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sexta-feira, 29 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25315: Um conto de António Graça de Abeu: "Lai Yong e Bernardo, uma História Simples" (2018) - Parte I


O escritor (n. Porto, 1947) quando jovem 
(c. 30 e poucos anos)


António Graça de Abreu, na China (c. 1981)

1. Mensagem do António Graça de Abreu, com data de  26 do corrente: 

Luís, segue o texto dos primeiros amores luso-chineses. Acho que dá para publicar, lê-se com gosto, e como dizia o Camões “melhor é experimentá-lo que julgá-lo/mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.”

Creio que podes dividi-lo em três ou quatro partes. As fotos são todas minhas, excepto a do padre Teixeira que é da net. Mas não deve ter direitos de autor.

Abraço,

António Graça de Abreu


Depois da Guiné, 1972/74, com largas estadias em Canchungo, Mansoa e Cufar, regressado a Portugal a 20 de Abril de 1974, era tempo de esquecer as charangas da guerra e recomeçar nova vida. 

Com a democratização da sociedade portuguesa, surgiram os partidos políticos e em 1976 foi tempo de me aproximar dos maoistas do Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista), o único que mantinha um relacionamento institucional com Pequim, com o Partido Comunista Chinês. 

Em finais de 1977 fui convidado pelo Eduíno Vilar, secretário-geral do PCP (m-l), conhecia bem a sua esposa, a Ana Faria,  minha colega de Faculdade de Letras – para ir trabalhar na China, nas Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras. 

Depois de muito pensar aceitei, o contrato era de quatro anos e acabei por ficar seis anos na capital chinesa e em Shanghai, tendo mudado completamente a minha vida. 

Dediquei-me a estudar a China, a escrever sobre a China, a dar aulas em diferentes universidades portuguesas sobre estudos chineses. 

Conheço pouco, mas a China não me é estranha.

O meu primeiro mergulho no feminino chinês é este texto, este conto, 80% verdadeiro, passado em Macau, que deixo à consideração dos nossos camaradas da Guiné. Prometo leitura exaltante, agradável, edificante.

António Graça de Abreu


Capa do livro "Lay-Yong, Bernardo e outros poemas", de António Graça de Abreu (Póvoa de Santa Iria,  Lua de Marfim Editora, 2019, 91 pp.)

Email do autor: abreuchina@netcabo.pt


2. Segue-se o conto, " Lai Yong e Bernardo, uma História Simples" (pp. 36-57), uma história de encontro e separação de duas culturas,  e de amores efémeros de um homem (Bernardo, português, com formação universitária, e já na casa dos 30 e tal, claramente um "alter ego" do escritor) e uma jovem chinesa de Cantão e Macau,  de 24 anos, Lai Yong. 

Estamos em 1981 em  Cantão  e em Macau (território ainda sob administração portuguesa,  até 1999).  

Vamos dividir o conto em três partes, devido à sua extensão. E agradecemos ao autor, nosso camarada, um histórico do nosso blogue, a sua gentileza e generosidade. O conto foi publicado num dos seus últimos livros, já aqui objeto de uma primeira nota de leitura (*) 

 O António Graça de Abreu tem cerca de 340 referências no nosso blogue.  Foi alf mil, CAOP1 ( Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74).  Escritor, poeta  tradutor e professor universitário, é um reputado sinólogo, especialista em língua, cultura e história da China. (LG)



A menina de Cantão e Macau: (...) "Em Santiago da Barra, / desagua um rio de ternura, / para eu navegar
no jade do mar, na tua formosura." (...) 


Fotos (e legenda) : © António Graça de Abreu (2024). Todos os direitos reservados . [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lai Yong e Bernardo, uma História Simples - Parte I

por António Graça de Abreu


Se não trazem amantes para os quartos, 

as vidas dos anjos não passam de um sonho.

Li Shangyin (813-858)


Grave e leda no gesto, e tão fermosa 

Que se amansava o mar de maravilha.

Camões, Os Lusíadas, Canto VI, 21


I

Cantão, ano de graça de 1981, Outubro.

Diante da cidade, no pequeno cais fluvial do outro lado do braço do rio das Pérolas, o barco da ligação nocturna Cantão-Macau está prestes a partir.

A polícia chinesa procedeu à rigorosa verificação de passaportes e salvos condutos, vistoriou as bagagens dos cidadãos, cerca de duas centenas, que viajam no ferry da noite rumo à pequena cidade portuguesa, na península do Santo Nome de Deus, na China.

Sou o único estrangeiro a bordo. Cheguei esta tarde a Cantão, depois da longa viagem desde Pequim, trinta e nove horas, 2.700 quilómetros na carruagem yingwoche 硬卧车, ou seja, “cama dura”, no beliche do meio de um comboio ronceiro, fumegante e sujo. 

Agora, o naviozinho, uma espécie de cacilheiro meio alindado, acomoda os passageiros para o possível sono da noite numa vasta camarata, com dois pisos iguais em convés coberto, tipo salão, cada andar com uma centena de camas, todas unidas umas às outras.

Depois do comboio, antevejo uma noite tranquila, embalado pelo navegar ritmado do barco, nos cento e trinta quilómetros até Macau por águas escuras, barrentas,mas bonançosas, no delta do rio das Pérolas.

