Mostrar mensagens com a etiqueta Viseu. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Viseu. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 7 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24126: Tabanca Grande (546): António Figueiredo, ex-sold cond auto, CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); natural de Sátão, Viseu, vive em São Domingos de Rana, Cascais; senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 873



O António Figueiredo, hoje e ontem... Senta-se, a partir de hoje, 
no lugar nº 873, à sombra do poilão da Tabanca Grande.


Fotos (e legenda): © António Figueiredo (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do António de Almeida Figueiredo, ex-soldado condutor auto, nº 8563364, CCAÇ 1439 (1965/67):

Data - 06/03/2023, 16:02

Assunto - Pedido de Adesão ao Blogue Combatentes da Guiné

Conforme indicação do Amigo Crisóstomo, junto envio os seguintes elementos:

Duas fotografias, uma antiga (Guiné); a outra é a atual.

Chamo-me António de Almeida Figueiredo, sou natural de Satão, Viseu e resido em S. Domingos de Rana, Cascais.

Fui combatente na Guiné, incorporado no BII 19, CCAÇ 1439 , Funchal, desde 17 de Agosto de 1965 até 18 de Abril de 1967.

Tenho falado várias vezes sobre este tema com o Crisóstomo, que muito estimo e, apesar de só agora solicitar adesão ao blogue, reconheço a sua grande importância.

Na Guiné estive colocado, por mais ou menos tempo, em Bambadinca, Xime, Missirá, Enxalé e também com deslocações a Porto Gole, como condutor auto. Foi numa destas deslocações, em 21-8-1966 que tive a experiência real do risco constante, com a explosão de uma mina anticarro  (**) que eu conduzia e em simultâneo sofremos uma grande emboscada que só terminou com o auxílio da Força Aérea. Felizmente não houve mortos mas houve vários feridos graves, incluindo o nosso médico. Na viatura destruída seguia ao meu lado o Alferes Crisóstomo.

Um abraço, António Figueiredo



CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): tem 107 referências no nosso blogue. E além do João Crisóstomo e do Júlio Martins Pereira (1944-2022), passa a ter mais um representante na Tabanca Grande, o António Teixeira...


2. Mensagem do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67):

Data - 06/03/2023, 21:53

Meus caros,

Quando pensava que já não valia a pena qualquer esforço meu para trazer mais alguém da CCaç 1439 para a nossa Tabanca, sucedeu o milagre: como o Figueiredo alegava não ser perito em coisas digitais eu pedi à esposa dele, a senhora Emília, que tinha apanhado o telefone quando chamei, que o ajudasse, uma vez que ele afirmava ter gosto em fazer parte do blogue.

Por ocasiões e experiências anteriores,  eu sabia da simpatia e amabilidade da senhora Emília. Este feliz desenvolvimento deve-se a ela. Bem haja. Fico aguardando com antecipação o podermo-nos encontrar pessoalmente de novo para, em nome dos muitos que se regozijam pela entrada do Figueiredo na nossa Tabanca, lhe dar um beijinho de apreço e gratidão. É que este feliz desenlaço vai-me ainda dar a possibilidade de "explorar mais um pouco”: vou telefonar de novo ao Teixeira e outros, que também manifestaram boas intenções de um possível ingresso na Tabanca, na esperança de que o exemplo do Figueiredo sirva de inspiração e motivação...

Como ele menciona na sua apresentação, eu e o Figueiredo estamos de alguma maneira especialmente ligados na nossa experiência da Guiné (Vd. poste P22478,  de 23 de Agosto de 2021) (**) por termos sido projectados pelos ares por uma mina em que houve muitos feridos, possivelmente mortos. E digo possivelmente mortos pois que dos vários que na altura foram evacuados de helicóptero para Bissau (incluindo o médico Francisco Pinho da Costa que tinha partido as pernas), de alguns deles nunca soubemos mais nada. A nós os dois, salvo o grande susto, não nos aconteceu nada.

Além das fotos agora recebidas, encontrei duas fotos feitas num encontro/convívio em 26 de maio de 2012, no restaurante Solar Verde Gaio, em Viseu, da CCaç 1439, Pel Caç Nat
52 e 54 e dois pelotões de  morteiros 81 que foi organizado pelo Figueiredo. 

Tenho uma pena enorme, muito grande mesmo, de já não os poder identificar todos. Com sinceras desculpas àqueles que cujos nomes não me lembro mais (é a tal “…” da idade!) não quero deixar de identificar os que ainda lembro bem (Foto nº 1)
 
«

Foto nº 1 > Viseu > Restaurante Verde Gaio > 26 de maio de 2012 > Convívio do pessoal da CCAÇ 1439, organizado pelo António Figueiredo. 

"Na linha da frente, na Foto nº 1, meio ajoelhados, da esquerda para a direita (entre parênteses o número de ordem atribuído pelos editores): furriel Farinha (já falecido) (1); alferes Freitas (Funchal) (2); o nosso novo tabanqueiro António Figueiredo (3): Pimentel (4), e outros dois cujos nomes me escapam (5 e 6)

Na segunda fila de pé, também da esquerda para a esquerda: furriel Neiva (7); furriel Teixeira (Faro) (8); alferes Sousa (V. N. Famalicão) (9); a seguir não lembro os nomes daqueles com os números 10, 12 e 14; eu sou o número 11 e o falecido furriel Octávio (dos autos) ocupa o penúltimo lugar (13)".


