sábado, 17 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2275: Estórias avulsas (11): Saídas frequentes para o mato (Albino Silva)

Albino Silva,
ex-Soldado Maqueiro,
CCS/BCAÇ 2845
Teixeira Pinto,
Jolmete,
Olossato,
Bissorã,
1968/70


Começaram as saídas frequentes para o mato

Teixeira Pinto era um Sector bastante difícil, porque era de lá que se abastecia quase sempre, e através de Escoltas, vários destacamentos, designadamente, Có, Pelundo, Jolmete, Bachile, Bassarele, Cacheu e Caió.

As colunas faziam-se em itinerários complicados devido à acção do IN que minava as estradas e abria buracos enormes pela acção de rebentamentos, e só com o apoio do Héli-canhão e Bombardeiros é que se conseguia chegar ao destino.

Por isso e devido à escassez de Enfermeiros, a partir de certa altura da comissão, era a CCS do BCAÇ 2845 que fornecia às outras Companhias, sempre que requisitado, o pessoal do Serviço de Saúde. Havia uma Escala na Enfermaria, mas quase sempre me tocava a mim a alinhar, talvez porque o meu número era baixo ou então por começar na letra A, sei lá.

Se foi verdade que durante sete meses nem do Quartel saí, a partir dessa data fui o que mais vezes saiu, na minha Companhia, como já disse a CCS.

Era o apoio de camaradas operacionais que me encorajavam e faziam com que eu fosse perdendo o receio e que aos poucos me fosse habituando a andar pelo mato.

Entre outras saídas, participei em acções de psico com camaradas da CÇAC 2368 que era do meu Batalhão, bem como em outras missões onde tinha contacto com a população no exterior, dando assistência sempre que era necessário e nisso tinha orgulho e até sentia vaidade.

Alinhei com um pelotão da CCAÇ 2313 em missões de reconhecimento, escoltas, picagens de estrada e até na capinagem, na estrada de Teixeira Pinto-Cacheu, logo após a Ponte Alferes Nunes, entre Teixeira Pinto e o Bachile.


Foto 1> Guiné> Ponte Alferes Nunes entre Teixeira Pinto e Bachile

A minha primeira participação em escoltas foi com o pelotão da CCAÇ 2313 aquartelada em Teixeira Pinto, e para o Bachile, com a duração de 7 horas sem problemas.

No dia 11 de Abril de 1969 participei noutra para Jolmete com a duração de 6h30 sem haver contacto nem se ter encontrado vestígios.

Foto 2> Guiné> Jolmete> Aquartelamento

Em 27 de Maio de 1969, participei numa escolta com o itinerário Teixeira Pinto-Jolmete-Teixeira Pinto, que teve a duração de 8 horas e segurança montada pela CCAÇ 2585, recentemente chegada a Jolmete, e por um pelotão da CCAÇ 2313 onde eu ia integrado. Tratava-se de uma escolta de reabastecimento à CCAÇ 2585, em Jolmete desde 17 de Maio 1969, e para transporte da CCAÇ 2366 que deixava Jolmete e regressava a Teixeira Pinto, de onde partiria para Bissau e depois Quinhamel.

Nas primeiras horas, cerca das 9 da manhã, foram encontrados detonadores de minas anti-carro numa curva da estrada e em zona onde já tinham havido emboscadas, mas devido à presença das NT, não chegaram a montar nenhuma mina, tendo o IN refugiado-se na mata, que por acção do Héli-Canhão e Bombardeiros que batiam a zona, a escolta não teve problemas. Tanto a CCAÇ 2366, como a CCAÇ 2313, onde eu me integrava, regressaram a Teixeira Pinto.

Momentos depois e já dentro do Quartel, chega a informação via rádio que na CCAÇ 2585 também já dentro do Quartel em Jolmete, tinha havido um acidente com arma de fogo que causou as seguintes baixas:

Feridos graves evacaudos para o HM 241

1.º cabo - 19983868 - Francisco Inácio da Paz
Soldado - 15606668 - José Martins de Almeida
Soldado - 18119468 - António Antunes Lopes
Soldado - 18457168 - Henrique Pinto Araújo
Soldado - 18450068 - António Fernandes Barbosa, que viria a falecer pouco depois
Soldado Mil - 50/67 - João da Silva - PEL MIL 128

Nós que tínhamos feito a escolta com eles, ficamos muito chocados com este triste acontecimento, pois sabíamos que iria ser bastante difícil levantar o moral daqueles camaradas que choravam a morte do camarada morto, que não sendo em combate complicava mais a situação. Sabia-se que o descuido por vezes era fatal e infelizmante eram muittos os casos.

Lembro-me ainda do dia em que o Comandante do Batalhão visitou o Pelundo.

O Comandante tinha ido ao Pelundo para participar no funeral de um Soldado Milícia. Terminadas as cerimónias, regressou a Teixeira Pinto para logo de seguida lhe ser comunicado que no regresso de uma acção de rotina nos arredores do destacamento de Pelundo, realizada pelo 3.º GCOMB/CCAÇ 2313 se tinha verificado, já no Aquartelamento, um acidente com arma de fogo (LGF 6 cm) de que resultaram as seguintes baixas:

Mortos:

Soldado - 04366267 - Orlando da Silva Lopes - CCAÇ 2313
Soldado Mil - 100/64 - Possu Djabu - Pel Mil 127
Soldado Mil - 104/64 - José Upá - Pel Mil 127

Feridos evacuados para o HM 241:

1.º cabo - 04556567 - Albino de Oliveira Coelho - CCAÇ 2313
Soldado - 04258467 - Custódio Videira Passos - CCAÇ 2313

Este foi o primeiro caso grave que vivi na Guiné em que tive de intervir com muita coragem. Desejei não mais ter de passar por situações semelhantes, pois era doloroso ver partir jovens como eu, na força da vida.

Albino Silva

Fotos e texto: © Albino Silva (2007). Direitos reservados.
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Notas de CV:

Vd. posts de:

3 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2236: Estórias avulsas (9): Um soldado que não queria sair do quartel (Albino Silva)

10 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2254: Estórias avulsas (10): 8 de Dezembro de 1968 - Dia da Mãe (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P2274: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (6): Luís Cabral, os assimilados e os indígenas (António Rosinha)

1. Texto do membro da nossa tertúlia Antonio Rosinha , enviado em 14 de Novembro de 2007 (1):

Assunto:
Luís Cabral na RTP, e os assimilados e indígenas

Luís, penso que nunca escrevi tanto em tão pouco tempo, como por tua causa. Primeiro, porque não tenho jeito, segundo porque não gosto.

Penso que nunca tive madrinha de guerra porque era preciso escrever. Peço-te que faças o melhor, quando vires alguma calinada embrulha e manda para o cesto.

Queria falar de uma pessoa, guineense, que vi governar e cumprimentei mais que uma vez, pois ele fazia questão de cumprimentar toda a gente, Luís Cabral. E de um assunto que ele abordou n[o 5º episódio da sére documental, de Joaquim Furtado] A Guerra, que é o assunto dos assimilados e indígenas (2).

Eu, que era um apolítico completíssimo, achava naturalíssimo na altura que uma pessoa que nunca tivesse calçado uns sapatos, que nunca tivesse vestido umas calças, nem pegado num lápis ou papel, deveria ter um estatuto diferente daquela que vestia e calçava como eu, embora os dois fossem negros. Depois das explicações na RTP, não percebi se era errado ou certo fazer a destrinça.

Luís Cabral falou em quarta classe e mais alguma coisa que não entendi bem, mas não sei se chegou a condenar ou a aprovar essa discriminação colonial.

Mas uma coisa eu posso afirmar: Ele, Luís Cabral, enquanto governante, não distinguia muito bem uns e outros, desde que fossem povo, e principalmente rapazes.

