quarta-feira, 4 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1921: Pensar em Voz Alta (Torcato Mendonça) (6): Vidas, tantas vidas!

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > 1968 > Fotos Falantes II > 31 > Alf Mil Torcato Mendonça e o seu papagaio amestrado.

Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.



O 1900, por Torcato Mendonça

Caro Luis Graça: Lembrei-me de te dar os parabéns (1). Os dias passam, os assuntos empurram-me de um lado para o outro e nada. Hoje li o post do jovem, transportado, quando tinha dez ou onze anos até ao Ultramar (2). Pois é, pois é… daqui se conclui que, se a História tivesse sido bem ministrada, hoje, os que lá não foram, teriam uma visão diferente. Repito-me mas digo: nós (povo português) nunca fizemos o ajuste de contas com o passado. Mesmo com o que se passou após o 25 de Abril. Por isso estamos como estamos. Não é qualquer tomada de posição politica. Isto é transversal a toda a sociedade; concordemos, discordemos, sejamos indiferentes. Procuro escrever do modo mais simples possível, não tomar qualquer posição aqui (é-me estatutariamente vedado). Só que, a memória está a ser relatada de forma diversa, em busca da verdade, com tolerância, de forma aberta e despretensiosa. Pode haver excepção. Claro, se há regra… mas cada vez há mais pessoas, mais gentes a lerem, a informarem-se, a reflectirem sobre o tema. Não sinto qualquer complexo em pertencer á geração dos últimos Guerreiros do Império, para uns ou aos tipos que entregaram as Províncias Ultramarinas ou uma parte da Pátria ao inimigo. Admito e respeito as posições. Mesmo as provenientes do raciocínio do absurdo.

Assim:

1º- Recebe os meus parabéns pelo post 1900 (já vai no 1914) e pelos 300 Mil visitantes (hoje 30 mil e seiscentos; mais de mil/dia!? (1). É obra meritória, pelos temas abordados ou tratados e, principalmente para que a verdade seja reposta. As memórias, nas diferentes maneiras de ver e recordar o passado, são descritas por quem as viveu. Está este Blogue a fazer memória futura. Renovo os parabéns!

2º- O trabalho do Editor, do Carlos Vinhal, de outros colaboradores mais directos tem sido fantástico. Seleccionar, tratar, publicar n textos e fotos diariamente é um trabalho de loucura. Só encontrei, melhor, fizeram encontrar-me o site, há um ano e pouco. Sinto contudo as diferenças. Além disso quem esteve em África, de um modo geral, não esquece a terra, os cheiros, as Gentes e a magia gerada que, a nós Europeus, ao princípio se estranha mas depois se entranha (como outro dizia) para sempre.

3º- O Jorge Cabral (3). São textos magníficos, são obras de arte em crítica com bonomia, com humor, com alívio de tensões a uma guerra estúpida, como todas, que é aqui relatada, a maior parte das vezes com um dramatismo enorme, real contudo, que nos transporta facilmente ao passado então vivido naquela terra. Ele viveu igualmente mas, com os seus escritos, alivia tensões, alegra-nos e, por momentos encaramos a realidade de outra maneira. Se estiveres com ele, dá-lhe um abraço meu, um bem-haja pelo que escreve. Eu leio e releio. Ele disse-me, em Pombal, que meia Tabanca de Fá está na periferia de Lisboa. Quantos Cabrais andarão por lá… se calhar…? Brinco… só que o meu desejo é continuar a ler os escritos do Homem de Fá.

4º- Uma das riquezas deste site, além dos temas tratados, é a diversidade, a diferente forma de descrever, quantas vezes a mesma situação. Os posts, a bold, são óptimos e tão diferentes. O Vitor Junqueira (4) tem uma forma forte e vigorosa de escrever. Deu-me com este texto, disse-o na altura, o conhecer um homem diferente do que, até aí, imaginava. O Virgínio Briote (5) com este texto fez-me parar no tempo, voltar a um passado, não da Guiné, mas talvez com ela relacionado. Depois de o ter lido, fiquei quieto a mente a retroceder… depois abri as Minhas estórias do José, procurei a Matilde, nome fictício, porque o Briote falava nesse nome, li o que escrevera então e, como não tenho a certeza, envio-te para, se um dia tiveres dois minutos, passares os olhos.

Há vidas … há tantas vidas! Perdemos parte dos nossos verdes anos, dos nossos amores e desamores. Talvez tenhamos perdido algo mais e, porque não, ganho também qualquer coisa.
Breve nota - Li agora o 1916. O Leopoldo Amado (6) merece o meu respeito, admiração e fiquei tremendamente feliz com o seu Doutoramento. Por ele, por quem lhe é querido, por todos os meninos das Tabancas do meu tempo. Por aquele Povo, pelo meu Povo, pois com ele a História será o relato em verdade do que se passou, principalmente entre 63/74.

SÓ. Simplesmente SÓ isto.

Torcato Mendonça

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Notas de L.G.:

(1) Vd.post de 1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1905: Blogoterapia (22): Mais de 1900 posts, mais de 300 mil visitas (Luís Graça / Carlos Vinhal)

(2) Vd. post de 25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1881: Estórias de vida (1): N.R., aliás, Nuno Rodrigues, nascido em 62, filho de sargento do BCP 12, aluno do liceu Honório Barreto

(3) Vd. post de 29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquinos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)

(4) Vd. post de 31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação (Vitor Junqueira)

(5) Vd. post de 18 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLV: Teresa: amores e desamores (Virgínio Briote)

(6) Vd. post de 3 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1916: Álbum das Glórias (16): O Doutor Leopoldo Amado... ou a segunda derrota de Spínola (João Tunes)

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