sexta-feira, 29 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquinos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)


Guiné > Região Leste > Bambadinca > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 > 1969 ou 1970> O Jorge Cabral e as suas queridas bajudas mandingas... E a propósito, diz ele nesta estória nº 25, a baixo transcrita: "Contaram-me que uma bajuda que tivera um filho do Furriel X, o seguiu até Bissau, e na hora da partida do navio entrou na água com o bebé, tendo morrido ambos. Então jovem e ingénuo literato, cheguei a alinhavar uma ópera, na qual imaginava o militar em pranto, a querer lançar-se ao mar e a ser impedido pela força das armas" (JC)…

Foto: © Jorge Cabral (2006). Direitos reservados


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Fá Mandinga > 1969 ou 1970 > "O 1º Cabo Monteiro. Às costas um pequenino Alfero Cabral " (JC)...

A par da imensa tragédia que foi (com perdas e danos irreparáveis), a guerra da Guiné foi também palco (hilariante) de muitas peças do Teatro do Absurdo (envolvendo as NT, o IN, os nossos oficiais superiores, os nossos camaradas, a população local)... Jorge Cabral é um dos poucos, da nossa Tabanca Grande, que tem o engenho e a arte de nos conseguir falar (e comover), com um subtil toque de humor, de maneira descomplexada, das nossas relações com as mulheres locais (2)...

As estórias cabralianas são já um caso (sério) de sucesso, de popularidade, entre o pessoal da Tabanca Grande... Espero que o autor nos brinde, ainda antes das férias judiciais ou escolares, com essa fabulosa estória da compra, num grande armazém de Lisboa, de trinta e muitos sutiães, todos do mesmo número, que ele levou consigo, na bagagem, de regresso a Fá Mandinga, para oferecer às suas queridas bajudas, da primeira vez que veio passar férias à Metrópole... Mas não se pense, malevolamente, que ele tinha um harém: há muitos mitos a desmontar acerca do Cabral (e Cabral só há um, o de Fá e mais nenhum)... Na estória de hoje, ele vem de certo modo desmentir-se, a si próprio, ao escrever: Cabrais há muitos, e Cabrões ainda mais!...(LG)

Foto : © Jorge Cabral (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem de ontem do Jorge Cabral: Amigo, Aí vai estória! E como sempre, Aquele Abraço. Jorge

2. Estória nº 25 da série Estórias Cabralianas.

Autor: Jorge Cabral,
ex- Alferes Miliciano de Artilharia,
comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá,
Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71.



DOS AMORES, DOS PEQUENINOS ALFEROS CABRAL E DO FALSO FILHO

por Jorge Cabral (1)

E o Amor, existiu? Não falo de mulheres grandes a partir catota, nem de bajudas a partir punho, e muito menos das rápidas e alcoolizadas visitas às casas de prazer, para... mudar o óleo.

Amor mesmo, paixão, dele para ela, dela para ele. Difícil, raro, mas aconteceu. Contaram-me que uma bajuda que tivera um filho do Furriel X, o seguiu até Bissau, e na hora da partida do navio entrou na água com o bebé, tendo morrido ambos. Então jovem e ingénuo literato, cheguei a alinhavar uma ópera, na qual imaginava o militar em pranto, a querer lançar-se ao mar e a ser impedido pela força das armas…

Por mim tive duas namoradas, a Modji Daaba, da qual já falei em prosa e verso, e a Mariama Djaló. Dois amores… E nenhuma loira, nem morena… Ambas negríssimas e muito belas. Filhos, julgo que não. Convém aliás matar de vez os boatos que então circulavam.

A certa altura, não sei bem porquê, as mulheres começaram a dar o meu nome aos filhos e, em pouco tempo, abundavam os pequeninos Alferos Cabral. Obviamente que as confusões e os equívocos surgiram. Depois de passear comigo na Tabanca, um Alferes garantia, no Bar dos Oficiais de Bambadinca, que o Cabral só em Fá Mandinga tinha mais de vinte filhos. E pior ainda, um soldado periquito em Missirá, foi acordar o Branquinho porque, estando eu de férias, ouviu as mulheres aos gritos:
- Alfero Cabral muri! Alfero Cabarl muri!

Por tudo isso não me surpreendeu o telefonema que, há cerca de cinco anos, recebi. Um guineense informava ser meu filho. Porém ele voltou a telefonar, dizendo que era a minha cara, nariz e olhos iguaizinhos, e quanto ao corpo, toda a Tabanca concordara, parecia mesmo o Cabral.

Confesso ter ficado preocupado. Um filho–homem na idade de ser avô… Mandei-o vir ao escritório, e logo que o vi, suspirei de alívio. O vigoroso mulato tinha quase dois metros, e… olhos azuis! Quanto ao local e à data de nascimento também não condiziam.
- Filho, não és! Serás primo! - afiancei-lhe.

É que Cabrais há muitos, e Cabrões ainda mais!...

Jorge Cabral
_______

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1857: Estórias cabralianas (24): O meu momento de glória (Jorge Cabral)

(2) Convenhamos que o tema, se não é tabu, também não se presta muito a confidências na praça pública (incluindo a blogosfera)... Por puodr, no bando dos machos que já foram dominantes, não se fala muito das velhas proezas amorosas ou simplesmente sexuais... Mesmo assim, o tema já inspirou alguns dos nossos melhores prosadores... E até temos três ou quatros textos de antologia sobre as nossas bravatas sexuais e os nossos (des)amores: eu por exemplo, seleccionaria logo dois, o do Vitor Junqueira e do Virgínio Briote (a bold)... Falo aqui, não como editor, mas simples leitor do blogue (se me for permitido esse privilégio de mudar de papel como quem muda de camisa, violando a regra da isenção e da equidade)...


31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação (Vitor Junqueira)

3 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1490: Favores sexuais furtivos em Mampatá (Paulo Santiago)

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1484: Estórias de Bissau (10): do Pilão a Guidaje... ou as (des)venturas de um periquito (Albano Costa)

1 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1483: Blogoterapia (16): Males de amores ou... Tenho um lenço da minha lavadeira ali guardado na gaveta (David Guimarães et al)

31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1476: Blogoterapia (15) : Mulher tua (Torcato Mendonça)

24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)

11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)

20 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P974: Estórias cabralianas (12): A lavadeira, o sobretudo e uma carta de amor

4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P936: Estórias cabralianas (11): a atribulada iniciação sexual do Soldado Casto

18 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLV: Teresa: amores e desamores (Virgínio Briote)

17 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 -DXLVI: Estórias cabralianas (5): o Amoroso Bando das Quatro em Missirá

12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLIV: A galeria dos meus heróis (3): A Helena de Bafatá (Luís Graça)

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