E o que vou dizer, sei que temos tertulianos que podem corrigir ou desmentir aquilo que me foi dado observar e que relato. Passou-se pouco antes de Luís Cabral ser deposto em 14 de Novembro de 1980:

Com a Independência, bastante fresca, todos os jovens afluíam a Bissau.. Trabalho a zero, desorganização a mil, qual a solução?

Muito facilmente o governo resolveu o problema: Grandes camiões Volvo à entrada das principais vias de acesso à praça... Logo pela manhã, umas dezenas de polícias de cacetete e armas de fogo, junto a cada camião, e lá iam os camiões carregados para uma esquadra perto do Alto Crim, de onde, com cunhas e alguns pesos, eu consegui tirar 3 ajudantes meus que não possuíam um documento em como trabalhavam para a Tecnil.

Isto é, aquele pessoal era recambiado para as tabancas de origem pois, quer fosse rural ou não, soubesse ler ou analfabeto, se não tivesse trabalho ia para a tabanca. Sem mais comentários.

Passados alguns tempos, Luis Cabral foi substituído. Para melhor? para pior? Melhor, sem comentários, tal a situação a que chegou a Guiné.

Luis, parece que a RTP, com o programa sobre A Guerra, não conseguirá sair do óbvio de há 30 anos para cá. Talvez dê para umas achegas nesta tertúlia.

Um abraço,
António Rosinha

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Nota dos editores:

(1) Vd. posts de:

22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2201: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (2): Eu estava lá em 1961 e lá fiquei até 1975 (António Rosinha)

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1358: Nostalgias (1): No cais do Xime, dois velhos Unimog pedindo boleia a algum barco (António Rosinha, ex-topógrafo da TECNIL)

29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)

(2) Vd. posta anterior desta série > 1 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2234: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (5): Os bons, os maus e os vilões (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P2273: E As Nossas Palmas Vão Para... (1): Sara Peres Dias e o seu microfilme Dizer a Guiné-Bissau em Três Minutos


Guiné-Bissau > Região de Tombali > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 21 de Outubro de 2007 > Em Iemberém, em plena zona de Cantanhez, onde foram criadas as primeiras regiões libertadas durante a luta pela independência da Guiné-Bissau, foi projectado o filme documentário de Diana Andringa e Flora Gomes As Duas Faces da Guerra [ estreado em Lisboa em 19 de Outubro de 2007].

Um numeroso público interessado e atento, muitos deles participantes activos dos dois lados do conflito, sentaram-se lado a lado a recordar o seu passado enquanto jovens envolvidos na guerra. No dia seguinte, em toda a tabanca esse foi o tema dominante das conversas.

Foto: © Victor Ramos / AD - Acção para o Desemvolvimento (2007)


1. Mail da Sara Dias, amiga do meu filho, que acaba de regressar da Guiné-Bissau, e que nos convida a ver um microfilme, de três minutos, que ela realizou... Vejam como a geração dos nossos filhos está a descobrir os valores da solidariedade e da cooperação, nomeadamente com a CPLP... Devemos também dar-lhe o nosso apoio e carinho (LG)

Mensagem da Sara Dias:

Gente della mia vita:

Ele há um vídeo que eu fiz aqui (1), que é muito curto muito rápido e é um mergulho na Guiné-Bissau .

Vão lá ver e se gostarem dele toca a votar que o prémio é bom e é para o ISU - Instituto de Solidariedade e Cooperação Universitária que foi quem nos mostrou e deixou conhecer este país bonito (2)

ijos, abraços e saudades

Sara


2. Microfilme:


Título: Dizer a Guiné em três minutos (Clicar aqui para ver o microfilme)
Autora: Sara Peres Dias
Data: 15/11/07
Duração: 2' 53''
Feito com: Máquina fotográfica

Sinopse: Ests são memórias ainda frescas de uma terra imensa, muito maior que trê minutos. Aui um mergulho pouco enxugado neste país de contrastes. Um país com a força das ondas que nos fica na pele como o sal. Depois de um banho de mar.

Vota neste vídeo

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Notas de L.G.:

(1) Sítio do Festival de Microfilmes de Lisboa

(2) Vd. também o blogue do ISU

Guiné 63/74 - P2272: As nossas (in)confidências sobre o Cupelom, Cupilão ou Pilão (Helder Sousa / Luís Graça)

Guiné-Bissau > Bissau, capital do país. Planta da cidade, pós-independência. O bairro do Cupelon fica(va) à esquerda da nossa conhecida estrada de Santa Luzia... Para os tugas, era o Pilão, tout court... Ainda espero vir a encontrar um Fado do Pilão para ombrear com o do Bairro Alto... (LG) 

 Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados. 

1. Mensagem do Helder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72): 

 Caro Luís: Se calhar é uma dúvida bizantina mas sempre a vou colocar .... Relativamente à Sondagem 2 o que é que é para concordar ou discordar, nas suas variantes graduais ? Se concordo que é verdade que nos era dito para não "ir sozinho à noite ao Pilão que os gaijos são todos turras" ou se era mesmo verdade que "não se devia ir sozinho ao Pilão, sobretudo à noite, por os gaijos serem todos turras"? 

 É que realmente a mim também me foi passada a "informação/recomendação", já não me lembro se foi coisa formal ou se foi por ser corrente entre as conversas da nossa malta, por isso, nesse sentido, terei que colocar a cruzinha na concordância. 

 Agora se é para corroborar a verdade que está subjacente às recomendações, já não posso concordar inteiramente porque cheguei a andar sozinho no Pilão (ou era Cupilão ?), embora essas visitas culturais e de prospecção etnográfica fossem feitas de dia, pois à noite (e cheguei a ir lá a um alfaiate que me fez umas calças com tecido que comprei por lá...) ia normalmente acompanhado e apenas em duas ou três ocasiões e para ir ao tal alfaiate. 

 Cumprimentos 
 Hélder Sousa 

2. Comentário do editor LG:

Helder, a tua questão é pertinente e muito mais pertinentes ainda são as respostas que tu próprio dás... de resto, com excelente sentido de humor... Com que então ias ao Alfaiate do Cupilão ?! 

 Comecemos pela dúvida mais simples: Cupilon, Cupilom, Cupelon ou Pilão ? 

No meu tempo (1969/71), eu dizia, nós dizíamos, Pilão... Na planta da cidade de Bissau, capital da Guiné-Bissau, que nos foi fornecida pelo A. Marques Lopes (vd. imagem no topo) , vem Cupelon (de Cima e de Baixo),na parte setentrional, ladeada à direita pela npssa conhecida Estrada de Santa Luzia... Cupelon é, pois, o terno correcto, em crioulo... Cupilão é um aportuguesamento... Pilão é uma corruptela... Mas era o termo mais frequente usado pelas NT... É a minha interpretação, claro. 

 Quanto à dúvida, de fundo, metodológica, tens toda a razão: a pergunta está mal formulada, não é clara concisa e precisa, como mandam os manuais... Cito o proxeneta (no norte, diria: azeiteiro) de um furriel miliciano fotocine que conheci na espelunca do Chez Toi

"Ao Pilão nunca vás sozinho, sobretudo à noite: os gajos são todos turras"... 

 Ao citá-lo, fi-lo intencionalmente como um mero estímulo, positivo ou negativo, para a nossa malta manifestar-se, escrever, opiniar, etc. O assunto, como sabes, é delicado. 

Eu tenho tentado pôr a malta a falar destas coisas ditas marginais do nosso quotidiano de guerra... A frase não é falsa nem verdadeira, mas é óbvio que contem duas ou até três proposições, o que a torna confusa ou, no mínimo, ambígua:
 - Ao Pilão nuncas vás sozinho [, porque é perigoso];
 - Ao Pilão nunca vás sozinho [, porque é perigoso], sobretudo à noite [, o que é ainda mais perigoso];
 - Os gajos [do Pilão, os chulos] são todos turras... 

