terça-feira, 25 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P987: A propósito do morto-vivo da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74) (Paulo Santiago]

1. Texto, datado de ontem, do Paulo Santiago (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72):

Luís:

Hoje não tenho tempo para escrever. Esta mensagem tem a ver com um post publicado hoje. Eu ía chegar lá brevemente, mas atendendo ao que diz o Duarte (1) ,confirmo que em 1972 foram dados como mortos 12 militares, e enviadas as respectivas urnas para as famílias.

Em Setembro de 1974, chegou o morto que estava vivo. Não vi, mas contaram-me a entrevista que deu na RTP. Só o Cap Lourenço afirmava que ele tinha morrido, o resto da compahia [a CCAÇ 3490] afirmava que estava vivo.

Os sobreviventes viram-no apanhar um tiro no braço e, de seguida, ser apanhado à mão pelo IN. Era de transmissões e levou um AVP 1 quando foi capturado. Todos os dias eram feitos QTR'S com Aldeia Formosa, utilizando aquele equipamento. Por vezes entrava uma voz em rede, que os tipos de transmissões diziam ser do Batista - penso ser este o nome dele, mas não
tenho a certeza.

Também não sei se era de S. Martinho do Bispo. Neste momento sei quem comandou a emboscada, só por um motivo de última hora, não falei em Fevereiro de 2005 com esse comandante [do PAIGC]. Um dos assuntos de que falaria seria precisamente sobre caso deste prisioneiro.

Um abraço
P. Santiago

2. Comentário de L.G.:

Baptista ou não, natural de S. Martinho do Bispo ou não, este nosso camarada da CCAÇ 3490 que foi dado como morto, que foi enterrado no cemitério da sua aldeia e que afinal estava vivo, tendo sido ferido e feito prisioneiro pela guerrilha do PAIGC na picada do Quirafo, em 17 de Abril de 1972, não deverá ser um caso virgem (O Albano Costa contou-me um caso semelhante, mas para já não quer publicitá-lo no blogue, preferindo investigar melhor o assunto).

O que nos choca, ainda hoje, é o cinismo, o desprezo, o despudor das autoridades militares da época que, incapazes de falar a verdade às famílias dos nossos camaradas mortos ou desaparecidos nem, muito menos, à população portuguesa, mandavam para os nossos cemitérios caixões de chumbo... vazios!!!

Quantos lutos patológicos ainda não estarão por fazer ? Infelizmente, em muitos casos, manteve-se a suspeita de que os caixões que vinham do Ultramar (e da Guiné, em particular) não traziam os restos mortais dos nossos queridos soldados, mas apenas pedras...

Vamos aguardar pelo resto da história que o Paulo Santiago tem para nos contar...

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 24 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P984: Ainda a tragédia de Quirafo: o 'morto' que afinal estava vivo (António Duarte)

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