Cabe-me em sorte o leito número 8 no piso inferior do “cacilheiro” chinês. Oito é   um bom número, associado à prosperidade e à riqueza. Deposito a mala, apalpo acama, instalo-me. 

Mesmo ao lado, no número 9  outro número de excelsas qualidades a apontar para longa vida, poder e harmonia, – está uma menina chinesa aí de vinte anos, de pernas cruzadas, bonitas, sentada no colchão. Esplendorosa. Surpreende-se, curiosa com a minha presença, tal como eu me espanto face à sua inesperada aparição.

Vamos dormir, lado a lado, separados por um estreito tabique de madeira, ao rés dos nossos corpos. A chinesa não é bem menina, mais uma mulher jovem, 'mignonne', o rosto cheio, os olhos amendoados e fundos, os cabelos descendo pelos ombros e um sorriso que passeia na fissura da almofada dos lábios, e chega até mim. Sorrio também.

O barco vai descendo o rio. A meu lado, que sorte, que formosa mulher!

Ajeitamo-nos nas camas, é quase hora de fechar os olhos para um possível sono descansado.

No meu catastrófico chinês mandarim, saúdo a inesperada companheira de tãopróximos espaços a compartilhar.

– Boa noite, como te chamas?

–  Li Yang, mas em cantonense chamo-me Lai Yong.

 Eu sou Bernardo, português, vivo há quatro anos em Pequim, onde trabalho e tenho a minha vida. Esta é a minha terceira viagem a Macau. Ni ne? E tu?

 Nasci em Cantão, vim pequena para Macau, com os meus pais.

 O que é que fazes, Lai Yong?

– Trabalho numa loja de arte chinesa, pintura tradicional, caligrafia e livros.

Este o essencial arrevesado da conversa. Estamos apresentados. Outra vez o fíníssimo sorriso a baloiçar nos lábios da Lai Yong e ela a enroscar-se no edredão, preparando o sono da noite. Pergunto-lhe em mandarim, depois em inglês:

 Que língua vamos falar?

 Não vamos falar, vamos dormir. Falo cantonense e mandarim, mais umas palavras de inglês. Mingtian jian, 明天见, “até amanhã”, good night.

 Mingtian jian, sleep well.

Vivendo em Pequim desde 1977, habituara-me a uma existência dura em tempo de rigores políticos, à extremada separação entre chineses e estrangeiros, à quase impossibilidade de um relacionamento com estas meninas de jade e de seda, alvas e perfeitíssimas. 

Recordei como, desde há quatro séculos e meio, este feminino de assombros -- sublimes criações dos deuses --, tem povoado o imaginário e a realidade quotidiana de tantos portugueses em Macau, diante de depuradas mulheres, mesmo se de origem humilde, mas quase sempre dedicadas e meigas, tão superiores à mediania e à mediocridade de incontáveis gentes.

A três palmos de mim, no barco da carreira Cantão-Macau, dorme uma primorosa filha das terras da China. O rosto sereno no travesseiro diminuto, creio que nenhum sonho, nenhum sobressalto. Bela e adormecida, Lai Yong parece porcelana.

Apetece tocar.

O barco desce por meandros e curvas do rio das Pérolas. Luzes dispersas, mais anegritude no horizonte, no vasto delta a abrir-se para o mar. Vou também tentar dormir.

Adormeço no sonho de uma chinesa vestida de nuvens coloridas aproximando-se de mim. Um braçado de flores, uma fada imaculada, erva fofa e tenra.

Acordo com um amanhecer difuso. Lá fora, a leste, o céu levemente azul, levemente rosa. Tudo ainda muito escuro. Cá dentro, na penumbra, ao lado, a Lai Yong continua a dormir. É uma ninfa descida de paragens celestiais, veio por detrás do debruar da noite para adormecer junto de mim.

No barco, a estibordo, adivinham-se ainda distantes as primeiras luzes de 9Macau, perfurando o clarear do dia. O farol da Guia a lampejar no alto, depois o traço iluminado dos hotéis Presidente e Lisboa, mais a linha da baía da Praia Grande.  

“cacilheiro” passa sob a ponte Nobre de Carvalho, circunda o extremo sul da península, rodeia a Penha, a Barra, o templo de Amá e encontra o cais para acostar, no Porto Interior. Os passageiros, ainda meio ensonados, deixam as camas para trás, carregam malas e embrulhos, aceleram o passo, saem do barco. É a debandada ligeira e rápida para dentro de Macau, sem nenhuma barreira ou fiscalização, os chineses da polícia e alfândega de Cantão já controlaram tudo. E Macau tem o privilégio de ser um porto livre.

É dia claro. Lai Yong e eu não temos pressa, somos quase os últimos a deixar o barco. Ajudo-a no transporte das suas muitas trouxas e pergunto-lhe:

 Logo à noite, queres jantar comigo?

Lai Yong espera uns vinte segundos, parece hesitar na resposta. Mas o sorriso macio, adocicado, brilha outra vez nos olhos, nos lábios, enche-lhe o rosto todo. Depois diz:

 Keyi, pode ser. Onde nos encontramos?