Foto nº 2 > 
Viseu > Restaurante Verde Gaio > 26 de maio de 2012 > Convívio do pessoal da CCAÇ 1439 (mais Pel Caç Nat 52 e 54) e dois pelotões de morteiros 81, um deles o Pel Mort 1028), organizado pelo António Figueiredo.

"Nesta segunda foto aparecem todos os participantes (penso eu), neste convívio. O reduzido número de participantes deve-se ao facto de as praças (soldados) da CCaç 1439 serem todos da Madeira".

Nota do editor LG: do restante pessoal (não pertencente à CCAÇ 1439), reconhecemos na primeira fila,  na ponta esquerda, o nosso saudoso Jorge Rosales (1939-2019), o Manuel Calhandra Leitão, o "Mafra" (do Pel Mort 1028) (o nº 6 da segunda fila, a contar da direita para a esquerda), o Mário Beja Santos (do Pel Caç Nat 52, o penúltimo desta fila, ao lado do João Crisóstomo). O mais alto da terceira, fila, ao centro, é o Henrique Matos, que foi o primeiro comandante, em 1966/68, do Pel Caç Nat 52.

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

3. Comentário do editor LG:

Antes de mais um grande abraço de boas vindas ao António Figueiredo, que se passa a sentar no lugar nº 873, e fica sob a protecção do nosso mágico, simbólico, fraterno poilão da Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas, a única em que todos nós, os antigos combatentes da Guiné, cabemos com tudo o que os une e até com aquilo que os pode separar (política, religião, futebol, etnia, armas, postos...).

De acordo com as nossas regras, como antigos camaradas de armas que fomos, tratamo-nos por tu. Já lá vai o tempo do antigo regime de "apartheid" que vigorava na tropa (e depois na Guiné), com as "três ordens (nobreza, clero e... povo)" devidamente segregadas, socioespacialmente falando... 

Depois do João Crisóstomo e do saudoso Júlio Martins Pereira, tu és o terceiro elemento da CCAÇ 1439 a integrar a nossa Tabanca Grande. O que também é uma honra para todos nós, sabendo-se que a maior parte do pessoal era de origem madeirense e está muito provavelmente espalhado pelos quatro cantos do mundo, na diáspora lusófona. 

O "Mafra", o Manuel Calhandra Leitão, que era do Pel Mort 1028, e esteve convosco, ao longo da comissão, também nos dá a honra da sua presença na Tabanca Grande. Somos uma comunidade virtual de antigos combatentes, que desde há 18 anos procura preservar e divulgar as suas memórias da Guiné. De 2006 até 2019, também realizámos encontros anuais (catorze ao todo). Foram interrompidos com a pandemia, vamos lá ver se conseguimos juntar forças para reeditar esta iniciativa. O último, o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande realizou-se em Monte Real, Leiria, em 25 de Maio de 2019.

O teu nome, António Figueiredo, passa a figura na lista alfabética da Tabanca Grande, de A a Z, constante na "badana" (ou coluna estática) do blogue, do lado esquerdo. Dos nosso 873 (contigo) membros, já faleceram, infelizmente, cerca de 15% (132).

Podemos dizer que entras pela mão de um "padrinho", o João, a quem eu trato por mano e com quem falo com frequência, à distância. Ele nasceu perto de mim, em A-dos-Cunhados, Torres Vedras, eu sou do concelho vizinho, Lourinhã. Há muito, desde 1977, como sabes, que ele vive em Nova Iorque. Mas de vez em quando dá-nos o prazer da sua visita, dele e da sua querida Vilma. Pode ser que a gente, um dia destes, se encontre, aqui para os lados do Oeste, já que tu também não estás longe, vives em São Domingos de Rana, Cascais. 

António, também nos podemos encontrar, em Algés, na Magnífica Tabanca da Linha, de que um dos cofundadores e grande animador foi o nosso Jorge Rosales, já falecido o ano passado (vd. foto nº 2). Costumamos anunciar, no nosso blogue, a realização dos convívios da Tabanca da Linha: vê aqui a págjna do Facebook. Há malta de São Domingos de Rana, que costuma aparecer. Os almoços-convívio realizam-se, em geral, de seis em seis semanas, às quintas-feiras, no restaurante A Caravela, D'Ouro, em Algés.

Parabéns à tua esposa Emília, que te ajudou a chegar até nós. Também estamos no Facebook, vê aqui a nossa página, Tabanca Grande Luís Graça. E, claro, parabéns ao teu "padrinho", João Crisóstomo, cuja dedicação ao nosso blogue eu tenho que aqui destacar e agradecer em público. Tomo a liberdade de citar aqui um excerto do mail que ele te mandou a ti e mais camaradas da CCAÇ 1439, convidando-vos, mais uma vez, a juntarem-se à nossa Tabanca Grande:

(...) Tenho mesmo pena que a nossa CCaç 1439 esteja tão pouco representada em meios escritos… Seria bom que mais alguém aparecesse  para que a nossa CCaç 1439 num futuro próximo não passe quase despercebida! 

 Além disso eu gostaria de não me sentir tão sozinho, mas antes ter o gosto de ver a nossa querida CCaç 1439 mais e melhor representada neste blogue que é sem dúvida o melhor meio de nos lembrarmos uns dos outros, de lembrarmos tudo o que passámos e vivemos na Guiné. " (...)

PS 1 - Já agora, António, sendo tu natural de Sátão, distrito de Viseu, sabes quantos conterrâneos teus morreram na guerra do ultramar / guerra colonial? Foram, dezassete, sendo quatro no TO da Guiné. Podes ver aqui os seus nomes.

