segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1431: Guileje: Quem (e quando) construiu os abrigos de cimento armado (Pepito / Nuno Rubim)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 2410 (Junho de 1969/Março de 1970) > Abastecimento de água



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 2410 (Junho de 1969/Março de 1970) > Actuação do Duo Ouro Negro .
Fotos: © Armindo Batata (2006) (1) & AD - Acção para o Desenvolvimento (2006) (com a devida vénia...).


1. Mensagem do Pepito:


Amigo Luís

Votos de um Feliz Ano Novo.

Depois de regressar de Varela (onde fui passar o Natal) confrontei-me com um caos na nossa internet devido a substituição de material por parte do nosso servidor. Perdi muitos emails. Adiante.

Agradeço a tua conversa com o Nuno Rubim pois foi de extrema utilidade. Voltámos a cooperar, ele a 300 Km/h e eu a mazoute (?), e está outra vez empenhadíssimo no projecto Guiledje.

Queria pedir-te dois apoios, embora saiba que tempo é o que tens menos:

(i) Quando aí estive no verão 2006, conheci o Coronel Jorge Parracho que me forneceu excelentes fotos, algumas das quais te enviei. Nessa altura, e por seu intermédio conheci o ex-enfermeiro de Guiledje, Vitor Manuel Rodrigues Fernandes (C. Caçadores 3325) que estava na altura a digitalizar o Livro da Unidade, tendo-mo prometido logo que acabasse (em finais de Setembro). O favor que te pedia era o de, se possível, dares-lhe uma chamada (933323135) para saber se ele já concluiu o trabalho e se te poderia dar esse documento, para tu mo dares.

(ii) Como vou aí na 3ª semana de Fevereiro, gostaria de contactar com o [Coronel] Coutinho Lima, último Comandante do quartel de Guiledje [ou, melhor, do COP 5], elemento determinante do nosso projecto.

Seria possível identificares as coordenadas (email e telefone) dele?
abraços
pepito

2. Mensagem do Nuno Rubim:


Caro Luís:

Obrigado por teres colocado no teu blogue a informação sobre a Liga dos Amigos do Arquivo Histórico Militar (2).

Um dos problemas que agora se me coloca é o da data da construção dos abrigos em cimento armado em Guileje e saber quem os construiu (3).

As unidades que terão estado sediadas parecem ter sido as seguintes (indico também os contactos obtidos no teu blogue):

CCAÇ 495 (Fev 1964/Jan 1965)
CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) (contactos: Teco e Nuno Rubim)
CCAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966) ( contacto: Nuno Rubim )
CCAÇ 1477 (Dez 1966/Jul 1967) (contacto: Cap Rino)
CART 1613 (Jun 1967/Mai 1968) (contacto: Cap Neto)
CCAÇ 2316 (Mai 1968/Jun 1969) (contacto: Cap Vasconcelos)
CART 2410 (Jun 1969/Mar 1970) (contacto: Armindo Batata)
CCAÇ 2617 ( Mar 1970/Fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio)
CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971) (contacto: Jorge Parracho)
CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje (contacto: Amaro Munhoz Samúdio)
CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho )

Nalgumas intervenções parece transparecer que eles tivessem sido edificados por volta de 1970/71.

Pedia-te pois o favor de me forneceres os endereços (aqueles que souberes ) dos camaradas Batata, Abílio e Parracho.

Um destes dias vou-te pedir os restantes.

Ainda não consegui estabelecer contacto com o Cor Coutinho e Lima.

Continua ainda o mistério da CCAÇ 495, mas estou a tentar obter informações. O Ten Cor Aniceto Afonso disponibilizou-se para me ajudar. (Em Fevereiro próximo deixa o Arquivo Histórico Militar, com grande mágoa de muitos dos que com ele conviveram e trabalharam).

Um abraço

Nuno Rubim

3. Comentário de L.G.: Infelizmente, ainda não consegui tempo para fazer os contactos que o Pepito me pede. Pode ser que algum dos nossos amigos e camaradas dê entretanto mais uma ajudinha...

Em contrapartida, descobri - vagueando pela Net - mais um camarada que esteje em Guileje até ao 1º trimestre de 1973, embora desconhecendo a sua unidade: trata-se do Antonio da Cruz de Sousa, natural de Ninho do Açor, Fundão, irmão de Manuel da Cruz de Sousa, que anima um blogue, dedicado à sua terra > Ninho do Açor, freguesia de Castelo Branco. O Manuel Sousa, professor prfimário, matemático, astrónomo amador, historiógrafo, folclorista, latinista, especialista de descida de rios em kayak, etc., é ainda autor de vários blogues, além daquele:
Amen dico vobis
Gente da minha terra

Vanitas Vanitarum

Com a devida vénia, reproduzo alguns excertos do post de 26 de Janeiro de 2006 > António da Cruz de Sousa - "Quando a terra treme"
Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1973 > Foto do António da Cruz de Sousa, cujo posto se desconhece. Especialidade: transmissões. Deverá ter estado na Guiné em rendição individual (1971/73). Mas em que unidade ?

Foto: Manuel da Cruz de Sousa (2006), autor do blogue Ninho do Açor (com a devida vénia...)


"A minha geração, senhores, andou na guerra...

"Quando remexia nos papéis do meu arquivo, descobri uma velha foto do tempo da guerra colonial. A dita foto, reproduzida ao lado, retrata o meu irmão quando se encontrava na Guiné a cumprir o serviço militar.

"Numa época em que muitos portugueses desertavam ou davam o salto para o estrangeiro, a fim de se esquivarem à guerra, este nosso conterrâneo levado por um espírito quixotesco de aventura, cometeu a intemeridade de se oferecer como voluntário para a Guiné, a província ultramarina onde a situação político-militar era mais grave.