 Em San Ma Lou, a avenida Almeida Ribeiro, em frente ao Leal Senado.

Um aperto de mão cordial e bye bye, até logo.

II

Sete da noite. Chego ao Leal Senado, no centro da cidade, e questiono-me: Será que a Lai Yong vai mesmo aparecer, ou esfumar-se-á para sempre nos atalhos escondidos das sombras de Macau?

A mulher lá está, os mesmos sapatinhos pretos de Bela Adormecida, saia justa azul arredondando-lhe as formas do corpo, uma blusa vermelha apertada, com o botão de cima aberto no decote sobre o levantar dos seios perfeitos, uma pequena gola de folhos, os olhos de veludo castanho voluptuosamente pintados, a boca rubra entreaberta.

Outra vez o sorriso perfumado, acariciante e leve que não se desprende apenas do abrir dos seus lábios, quero crer que lhe circula no sangue. São os ténues entendimentos de um português romântico, hoje completamente fora de moda, homem da estranha casta lusitana, mas espantado, encantado, embriagado diante de possíveis enxertias em bacelos do sul da China.

Onde vamos jantar?

O Hotel Metrópole está na moda. O restaurante do hotel, o Beira-Mar, é uma sala enorme com um palco e um palanquim lateral onde jovens cantoras de Hong Kong, com voz de rouxinol afinado, entoam modinhas chinesas em cantonense, às vezes em mandarim. Degustamos umas tantas iguarias de comida meio ocidental, meio chinesa, bebemos uma garrafa de vinho verde Gatão, bem fresquinho, o néctar das encostas das terras de Amarante, em Macau, no seu melhor. Lai Yong tende mais para o lado do chá, mas decide fazer companhia ao amigo recente, em suaves libações vínicas. À nossa saúde, Ganbei, 干杯, brindamos à felicidade em nossas vidas.

Bernardo é o primeiro português que conhece nos seus quase vinte e quatro anos de idade, muitos deles já vividos em Macau. Falamos, falamos, falamos num linguajar de trapos, meio mandarim, meio inglês.

Quem és tu Lai Yong, mulher da China, de Cantão, de Macau? Quem sou eu, Bernardo, português dos distantes mares do Ocidente, ancorado em Pequim, agora de passagem por esta estranha cidade do sul do império, com portugueses lá dentro, e mais gente, macaense e chineses, todos filhos das singularidades do mundo e de dez mil desvairos?

Ao modo da velha China trocamos dados sobre os nossos signos, identificamo-nos, descobrimo-nos pelos animais do zodíaco chinês que estão por detrás do ano emque nascemos e que, quase de certeza, nos condicionam as vidas e nos fazem ser o que somos. Recordamos qualidades, esquecemos, por completo, os muitos defeitos.

 Lai Yong é Cabra, um animal simpático, de bom coração que irradia vontade de viver,

Bernardo nasceu no ano privilegiado do Porco Dourado, sob o elemento Fogo, tem por isso um ror de qualidades. É generoso e honesto, por muitas voltas que a vida dê, o dinheiro não lhe costuma faltar, é sensual e corajoso. 

Sorrimos ambos face ao que vamos descobrindo. Não será difícil a aceitação de um pelo outro. Sabemos que temos quase tudo para entendimentos sinuosos mas sublimados, para nos darmos bem porque deverão existir baús e baús de compatibilidades e interesses comuns.

Falo-lhe do meu trabalho em Pequim, na minha danwei 单位 comunista, a entidade de trabalho, a Foreign Languages Press onde tenho bastante liberdade e passo os dias a cerzir textos em razoável português. Pagam-me um magro salário que, no entanto, chega, é suficiente para viver, até dá para viajar e vir a Macau.

Lai Yong é uma mulher quase letrada ao modo do velho Império, ocupa o seu labor cirandando pela pintura tradicional chinesa, a exercitar caligrafia, a ler e a copiar poesia clássica. 

Falo-lhe nos grandes poetas da dinastia Tang (618-907) que também vou descobrindo e que gostaria um dia, ocupando parte dos meus ócios, de traduzir para língua portuguesa. São Li Bai, Du Fu, Wang Wei, Bai Juyi. 

Conhece-os todos, fala-me de Wang Wei: 当一个人品味王玮的诗,有画在他们, “A sua poesia é pintura, a sua pintura é poesia”, e diz-me, também em mandarim, a brincar, um famoso poema de Li Bai, ou Li Po que as crianças chinesas costumam aprender na escola primária. Assim:

床 前 明 月 光

疑 是 地 上 霜

举 头 望 明 月

低 头 思 故 乡

e que, em mandarim, soa deste modo:

chuang qian min yue guang
yi shi di shang shuang
ju tou wang ming yue
di tou si gu xiang

A tradução livre será mais ou menos esta:

“Li Bai, em viagem, acorda numa estalagem longe de sua casa. De madrugada,vem à janela e tem a geada diante dos seus olhos. Ou serão reflexos do luar? O poeta, triste, pensa no seu lar”.

Lai Yong fala-me de outros poetas da dinastia Tang, grande parte deles eu nem sequer conheço. Ela sabe dezenas de poemas de cor. Ah, mulher bonita, eu agarro em ti e levo-te comigo, debaixo do braço, para darmos a volta ao mundo!