 A fala do fotocine é primária, grosseira, racista, estereotipada, típica de um boçal representante de um exército de ocupação. Ora a verdade é que o Cupelon era um bairro popular, de gente séria e trabalhadora, habitada também por raparigas que fugiam da guerra (as guineenses) ou da miséria de Cabo Verde (, as caboverdianas, ditas pretas de 1ª )... e tiravam o partido possível da presença massiça de militares, uns em trânsito para o Vietname (mato), outros aquartelados em Bissau e arredores (malta do QG, tropas especiais...). 

 O Pilão era um mito... Alguns dos nossos camaradas - sobretudo os que estavam sedeados em Bissau e Bissalanca - até tinham lá os seus amores... Que eu saiba, nunca ninguém ficou lá sem a cabeça, embora alguns de nós a tenham perdido por lá... Pergunto: Quem não ficou lá pelo menos uma noite, vindo do Vietname (sic), em trânsito, na véspera da partida do avião para férias ou no regresso das férias ? Ou pelo menos, ido lá noite, desenfiado em Bissau, à procura de sexo ? 

 Julgo que o Pilão não era mais perigoso do que o Bairro Alto ou o Cais do Sodré, em Lisboa, naquela época... O que o tornava perigoso era o excesso de álcool da malta da tropa, da nossa tropa, que, às tantas da noite, andava a procura das verdianas ou pretas de 1ª (sic)... 

 Mas eu não sou o mais qualificado para falar do Pilão... Não sou sequer qualificado de todo: nunca lá vivi, falta-me a vivência, o conhecimento empírico... Confesso que passei lá uma noite. Por curiosidade e solidão. Fui lá com um alferes miliciano da CCAÇ 12, na véspera de ir de férias... Não tínhamos nada para fazer em Bissau, estávamos já apanhados do clima, com um ano de guerra pura e dura... E dois já formavam um... pelotão !... 

 Estávamos hospedados numa espelunca: se a memória não me atraiçoa, dessa vez era mesmo no Chez Toi... (onde, por sinal, um dia, já no final da minha comissão, me arrombaram a mala e fanaram-me uma das garrafas de uísque velho que eu levava; o gordo do dono acabou por pagar o prejuízo)... 

 Enfim, a noite no Pilão foi uma experiência deprimente, daquelas que se fazem, nos nossos verdes anos, apenas para experimentar e pôr no currículo... Passei a noite a ouvir a filha da cabo-verdiana a chorar... Às cinco da manhã, zarpei, com a morte na alma... 

 Por outro lado, é bom lembrar que somos da geração em que os jovens ainda se iniciavam nas casas de passe (ilegalizadas por Salazar em 1962) ou seus sucedâneos... Fomos educados dentro dos cânones da moral sexual dominante, a do Cardeal Cerejeira e do Dr. Salazar. 

O exército colonial, esse, era mais pragmático: os serviços de saúde militar na Guiné estavam bem fornecidos de caixas de pomada antivenérea (eram um luxo os preservativos!) e de penicilina!... Quem não apanhou uns milhões de penicilina na Guiné ? ! Aos vinte anos, e para mais na situação-limite que era a guerra, em todas as gerações, fazem-se pequenas loucuras só para transgredir os padrões da moral dominante... Ir ao Pilão fazia parte dos nossos rituais de transgressão... Ia-se até por bravata... Com mais medo ou menos medo, muitos de nós passaram por lá... E outros até - mais felizardos do que nós - tinham lá cama, mesa e roupa lavada... 

 Enfim, respondam à sondagem como quiserem... E sobretudo depois comentem, escrevam, mandem as vossas estórias! 
 ___________ 

 Nota de L.G.: 

 (1) Sobre o Pilão (ou Cupilão ou Cupelon), e as nossas (a)(des)venturas por lá, vd posts de: 14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça) 

(..) Quanto ao Pilão, como escrever-to ? É a grande tabanca, o grande muceque de Bissau, um verdadeiro gueto, um enorme abcesso putrefacto produzido pelo colonialismo e pela guerra, e onde frequentemente explodem as tensões raciais e étnicas. O Pilão é o lumpen… 

Daí as recomendações que te fazem ao chegares aqui - lembras-te ? -, à mistura com histórias mirambolantes, pouco ou nada verosímeis, de cabeças cortadas à catanada:
- Ao Pilão nunca vás sozinho, sobretudo à noite. Os gajos são todos turras. E com as verdianas, muito cuidado, menino, que as filhas da puta já nasceram todas esquentadas! - avisou-me um furriel fotocine, no Chez Toi, uma espelunca de 3ª classe com pretensões a night club, onde os tropas de galões dourados redescobrem o gosto civilizado do champagne francês (marado…), bebido com uma pin-up ao colo, como em qualquer bar rasca, de alterne, na Reboleira do J. Pimenta (...) 


Do meu diário: 14 de Agosto de 1972 > Um dia que nunca mais vou esquecer, pois o Crachá que recebi será o simbolo COMANDO até à minha morte. Foi uma cerimónia bonita com muitos copos, muitas fotos e de tarde fui para Bissau, direitinho ao Pilão, porque o corpo não é de ferro e a Antónia é um mimo. (...). 


Depois de acomodado no Cumeré, uma das minhas primeiras prioridades era vir à cidade encontrar-me com um colega que tinha a informação de estar na Manutenção Militar. E então, quando me encontrei com o velhinho, meu amigo, pedi-lhe para me levar ao Pilão, às bajudas... 

 Então lá fomos os dois, e no caminho fui avisado sobre os preços que na altura eram praticados: 
- Se for guineense, são 50 pesos; se for caboverdiana, são 100 pesos. 

 (...) Entretanto, a companheira furtiva, ao ver notas de 50 e 100 escudos, vendo que eu era periquito, pede-me 100 escudos... Aí eu disse: 
- Não, se quiseres são 50 escudos; se não quiseres, vou-me embora. 

 Ela disse que não, e aí eu vim embora a seco.O meu amigo. quando chego à beira dele tão rápido ficou admirado, e disse:

 - Já ?! ... Nem deu tempo para tirar a roupa!... Então, eu contei-lhe o sucedido e ele disse-me: 
- Fizeste bem, vamos a outro bar. Ora bares era o que não faltava no Pilão ou Cupilon... Eu respondi-lhe: 
- Agora já perdi a vontade, amanhã eu venho cá outra vez para saciar o desejo... 

E assim aconteceu. Cambiei os escudos por pesos, a diferença não era assim muito mas era alguma coisa, e lá fui com a caboverdiana por cem pesos. (...)


(...) E as escapadelas ao Bairro do Cupelon [ou Pilão], e as noitadas da cerveja e das ostras no Café Portugal? E as codornizes fritas do Zé da Amura? Que será feito do célebre Hotel Berta, onde se comiam os melhores gelados do Mundo? Mas o que mais me emocionou foi ver, através das fotos, o estado de ruína desta cidade de terra vermelha. 

Ao lembrar-me de tudo isto e ao escrever estas linhas não consegui travar algumas lágrimas. Sobretudo, porque à distância de quarenta anos no tempo, não mais consegui reunir todos os camaradas desse tempo, todos esses amigos que, como muito bem sabe, eram a nossa família de afinidade durante 24 os 25 meses de comissão. (...). 


Seguimos em direcção ao Pilão, com o Tomás a fazer uma condução à maluca. Falou numa cabo-verdiana que nenhum de nós conhecia, que ficaria perto da casa da Eugénia, essa conhecia eu bem. Corremos imensas ruas e ruelas do Pilão, eram tantos os saltos que o carro dava que o Rita já dizia estar a apanhar mais pancada que numa tempestade no mar. 

