segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15576: Notas de leitura (793): "Testemunhos de Guerra, Angola, Guiné e Moçambique, 1961-1974", publicação que acompanhou uma exposição que se realizou no Museu Militar do Porto entre Abril de 2000 e Março de 2001 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Março de 2015:

Queridos amigos,
Temos os muitos livros, artigos em jornais e outras publicações, as conferências, as sessões solenes, os debates evocativos.
Com esta extensão e detalhe, não conhecia uma exposição tão abrangente das três frentes na nossa guerra. O Eduardo Magalhães Ribeiro forneceu material alusivo sobre a Guiné, entre outros. Já lá vão quase 15 anos, os estudos evoluíram muito e é questão para perguntar se essas exposições não deviam continuar, pensadas sobretudo na população geral que vive arredada de um conflito de que não se fala em casa e de que não se tem eco na comunicação social, com honrosas exceções.

Um abraço do
Mário


Testemunhos de Guerra, Angola, Guiné e Moçambique, 1961-1974

Beja Santos

“Testemunhos de Guerra” foi o título da publicação que acompanhou uma exposição que se realizou no Museu Militar do Porto entre Abril de 2000 e Março de 2001. A publicação continua à venda no Museu e custa 20 euros. Inclui: tábua cronológica com os momentos mais marcantes dos treze anos da guerra, questionamento do Colonial e do Ultramar e das atividades do respetivo ministério; apresenta diferentes protagonistas, como Kaúlza de Arriga, Marcello Caetano, Costa Gomes, Adriano Moreira, Bethencourt Rodrigues, Oliveira Salazar e António de Spínola; o Coronel David Martelo escreve sobre os antecedentes da guerra colonial, seguem-se imagens das três colónias onde houve conflito; destaca-se o massacre de 15 de Março, em Angola; o Coronel José Santa Clara Gomes apresenta as nossas tropas e os nossos meios, reproduzem-se os guiões das unidades; seguem-se testemunhos sobre a vida em aquartelamento, reproduzem-se imagens de Fulacunda; apresentam-se os movimentos de libertação e os líderes, temos um conjunto avultado de imagens com os seus equipamentos e dispositivos.

O Coronel Arnaldo Costeira escreve a anteceder o capítulo dedicado aos combates um texto sobre o exército português e o seu comportamento na guerra, reproduzem-se alguns parágrafos:
“Talvez se escamoteie sistematicamente a verdade sobre a responsabilidade dessa intervenção e se atribuam culpas a quem as não tem, de facto. E o que é ainda mais grave é que se esqueçam as centenas de milhares de homens que, no cumprimento constitucional do dever, marcharam para a frente onde viveram sacrifícios inauditos, privilegiando-se a heroicidade de escassas centenas de cidadãos que fugiram aos seus deveres, entre as quais se contavam sem dúvida alguns resistentes políticos, e que mais tarde se misturariam com os verdadeiros resistentes.
Nenhum país até então conseguira quaisquer resultados numa guerra subversiva. Nem franceses nem norte-americanos deixaram de ser derrotados na Indochina, com potencial de combate poderosíssimo, embora com forças apoiadas por países importantes como eram a União Soviética e a China. Portugal, num território vastíssimo, com meios limitados pelo bloqueio dos países amigos, superou as dificuldades pela grandeza dos seus homens, pela dedicação e espírito de sacrifício que o português sempre patenteou em toda a sua história.
Foram anos de sofrimento e luta sem quartel. Os militares do Exército estabeleceram uma quadrícula invejável, erguendo desde os alicerces as parcas estruturas onde viveriam durante meses que pareciam não ter mais fim. Viveram como toupeiras durante meses a fio, uns após outros, passando meses sem conta, nos primeiros aos de guerra, apenas com o petromax aguardando que o escuro das noites os não surpreendessem. Passaram sede e contactaram com esse tipo de alimentação desidratada que deveria fazer inveja aos milhões que nem sequer sabem que isso existe porque morrem de fome diariamente”.

Temos depois uma sucessão de imagens com viaturas em progressão em bolanhas, em picadas, colunas de jipes, reações em emboscadas, levantamento de minas, imagem de armas. As tropas especiais mereceram destaque nesta exposição: rangers, fuzileiros e paraquedistas.

Igualmente se destacam as condecorações, as cerimónias de homenagem aos mortos, telegramas a informar a família da morte de militares, a criação da ADFA e a lista daqueles que tombaram pela pátria.


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Nota do editor

Último poste da série de 30 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15554: Notas de leitura (792): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José A. Paradela): reprodução do capítulo 7 com a descrição da viagem de seis meses, aos 17 anos, em 1955, aos bancos de pesca do bacalhau: III (e última) parte

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