PS 2 - Se quiseres que a gente te faça, no dia do teu aniversário, um "cartanito de parabéns", tens que nos indicar a tua data de nascimento (sabemos, pelo João, que vais fazer 80 aninhos no próximo daí 11 de novembro)... Comunica connosco, e manda mais fotos e algumas pequenas histórias.

PS 3 - Esqueci-me de te dizer que também andei, em 1969/71, pelos mesmos sítios onde tu e os teus camaradas da CCAÇ 1439 penaram:  Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, entre outros...
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de fevereiro de  2023 > Guiné 61/74 - P24098: Tabanca Grande (545): Corrigindo um lamentável lapso nosso, o José António Paradela (1937-2023) fica connosco, no lugar nº 872... pelo seu contributo para a memória da "Faina Maior"... Parafraseando o capitão Valdemar Aveiro, podemos perguntar: "daqui a uma geração, quem se vai lembrar disto, a guerra do ultramar / guerra colonial e a outra guerra, a da pesca do bacalhau"?!

(**) Vd. poste de 23 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22478: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XII: Mina A/C em 21/8/1966, e violento ataque ao Enxalé em 9 de setembro

(...) Do rebentamento do engenho explosivo resultaram danos materiais e físicos:

(i) Destruição de uma viatura GMC;

(ii) Feridos das NT:
  • Alf Mil Médico Francisco Pinho da Costa, do BCAÇ 1888, evacuado
  • 1º cabo 682 1364 José Manuel Afonso Ferreira, evacuado
  • 1º cabo aux. enfer. 647 4664, Alexandrino Pestana F. Leitão
  • 1º cabo 182 6865 Carlos Tibúrcio Nunes
  • 1º cabo 7351565, José Luís Fernandes Martins
  • Soldado condutor 8563364, António de Almeida Figueiredo
  • Sold 22665 António Francisco Caneca de Oliveira
  • Sold 651 7665 Álvaro de Sousa
  • Sold 0483065 José Dionísio Vieira de Castro
  • Sold 09/63 Nagna Chete, da 1ª CCaç
  • Sold da Polícia Administrativa 241/64 , Buli Mané. (...)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23973: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XXXVII: Leopoldo Jorge da Silva, maj art (Viseu, 1868 - Moçambique, 1916)

MORTOS EM COMBATE (MOÇAMBIQUE, 1914-1918)



Leopoldo Jorge da Silva. maj art  (1868 - 1916)


Nome: Leopoldo Jorge da Silva

Posto: Major de Artilharia

Naturalidade: Viseu

Data de nascimento: 29 de Março de 1868

Incorporação: 1890 na Escola do Exército (nº 329 do Corpo de Alunos)

Unidade: Regimento de Artilharia de Montanha (1º Grupo)

Condecorações: Medalha de Prata “Rainha D. Amélia” | Cavaleiro da Real Ordem Militar de S. Bento de Aviz | Medalha da Cruz de Guerra de 1ª classe (a título póstumo) | Promoção a Tenente Coronel por distinção (a título póstumo)

TO da morte em combate; Moçambique

Data de Embarque; 15 de Julho de 1916

Data da morte: 10 de Novembro de 1916

Sepultura: Cemitério de Nevala - Tanzânia

Circunstâncias da morte: Comandando a coluna de Mossari atacou denodadamente, em 8 de Novembro, forças alemãs em Quivambo obrigando estas a retirar com perdas significativas. No combate travado foi ferido com gravidade: Evacuado para o fortim de Nevala, faleceu dois dias depois (10 de Novembro).




António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem

1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

_________

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23813: In Memoriam (462): Rui Alexandrino Ferreira (ex-Sá da Bandeira, Lubango, 1943 - Viseu, 2022), ten cor inf ref, ex-alf mil inf, CCAÇ 1420 (Fulacunda, 1965/67); ex- cap mil, CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, 1970/72); autor de 3 livros de memórias: Rumo a Fulacunda (2000), Quebo (2014) e A Caminho de Viseu (2017)




Viseu > Regimento de Infantaria 14 > 4 de novembro de 2017 > Sessão de apresentação do último livro do Rui Alexandrino Ferreira, "A Caminho de Viseu" (Coimbra, Palimage, 2017, 237 pp. ) > Um abraço do João Marcelino (que vive na Lourinhã, esteve presente no VII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 2012, e que é amigo do autor desde a Guiné, tendo estado os dois juntos em Aldeia Formosa: o Rui como comandante da CCAÇ 18, o João Marcelino, "Joneca", como alf mil, CCS/BCAÇ 3852).


Foto (e legenda): © Márcio Veiga / Rui Alexandrino Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Paulo Santiago deu-nos ontem à noite a triste notícia e o João Marcelino acaba de a confirmar junto da família: morreu o nosso Ruizinho, como era carinhosamente tratado o Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022).

Estava reformado como ten cor inf. Foi alf mil inf, CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67; cap mil da CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72). É autor de três livros de memórias.



Rui A. Ferreira
Nota biográfica:

1943 - Rui Alexandrino Ferreira nasce na antiga Sá da Bandeira (hoje Lubango), Angola.

1964 - Integra o último curso de oficiais milicianos que reuniu em Mafra a juventude do Império.

1965 - Rende, na Guiné-Bissau, o alf mil Vasco Cardoso [CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67], dado como um desaparecido em combate.

