quarta-feira, 18 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1969: Tabanca Grande (26): Mansoa, 33 anos depois (Germano Santos / Amílcar Mendes)

1. Mensagem de Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832, dirigida ao Amílcar Mendes (ex-1º Cabo da 38.ª CCmds, Brá, 1972/74

Amílcar:

Quando te escrevi no outro dia, não duvidava minimamente que tu eras quem eu pensava. Porém, a prudência aconselhou-me a entrar com alguma reserva.

Devemos ao blogue este reencontro, 33 anos depois. É deveras excepcional o que a Internet hoje em dia nos permite, mas sempre com a interacção dos homens, neste caso do Luís Graça.

Conheci-te através da tua irmã Celeste, cujo conhecimento, para o caso de não saberes ou não te lembrares, nasceu nas colunas do extinto Diário Popular. Eu era amante da filatelia, e a propósito de trocas de selos acabei por estabelecer contacto com a tua irmã. Teria eu cerca de 16 anos: Como o tempo passa!...

Após ter-te escrito no outro dia, comecei a pensar na tua família, nos teus pais e nas tuas irmãs. Tentei recordar-me de nomes e encontrei estes, confirma-me se estou certo. Dos teus pais não me lembro os nomes, mas das tuas irmãs lembro-me da Mila, Bia e Céu. Falta-me uma, mas não me lembro.

Como estão todos ?

A francesa era portuguesa, vivia, porém, em Paris. Estou divorciado dela, mas temos um filho em comum, hoje com 33 anos de idade.

Já não me recordo como chegaste a Mansoa vindo de Guidaje, mas lembro-me quando chegaste a Mansoa - periquito -, pois eu já estava lá há uns tempos. Lembro-me que no dia em que vocês chegaram terá morrido um camarada teu que estava na caserna a limpar a arma. Eu estava na enfermaria e ouvi um tiro na caserna onde vocês foram colocados; quando lá cheguei vi a cena final, ele esqueceu-se de tirar a bala da câmara. Recordas-te disto ?

Vais, então, escrever sobre o terrível Morés. Nunca lá fui dentro, mas sei de cenas lá ocorridas que são quase que indescritíveis. Tenho alguma relutância em contá-las.

Espero que não leves a mal o envio de cópia deste mail para o Luis Graça, mas não é todos os dias que dois amigos se encontram ao fim de 33 anos, e ele é o responsável por isso.

Hoje fico-me por aqui. Responde-me e continuaremos o rol das saudades.

Diz-me como estás de saúde e o mais que queiras.

Um abraço grande

Germano Santos

2. Mensagem anterior do A. Mendes, enviada ao camarada Germano Santos:

Sou o Amilcar Mendes, ex-1º cabo da 38ª Companhia de Comandos. Estivemos juntos em Mansoa. Vou te avivar a memória: sou irmão da Celeste e casaste com a francesa com quem nos correspondíamos os dois. Lembras-te como eu cheguei a Mansoa quando vim de Guidaje?

Um grande abraço do Amílcar Mendes

PS - Estou no blogue desde o seu início. Um dia destes vou escrever sobre o Morés.

3. Comentário de L.G.:


Germano e Amílcar: Afinal, a blogosfera é mesmo uma tabanca grande... Eu acho que vocês estavam condenados a (re)encontrar-se. Fico feliz, ficamos felizes, por tal ser possível através do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Quem disse que isto era uma caixa de Pandora, donde só poderiam sair fantasmas, pesadelos, diabos e diabretes ? Pelo contrário, tem sido uma caixa de grandes surpresas e emoções para todos nós...

PS - Desculpem se infrigi uma regra, que é a do respeito pela privacidade de cada um de vós, de cada um de nós. Mas esta estória (como todas as estórias com final feliz, como são as dos reencontros) merece ser partilhada na nossa caserna, entre todos. Entendi que o Germano me dei luz verde, e que o Amílcar não se opunha. Se mudarem de ideias, digam, que a gente num minuto desmonta a tenda.

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