A determinada altura, uma das rodas do carro cai num buraco com grande violência, ouve-se um barulho de latas e ficamos com menos luz. O Tomás pára o Peugeot e símos para verificar o sucedido. Com a pancada, um dos faróis saltara do encaixe, ficando virado para o solo, preso pelos fios de ligação. Nenhum problema, continuamos às voltas, à procura das gaijas que nenhum conseguia dizer onde ficavam e o farol acabou por cair, ninguém soube onde. Aí pelas três da manhã, chegamos a um local do Pilão onde se encontrava um grande aglomerado de pessoas, em estado de grande exaltação. Paramos, saímos do carro e vemos no meio daquele maralhal o Alf Mil Domingos, de braço engessado ao peito, prestes a levar, na melhor das hipóteses, uma grande carga de pancada.

 O Comandante Rita, graças à sua estatura, vai furando, connosco atrás até chegarmos ao Domingos, também de cabeça perdida. O que se passara? - O caralho do Oliveira trouxe-me para aqui, bateu à porta daquela gaja, ela diz que está ocupada, o cabrão manda um pontapé na porta, rebenta-a, a tipa grita, começa a juntar-se este maralhal e o gajo deixou-me sózinho. (...) 


(...) De Bissau conheci muito pouco. Apenas o Pilão, e neste Os Dez Quartos, um palácio do Prazer. 

Era o local ideal para um sexólogo, pois tendo todos os quartos o mesmo tecto e paredes incompletas, ouviam-se os murmúrios, os gritos, os ais e os uis, deles e delas, em plena actividade. 

Sempre que lá fui, abstraí-me um pouco da minha função e dediquei-me à escuta, tentando até catalogar os clientes por posto, ramo, forma, jeito, velocidade e desempenho. A noite de véspera do meu regresso foi lá passada. 

Que melhor despedida podia eu, então, ter programado? Para sempre ficou marcada na memória a cena dessa noite. No chão a ressonar e de pistola à cinta, um grande fuzileiro e, encostado a ele, todo enrolado em panos, um bebé. Na cama, ela, semi-adormecida, ordenando uma actuação silenciosa (...). 


Óptimas lembranças da Fátima, uma fula do Pilão, em cuja casa (um quarto apenas...) dormi algumas noites, numa cama onde dormia também o bébé de um ano. Boa rapariga, que fazia pela vida e que, por isso, me fez, uma noite a proposta de eu trazer umas quantas cervejas do QG para ela vender aos seus visitantes: 
- Estou doido, filha, mas não tanto. Nem penses nisso. Boas noites lá passei, uma ou outra com emoção, quando os comandos ou os fuzos batiam à porta e ela respondia:
- Está ocupado! - e eu a ajudava dizendo: 
- Estou eu, vão pra outra! Houve uma noite, não nenhuma destas nem a da proposta dela, que tive de sair a meio. É que o bébé borrou-se todo. Enquanto ela tirava água do pote para lavar o filho e os lençóis, tive de lhe dizer: 
- Fatinha, já não dá. Vou-me embora. (...) 


(...) Cupilon: Bairro tabanca da população, geralmente na periferia, eram um misto de atractivo irresistível e de perigo potencial mas nós, os militares recém-chegados, ignorávamos que a guerrilha tinha apoio em todo o lado, e assim todos os militares chegados a esta querida terra africana procuravam saber onde era e onde ficava (local de africanização e de gozo sexual) sempre apinhado de militares, dado que nele permaneciam lindas bajudas sem cabaço e partiam catota a toda a força: desprendidas da vida teriam nos prazeres da carne sustento bastante para fazerem vida desafogada, que de uma outra forma não conseguiam.

O convívio com aquela gente de população fascinava. Fosse pelo exótico dos usos, fosse pela atracção das raparigas, que designávamos por bajudas, independentemente de o serem. E só o eram enquanto virgens. Os seus erectos seios, tensos de jovem e dos nossos apetites, não escapavam ao despudorado atrevimento dos militares brancos. (...)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2271: Tabanca Grande (40): Joaquim Gomes de Almeida, O Custóias, bazuqueiro, CCAÇ 817 (Canquelifá e Dunane, 1965/67)



Joaquim Gomes de Almeida
Soldado
CCAÇ 817
Canquelifá e Dunane
1965/67






Guiné> Canquelifá> O nosso camarada Joaquim Almeida em concorrência desleal e descarada ao nosso companheiro Joaquim Mexia Alves, pois em Canquelifá as condições Termais eram péssimas, embora os preços fossem económicos.


1. Mail de 7 de Novembro de 2007 dirigido ao nosso Editor

Exmo. Sr. Luís Graça,

Venho por este meio prestar uma grande homenagem ao incondicional serviço de informação que o seu blog presta a todos os ex-combatentes.

Passo a apresentar-me: Chamo-me Joaquim Gomes de Almeida, conhecido entre os camaradas por Custóias, sou residente em Guifões-Matosinhos.

Fiz parte do pessoal da CCAÇ 817; soldado de infantaria; operador de bazuca.
Passei maior parte do tempo da comissão em Canquelifá e Dunane, embora tivesse passado anteriormente por outras unidades.

Cheguei à Guiné em 26 de Maio de 1965 tendo regressado à Metrópole em 8 de Fevereiro de 1967.

Faço uma correcção ao que escreveu o camarada Francisco Palma: a CCAÇ é a 817 de 1965/1967 da qual eu fiz parte e não a CCAÇ 187 de 1965/1966 como por lapso mencionou o camarada Francisco Palma (*).

Em relação ao brazão, confesso que fiquei triste por saber que a CCAÇ 1623 destruiu o nosso em favor do deles.

Anexo uma fotografia com informação: Canquelifá-Termas, placa informativa para todo o pessoal que por lá ia passando e entrando para o tratamento adequado.

Sem outro assunto de momento,
Joaquim Almeida (Custóias)


2. Em 7 de Novembro, o co-editor CV respondia:

Caro Joaquim Almeida:

Estou a escrever-te na qualidade de co-editor do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Recebemos a tua mensagem e registamos a homenagem que prestas ao Luís Graça. Na verdade, é unânime o reconhecimento do seu imenso trabalho para manter vivo o Blogue.

Queremos convidar-te a fazeres parte da nossa Tabanca Grande. Para tal deverás enviar uma foto do teu tempo de guerra (se possível com mais qualidade daquela que já enviaste) e outra actual para figurares na nossa fotogaleria.

Se quiseres e puderes podes mandar estórias que se passaram contigo e com a tua Unidade, assim como fotografias devidamente legendadas para as podermos enquadrar nos teus textos.

As fotos deverão vir em formato JPEG ou, em última hipótese, em Word para as podermos trabalhar.

Poderás consultar a página da nossa Tertúlia onde estão escritos os princípios fundamentais da nossa conduta e convivência. Poderás ver lá também a fotogaleria.

Aqui na Tabanca não há Exmos Senhores nem postos militares. Tratamo-nos todos por tu como deve ser entre camaradas.

Já agora na próxima mensagem dá mais pormenores sobre ti e a tua Unidade e usa preferencialmente o endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Antes de terminar quero dizer-te que temos cá no Blogue um teu conterrâneo de Guifões, o Albano, que é fotógrafo e que tem o seu ateliê em frente à Igreja. Eu moro em Leça da Palmeira e ainda há mais gente do concelho de Matosinhos entre nós.

Recebe um abraço da parte do Luís. De mim o mesmo
O camarada
Carlos Vinhal


3. Em 8 de Novembro o camarada Albano Costa escrevia, em resposta a um mail de CV:

Caro amigo Carlos Vinhal:

Conheço o Custóias há muitos anos, é quase meu vizinho. Durante muitos anos sempre falamos de tudo, menos da Guiné.

Há bem pouco tempo, encontramo-nos e ele falou-me do blogue onde tinha navegado, dizendo que me tinha encontrado lá. Depois desse dia passamos a falar mais vezes e muito sobre a Guiné e o blogue.
Ele por acaso já tinha comentado comigo que ia chamar atenção do Francisco Palma sobre as imperfeições que tinha visto. Eu incentivei-o, porque a função do blogue é contar sempre e só a verdade, e que este era o sítio certo para o fazer, que neste caso era só para rectificar.

