terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1522: Bissau em estado de sítio por causa dos graves incidentes entre paraquedistas e fuzileiros em Janeiro de 1968 (Álvaro Mendonça)

Mensagem do Álvaro Mendonça (1):

Gostaria de saudar o Carmo Vicente, pelo magnífico texto que descreve essa bárbara como estúpida batalha campal entre páras e fuzos (2). Recordo-me, com mágoa, dessa trágica noite de Janeiro de 1968, muito embora não tivesse assistido ao desenrolar dos acontecimentos porque me encontrava de serviço (sargento de dia) no edifício sede da Manutenção Militar, não muito longe do quartel dos fuzileiros.

O que diz Carmo Vicente corresponde fielmente aos relatos que, no dia seguinte, me descreveram aqueles que viveram de perto essa luta fratricida. Falava-se de facto de correntes de bicicletas, de braços premeditadamente engessados, de cinturões, de cabos de aço, de bastões e de tudo o mais que servisse de instrumento de agressão. Só nunca ouvi falar nem do arremesso da manga verde, que serviu afinal de rastilho para o que viria a suceder depois, nem tampouco do célebre Oitenta [, 1º cabo enfermeiro, paraquedista].

Havia quem dissesse que as rivalidades entre militares de diferentes armas, sobretudo as chamadas armas de elite, serviriam alegadamente para emular um espírito de luta com vista às melhores performances no teatro das operações. Se assim era, ninguém o poderá afirmar. O que é certo é que a pacata cidade de Bissau viveu, por momentos, um autêntico e desgraçado estado de sítio, com dois mortos e feridos a lamentar.

A esse propósito, lembro-me também de o comandante militar, cujo nome não me ocorre agora, ter decretado o recolher obrigatório, logo após essa luta sangrenta. Deplorável é que tudo isso tenha acontecido a pretexto de um torneio desportivo e do consequente desencadeamento de paixões que serviram afinal para acicatar perigosas animosidades de trágicas consequências.

Falo disto apenas por ter acontecido dois meses antes do meu regresso.

Um abraço

Álvaro Mendonça
(ex- Furriel Mil,
Manutenção Militar,
Bissau, 1966/68)

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post anterior > 13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1521: Fotobiografia de Bisssau (1): Álvaro Mendonça

(2) Vd. post de 11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)

3 comentários:

Henrique Paulino disse...

Eu sou o Henrique Serrão,sou novato nestas andanças,foi à poucos dias que descobri todo este trabalho do Luis Graça e camaradas.Estava neste momento a ler algumas mensagens e descobri uma que tinha a ver com a zaragata dos fusos com os páras,eu estava lá. Queria dizer ao companheiro Álvaro Mendonça que estes acontecimentos tiveram lugar no dia 3 de Junho de 1967 e não em Janeiro de 1968 como o meu amigo escreve no seu texto. Diz muito bem que os párafusos eram amigos, mas meia dúzia de arrruaceiros conduziram-nos aquele confronto do qual resultou a morte de companheiros de armas

Henrique Paulino disse...

Queria esclarecer que está a aparecer na minha mensagem Henrique Paulino e Henrique Serrão na verdade o meu nome é Henrique Paulino Serrão, só que por vezes sai o Paulino em primeiro lugar, para o facto peço as minhas desculpas

Anónimo disse...

O então IN não precisava de nos combater, uma vez que nos combatíamos a nós próprios.