quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1093: Programa da RTP1, hoje, às 21h, sobre as campas abandonadas dos nossos mortos (José Martins)


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram como foi o caso do Soldado Anastácio Vieira Domingos, nº 688/64, que pertencia à CCAÇ 727. Era muito provavelmente alentejano. A CCAÇ 727 teve como unidade mobilizadora o RI 16, de Évora. A comissão foi de Outubro de 1964 a Agosto de 1966. O Soldado Anastácio não chegou a conhecer a época das chuvas: morreu ao fim de dois meses de Guiné, mais exactamente a 13 de Dezembro de 1964. O seu nome consta do memorial aos mortos das guerras do ultramar, junto à torre de Belém (1). (LG).

Mensagem do camarada José Martins:

Caro Luis e Tertulianos:

O programa [Em Reportagem] acabou há momentos. Do que vi, retive:

(i) Ou foi muito curto para um tão grande tema;
(ii) ou eu liguei a TV, demasiado tarde.

Em minha opinião, vou pela primeira hipótese.

Opinião: A Liga dos Combatentes assinou um protocolo com o Ministério da Defesa para reabilitar os cemitérios em Africa e outros países, mas é um protocolo. Foi dito pelo Gen Chito Rodrigues que não aconselhava as autoridadesportuguesas a deslocarem-se a alguns cemitérios, porque não têm a dignidade mínima. E pelas imagens se viu que não.

Em Bambadinda já se encontra uma tabanca onde era o cemitério. Há muito que sabemos que tudo foi arrazado e, sobretudo, que, apesar dos acordos diplomáticos, muitos ainda não passaram do estado de choque por se verem com um país novo nas mãos, sem saberem o que fazer e, ainda por cima, com o inimigo enterrado às portas das cidades. As famílias - e vi/ouvi testemunhos de irmãos - querem ter os seus entes queridos ao pé de si, mesmo que sejam só as ossadas.

Portugal tem o dever de fazer como outros estados fizeram: se não trouxeram os militares mortos para casa, deixaram-nos no terreno de combate, mas em locais dignos. Em Portugal, isto também aconteceu na I Grande Guerra em que, cinco anos depois do armistício, já se tinha erigido um monumento aos combatentes, não só na Batalha, mas por tudo o que era terra de combatentes, de norte a sul.

Os próprios mortos foram transladados dos diversos cemitérios situados na Alemanha, Bélgica, França e Holanda, para o cemitério de Richebourg. Vale a pena ler o texto Os Nossos Mortos na revista Combatente, edição nº 329/330, de Jul/Dez-2004, da autoria do Coronel de Infantaria Nuno Santa Clara.

Esta é mais uma batalha que se nos apresenta. As diversas associações de combatentes não deixarão de dizer, tambem, PRESENTE! Temos que ir em frente. Vamos trazer os nossos camaradas para CASA.

José Martins
Ex- Fur Mil Trms Inf CCAÇ 5 - Canjadude

1 comentário:

Anónimo disse...

E A DOR, COMO A UM DONO, VEIO LAMBER-ME


Estávamos a conversar e eu pus-me de gatas
Na linguagem, um arco-íris todo lágrimas e perguntas
Que vinha de chinelos pelo corredor.

Fui contra, aos encontrões
Contra todas as carícias, contra todos os braços suplicantes
Contra todos os pedidos de amor

E a dor, como a um dono, veio lamber-me.


Carlos Luís Bessa in “Lançam-se os músculos em brutal oficina”