1970 - Frequenta o curso para capitão em Mafra, seguindo em nova comissão para a Guiné-Bissau [CCAÇ 18, Aldeia Formosa/Quebo, 1970/72].

1973 - Regressa a Angola em outra comissão.

1975 - Retorna a Portugal.

1976 - Estabiliza em Viseu, onde continua a residir. é ten cor ref.

2000 - Publica, na Palimage, o seu 1º livro, Rumo a Fulacunda: crónicas de guerra 

2014 - Publica o seu 2º livro. Quebo: nos confins da Guiné, igualmente sob a chancela da Palimage.

2017 - Lança um 3º livro, A Caminho de Viseu, nas instalações do RI 14 de Viseu, e sob a mesma chancela, a Palimage.

2022 - Morre, em Viseu, de doença crónica degenerativa (Parkinson); tinha inúmeros amigos e camaradas que o estimavam, acarinhavam e admiravam; era um dos históricos  da Tabanca Grande, tem cerca de 80 referências no blogue.

Para a família e amigos e camaradas mais íntimos, fica aqui esta nota de pesar pela sua perda mas também a nossa homenagem a um grande militar, um bom homem e um melhor amigo que soube partilhar, connosco, em vida, as suas memórias da Guiné. LG

PS - Não temos informação sobre o local e a data das cerimónias fúnebres.
__________

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23293: Convívios (928): Almoço/Convívio do BCAÇ 3883, dia 4 de Junho de 2022, em Viseu


ALMOÇO/CONVÍVIO DO PESSOAL DO BCAÇ 3883

DIA 4 DE JUNHO DE 2022 EM VISEU

Boa noite.
Divulgação do Almoço/Convívio a realizar dia 04 de Junho de 2022 em Viseu.

Batalhão Caçadores 3883 - Guiné, 72/74

Subscrevo-me com toda a consideração.
Manuela Rodrigues
(filha do camarada Rodrigues)

Cumprimentos,
Rodrigues

____________

Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19089: In Memoriam (330): Diamantino Gertrudes da Silva (1943-2018), ex-comandante da CCAÇ 2781 / BCAÇ 2927 (Bissum, 1970/72), "capitão de Abril", escritor (Carlos Matos Gomes)

O capitão de Abril Gertrudes da Silva;~
comandou a CCAÇ 2781
(Bissum, 1970/72)
1. Poste do Carlos Matos Gomes na sua página do Facebook, partilhada pela nossa, a Tabanca Grande Luís Graça, com data de ontem, às 20h00:

 ·
Os portugueses não conhecem o Diamantino

por Carlos Matos Gomes


As portuguesas e os portugueses não conhecem o Diamantino. Antes do Diamantino também não conheceram o Corvacho, nem o Tomaz Ferreira, nem o Vila Lobos, nem o Ramiro, nem o Ernesto, o Melo Antunes, nem o Varela, o Gomes, nem o Victor, o Crespo, os portugueses não conhecem os portugueses que estiveram no dia 25 de Abril de 1974 no comando das operações na Pontinha, nem nas unidades que tomaram o poder

Nem dos que estiveram em Bissau, em Luanda, ou em Nampula a assumir a responsabilidade histórica de resolver um problema colonial que se arrastava desde a Conferência de Berlim (1884), que fora causa da queda da monarquia, da implantação da República, da entrada de Portugal na I Grande Guerra, da instauração da ditadura em 1926 e de uma guerra colonial de 13 anos.
O desconhecimento desses nomes e o conhecimento de outros, de futebolistas e comentadores de TV, de cantores e de apresentadores de TV, de cabeleireiros e cozinheiros, de alfaiates e famosos das relações públicas representa a glória dos anónimos militares como o Diamantino.

O Diamantino morreu hoje (**). O Diamantino teve um papel decisivo no 25 de Abril, comandando a coluna militar que controlou o centro do país. Os portugueses não conhecem o Diamantino, nem os camaradas que o acompanharam nesse dia e nessa acção. O desconhecimento do Diamantino é a sua maior condecoração. O Diamantino e os seus camaradas fizeram o que fizeram para que os comentadores comentassem, os cantores cantassem, os famosos se exibissem. O Diamantino e os seus camaradas são anónimos para que os portugueses tenham nome e possam tê-lo. O Diamantino e os seus camaradas fizeram o que fizeram para que os portugueses tivessem um serviço nacional de saúde e também um multibanco. 

O Diamantino morreu ontem. Nasceu em 1943, na Beira Alta, em Moimenta da Beira. Filho de gente humilde – não se trata de neo-realismo – frequentou o seminário e depois a Academia Militar, onde entrou em 1963. Conheci-o ainda de missal, expressão séria, a sair da caserna para ir à missa. Eu, três anos mais novo, já agnóstico. Nunca falámos de religião, de deuses, de salvação. Respeito. Ele infundia respeito, mesmo quando acreditava no que me merecia radicais oposições: eu dispensava a ideia de Deus, ele ainda a respeitava, não como amparo pessoal, mas como instância de justiça, julgo.