Deixamos o restaurante do Hotel Metrópole. Acompanho a Lai Yong, a pé, até casa. Mora na rua da Praia do Manduco, por baixo de S. Lourenço, lá no extremo sul, ao lado do Porto Interior, quase a chegar ao templo de A Má. 

Vamos descendo pela marginal, circundando a Praia Grande, passando a Penha, até à Barra, caminhando lentamente sob árvores seculares num dos espaços mágicos de Macau. 


O meu braço direito sobe e rodeia o ombro de Lai Yong. Puxo-a para mim, a menina de Cantão e Macau aconchega-se suavemente na espalda do amigo recente. Caminhamos enlaçados.

Quase ninguém na noite de Santiago da Barra. Bernardo, os pés em Macau, o coração entre céu e terra, abraça a mulher chinesa, beija a polpa dos lábios da ancestral e presente filha do dragão, lábios perfeitíssimos humedecidos por milénios de águas da chuva, espantos e carícias. Alegria, prazer. O português de Pequim sorve a língua da fada chinesa, de jade, menos fria, tão macia. Flutuamos ambos, como nuvens.

Lai Yong chega a casa, na Praia do Manduco, por detrás do templo da Barra, onde a deusa A Má, chegada da província de Fujian, de quando em quando, promete fortuna, paz e felicidade. A despedida, um beijo agora leve levado pela brisa da noite.

De regresso ao provisório lar, Bernardo escreve o seguinte poema:

Obrigado aos deuses,
deram-me o que eu não merecia.
No silêncio iluminado da noite de Macau,
o bem-querer dos amantes principia.
Em Santiago da Barra,
desagua um rio de ternura,
para eu navegar
no jade do mar, na tua formosura.

António  Graça de Abreu

 (Continua) 

(Seleção,  revisão / fixação de texto para efeitos de publicação neste poste: LG)

______

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 25 de março de  2024 > Guiné 61/74 - P25305: Notas de leitura (1678): "Lay Yong, Bernardo e outros poemas", de António Graça de Abreu (Lua de Marfim Editora, 2018, 90 pp.) (Luís Graça)

segunda-feira, 25 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25305: Notas de leitura (1678): "Lay Yong, Bernardo e outros poemas", de António Graça de Abreu (Lua de Marfim Editora, 2018, 90 pp.) (Luís Graça)


Capa do livro "Lay-Yong, Bernardo e outros poemas", de Antónioo Graça de Abreu (Póvoa de Santa Iria,  Lua de Marfim Editora, 2019, 91 pp.)

Email do autor: abreuchina@netcabo.pt


Exemlar autografado com dedicatória ao nosso editor, Luís Graça






Excerto do livro,  poemas de 52 a 70, em que o poeta evoca Hong-Kong e Macau, revisitadas nas viagens à China, de abril de 2017 e março de 2018.

1. O António Graça de Abreu, um histórico do nosso blogue, é de há muito também conhecido dos nossos leitores como sinólogo, tradutor dos maiores poetas chineses clássicos... Mas também é,  ele próprio,  poeta em que "a poesia do velho Império do Meio e do Japão aparece, de quando em quando, como descoberta e inspiração (...) para criar os seus próprios poemas " (lê-se na badana da capa). 

(...) "Neste novo livro, os ecos extremo-orientais ressoam na magia do instante e do eterno, em pequenos haikus ou em poemas mais longos,  ou mesmo numa prosa excitantemente depurada"...

É o caso, por exemplo, do conto, " Lai Yong e Bernardo, uma História Simples" (pp. 36-57), uma história de encontro e separação de duas culturas,  e de amores efémeros se um homem (portuguès, já na casa dos 30 e tal) e uma jovem chinesa de Macau, de 24 anos. Estamos em 1981 e em Macau (ainda sob administração portuguesa,  até 1999).

Neste livrinho de 90 páginas o autor oferece-nos uma mão cheia de textos poéticos, onde não falta a evocação de três grandes portugueses, orientalistas,  que, como ele, alimentaram uma grande paixão pela  China e/ou pelo Japão, e que ele retrata na secção "Très amigos" (pp. 85-89): o  grande poeta Camilo Pessanha (Coimbra,  1867 - Ma1cau, 1926), o missionário   e historiador Manuel Teixeira (Freixo de Espada à Cinta, 1912 - Chaves, 2003),  e  o diplomata e escritor Armando Martins Janeira (Felgueiras, 1914 - Estoril, 1988).

Enquanto leio (e toma notas  sobre) o livro, na paz bucólica de Candoz e com as "cerdeiras" em flor,  para uma próxima recensão, mais completa, aqui com fica, com a devida vénia, a reprodução do que ele escreceu sobre Hong-Kong e Macau revisitadas (ver acima) .