Quanto ao apelido Custóias, eu já lhe perguntei como é que sendo ele natural de Guifões, gosta que o tratem assim, ainda hoje no meio guineense. Ele respondeu-me que quando foi para a tropa, tinha ocorrido o desastre ferroviário no lugar das Carvalhas (**), em Custóias, e então o seu comandante possou a chamar-lhe assim. Ele aceitou com agrado e em todo o seu tempo de tropa e ainda hoje pelos seus colegas é tratado por Custóias. Quanto ao entrar no blogue já lhe falei e o Joaquim Gomes está a ganhar coragem, visto que não passa um único dia sem lhe fazer uma visita.

Um grande abraço,
Albano Costa

4. Em 9 de Novembro o Almeida voltava ao nosso contacto

Caro Carlos Vinhal:

Acuso a recepção do teu e-mail de 7 de Novembro de 2007.

Em relação ao Albano Costa, somos amigos e vizinhos. Ele mora na Lomba e eu em Gatões.

Todos os fins-de-semana, nos falamos no seu estabelecimento. Ele foi um grande impulsionador para que eu me metesse nestas andanças.

Relativamente a material fotográfico do tempo da minha estadia na Guiné, é relativamente pouco, porque há uns anos atrás, quando eu fui deslocado para o estrangeiro em serviço, foram-me assaltados os anexos de minha casa e levaram-me tudo, fotografias, o díário da minha Companhia, o diário do meu pelotão e um caderno de apontamentos pessoal. Tudo isto se encontrava dentro de um baú. Todas as fotografias que eu possuo, foram recolhidas na minha família, e alguns amigos.Assim que possível, enviarei as ditas fotografias para o blogue.

Um abraço virtual deste ex-combatente.

Joaquim Gomes de Almeida - Custóias
__________________

Notas de CV:

(*) - No Post de 5 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2242: Tabanca Grande (39): Francisco Palma, ex-Condutor Auto, ferido em combate, CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá (1970/72), o nosso camarada Francisco Palma referia:

(...) Aproveito para informar que a mensagem atingiu o alvo e tenho estado em contacto com o Custóias, operador de bazuca, ex-combatente da CCAÇ 187_(?), Canquelifá 1965/66, que terá sido o obreiro da construção do brazão da sua Companhia. O brazão foi posteriormente aproveitado pelos que vieram a seguir, a CCAÇ 1623 (Canquelifá, 1966/68), tendo sido alterados os dados (...)

(**) - No dia 26 de Julho de 1964, ocorreu um terrível desastre ferroviário na Linha da Póvoa (Porto/Trindade - Póvoa de Varzim), onde houve um número de mortos nunca especificado, pois na única carruagem sinistrada, superlotada, morreram oficialmente 96 pessoas.

O acidente deu-se porque a última de duas carruagens da automotora se soltou da primeira, presume-se que por excesso de peso, e em aceleração livre e desgovernada, ao descrever uma curva apertada, inclinou-se e foi de encontro a um muro suporte de uma passagem superior, que funcionou como uma lâmina. A carruagem foi literalmente cortada ao meio no sentido do comprimento, ferindo e matando principalmente que se encontrava daquele lado.

Guiné 63/74 - P2270: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (9): E de súbito uma explosão, uma emboscada, um caos...

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Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Finete-Missirá > 1969 > O Fur Mil Reis (à esquerda) e o Alf Mil Carlão (à direita), do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 examinam o estado em que ficou a viatura Unimog em que seguia o Alf Mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, quando accionou uma mina anticarro, no dia 16 de Outubro de 1969, por volta das 18h00, na zona de Canturé. O accionamento da mina foi seguido de emboscada.

A NT, que seguiam em coluna de reabastecimento ao destacamento de Missirá, sofreram um morto (sold condutor Manuel Guerreiro Jorge, da CCS do BCAÇ 2852) e quatro feridos (1º cabo Alcino Barbosa e o sold Cherno Suabe, ambos do Pel Caç Nat 52; 2º Sarg Milícia Albino Mamadu Baldé, do Pel Mil 101; Sold Trms Arlindo Guiomar Bairrada, do Pel Mort 2106/CCS do BCAÇ 2852).

O Pel Caç Nat 52 será transferido para Bambadinca, sendo substituído, em Novembro de 1969, pelo Pel Caç Nat 54, comandado pelo Alf Mil Correia, devido ao grande desgaste a que tinha estado sujeito nos últimos meses.

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Pel Caç Nat 52 > O Beja Santos mais alguns militares da sua unidade, num burrinho conduzido por um dos condutores da CCS do BCAÇ 2852, o Manuel Guerreiro Jorge ou o Setúbal (não posso precisar) (LG).
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


Envelope de luto, com a carta que enviou ao Beja Santos em 10 de Novembro de 1970 o pai do infortunado soldado condutor Manuel Guerreiro Jorge, morto em Canturé - "o Sr. Jesuíno Jorge que tanto esperou por uma visita que nunca lhe fiz" (BS).

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.



Mensagem do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Setembro de 2007:

Luis, estou para saber como é que ganhei coragem para estas confissões. Felizmente, foi a única mina anticarro que tive com tão trágicas consequências. Tens aí várias fotografias da mina de Canturé, vou juntar o relatório, o louvor do Mamadu Djau, e acho que é um bom momento para mostrares a carta do Sr. Jesuino Jorge, que tanto esperou por uma visita que nunca lhe fiz. Pareceu-me descabido falar de leituras num episódio como este. Não há problema, em Bissau li e li muito, estava tão triste que não queria ver ninguém. Haverá muitas leituras para a semana. Recebe um abraço do Mário.

PS - Luis, esta é a versão definitiva. O texto que te enviei ontem tinha gralhas imperdoáveis. Para a semana haverá mais um episódio. Recebe um abraço do Mário.


Operação Macaréu à vista - Parte II > Seis da tarde quando a formiga sacode a pólvora
por Beja Santos (1)


Este seria o nosso último abastecimento em Bambadinca

A 16 de Outubro [de 1969], a coluna que parte de Missirá para Bambadinca vai à procura de mantimentos e combustível, para que não haja problemas logísticos momentosos para quem nos vem substituir. Prevê-se a chegada iminente do Pel Caç Nat 54, um grupo de combate da CCaç 12 vai nesse dia a Mato de Cão, as populações civis de Missirá e Finete estão sem arroz, muitos dos soldados do Pel Caç Nat 52 andam à procura de quartos em moranças na tabanca de Bambadinca, passo horas a apresentar-me junto dos senhorios e dos comerciantes locais como fiador na compra de camas e colchões.

Como que por milagre, arrebito das minhas mazelas, está a desaparecer-me o líquen das costas, secam as feridas dos pés, durmo melhor, vou digerindo o colapso nervoso do Casanova, atiro-me com energia à contabilidade, aos autos, aos livros de abate, aos cadernos onde registamos todas as munições. Fazemos gala, o Pires e eu, em entregarmos toda a escrita em dia, toda a transparência no deve e haver, seja nas folhas de pagamentos seja nos abastecimentos que deixamos nos armazéns de víveres.

É uma manhã que pronuncia o fim das chuvas, um céu azul de cobalto e despido de quaisquer nuvens caindo ao fundo na cobertura vegetal cor garrafa escuro, as picadas estão secas, o capim ergue-se louro como se fosse trigo. O meu estado de espírito renovou-se com optimismo.