Ao longo da minha vida conheci pessoas extraordinárias. Sorte a minha. O mais extraordinário de
todos, se me perguntarem, Samora Machel. Mas, falando apenas dos que já morreram, conheci também Aquino de Bragança (informem-se sobre a personagem), e Spínola (escrevi sobre ele no Expresso na data da sua morte), e Costa Gomes, e Varela Gomes, e Fernando Salgueiro Maia, e o comissário político da brigada Lister na guerra civil de Espanha, e Santos e Castro, fundador dos comandos e comandante de mercenários, fui amigo do Jaime Neves… e apoiante da Maria de Lurdes Pintassilgo. Fui amigo do Diamantino…

Quando, como é da história, nas revoluções se separam águas entre os que a fizeram, eu e o Diamantino ficámos na mesma margem. Foi depois do 25 de Novembro de 1975. Numa tarde, ou noite clandestina, encontrámo-nos em Viseu, a sua base, a conversar sobre o que era possível salvar, não da esperança, mas da parte do poder que devia caber aos que, sujeitos a séculos de dependências, iniciavam a descoberta da liberdade de decidirem o seu presente e o seu futuro. Poder popular, se não for descoberta outra designação aos sans culottes que, aqui em Portugal, viviam a sua revolução francesa no Portugal rural e eclesiástico após o 25 de abril. O “Comunismo” nos sermões dos padres lúbricos e guardadores de rebanhos.

O Diamantino formou-se em História, em Coimbra. Ele, e um outro destes capitães, também já desaparecido, o Monteiro Valente. Conheci-os, relacionei-me com eles como mais um privilégio que a vida me concedeu. O Monteiro Valente foi o único (julgo) capitão que teve de disparar a sua arma para impor o 25 de Abril numa unidade militar!

A História concedeu a Portugal, aos portugueses que não sabem quem eles foram, o privilégio de ter os capitães dos seus exércitos de terra, mar e ar no local certo, no tempo certo, para realizarem a 25 de Abril de 1974 aquilo que era necessário fazer e foi feito da forma exemplar que a História reconhece como a “revolução dos cravos”. 

O Diamantino pertenceu a essa gesta de anónimos capitães que Portugal e os portugueses tiveram a sorte histórica de encontrar generosamente disponíveis e culturalmente preparados para assumirem os riscos de lhes traduzirem os anseios de liberdade e de paz. Ele escreveria ensaios e fições sobre a sua geração.(**)

A morte do Diamantino, capitão de Abril, ocorre no tempo em que emerge do lado de lá do Atlântico, no Brasil a quem tanto nos une, um capitão de negrume, de nome Bolsanaro…um fantasma da História. Figura recorrente de abutre militar…

O capitão Diamantino, que morreu em Viseu, era a face luminosa dos militares de qualquer parte do mundo que estão do lado da História e dos seus povos…

Será enterrado singelamente. Como um militar digno. Com as “sem honras” que a sua vida merece.
Que a semente do seu exemplo frutifique…

[O ex-comandante da CCAÇ 2781, Bissum, 1970/72, capitão de Abril e escritor, Gertrudes da Silva, tem 8 referências no nosso blogue. Infelizmente não temos nenhum representante desta companhia no nosso blogue; a minha sugestão é que este nosso camarada, que foi comandante operacional no TO  da Guiné, entre para a Tabanca Grande, a título póstumo.]
____________

Notas do editor:


(**) 13 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2632: Coronel Gertrudes da Silva: A Guiné, a guerra colonial e o 25 de Abril (Virgínio Briote)

(...) Nota de Virgínio Briote:

O Coronel Diamantino Gertrudes da Silva foi admitido na Academia Militar em Outubro de 1962. Nº 1 do Curso de Infantaria, com o posto de Alferes foi mobilizado para Angola (região de Bessa Monteiro), integrado na CCaç 1642.

Em 1970, comandou a CÇAÇ 2781 na Guiné, que esteve destacada em Bissum, permanecendo no território até 1972, data em que a Companhia regressou à Metrópole. Colocado nesse ano em Viseu, no RI 14, aí permaneceu até à véspera do 25 de Abril de 1974. À frente das tropas que conseguiu reunir, deslocou-se para Lisboa e Peniche onde teve acção preponderante no desenrolar dos acontecimentos que se seguiram ao movimento militar.


É autor de várias obras (...)

sábado, 12 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18625: Os nossos seres, saberes e lazeres (267): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 1 de Março de 2018:

Queridos amigos,
O fito para termo da viagem era mesmo estacionar nas termas de S. Pedro do Sul, o que havia a farejar era no mundo termal, o viandante portou-se como um aquista, deambulou pelas margens do Vouga, repimpou-se na biblioteca do Palace e andou de câmara na mão à procura dos seus regalos.
Ficará para outra oportunidade visitar Manhouce, subir às alturas para contemplar as serras de Montemuro, Estrela e Caramulo e até pôr os pés em Viseu e Lamego, são museus inescapáveis, há para ali arte sacra do melhor, desta vez era a satisfação de uma lembrança por causa dos bilhetes postais que o viandante recebera na Guiné, nestas termas, enquanto procurava aliviar os tormentos das artroses, escrevera-lhe bilhetes postais com votos de boa saúde e que regressasse bem para reiniciar a sua vida, escrevia como se estivesse a fazer promessas e o viandante veio aqui recordar a gratidão que deve a tais lembranças.