Evocação essa que, com referência Macau, acaba assim:

(...) 70

Pequenas as Portas do Cerco,
abertas para a imensidão do Guangdong.
Estranhos portugueses,
há quase cinco séculos,
lusitanos em sinuosa viagem,
aqui, parados, circunspectos,
diante dos enigmas do império.
Gravado, a encimar o arco:
"A Pátria honrai
Que a Pátria vos contemplka."  (pág. 21)

sábado, 16 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25277: Convívios (984): 55.º Almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 14 de março de 2024 - Parte I


Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > O João Crisóstomo (Nova Iorque) e filha Cristina (que presentemente vive e trabalha em Lisboa)


Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Lado direito da mesa em U: logo em primeiro plano, três "magníficos" e "históricos" da Tabanca da Linha: o António Fernandes Marques (Cascais)  o Luís Moreira e a Irene (Mem-Martins)


Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > O lado esquerdo da mesa em U:  logo em primeiro plano, o Carlos Silvério (Lourinhã).


Luís Cardoso Moreira e Irene (Mem-Martins)


Virgínio Briote e Irene (Lisboa)


Luís Graça e Alice (Lourinhã)


O João Crisóstomo (Nova Iorque), o José Colaço e o António Pina, ambos de  São João da Talha. 


António Graça de Abreu (São Pedro do Estoril), outro "histórico" e "magnífico" da Tabanca da Linha


Hélder Valério Sousa (Setúbal)


João Pereira da Costa (Lisboa): foi recentemente operado às cataratas...


Fernando Serrano (Linda-A-Velha)


Victor Carvalho (Linda-A-Velha)


Constantino Ferreira d'Alva (Linda-A-Velha)


António F. Marques (Cascais)


António Casquilho Alves (Lisboa)


Daniel Gonçalves (Carcavelos)


João Crisóstomo (Nova Iorque)


Fotos: © Manuel Resende (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Quinta feira, 14 de março de 2024, às 21;44. o régulo (e administrador da página do Facebook) da Magnífica Tabanca da Linha, Manuel Resende, já estava a postar as fotos que tinha tirado à tarde, e comentado,  com bom humor,  que os "magníficos" desta vez foram 36 (três dúzias), alguns outros não puderam vir por esta ou aquela razão... Voltaremos a encontrarmo-nos em 23 de maio, no 56.º almoço-convívio:

(...) Caros Magníficos, como estava previsto, realizou-se hoje mais um convívio do nosso grupo "A Magnífica Tabanca da Linha",  com a presença de 36 valentes que apostam sempre na linha da frente. 

Podia ter sido um pouco mais concorrido, mas as famigeradas maleitas atacaram alguns. Vamos em frente, porque estes convívios dão força ao nosso espírito. 

O nosso "homenageado" João Crisóstomo ficou feliz com as presenças de muitos conhecidos de há quase 60 anos.

Bom, o próximo será a 23 de Maio, já reservei a sala do 2.º piso no restaurante para nós.

Para ver as fotos de hoje, clicar no link. (...)


2. Desta vez o nosso almoço foi servido na sala de jantar do r/c do restaurante Caravela de Ouro. Costuma ser no 2.º andar, em salão amplo, privativo, com vista magnífica para o Tejo... quando o número o justifica.

Não vamos repetir aqui as fotos do Manuel Resende, disponíveis na página do Facebook da Tabanca da Linha. Sabemos que ele teve  seis "piras" (caras novas) mas não listou os seus nomes... 

Para já deixamos aqui algumas caras mais conhecidas, de camaradas que são membros também da Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas. As fotos foram editadas por nós, eliminando o fundo... Esperamos que o fotógrafo, e os próprios, não levem a mal esta "brincadeitra"... Num segundo poste publicaremos mais "caras", umas mais conhecidas do que outras... Nestas fotos, tiradas à mesa há sempre "poluição estética" a mais: copos, garrafas, talheres, guardanapos, pratos com comida...

O João Crisóstomo, à despedida, manifestou a sua alegria por este convívio entre camaradas e "irmãos"... "Ganhei o dia!", disse-nos ele. E para mais tinha a companhia da sua querida filha Cristina que tirou pelo menos duas horas à sua agenda sobrecarregada para estar com o pai e os seus velhos camaradas... 

A Cristina, filha de mãe minhota, nasceu no Brasil, veio novinha para Portugal e só depois foi viver para Nova Iorque em meados dos anos 70, se não erro... Fala impecavelmente o português, o que é um motivo de orgulho para todos nós... (Vive no Chiado, queixa-se de estar ainda um bocado  isolada...).
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 14  de março 2024 > Guiné 61/74 - P25273: Convívios (983): XXXI Convívio do pessoal da CCAÇ 2381 - "Os Maiorais" - a levar a efeito no próximo dia 13 de Abril de 2024, em Fátima, com concentração na Rotunda dos Peregrinos (José Teixeira / Eduardo Moutinho Santos)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25087: S(C)em Comentários (26): Os últimos anos do Amadu Djaló foram de amargura e arrependimento? (António Graça de Abreu / Joaquim Luís Fernandes / Cherno Baldé / João Crisóstomo)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no seu livro de memórias, na pág. 149).


1. Estamos quase a acabar a publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015)... Sem nos queremos antecipar ao que nos falta ler, e perceber melhor o fim da sua hstória de vida como militar e como homem, aqui ficam as últimas três ou quatro linhas com que encerra o livro, "
 Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada).

(...) "Deixámos o passado para trás. Por quê o ódio? E a vingança? Qual é o destino da vingança? É a guerra! Qual o destino final da guerra? Estropiados, sangue, lágrimas, pobreza, suor, trabalho.

