anos! Recordo, com uma lágrima ao canto do olho, aquela noite quente e de luar de 1973, 24 para 25 de dezembro, passada na messe de sargentos em Nova Lamego em plena região de Gabu. Era o tempo da guerra na Guiné e onde os clamores da peleja deixavam explícitos conteúdos que as circunstâncias impunham.

Lá longe, ou seja, na metrópole, num ambiente completamente antagónico, a família juntava-se à volta de uma lareira e cumpria a tradição. Era a noite do Menino. Em Nova Lamego a festa porém era outra.

A malta não se deliciava com as filhoses da avó, não comia o ensopado do galo à meia-noite, não sujava os lábios com os finos chocolates, tão-pouco contemplava as prendas deixados no sapatinho pelo Menino Jesus a um canto da chaminé, enfim, uma série de tradições que, na altura, se protelavam no tempo.

Fazendo jus ao calor que se fazia sentir por aquelas bandas de África, lembro, com ênfase, o momento vivido pela malta que minimamente procura procurava ultrapassar a solidão ingerindo gotas de whisky que paulatinamente, e com o evoluir do breu, toldavam jovens militares que se divertiam de acordo com as possibilidades então deparadas.


Era o tempo, também, para refrescar imaginações e introduzir na noite enlevos de esperança. Ninguém ousava imaginar deparar-se com um possível ataque noturno ao quartel nem tão-pouco uma visita inesperada ao arame por parte do IN.

Vivíamos a noite de consoada de acordo com os meios físicos entretanto encontrados. Com efeito, passados todos estes anos ainda me vem à mente as pequenas brincadeiras a que me propus, visando exclusivamente dar treta à malta, procurando, obviamente, trazer à estampa que aquela noite era literalmente de pura alegria.

Esquecia-se, melhor, procurávamos esquecer a imprevisibilidade que a incerta do mato impunha no dia seguinte, tendo em conta, naturalmente, mais um patrulhamento, ou uma proteção a colunas que a amiúde ocorriam.

Sem me alongar nesta pequena narrativa, apenas recordar os nossos tempos de antigos combatentes na Guiné, deixo os meus votos de Boas Festas e um Próspero Ano Novo de 2016 aos companheiros que comigo palmilhavam o território guineense em tempo de guerra.

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


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