Um abraço do
Mário


De Estremoz para as termas de S. Pedro do Sul (4)

Beja Santos

As termas de S. Pedro do Sul são o termo da viagem. Uns vieram à busca de tratamento para os seus males respiratórios, o viandante vem à procura de lembranças, como explica. Durante aqueles anos em que andou a fazer guerra pela Guiné, a sua mãe meteu-se ao caminho e veio aqui fazer cura balnear para os seus joelhos carregados de artroses. Enviou-lhe em agosto de 1968, setembro de 1969 e junho de 1970 postais marcados pela esperança no alívio do seu sofrimento, que tudo estava a correr bem na companhia do neto mais velho, que se banhava nas águas do Vouga, e que estava cheia de saudades do filho, rezava permanentemente para que nada de mal lhe acontecesse. O viandante guardou esses postais e aqui está à cata de lembranças. Resta dizer que se sair de Monsanto e se andou por quilómetros de terra calcinada, paisagens lunares, o grotesco de alturas destemidas e granitos furibundos contrastando com solos enegrecidos, ainda será pior no regresso quando o viandante regressar sozinho de autocarro, logo Vouzela e Oliveira de Frades pareciam ter levado com uma bomba de neutrões em cima, eram florestas derribadas, aquele violento contraste entre o casario de pé rodeado dos vestígios do fogo adormecido. Pois bem, chegou-se às termas, olhou-se especado para este Titanic em terra e o viandante disse com fé: daqui não saio, é só ler e passear aqui à volta, daqui não saio, daqui ninguém me tira.



O escritor Alain Robbe-Grillet escreveu o argumento do filme “O Último Ano em Marienbad” de Alain Resnais, e o viandante nunca esqueceu aquele ambiente alucinante com misturas de tempo incríveis; também guarda lembranças do sanatório em que decorre uma das obras-primas de Thomas Mann, “A Montanha Mágica”, os temas bailam pela cabeça do viandante. Começa a itinerância passeando-se pelo Inatel Palace Hotel, o gigante data do início da década de 1930, conheceu maus momentos e teve que ser remodelado anos depois de aqui terem vivido famílias de retornados. Nos anos 1990 foi alvo de obras e aqui está, sumptuoso e confortável. O viandante anda à volta e procura dimensionar o que a região das termas oferece.



O ciclópico hotel tem quartos para todas as dimensões e bolsas, vai da suíte ao turístico, é acolhedor na sala de jantar e no bar, oferece biblioteca e um conjunto de jogos, tem piscina, solário e jardins. S. Pedro do Sul está a escassos quilómetros, tem a fama o Vale de Lafões e a Serra de S. Macário de onde se avistam as serras de Montemuro, Estrela e Caramulo, pormenores que nesta viagem não provocam qualquer aliciante ao viandante, veio para bisbilhotar, matar a curiosidade, cheirar águas sulfurosas, ouvir conversas dos termalistas, captar pormenores, anda atento aos elementos Arte Deco, são discretos, leves e muito bem enquadrados.



Quem desenhou a traça deste hotel ciclópico sabia da poda, rasgou corretamente os pontos de luz, estabeleceu para esses espaços comunitários uma boa relação na escala, desenhou bons truques, lambris, sugeriu dimensões palacianas para o restaurante e adjacências, os aquistas podem aqui entrar alquebrados mas rendem-se à majestade do lugar.



Quando o viandante foi pagar a primeira refeição teve a agradável surpresa de ver uma rutilante aguarela de Sofia Areal, artista que muito aprecia, vejam como assenta como uma luva, ainda bem que convocam as belas-artes para estes espaços.



No chamado período laboral, ruído não falta à volta desta região termal, andam a fazer obras em frente do hotel, são as ruínas romanas e uma igreja porventura medieval que são alvo dos trabalhos. Porque o local é antigo, a nascente de água termal de S. Pedro do Sul é explorada desde o século I da nossa era. Os romanos construíram um balneário (o que dele resta é hoje monumento nacional), sobre cujas ruínas D. Afonso Henriques mandou edificar um novo balneário. Passeia-se pelas ruas e sentem-se os odores das águas sulfúricas, o viandante descansou, passeou, teceu planos para próximas viagens, daquilo que tem em agenda irá em breve à Provença, mais tarde aos Pirenéus franceses, recebeu um convite para passar uns dias entre Haia e Roterdão com o inevitável regresso a Bruxelas e depois uns dias não muito longe de Oxford. Se Deus nosso Senhor lhe der vida e saúde, 2018 será sulcado por passeios europeus, ficará para mais tarde outros passeios mais alentados.
____________

Nota do editor

Poste anterior de 5 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18606: Os nossos seres, saberes e lazeres (265): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 10 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18621: Os nossos seres, saberes e lazeres (266): VI Encontro de Teatro Sénior, de 11 a 13 de Maio de 2018, na Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, em Almada (António José Pereira da Costa)

sábado, 28 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18574: Os nossos seres, saberes e lazeres (264): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 26 de Fevereiro de 2018:

Queridos amigos,
Saiu-se de Estremoz um tanto de asa murcha, bem se gostaria de ter andado um pouco mais por igrejas e capelas, já que o património é fértil, seguiu-se até Nisa, povoação que encanta pelo espraiamento por fora e o ensimesmamento do casco urbano, há por ali muita beleza ao abandono.
O que vai assombrando durante a viagem são as alterações na fisionomia da paisagem, saiu-se por estradas afogadas vendo montes, planícies e a típica florestação alentejana, mais adiante chegou-se ao território do granito e as primeiras notícias graves das calamidades dos incêndios, enfim, os terrenos pedregosos vão ganhando altura, vislumbra-se, como longo dorso, a Serra da Estrela, e depois é o prazer da aproximação de Monsanto, houvesse uma boa câmara e ter-se-iam registado as imagens, por sucessivas fases, da aproximação. Na ausência da tecnologia, levava-se entusiasmo e um livro que é uma pequena raridade, uma edição dedicada à atribuição do Galo de Prata em 1938 a Monsanto, há ali textos tocantes e fotografias de Tom e Carlos Botelho, e desenhos deste último.
Monsanto é inesquecível, amanhã será visitada em todas as direções, está prometido.