Vai demorar muitos anos para acabar com a pobreza." (...)


Entretanto, fizemos uma seleção de comentários ao Poste P25009 (*), em que o Cherno Baldé escreveu: "os últimos anos do Amad Djaló (...) devem ter sido de uma grande amargura e de arrependimento", afirmação que deu origem a vários comentários, de que aqui vai uma seleção (**). Falta-nos o testemunho fundamental do seu editor literário, camarada e amigo, o nosso coeditor jubilado Virgínio Briote:

(i) António Gaça de Abreu:

Conheci o Amadu Djaló, aqui em Lisboa, pouco antes dele partir, na viagem definitiva, e não me pareceu ser uma pessoa marcada por grande amargura e arrependimento, coisas que também não transparecem nos seus textos que o Virginio Briote alinhou.

Não estará aqui o Cherno Baldé a dar uma no cravo e outra na ferradura?

Abraço | António Graça de Abreu | 28 de dezembro de 2023 às 22:38



(i) Joaquim Luis Fernandes:

Este comentário, do respeitável amigo Cherno Baldé, não é de fácil compreensão.

Que havia oficiais, alguns superiores, que deixavam muito a desejar, no seu caráter humanista e de militares exemplares, nada a dizer! Até eu, disso me apercebi, infelizmente.

Que os Soldados Comandos da Guiné eram homens destemidos, leais e valorosos, ao serviço do exército português na Guiné, com várias motivações para se alistarem no BCMD da Guiné, é um facto bem evidenciado.

Agora dizer, que ficariam melhor ao lado do PAIGC, por troca com os guerrilheiros do PAIGC, que atentaram contra a vida de Amílcar Cabral... não entendo!

O que tinham de comum, com o exército português, Inocêncio Kanie e os seus companheiros, que vindos da base naval no Mar Negro, da antiga União Soviética, e regressados a Conákri se encontraram com Momo Turé e outros seus camaradas, para se constituirem como grupo conspirador?

29 de dezembro de 2023 às 11:32



(iii) Cherno Baldé:

Caros amigos,

Vocês, na qualidade de antigos combatentes, veteranos, que sentiram no coração, na carne e no osso as agruras da guerra da Guiné, estão melhor colocados para ajuizar dos desabafos e sentimentos de um ex-colega embora esteja convencido que poucos pudessem estar na sua pele de ex-soldado 'comando', a quem podiam atirar em zonas quase desconhecidas e de perigo extremo como o aqui relatado caso da Caboiana onde até os bravos comandos não estiveram à altura de cumprir com o seu lema sagrado de " nunca deixar ninguém para trás". Muito triste.

Também, parece que a política de reformas no caso dos militares na Guiné contrasta com a portuguesa, pois o mais frequente é promoverem o candidato a um escalão superior de forma a atenuar as condições de vida, embora saibamos que não há termos de comparação entre os dois países, mas pelo menos o tratamento parece mais humano e aceitável.

Em 1998, durante a guerra civil em Bissau, desloquei-me à cidade fronteiriça de Kolda em visita familiar e, ao constatar as deploráveis condições sócio-económicas em que viviam, sem luz, sem água, eu disse-lhes: "Vocês têm todo interesse em se juntarem aos rebeldes da MDFC". 

No dia seguinte agradeceram-me educadamente e pediram-me para regressar ao meu país, o que fiz sem hesitar, mas sem quaisquer remorsos.

Cordialmente | Cherno Baldé | 29 de dezembro de 2023 às 12:16



(iv) Joaquim Luis Fernandes

Caro amigo Cherno, acredita que aceito e compreendo o teu desabafo! É um facto que nem sempre as chefias do exército português respeitaram e protegeram os seus soldados, e de forma mais evidente. os oriundos do território guineense.

Nem todos honraram a farda que envergavam e a bandeira que juraram defender. Tal como no PAIGC havia traidores à causa que defendiam, também os havia infiltrados nas Forças Armadas Portuguesas na Guiné. A forma como se abandonaram os seus soldados guineenses, diz muito dessa atitude de desrespeito e mesmo de traição.

Para ti, a tua família e os amigos da Guiné-Bissau, faço votos de um novo ano de 2024, com boa saúde, paz e prosperidade.

Abraços fraternos | JLFernandes | 30 de dezembro de 2023 às 22:47



(v) João Crisóstomo:

Nova iorque, às 04.58 da manhã do dia 17 de Janeiro de 2024.

Ler os comentários de posts é uma das coisas que gosto de fazer, pois eles de alguma maneira nos transmitem os sentimentos muito pessoais de quem os escreve.

Estes e outros comentários deixam-me triste pela amargura e sofrimento evidentes em muitos de nós ainda hoje existentes passados 50 anos.

Não sei o que dizer para tentar "suavizar" os corações e mentes de quem escreve estas palavras. É que também eu choro quando me lembro do muito que se sofreu , especialmente daqueles que dum lado ou outro acreditavam que deviam lutar, prontos a dar a sua vida por aquilo em que acreditavam, incluindo a amizade que unia muitos de nós. Dum modo especial os que o sofreram em circunstancias trágicas, fora e longe de momentos de luta armada , mas barbaramente mortos em momentos fora de combate, como sucedia por vezes durante os muitos anos que a luta durou, especialmente em situações de vinganças e represálias.