"Quem se ficou a rir foi um seu camarada do regimento de transmissões do Porto que estava mobilizado para aquele teatro de operações, cuja comissão o meu irmão foi cumprir em sua substituição a troco dum prato de lentilhas, permitam-me a expressão bíblica.

"Depois de um breve périplo por Bissau, Teixeira Pinto, Nhacra e Catió acabou por ir parar a um cu de judas chamado Guileje, um aquartelamento no sul da Guiné, junto à fronteira com a Guiné-Conacri. Guileje gozava de má fama entre a tropa. Era uma espécie de couto de homiziados para onde o general Spínola despachava as companhias mais aguerridas ou então os militares punidos disciplinarmente, cuja transferência para aquela zona correspondia assim a uma espécie de degredo. Compreende-se porquê. Guileje era um lugar mítico considerado por muitos como a posição mais martirizada e mais isolada em toda a Guiné.

"O alferes de transmissões João Tunes, que se encontrava na sede do batalhão, em Catió, quase todos os meses ia lá passar uma semana, 'a fim de trocar os códigos das cifras da criptografia' e conta como era difícil encontrar um piloto da força aérea que estivesse disposto a levá-lo lá. Numa das suas viagens faz uma descrição muito impressiva da paisagem, referindo 'as matas luxuriantes de verde intenso, atravessadas por enormes e serpenteantes cursos de água.' A chegada ao destino descreve-a assim: 'As palmeiras da periferia do quartel de Guileje perfilaram-se na frente do Dornier. À frente delas, distinguia-se o que parecia ser um quartel em estado degradado e meio despedaçado com uma bandeira portuguesa comida pelo sol e rota nos cantos, içada no meio dos casinhotos.'

"Conta ainda que os soldados, de 'rostos fechados e olhares distantes', nem pareciam pessoas, 'mas ratos metidos dentro duma ratoeira, destinados a apanhar porrada' ou 'um bando de humanóides sem vontade de viver.' E mais adiante conclui: 'Os militares de Guileje sentiam-se mais perto de outra vida que da vida vivida. Os que não estavam malucos por lá andavam perto.'

"O que valia àqueles infelizes eram os seis abrigos subterrâneos para onde se precipitavam sempre que havia festival, isto é, bombardeamento. Os morteiros e os RPG 7 (lança granadas-foguete) eram armas especialmente temidas e com potencial para provocar numerosas baixas, mas acontece que os turras nem sempre eram muito precisos no que respeita à pontaria, caso contrário seria uma desgraça. (Mais tarde viriam a corrigir essa falha colocando vigias na copa das árvores para orientar o tiro da artilharia.) Para fazer face aos ataques inimigos as nossas tropas contavam principalmente com morteiros 11,4 e obuses 14, além de campos de minas anti-pessoal à volta do quartel, o que dissuadia os guerrilheiros mais temerários de ultrapassar o arame farpado assim à primeira…

"O troar dos canhões

"Enquanto o meu irmão esteve em Guileje o quartel era atacado com frequência , mas normalmente não havia baixas mortais.

"Os abrigos subterrâneos, dum modo geral, constituíam uma boa protecção além de que os nossos morteiros e obuses chegavam e sobravam para eles. Não obstante esta relativa segurança, tal não impedia que uma vez por outra houvesse cenas de verdadeiro pânico. Certa vez a malta tinha acabado de se sentar no refeitório para almoçar quando, de súbito, os RPG 7 estoirando no ar projectaram uma saraivada de estilhaços sobre os telhados de zinco que pôs tudo em debandada. A maioria dos sitiados precipitou-se para os bunkers de coração aos pulos e com calafrios na espinha, enquanto à superfície um punhado de bravos respondia ao fogo inimigo com o troar das nossas armas pesadas, num frémito que fazia tremer o chão.

"Um cabo escriturário tremia como varas verdes e chorava como uma mulher. Quando o ataque cessou, ainda mal refeito do susto, disse com voz emocionada: - Foda-se, não sei como há chicos que escolhem esta vida!

"Dentro do abrigo ressoou uma gargalhada geral. O ambiente no quartel decorria com um certa normalidade quando, no primeiro trimestre de1973, o nosso conterrâneo recebe uma guia de marcha para se apresentar no Quartel-General, em Bissau. Avizinhava-se o tão ansiado regresso à metrópole" (...).

__________

Notas de L.G.:

(1) O Armindo Batata foi Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70). Vd. post de 28 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCX: Ex- Alferes Miliciano Batata (Guileje e Cufar, 1969/70): Pel Caç Nat 51, presente!


(2) Vd. post de 7 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1408: Vamos salvaguardar a(s) nossa(s) memória(s), apoiando a Liga dos Amigos do Arquivo Histórico Militar (Luís Graça / Nuno Rubim)

(3) O Samúdio (dos Gringos de Guileje) diz que foram feitos pela Engenharia, por volta de 1966/67: vd. post de 18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

(...) "Sobre uma questão que foi posta - se a engenharia esteve em Guileje -, posso garantir que esteve. Além dos abrigos feitos artesanalmente com aqueles troncos de árvores e chapas dos bidões, existiam pelo menos quatro abrigos que se constava serem à prova de 122 perfurante, construídos pela engenharia.

"Não foram construídos no tempo dos Gringos (Guileje, 21 de Novembro de 1971/ 22 de Dezembro de 1972), nem na companhia de madeirenses que nos antecedeu [, CCAÇ 3325 Jan 1971/Dez 1971] e o aspecto deles era bom.

"As companhias em Guileje estavam, no máximo treze meses, pelo que os abrigos construídos pela engenharia devem ter sido construídos em 1966/67" (...).

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