quinta-feira, 17 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15868: Inquérito 'on line' (46): os pifos que apanhei durante a campanha africana, aconteceram sempre pelas melhores causas e produtos (José Manuel Matos Dinis, adjunto do régulo da Magnífica Tabanca da Linha)

1. Mensagem, de 11 do corrente,  do José Manuel Matos Dinis,  adjunto do régulo da Magnífica Tabanca da Linha [que se reune hoje, 5ª feira,  17 de março, em Oitavos,  Guincho, Cascais, para mais uma sessão de (de)lib(er)ações] 


[José Manuel Matos Dinis  ex-fur mil, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]


Assunto - Inquérito: "Nunca apanhei nenhum pifo de caixão à cova na tropa ou no TO da Guiné"


Camaradas Luís e Carlos,
Não vos peço que publiquem o texto anexo, mas achei-lhe graça, parecendo-me fiel à vida social no leste da Guiné, durante os anos da graça de 1970 e 1971, quando o pessoal tirava partido dos melhores "resorts".
Abraços fraternos
JD



Parabéns, Luís,  pelo texto bem destilado que acabaste de produzir [, e que circulou pela Tabanca Grande, lançando o mote para o inquérito desta semana. É de pendor escocês, mas foi para uso nas terras quentes e húmidas da Guiné enquanto là malhàmos a cornadura. 

Hoje sou fraco bebedor, apesar de ainda gostar de debicar diferentes derivações devidamente embotelhadas, ou a saírem do pipo numa adega fresca. Naqueles verdes anos também apanhei uns pifos, pois já tinha uma certa noção da igualdade, e da necessidade de me manter próximo das vanguardas.

Em Piche, que foi o local onde cumpri a periquitagem, tive a sorte de dormir na cama apenas metade das noites, pois as restantes andava envolvido em escuros jogos de guerra, que na melhor das hipóteses só contariam com as luzinhas do magnífico firmamento para iluminar os sonhos. Na​s restantes​ noites de adormecer no quarto, a famosa suite 3, nunca me faltaram os vinhos do Reno, brancos secos que acompanhavam com distinção um cabrito assado, uma posta de queijo, ou um naco de presunto que se deixavam mastigar acompanhados de um casqueiro ainda quente. 7

Lá na minha suite, que era partilhada por mais 5 valentões, mas onde havia sempre alguns penetras que iam esperar pelo joão pestana, proibidos de barulhar durante as emissões da RVFM - Rádio Voz do Furriel Milicano, faziam depois a algazarra que calhava, talvez em resultado da festança e da rica variedade das bebidas, quase sempre reunidas em festejos estomacais que acabavam por subir à cabeça. Ele eram uísques simples ou de malte, novos ou velhos, escoceses ou irlandeses; conhaques, brandies e aguardentes da França e de Portugal; gins ingleses (muito bons para matar a sede, já que estávamos em guerra, e ainda complementavam uma função preventiva do paludismo); bem como os incolores líquidos de algumas garrafitas - na época ainda pouco divulgadas - em fuga das ditaduras comunistas, que para nosso gáudio iam desembocar ao lado contrário da ideologia revoltada
​ - com créditos firmados na distante Rússia, a vodka​.

​ Não sei porquê, mas a garrafeira naquela região remota era bem abastecida.​
Pois bem, durante esses meses pichenses acho que não houve noite adormecida sobre o lençol, que não tivesse tido o feliz adormecimento volatilizado, ou não fosse eu um dos felizes descendentes de Dionisius, um gajo porreiro, promotor de devassas e incrementador do extraordinário e lúcido princípio: se conduzir, beba à fartazana. 

Mais tarde, em Bajocunda, eu e o Tito tivemos sempre camas no quarto,  não nos aventurando às perigosas deslocações para as catacumbas periféricas, insanas para quem se preocupava com a melhor condição física e psicológica. O Zé Tito tinha alargadas fronteiras sobre a espiritualidade, e aos caudais de ideias que lhe afloravam na carola, regava-os cuidadosamente com os melhores líquidos de diferentes proveniências, desde que houvessem, claro, e ainda tinha a gentileza de me acordar a desoras da noite com uma solidária recomendação: bate-te à hepatite, pá!

Ele bateu-se com valentia, muito mais do que eu, e por isso foi medalhado com umas férias estivais de três meses durante um Verão de Cascais, e como prémio complementar, foi assistido por uma dedicada enfermeira francesa que nunca lhe faltou com carinhosos tratamentos. Foi no parque do Guincho de onde não saíu a caravana, enquanto o menino recuperava para o regresso à guerra, e o Carlos Santa - que viria a bater-se em Nova Lamego - estudava sob a batuta atenta de outra francesa, e preparava os exames finais de engenharia. Passou, e foi uma festa cujo ronco chegou desapiedadamente à Guiné.

Conclusão: os pifos que apanhei durante a campanha africana, aconteceram sempre pelas melhores causas e produtos, pois resultaram de manifestações de festa e alegria que eram tão frequentes durante a minha juventude. De facto, não tenho memória de ter bebido para esquecer. (**)

Abraços fraternos

JD

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Nota do editor:

2 comentários:

Anónimo disse...

Jose Manuel Matos Dinis
17 mar 2017 11:18

Bom dia Luís,
Noto que madrugaste com a ideia de cumprimentar os Magníficos da Linha. Em nome do pessoal quero agradecer-te a simpática e simbólica iniciativa, que representa mais cimento unificador da comunidade.
Com votos de um bom dia, aceita um abraço amigo

Luís Graça disse...

O Zé Manel Matos Dinis referia-se aos versinhos que lhe mandámos:



HOJE HÁ FESTA NA MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA

Se com a G3 foram bravos,
À mesa 'inda o são mais,
Há festa rija em Oitavos,
Lá no Guincho, em Cascais.

Com o Rosales, comandante,
E o Dinis, para o blá-blá,
São uma tabanca pujante,
São os da Linha, ora aqui está!

Até de longe já se inscrevem,
P’ra alinhar nesta operação:
Comem bem e melhor bebem,
Com a Guiné no coração.