É com respeito e dor que vivo também estes momentos de dor e me associo a todos os que escrevendo e lembrando, como estou fazendo agora, estejam aida hoje à procura de paz.
"Estou convosco" é tudo que posso dizer.

João Crisóstomo | 17 de janeiro de 2024 às 10:02

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 28 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P25009: S(C)em Comentários (24): Os últimos anos do Amadu Djaló (1940-2015) devem ter sido de uma grande amargura e de arrependimento (Cherno Baldé, Bissau)

(**) Último poste da série > 17 de janeiro de 2024 > Guné 61/74 - P25078: S(C)em Comentáios (25): Salvemos a nossa correspondência de guerra, e nomeadamente os aerogramas que escrevemos (amarelos) e que recebemos (azuis)

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24942: Agenda cultural (848): dia 14, no Centro Científico e Cultural de Macau, o nosso camarada António Graça de Abreu vai apresentar o seu trabalho de tradução dos 170 poemas do poeta chinês 苏东坡 ( Su Dongpo, 1037-1101), "um dos grandes génios da poesia universal"


Su Dongpo 苏东坡


1. Mensagem do nosso camarada António Graça de Abreu ( ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), sínólogo, tradutor, escritor:

Data - terça, 5/12, 13:54 (há 5 dias)

Assunto -Lançamento Poemas de Su Dongpo


Su Dongpo 苏东坡


Eça de Queirós (1845-1900), um dos Vencidos da Vida, também escreveu:

 "Para um homem o ser vencido ou derrotado na vida depende, não da realidade aparente, a que chegou, mas do ideal íntimo a que aspirou." 

O meu ideal íntimo não é mais acreditar na bondade dos homens, é, trespassado pela desilusão, mas não vencido nem gotejando lágrimas, viver ainda memórias da alegria (desculpa Eugénio de Andrade!) e, de quando em quando, cantar essa mesma alegria. 

Tenho por companhia os grandes poetas chineses, seis já por mim traduzidos para português, Li Bai, Wang Wei, Du Fu, Han Shan, Bai Juyi, mais uma Antologia com quinhentos poemas chineses. 

Na próxima semana vou apresentar no Centro Científico e Cultural de Macau, o meu novo poeta, o sexto, em novo livro, Su Dongpo (1037-1101), 50 páginas de um elaborado prefácio, 170 poemas de um dos grandes génios da poesia universal. 

Foram três anos de trabalho. Fascínios, enriquecimento, duro labor, a magia das palavras. Que maravilha!

Estão todos convidados. O livro, publicado pela Editora Grão-Falar, de Carlos Morais José, será apresentado pela sinóloga Ana Cristina Alves. Eu próprio vos levarei também a conversar com Su Dongpo.

António Graça de Abreu

Centro Científico e Cultural de Macau, Rua da Junqueira, 30, Quinta-feira, 14 de Dezembro, às 17,30. Sejam Bem Vindos.


水调 歌头
丙辰中秋
欢饮达旦
大醉
作此篇,
兼怀子由
明月几时有?
把酒问青天。
不知天上宫阙  
                                             


今夕是何年 
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我欲乘风归去,
又恐琼楼玉宇,
高处不胜寒。
起舞弄清影,
何似在人间。
转朱阁,
低绮户,
照无眠。
不应有恨,
何事长向别时圆?
人有悲欢离合,
月有阴晴圆缺,
此事古难全。
但愿人长久,
千里共蝉娟。



Festa do Meio Outono


Na Festa do Meio Outono,
bebi alegremente até de madrugada e escrevi este poema pensando no meu irmão Su Zhe.


A lua brilhante, quando nasceu?
De taça na mão, questiono a escuridão azulada do céu.
Esta noite nem sei qual o ano
que se vive lá em cima, nos palácios celestiais.
Gostava de poder voar com o vento
mas receio as torres de cristal, as cortes de jade,
entre alturas glaciais congelaria até à morte.
Melhor dançar na companhia da minha pobre sombra,
voltear à vontade pelo mundo dos homens.
Caminho em volta do pavilhão carmesim,
olho através de cortinados de gaze.
A lua brilha, não quer adormecer
nada entende de tristezas
porque permanece cheia quando da separação dos amantes?
Nas gentes, a dor da despedida, a alegria do reencontro,
a lua clara ou escura, minguando, crescendo.
A imperfeição existe desde o início dos séculos.
Meu único desejo, uma vida longa,
separados por duzentas léguas, fruindo o luar.

Su Dongpo, em 1076.