No entanto, antes de partir, enquanto engulo um leite achocolatado com pão e marmelada, oiço um pouco de “Um Requiem Alemão”, de Brahms, o coro da RIAS de Berlim entoa “Bem aventurados os que estão em aflição, porque eles serão consolados”. É um requiem profano, muito plangente, e é quando eu desligo o gira-discos que tenho a primeira premonição da tragédia que se avizinha. Mas a azáfama é tanta e tantas andanças nos esperam em Bambadinca que a mente saúda e esvoaça na bela manhã, rendendo-se à serenidade envolvente.

Passa-se por Canturé, há árvores em flor, os picadores estão prudentes tal a densidade da vegetação, tal a poeira que se levanta no estradão. Em Finete, há dois dedos de conversa sobre as obras, os mais feridos sobem para a caixa do 404, Bacari Soncó apresenta a lista dos sacos de arroz que urge comprar. O alvoroço do mercado de Bambadinca está no auge, toda a estridência dos encontros nota-se nos tons que se elevam a volumes quase impossíveis. Paro sempre impressionado com a alegria esfuziante desses encontros, as mãos dadas, as perguntas, os olhos cheios de contentamento.

Passamos a manhã numa roda viva, sou fiador não sei quantas vezes, subo ao quartel, há conversas na engenharia, requisitam-se peças para o burrinho, discute-se a substituição do radiotelegrafista, os bidões de petróleo e gasóleo sobem para uma viatura e daqui são transportados para o cais de Bambadinca, depois é a compra de comida, deixo o Alcino Barbosa a regatear com os vagomestres, sigo para a secretaria onde deixo ofícios assinados, passo pelo serviço de justiça e entrego ao Valentim vários autos.

Logo a seguir ao almoço vou a Afiá comprar arroz, regresso com oito sacos. Junto do paiol, pegamos em vários cunhetes de munições, as nossas operações logísticas estão finalmente concluídas. Levo a promessa que na próxima semana haverá a transferência. O comandante não me deixa de avisar:
-Você fica mais uma semana em Missirá, até porque vão chegar as duas secções de milícias. Não se esqueça de patrulhar tudo, não quero tropa instalada só dentro do arame farpado. Procure melhorar as relações entre as autoridades civis que não vêem com bons olhos o regresso do Pel Caç Nat 54 a Missirá.

A travessia da bolanha é penosa, o 404 vai ajoujado com bidões, sacos de arroz, caixas de tudo, desde cerveja a esparguete. O entardecer encaminha-se perigosamente para o ocaso. O condutor, Manuel Guerreiro Jorge, que veio esbaforido desde o Geba até Finete, sempre a fintar os buracões da bolanha com um peso anormal de mercadorias, fuma nervosamente um cigarro e pede-me para partirmos cedo, estamos mesmo a entrar no lusco-fusco.

A energia renascida leva-me a comportamentos impulsivos de distribuir recomendações e ver as obras em curso. A viatura vai tão pesada que sobe a resfolegar a rampa íngreme, toda a gente a pé até lá acima, depois é a paródia de nos anicharmos nos espaços possíveis e impossíveis. Estou descansado com a segurança da estrada, duas secções da milícia passaram por aqui perto do meio dia.


A explosão, a emboscada, a reacção, o caos, de novo a reacção


No guincho à frente está Cherno Suane, sigo ao lado de Manuel Guerreiro Jorge,[o condutor,] estamos ladeados por Alcino Barbosa e Arlindo Bairrada. No alto, sentado no bidão mais protuberante vai Mamadu Djau com a bazuca nas pernas. Levamos quatro crianças, Mazaqueu quer vir a meu lado, mando-o para o pé de Albino Amadu Baldé, o comandante da milícia de Missirá.

O condutor está cada vez mais nervoso com a semiescuridão que desce, inexoravelmente. Apaga o último cigarro e pergunta-me:
-A que velocidade vamos, meu alferes?

Peço-lhe, atendendo à segurança que julgo existir, que vá a toda a velocidade até um pouco depois de Canturé, a seguir é que temos problemas, a picada está escorregadia até ao pontão de Caranquecunda. E a viatura parte à desfilada. Não se ouve o piar das aves, a lua recorta-se dentro do arvoredo que se vai sumindo rapidamente. É um anoitecer suave onde o rodado do 404 se sobrepõe à vozearia de quem vai na caixa. Exactamente quando a recta de Canturé está no fim, um estrondo medonho levanta o 404, os fios eléctricos silvam, a viatura afocinha na agonia, oiço o primeiro urro do condutor que pisou a mina anticarro, há a surpresa dos transportados, sou cuspido, sinto os óculos voarem, uma massa quente e ácida cega-me o olho direito, quer o destino que eu salte de escantilhão com a G3 na mão direita.

Tive muita sorte, os emboscados não dimensionaram devidamente a zona de morte, o 404 entrou de roldão fora da picada, terão recuado espavoridos, limitei-me a despejar rajadas, o que também terá surpreendido quem esperava uma carnificina fácil. E mais sorte tive porque Mamadu Djau deu novo sinal da sua valentia, do seu destemor, desferindo duas bazucadas que troaram naquela floresta em reboliço.

Manda o pudor que vamos encerrar por aqui a descrição desta emboscada incongruente e até pensar que um homem vestido de caqui amarelo que avançou para mim como que para me esganar e a quem enfiei o tapa-chamas da G3 no frontal não existiu, se bem que tenha deixado a arma ensanguentada. O importante era reagir um pouco mais, medir o desastre e ir pedir auxílio, passado o perigo de vida para todos nós.

Os acontecimentos sucedem-se em catadupa, lembro avulsamente que o guincho estava retorcido e que logo pensei que o Cherno ficara pulverizado, as crianças estavam estiradas na berma da picada, o tiroteiro, os dilagramas e as granadas defensivas eram a resposta da sobrevivência. Depois, o fogo arrefeceu, aquela estranhíssima emboscada deixou de dar sinal de vida, o que se ouvia até ferir os tímpanos eram os gritos lancinantes de Manuel Guerreiro Jorge que perdera as pernas e entrara em estado de choque. O Alcino queixa-se, há mais feridos, a caixa do 404 cedeu, como num naufrágio os bidões e todas as mercadorias estão espalhadas à nossa volta.

Se existe inimigo perto, penso, está a reagrupar-se. Falo com Mamadu Djau, dando-lhe a saber que ele vai ficar ali com todos os homens e que vou até Finete e levo as crianças, vou buscar reforços e mesmo auxílio a Bambadinca. Nunca mais esquecerei a resposta de Mamadu:
-Pode confiar, não me entrego, juro-lhe que vamos aguentar até regressar.

A cambalear, agradecendo a Deus só ter perdido o olho direito, como suposera, rodeado de crianças que me seguem no mais absoluto silêncio, demoro menos de uma hora até chegar a Finete. A povoação espera-me na porta de armas, naquela mesma rampa por onde há pouco passei com uma viatura carregada, nós desejosos de chegar a Missirá, tomar banho, jantar, dormir um pouco para, pelas quatro da manhã, partirmos para Mato de Cão.

Bacari Soncó recua quando me vê com o rosto escurecido. Peço-lhe um balde água que ele me atira brutalmente sobre os olhos. Afinal não ceguei, mesmo com o olho cheio de dores vejo ao longe o bruxulear das luzes no porto de Bambadinca. Estou especado, ergo a cabeça para os céus, rezo o Credo. Seguem-se as ordens, os civis acompanham os milícias, eu parto para Bambadinca. Peço insistentemente a Bacari que me lave o tapa-chamas. Ele não faz perguntas.


Aqueles grandes momentos de solidariedade (2)


Mesmo com a noite enluarada, atravesso a bolanha aos trambolhões, não fora aquele recuperar de energias dos últimos dias e o suplício da caminhada não teria chegado ao fim. Mufali Iafai atravessa-me de novo para Bambadinca, não faz perguntas, ouviu o suficiente à distância de seis quilómetros para saber que houve uma grande desgraça. É o Zé Maria quem me leva até ao quartel e também não faz perguntas, limita-se a olhar a minha cara queimada e a roupa desfeita.

