quarta-feira, 12 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P956: Antologia (48): Félix Laporta, o primeiro cubano a morrer, num ataque a Beli, em Julho de 1967

Guiné > Sector de Cubucare > Guerrilheiros do PAIGC sendo inspeccionados por um comandante. A partir de Maio de 1966, o PAIG começou a contar com o apoio (secreto) de Cuba, sobretudo em homens (médicos, artilheiros, instrutores). Oficialmente, morreram 17 cubanos em combate desde 1967 até ao fim da guerra.

Foto: UN / Yutaka Nagata, fonte: Return to the Source: Selected Speeches, by Amilcar Cabral. New York: Monthly Review Press, 1974. (Imagem gentilment cedida por Jorge Santos, 2005)


Texto enviado pelo Jorge Santos:

Artigo onde o embaixador de Cuba em Bissau afirma:

(i) Os primeiros cubanos, 3 médicos e 3 artilheiros, chegaram à Guiné a 1 de Maio de 1966;
(ii) FÉLIX LAPORTA foi o primeiro soldado cubano a morrer num ataque ao aquartelamento de Béli (sudeste da Guiné-Bissau), a 2 de Julho de 1967.

Saúde
Jorge
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Se Cabral fosse vivo estaria ao lado de Fidel, diz embaixador de Cuba em Bissau

RTP -Informação

O embaixador de Cuba em Bissau afirmou que, se o fundador das nacionalidades cabo-verdiana e guineense, Amílcar Cabral, fosse vivo, estaria "com toda a certeza, a lutar contra o imperialismo" ao lado do presidente cubano, Fidel Castro.

Pedro Donia discursava numa cerimónia organizada pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) destinada a celebrar o 40º aniversário da chegada à então província portuguesa da Guiné dos primeiros seis "internacionalistas" de Cuba, que ajudaram o "movimento libertador" na luta pela independência nacional (1963/74).

"Os ideais de independência e autodeterminação e de luta contra o imperialismo de Amílcar Cabral, tal como se apresentou perante Fidel Castro em meados dos anos 60, manter-se-iam hoje bem vivos se fosse vivo. E, se fosse vivo, estaria, com toda a certeza, ao lado do líder cubano", afirmou o diplomata.

Segundo os relatos históricos, os primeiros seis cubanos - três médicos e três artilheiros - chegaram a solo guineense a 1 de Maio de 1966, a que se juntou, um mês depois, novo grupo de "internacionalistas", que, ao longo do conflito e após a independência, ajudaram o PAIGC quer na luta quer no domínio da saúde e educação (1).

"Logo no dia em que chegaram começaram, imediatamente a trabalhar. Os médicos a assistir os feridos e os artilheiros na formação dos combatentes do PAIGC", afirmou Pedro Donia, lembrando a "amargura" de Cabral, então presidente do "movimento libertador", quando caiu o primeiro soldado cubano, Félix Laporta, a 2 de Julho de 1967, num ataque ao aquartelamento de Béli (sudeste da Guiné-Bissau).

Aqueles ideais, sublinhou o diplomata cubano, constituem a razão do regresso de Cuba a Bissau, após "alguns anos de adormecimento" nas relações bilaterais, reactivadas em Janeiro de 2005 quando o presidente do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, então primeiro- ministro, efectuou uma visita oficial a Havana e rubricou um novo Acordo Geral de Cooperação.

Na cerimónia, que decorreu na sede do PAIGC em Bissau e onde está patente uma exposição fotográfica da presença cubana no país, estiveram presentes Carlos Gomes Júnior e a direcção do partido, bem como dezenas de antigos combatentes e responsáveis da missão diplomática da vizinha Guiné-Conacri, cujo exército também ajudou na luta de libertação do jugo colonial português.

No meio de fortes e sentidas homenagens a todos os que caíram em combate, independentemente da sua nacionalidade, o PAIGC distinguiu Fidel Castro com um "Diploma de Mérito e Reconhecimento", "símbolo do apreço" do partido de Cabral por "todo o povo cubano".

Por seu lado, Carlos Gomes Júnior sublinhou a importância do apoio cubano para a construção da nova nação guineense, sublinhando que ela está "selada com o sangue dos que tombaram" durante a luta.

O presidente do PAIGC apelou também para a libertação "imediata e incondicional" dos cinco jovens dirigentes cubanos que estão encarcerados em prisões norte-americanas, acusados de terrorismo, tema que o embaixador de Cuba denunciara momentos antes, no meio de fortes críticas à política de embargo dos Estados Unidos.

As relações formais de cooperação entre os dois países remontam a 21 de Outubro de 1976 quando, em Havana, se realizou a primeira reunião da Comissão Mista, mas caíram num "marasmo" no início da década de 90.

A cooperação entre os dois estados viria a ser relançada em fins de Setembro de 2004 durante os trabalhos da XII Comissão Mista - que decorreram em Bissau e permitiram a aprovação de mais de uma dezena de projectos - e seria reforçada com a visita de Carlos Gomes Júnior a Havana, em Janeiro do ano seguinte.

Entre esses projectos está o relançamento da Faculdade de Medicina de Bissau, criada em 1977 e desactivada no início dos anos 90, bem como outros ligados à formação e assistência às universidades, destacando-se o Instituto Agrícola (ou Escola Técnica Agrícola).

Na ocasião, as duas partes chegaram também a acordo em projectos de assistência técnica nos domínios das Pescas, Educação, Desporto, Cultura, Agricultura, Obras Públicas, Construção, Urbanismo e Saúde.

Outros projectos são o apoio à construção, de raiz, do Museu da Luta de Libertação Nacional, bem como a conservação dos locais históricos da guerra da independência (1963/1974), nomeadamente em Boé, leste do país.

Agência LUSA, 3 de Junho de 2006

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Nota de L.G.

(1) Vd. post de 11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P951: Antologia (47): Um médico cubano no Morés e no Cantanhez (Domingos Diaz, 1966/67)

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