domingo, 15 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1955: 300 mil, vítimas de stresse pós-traumático de guerra: estude-nos depressa, doutora (Virgínio Briote)

1. Excerto de artigo publicad0 hoje no Diário de Notícias ("Guerra sem fim")


(...) Continuam em combate trinta anos após o fim da guerra colonial. À noite, são assolados pelas imagens de morte e chacina e, de dia, perpetuam o medo e a angústia. Vivem mal com eles próprios e com os outros. Uma equipa coordenada pela psicóloga Ângela Maia, tentou saber quem são e como vivem hoje os ex-combatentes. Concluiu que, no mínimo, 300.000 homens poderão estar profundamente doentes e abandonados à sua sorte. (...)


2. Comentário do co-editor Virgínio Briote:

Toca-nos a todos. Não ficou nas matas e bolanhas da Guiné. Veio connosco nos Uíges e Niassas, pôs os pés em terra na Conde de Óbidos, entrou nas nossas casas. Muitos dos nossos pais, das nossas mulheres, dos nossos filhos, sentiram que havia algo em nós que não batia certo. Um assunto a continuar a debater, até que já não haja vestígio de ex-combatentes.

vb

1 comentário:

Mário disse...

Caro Briote, as tuas sábias palavras, são a sumula em que se revela a existência deste país. Não deve ser minha a frese, mas eu escrevia: "Quem entra numa Guerra já mais sairá dela". E é verdade!
Só que aqueles que por qualquer motivo resistimos, ou não fomos tocados, por essa psicótica bactéria, temos a foça e talvez o saber de ajudar esses nossos queridos abandonados camaradas. Queridos!... Sim... porque só nós sabemos conviver e falar com eles. _Agradecidos e reconhecidos aos pioneiros que levantaram o problema do stresse_ Permite-me que te faça uma narração de um nosso camarada meu amigo _irmão_. Não irei revelar algumas pessoas intervinientes como é óbvio, mas se for necessário fa-lo-ei para ver como esses incógnitos trezentos mil, foram abandonados.

António Pedro, foi mobilizado para servir o seu País, nas bolanhas, matas e pântanos da Guiné. Com os seus vinte e um anos era já um homem impecável, respeitado e respeitador, era um rapaz aquilo que nós vulgarmente chamamos de "Exemplar".
Agora aquilo que o vi fazer: rastejar debaixo de fogo e ir buscar os camaradas feridos à zona de morte em emboscadas.
Natural pois no seu peito foi colocado um símbolo (Cruz de Guerra).
Voltou á sua terra e tornou-se um homem de valor. Mas!... próximo dos cinquenta anos aparereceram os problemas!
24 de Dezembro de 2000 pelas 00H30 o meu telefone toca. Do outro lado reconheço a voz: "_Mário perdi o cinturão e carregadores e não sei dos meus homens!"
Senti que tinha de voltar à "MERDA".
Falei com ele como se estivesse enterrado nas matas que cheiravam a morte.
Passados vinte minutos, uma voz femenina e delicada agradeceu. Calmamente o António Pedro tinha ido para a cama.
Pouco sei do que esta senhora e filhos teriam sofrido.
A mim doeu-me quando em 12 de Agosto de 2003 o telefone tocou, e a mesma voz femenina e de dor me informou:
_O António Pedro morreu hoje! Tirou o carro da garagem, subio as escadas para se despedir de mim e dos filhos, e caiu na minha frente.
A sua Pátria nem uma flor depôs na urna daquele PORTUGUÊS.
Amigo se quizeres podes publicar porque infelizmente não é caso único.
Mário Fitas