O Ismael Augusto e o Fernando Calado, décadas depois, lembraram a minha entrada na messe de oficiais, nessa noite de 16 de Outubro, à hora do jantar:
-Mal se abriu a parte de vai-vem e tu apareceste completamente chamuscado, percebemos a desgraça. Toda a gente se levantou, tu falaste na mina anticarro e numa emboscada, disseste que havia feridos graves, o major Cunha Ribeiro tomou imediatamente as decisões necessárias. Parecia que o desastre era completamente nosso.

E assim foi. O Reis partiu com um pelotão, veio o David Payne com ajudantes, aparecerem rapidamente as viaturas, Bambadinca actuava em uníssono. Teve aqui lugar um gesto afectivo inesquecível. O major Cunha Ribeiro sentiu que os meus nervos estavam á beira de rebentar. Pegou-me num braço e disse-me ao ouvido:
-Tigre, vamos lavar a cara, tem que fazer pela noite inteira, o Gomes vai preparar-lhe umas coisas para comer e beber, uma boa parte do nosso jantar segue consigo.

Quando nos reencontrámos em 1994, em Fão, ele tinha esquecido o seu gesto e até mesmo a organização daquela emergência. Foram momentos inesquecíveis de solidariedade que me fizeram suportar a dor física e moral.

Estávamos a chegar a Finete quando a coluna de milícias e civis descia a rampa com os feridos, à luz de archotes. Não sei porquê, voltei a recordar os sons que ouvira ao amanhecer de “Um Requiem Alemão” e sempre que oiço esta obra-prima regresso a Finete e ao sofrimento dos meus homens. O Manuel Guerreiro Jorge morreu nos braços do David. O Alcino Barbosa coxeava, e ainda não sabíamos que era uma fractura de calcâneo. O Arlindo Bairrada tinha estilhaços num saco lacrimal. Albino Amadu Baldé tinha várias fracturas nas pernas.

O caso mais grave era o de Cherno. Ele foi descoberto milagrosamente perto de um morro de baga-baga, com o deflagrar da explosão fora atirado pelo sopro a vários metros de distância. Estava deformado, ensanguentado, irreconhecível. Com o maqueiro, lavamo-lo até aparecer um rosto tumefacto, sulcado de feridas, lábios rasgados, sangue a escorrer dos ouvidos, sempre a gemer, a suplicar água, a denunciar o calvário das dores. De madrugada, deitado a seu lado, procurando-o acalmar, ele disse baixinho:
-Alfero, agradeço a Deus morrer depois de o ter visto.

E pela primeira vez na minha vida vi o Cherno a chorar em silêncio. Na manhã seguinte, morto e feridos foram resgatados por um helicóptero. Como se sabe, Cherno não morreu, teve um traumatismo craniano profundo, é hoje um deficiente das forças armadas portuguesas. Despeço-me do Reis e David Payne, eles regressam a Bambadinca e eu a Missirá.
De Missirá a Bissau

Queta Baldé ficara em Missirá e contou-me depois:
-A minha secção estava de faxina, tínhamos que apanhar lenha, ir buscar água, dois quilómetros para lá e dois quilómetros para cá a rebolar os bidões, três horas no reforço, três horas a descansar, três horas no reforço. Ouvimos a explosão e os tiros, pressentimos uma grande desgraça. Estávamos em Missirá com os furriéis Pires e Pina. Esperámos toda a noite, os homens foram à mesquita pedir a Deus para que ninguém tivesse morrido. Ao amanhecer viemos com o segundo comandante da milícia de Missirá, Bubacar Baldé, em direcção a Finete. Quando vimos a viatura desfeita, tudo espalhado, muitas marcas de sangue, suspeitámos o pior. Não pode imaginar a nossa alegria quando vimos uma coluna vinda de Finete e nosso alfero a mancar à frente.
Em Missirá, fui lacónico na descrição dos acontecimentos mas prolífico na resposta. Combinara com o alferes Reis que a viatura ficaria armadilhada, depois de se trazer os víveres e os combustíveis. Tínhamos que nos preparar para tempos sem viatura já que o 404 ficara completamente destruído (felizmente não foi assim, a solidariedade dos desempanadores mostrou-se logo, o burrinho recuperou forças a 18 de Outubro, fez serviço à água e até Gã Joaquim, onde vinha receber os abastecimentos do Sintex).


Carta do pai do Manuel Guerreio Jorge, com data de 10 de Novembro de 1970, já com o Bej Santos a viver na Metrópole.

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


O Pires foi fazer o patrulhamento à volta de Canturé, os resultados foram inconclusivos quanto à força emboscada, encontraram-se cartuchos, granadas de RPG2, pensou-se que terão retirado por Canturé até Chicri. Segundo relataram os que estavam em Missirá a 16 de Outubro, foram ouvidos tiros de pistola, pelas duas da tarde, ali perto, poderá ter sido uma força que estava à espera do grupo emboscado ou montara emboscada perto de Morocunda. Não interessava, tratava-se de um grande desastre, eu tinha o sentimento de culpa, houvera várias negligências, baixara irresponsavelmente as guardas, as gentes de Madina foram extremamente hábeis, aproveitaram-se bem dos nossos gestos automatizados, as nossas idas diárias a Mato de Cão, talvez a euforia da transferência.

Tenho que ir a Bissau a vários médicos. Perdi os óculos, seguramente que aconteceu alguma coisa ao meu olho direito, o ouvido dói-me e não há analgésico que abrande a dor, o David Payne sugere que eu vá amanhã.

Estou derreado, Ussumane Baldé veio prontamente avisar-me que é o substituto temporário do Cherno. O régulo pede para ser recebido, abraça-me com calor, longamente e a custo retenho as lágrimas. A seguir ao jantar, depois de ter ido buscar a morada dos pais do Manuel Guerreiro Jorge, escrevo uma carta onde, de forma abreviada, falo da mina anticarro e da morte do condutor que não queria viajar de noite.

Mal sabia eu que se iria iniciar uma troca de correspondência que durou largos meses. O que me surpreendeu na carta que recebi, dias depois, do Sr. Jesuino Jorge, do Monte da Cabrita, Santana da Serra, concelho de Ourique, era a pretensão que me pareceu mórbida: o pai pedia-me insistentemente que lhe descrevesse o sofrimento e os últimos momentos do seu filho, sem faltar à verdade. Vim a aprender que é um pedido natural de quem não viu, não acompanhou, o desaparecimento físico do ente querido. Prometi visitá-lo um dia, faltei à promessa, a essa e a outras ainda mais graves: por exemplo, nunca visitei, nunca mais soube do paradeiro do Alcino Barbosa, que me fora tão devotado.

Estou no meu abrigo, é mais uma noite suave onde os coágulos de sangue nos meus joelhos e nos braços me impedem de dormir. Arrastando-me até à secretária, a pretexto de escrever ao Carlos Sampaio, arremedo uma prosa poética:

Efeméride: seis da tarde quando a formiga sacode a pólvora.
No fragor, sangue e alabastro nos olhos espalmados, vazos.
Seis da tarde à medida de um potro selvagem que soube ludibriar
o corno da morte. Ao sacudir a pólvora, abriu-se uma cratera
que engoliu feridos e mortos, todos inocentes.
Assim chegou o Outono da doce vinha, aqui uma época seca.
Aprendi com esta efeméride: pelas seis da tarde, Deus estava na lua,
para uns, a fortuna era uma rosa de betão, momentos de perdição,
para mim a fortuna tornou-se vida quando Cherno Suane
regressou à vida nestes trópicos de fúria e fetos aborígenes.
Deus seja louvado.


Fecho o aerograma, venho à porta do abrigo ver o céu, todo estrelado. Depois parto para Bissau. Ainda não sei, vou ser tratado por um médico oftalmologista açoriano, que se tornará num grande amigo. E até irei estudar um pouco da história da Guiné. Por favor, sigam comigo até Bissau.