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Nota do editor:

Ultimo poste da série > 10 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24939: Agenda cultural (847): Convite do Centro Científico e Cultural de Macau: 5ª feira, 14, às 17h30, lançamento do livro "Poemas de Su Dongpo" (1037-1101), tradução, introdução e notas de António Graça de Abreu

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Guiné 621/74 - P24920: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (6): Em Reykjavik, Islândia, onde nada nos assusta: se a terra treme,é porque o vulcão, não longe, barafusta (António Graça de Abreu)


Foto nº 31


Foto nº 32


Foto nº 33


Foto nº 34

Islândia >  Reykjavik > Agosto de 2023 


Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

1. Mais textos e fotos enviados (20/11/2023 , 19:56), pelo nosso amigo e camarada António Graça de Abreu ( ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), referentes a mais um cruzeiro que efetuou, com a esposa, em agosto passado, desta vez à Gronelândia e à Islândia (*):



Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (6): Reykjavik, Islândia

por António Graça de Abreu


Em Reykjavik, cem mil coisas havia, acontecia, de noite, de dia.

Em Reykjavik, o velho viking, pirata de antanho, uma saudação de todo o tamanho.

Em Reykjavik, gente boa a trabalhar, o tempo a esfriar, prisões a arejar, ausência de ladrões a roubar.

Em Reykjavik, baleias ao longe para contemplar, golfinhos para embalsamar, salmões para pescar.

Em Reykjavik, um palácio de vidro chamado Harpan a cantar, grande música a escutar.

Em Reykjavik, mocetonas loiras, peitudas para acariciar e uma bofetada levar.

Em Reykjavik, uma casa assombrada para Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov se encontrar, o falso bom governo do mundo a tentar mandar.

Em Reykjavik, uma rua de encantar, pavimentada a cores gay para a malta lgbt exultar, e todos os outros, passear.

Em Reykjavik, uma belíssima catedral protestante, sem santos no altar. A quem rezar?

Em Reykjavik nada nos assusta, a terra treme porque o vulcão, não longe, barafusta.

Em Reykjavik, um pobre português de passagem, que se entretém a escrevinhar, usando rimas pindéricas em "ar."

Em Reykjavik, The Iceland Phallological Museum, um museu do Pénis vagabundo, profundo, como mais nenhum outro museu existente no mundo.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série >  18 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24861: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (5): Banho Geotermal, Reikjavik, Islândia (António Graça de Abreu)

sábado, 18 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24861: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (5): Banho Geotermal, Reikjavik, Islândia (António Graça de Abreu)


Foto nº 27


Foto nº 28


Foto nº 29


Foto nº 30

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. Mais textos e fotos enviados pelo nosso amigo e camarada António Graça de Abreu ( ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), referentes a mais um cruzeiro que efetuou, com a esposa, em agosto passado, desta vez à Gronelândia e à Islândia.


Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (5):  Banho Geotermal, Reikjavik, Islândia

por António Graça de Abreu (*)


Banho Geotermal, Reikjavik, Islândia

Mergulha-se a pessoa numa grande piscina ou laguna (aqui, à inglesa, chamam-
lhe Sky Lagoon), com chão de pedra polida e paredes de lava endurecida, gasta pelos séculos. (Fotos nº27 e 29)

A pessoa tem à sua espera água geotermal quente, a 35 graus, que viajou canalizada descendo montes desde os subúrbios da capital islandesa. A pessoa embala-se nas águas medicinais, flutua, envaidece-se, contemplando, em frente, o espelho frio do mar. (Foto nºs 28 e 30)

Nove graus de temperatura exterior e a pessoa parece usufruir de delícias tropicais, imagina estar numa enorme piscina de um bom hotel nas Caraíbas. Meia hora
de imersão e o lastro, a ganga do bulício dos últimos dias biando nas águas, sendo
levada pela brisa. Tempo de sair do quentinho e passar à carícia dos chuveiros com água muito fria.

A epiderme da pessoa amofina-se, deseja a temperatura tépida da sauna, Um
espaço aberto logo ali, com entrada pela porta ao lado. Ah, que bom, o calor outra vez,na sauna com vista pela infindável janela envidraçada e quase em cima do frio do mar!

Depois, a pessoa sobe umas escadas e passa para o espaço da gruta de lava negra, com espelhos por todo o lado, onde tem à disposição tigelas de porcelana cheias de uma espécie de sílica, sal termal para barrar todo o corpo, de alto a baixo, como se de manteiga ou de creme se tratasse. A pessoa cobre-se generosamente com estes cristais vulcânicos, miraculosos, uma especialidade islandesa capaz de revigorar coxos de nascença e de dar saúde a moribundos. Encharcada na sílica perfumada, a pessoa entra então nos espaços do calor húmido, uma espécie de banho turco à moda da Islândia.

Mais meia hora sentada, envolta em vapor, a humidade bem quente ajudando a pessoa a suar gloriosamente. Está quase terminado o tratamento. É altura da pessoa procurar o calor de mais uns tantos chuveiros para passar o corpo por água e tirar o sal, a sílica medicinal que ainda tem agarrada ao corpo. Completada a tarefa, a pessoa sai cá para fora e entra de novo na grande piscina, ou lagoon, para o relaxamento final, a conclusão de tão cuidadoso e esmerado tratamento. Mais meia hora com umas tantas braçadas na lagoon, ou para se estender, em sossego, dentro de água, de papo para o ar.

A pessoa pode aproveitar agora para contemplar o mar, os horizontes próximos
de Reikjavik.

Por fim, o portuga das mil aventuras, rejuvenescido, regressa tranquilo aos
afazeres do dia, a pele fina e macia, o coração leve como uma pena.

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