Um abraço do
Mário


De Estremoz para as termas de S. Pedro do Sul (2)

Beja Santos

Sai-se de Estremoz e são quilómetros infindáveis de planície verdejante, gado à solta, sobreiros e azinheiras. Em dado momento, crescem os pedregulhos, encrespam-se os solos, sente-se no ar uma certa aridez e aquele céu translúcido que se experimentou de onde partimos ganha nuvens. E assim se chega a Nisa, está na hora de amesendar, há quem suspire por um queijo de ovelha, de lendária fama, acorda-se em hora e meia para andar por ali ao desafio. O viandante gosta de Nisa, mesmo sentindo melancolia por tanto desfalecimento e abandono, patente em solo urbano. É vila templária, está cercada de importantes vestígios megalíticos, há por ali pontes romanas à volta. O castelo sofreu as consequências da zanga de dois irmãos, um que era rei, e o outro que queria ser, e o outro que queria ser deitou as muralhas do castelo a baixo, felizmente ficaram umas amostras de panos de muralha e há esta fabulosa porta da vila para nos receber.




É muito belo e equilibrado este largo, tem imponência o edifício autárquico, que tem ao lado a Igreja da Misericórdia do séc. XVI, aparece na imagem com as laranjeiras à frente, tem portal de volta perfeita, inserido num alfiz retangular, enquadrado com pilastras, o mínimo que se pode dizer é que é uma fachada com caráter e elegância.



Deambula o viandante sem pressa e sem tino, sabe que ainda há outra porta da vila, que vale a pena bisbilhotar as cantarinhas e bilhas decoradas com pequenas pedras brancas, são um dos ex-líbris de Nisa, tal como as rendas de bilros, é um prazer cirandar pelas ruas sinuosas e apertadas, de belo empedrado, a despeito do manifesto abandono.



A Igreja Matriz, que data do séc. XVIII, tinha as portas fechadas, percorreram-se várias ruas à procura de distintos sinais do tempo e foi-se premiado. Olha-se para o relógio, estuga-se o passo, a fome aperta, sabe-se lá porquê recordou-se passeio anterior ali a cerca de 10 km de Nisa às águas minerais de Fadagosa, bem interessantes como estância termal, são quilómetros uns atrás dos outros num território que parece uma reserva da cultura megalítica. Basta de lembranças, há que comer e partir, o viandante traz de baixo do braço ainda o livro do Património Religioso de Estremoz, ficou um pouco amargado por não ter revisitado a Capela da Rainha Santa Isabel, a igreja e o convento de S. João da Penitência e, mais grave do que tudo, continua a adiar a visita à Igreja de S. Francisco, o que bem lamenta.


Nisa teimou e alcançou, tem cineteatro, agora acrescido, está vivo e recomenda-se, enquanto comia mesmo na sua frente, foi dando nota de filmes e eventos que por ali passam, fizeram um bonito acrescento e há sinais de que a vida cultural não deixou Nisa adormecida. Bom, até à próxima.





O viandante não é bibliófilo mas guarda algumas preciosidades, obras estimáveis, caso do livro sobre Monsanto editado pelo SNI, a propósito da atribuição do Galo de Prata a Monsanto, como “A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal”. Fazia parte do regulamento que as aldeias portuguesas do continente comprovassem uma maior resistência oferecida à decomposição e influências estranhas, tivessem um elevado estado de conservação na habitação, mobiliário e alfaia doméstica, trajo, artes e indústrias populares, vertente cultural e lúdica e uma panorâmica de altíssimo valor. Evocando Monsanto, escreveram Cardoso Martha e Adolfo Simões Muller:  

“Quem uma vez visitou a nobre aldeia beiroa, dificilmente a esquecerá. Fechamos os olhos e revemo-la na sua arquitetura de sonho, obra inicial de ciclopes que dispusessem penedos sobre penedos e rasgassem veredas entre fragas. São as suas casas disfarçadas na rocha, como que encapuchadas à maneira das mulheres da região. São as calhas pedregosas apostadas na escalada do monte, como se tivessem aprendido, na lição dos séculos, as manhas das hostes de assédio. São as suas casas solarengas, a sua igreja e as suas capelas; é o seu cemiteriozinho perdido no vale e que parece erguer para o céu as suas mãos verdes. E é sobretudo o seu castelo que a encima orgulhoso, na sua coroa de muralhas”.
Aqui chegámos, e amanhã também é dia de Monsanto. Esta edição foi enriquecida com desenhos de Carlos Botelho, com orgulho aqui se mostra um deles.


Largo do Cruzeiro, Monsanto, Carlos Botelho, 1941
____________

Nota do editor

Último poste da série de 21 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18547: Os nossos seres, saberes e lazeres (263): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (1) (Mário Beja Santos)

sábado, 21 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18547: Os nossos seres, saberes e lazeres (263): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 23 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,
Procurava-se pôr em marcha, com alguma meticulosidade, um farto passeio pela Lisboa que o engenheiro Ressano Garcia criou, projetavam-se itinerários, já se efetuara a 1.ª viagem exploratória quando se propôs uma viagem pelo Interior, começando por Estremoz, estacionando com alguma demora em Monsanto e dali arribar às termas de S. Pedro do Sul, na companha havia gente disposta a fazer inalações, aquelas termas são boas para isso e para as doenças músculo-esqueléticas.
Ora o viandante nunca fora a S. Pedro do Sul, dera cursos em Carregal do Sal, viajara pelo Caramulo e proximidades, mas ali não. Acrescia que a sua mãe, quando ele fizera guerra na Guiné, dali lhe enviara postais com vistas opíparas, ele guardara religiosamente tais imagens, era o momento azado para se reencontrar com o lugar onde sua mãe procurara, em vão, minorar o sofrimento das artroses dos joelhos.
E assim se concordou, sem hesitação, em tal viagem, que ora começa.

Um abraço do
Mário


De Estremoz para as termas de S. Pedro do Sul (1)

Beja Santos

Congeminava o viandante uma nova série de itinerância, bojuda e bem lisboeta, passear-se pelos muitos sítios desenhados pelo engenheiro Ressano Garcia, aquele talento das obras públicas que mais mexeu na capital depois dos arrojados trabalhos da reconstrução após o terramoto, quando lhe chegou o convite de gente amante de estâncias termais para um passeio deveras singular: começar em Estremoz, passar por Nisa e subir para o Interior, visitar com detalhe Monsanto e daqui avançar para as termas de S. Pedro do Sul. Acertados os pormenores, apanha-se autocarro até Estremoz, daqui se seguirá para um monte, início da confraternização. O viandante pede tréguas, duas horas para se passarinhar por alguns sítios. Pedido aceite. Começa a viagem





Manda o roteiro turístico que se vá à Alcáçova, contemplar a Torre de Menagem, a Capela da Rainha Sta. Isabel, ver o miradouro, descer e andar por portas e baluartes, e depois há o património religioso, enorme. Com pouco tempo, impõe-se a seletividade, começa-se pelo Convento dos Congregados, tem a ver com a Congregação dos Padres do Oratório, um monumento singularíssimo edificado por ordem de D. Pedro II. O primeiro olhar vai para os belos azulejos que acompanham a escadaria de mármore, temos motivos religiosos e motivos laicos, predominam as cenas de caça. Houve selvajaria dos soldados de Loison, no decurso da 1.ª invasão francesa andaram a picar aqueles belíssimos azulejos. Sobe-se e chega-se às instalações da Câmara. Desce-se e contempla-se a extraordinária beleza da fachada.


O que há de especial aqui, queridos amigos? São os alçados ondulantes, sente-se a influência de Borromini, e parece que estamos diante da fachada de Sta. Engrácia, Panteão Nacional, aliás são estes os dois únicos alçados ondulantes em Portugal. E muda-se de registo.


No Rossio Marquês de Pombal vendem-se produtos locais mas também flores de Inverno, o viandante sente-se atraído por tanto viço em amores-perfeitos e prímulas, quer encher os olhos de cor, tem muito tempo para se adaptar a quilómetros de granito, a partir de Penamacor, está de antemão informado que verá a desolação dos incêndios, muito antes de chegar ao rio Vouga.



Neste mesmo Rossio Marquês de Pombal há estabelecimentos de outras eras, entra-se no primeiro para se matar a sede e tapar uma fome, aproveita-se para mexericar nas brochuras oferecidas no Posto de Turismo, onde aliás se comprou um livro sobre o património religioso de Estremoz, leitura para mais tarde. Anuncia o folheto que o café Águias D’Ouro foi construído entre 1908 e 1909, é todo Arte Nova e desempenhou um papel central na vida quotidiana da cidade. Era aqui que no início do séc. XX se reuniam os estremocenses em tertúlia. Não se sabe se por aqui viajaram ideias republicanas. Hesita-se em bisbilhotar as portas da cidade, em contemplar os panoramas que se disfrutam no Largo do Gadanha, há que optar, estamos em terra de um consagrado regimento de cavalaria, ponham-se os olhos em memoriais de combatentes.




Preito aos nossos mortos, os da nossa geração, os que combateram na Flandres e nas Áfricas, da I Guerra Mundial. E não se pode ficar insensível aos Dragões de Olivença, a Espanha ocupou e jamais desocupou o que é nosso, é política e diplomaticamente um assunto arrumado, mas ficaram sinais que não se devem apagar de que Olivença é terra portuguesa usurpada. Para que conste.


O viandante tem uma séria paixão por casas de livros, mas esta é bem peculiar, está adossada ao Convento dos Congregados, ao que parece toda esta bela azulejaria veio de igrejas arruinadas, é uma bela biblioteca, dá gosto vir para aqui estudar, ler jornais ou escrever ou tomar conhecimento de tudo quanto se publica sobre esta terra cheia de belezas. Acabou-se o tempo, impõe-se mudar de agulha, ultrapassa a vintena o número de igrejas, capelas e ermidas que se podem conhecer, e perto temos outras belezas, por exemplo em Evoramonte, S. Bento do Ameixial, S. Lourenço de Mãoporcão e Veiros. Mais uma razão para aqui se voltar, para além do património religioso há os museus e os baluartes, a comida é de truz, não se pode esquecer a fartura do mármore. E da próxima vez, está garantido, o viandante senta-se no Largo do Gadanha a olhar para o céu, para a Alcáçova e para a Torre de Menagem. Assim se fará, haja saúde e esta permanente curiosidade em vasculhar lugares, mais aqui e mais além.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18530: Os nossos seres, saberes e lazeres (262): 1.º Encontro de Teatro Sénior, Organização Actis Sintra, dia 21 de Abril de 2018, Casa da Juventude das Mercês (António J. Pereira da Costa)