______________

Notas de L.G.:

(1) Vd.posts de 9 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2251: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (8): Cartas que levam saudade(s) das terras e das gentes do Cuor

(2) Vd. também sobre este episódio, os seguintes posts:

24 de Junho de 2006> Guiné 63/74 - P904: SPM 3778 ou estórias de Missirá (3): carta a Alcino Barbosa, com muita intranquilidade (Beja Santos)

24 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P905: A morte na estrada Finete-Missirá ou um homem com a cabeça a prémio (Luís Graça)

26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P911: Uma mina para o 'tigre de Missirá' (Luís Graça)

(...) Era voz corrente que o Beja Santos, conhecido entre os seus camaradas milicianos como o tigre de Missirá, tinha a cabeça a prémio no regulado do Cuor... Exagero ou não, o próprio Beja Santos reconhece publicamente este facto (...) (Vd. post de 24 de Junho de 2006):

A 15 de Outubro devíamos ter regressado mais cedo. O Comandante local do PAIGC, Corca Só, já me tinha ameaçado de morte, tendo mesmo deixado um bilhete na estrada. Saímos tardíssimo de Finete, o sol a cair a pique, como acontece nos trópicos (...).

Mário: Não foi a 15, mas sim a 16 de Outubro de 1969, como já ficou esclarecido entre nós. Na lista dos mortos do Ultramar, da Liga dos Combatentes, é também esta a data da morta do Manuel Guerreiro Jorge.

Na história da CCAÇ 12, também consta essa data:

"Registe-se ainda a intervenção do 2º GR Comb que, com o Pel Rec Inf da CCS [do BCAÇ 2852], foi em socorro duma coluna do Pel Caç Nat 52 que em 16 [de Outubro de 1969], já ao anoitecer, caiu numa emboscada com mina A/C comandada, no itinerário Finete-Missirá, próximo de Canturé, sofrendo um morto e três feridos graves".

O mais importante é que o Corca Só não te levou para Madina/Belel o teu escalpe. E hoje estás vivo, e está entre nós, partilhando connosco as alegrias e as tristezas de um tempo e de um espaço que nos coube em sorte, nos nossos verdes (e loucos) vinte anos... Mas sei do que falas: ser vítima da explosão de uma mina anticarro é uma situação-limite por que nem todos passaram:
2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIX: E de súbito uma explosão (Luís Graça)
23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (Luís Graça)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2269: BART 2917, CCAÇ 12 e outras unidades adidas (Bambadinca, 1970/72): Monumento aos mortos (Sousa de Castro / Júlio Campos)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BART 2917 (1970/72) > Monumento aos mortos do batalhão e unidades adidas (este monumento foi destruído a seguir à independência da Guiné-Bissau).


BART 2917

Alf Mil Ribeiro
Fur Mil Quaresma
Fur Mil Cunha
1º Cabo Ribeiro
Sol F Soares
Sol Monteiro
Sol Oliveira
Sol P. Almeida

Adidos

CCAÇ 12

Sol Soares
Sol U. Sissé
Sol C. Baldé

Pel Caç Nat 52

2º Cabo Nhaga

Pel Caç Nat 54

1º Cabo Mendita
Sol S Camará
Sol Adip Jop
Sol S Embaló
Sol S Sanhá
Sol S Indjai

Pel Caç Nat 63

Sol D Candé

Pel Mil 201

Sarg Mil C Candé
Sol M Camará
Sol Iaia Jau

1970/72

1. O Sousa de Castro mandou-nos, em 12 de Novembro último "duas fotos interessantes do monumento em Bambadinca, [da autoria] do Júlio Campos a quem já enderecei convite para entrar na Tabanca Grande".

2. Na véspera, o Júlio Campos tinha mandado ao nosso amigo e camarada de Viana do Castelo, a seguinte mensagem:

Ao navegar no sítio do Luis Graça deparei com fotos de Bambadinca uma das quais o Monumento onde a parte de baixo da mesma é ilegível. Aqui te envio duas mais legiveis que eu tirei. Um Abraço

Jùlio Campos
Ex-Fur Mil Sapador
BART 2917



3. O Sousa de Castro agradeceu, em nome de todos nós, e convidou o Júlio para intregar a nossa Tabanac Grande:

Obrigado pelas fotos. Creio que ainda não fazes parte da tertúlia. Há vários ex- Combatentes do teu Batalhão na tertúlia, sendo assim convido-te a entrares e participares com tuas estórias na nossa Tabanca Grande. Para o efeito basta enviares duas fotos, uma da época como militar o outra actual, para o o nosso endereço de correio electrónico.

Alfa Bravo,

Sousa de Castro, ex-1º Cabo Radiotelegrafista,CART 3494, BART 3873, Xime e Mansambo, Jan 72/ Abr 74


4. Comentário de L.G.:

Sousa de Castro, perfeito!... Comportaste-te como um verdadeiro anfitrião da nossa Tabanca Grande. Aliás, um anfitrião de pleno direito. És cronologicamente o tertuliano nº 2, admitindo que eu sou, por inerência (como criador da tertúlia), o nº 1...

Quanto ao Júlio, devo-lhe dizer que é sempre emocionante voltarmos àqueles lugares de que temos fortes recordações, umas boas e outras más... O Júlio que nos mande as fotos da praxe que é para eu (re)lembrar-me dele... Preciso de ver a cara dele... Tivemos juntos em Bambadinca pelo menos uns nove meses, desde Junho de 1970 a Março de 1971, quando terminou a minha comissão individual na CCAÇ 12.

Relativamente ao monumento, deixem-me só dizer que a lista dos mortos das unidades adidas está incompleta... Os mortos são só os relativos ao período da comissão do BART 2917, que chegou a Bambadinca em meados de 1970. No caso da CCAÇ 12, por exemplo, não há o registo do Iero Jau, morto em 7 de Setembro de 1969, quando a CCAÇ 12 estava adida ao BCAÇ 2852 (1).

Quanto aos mortos do batalhão, mais exactamente da CART 2715 (Xime, 197o/72), recordo que assisti aos últimos momentos do Fur Mil Cunha, morto na Op Abencerragem Candente, juntamente com mais 4 militares da sua unidade, além do guia e picador das NT, o Seco Camará, ue estava ao serviço da CCAÇ 12 e da CCS do BART 2917 (2).

Eis os nomes completos dos camaradas mortos da CART 2715:

Fernando Soares, Sold
Joaquim de Araújo Cunha, Fur Mil
Manuel da Silva Monteiro, Sold
Rufino Correia de Oliveira, Sold
(há 1 elemento cujo nome desconheço)


__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

30 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2231: Blogoterapia (34) : Os Ieros Jaus que trouxemos na nossa memória pisada (José Morais)

14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau (Luís Graça)

8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12


(2) Vd. posts de:

25 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970) (Luís Graça)

(...) Em consequência da emboscada IN, uma das mais violentas de que há memória na região do Xime, pelo seu impacto sobre as NT, a CART 2715 [Xime] sofreu 5 mortos (1 Furriel Mil) e 7 feridos, e a CCAÇ 12 teve 2 feridos (dos quais 1 grave, o Sold Sajuma Jaló), e 1 morto (o picador e guia permanente das NT Seco Camará, na altura ao serviço da CCS do BART 2917, e que do antecedente já tinha dado provas excepcionais de coragem e competência, tendo participado com a CCAC 12 em quase todas as operações a nível de Batalhão no Sector L1) (...).

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1318: Xime: uma descida aos infernos (2): Op Abencerragem Candente (Luís Graça, CCAÇ 12)

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1317: Xime: uma descida aos infernos (1): erros de comando pagam-se caros (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P2268: A falsificação da história da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67)(Benito Neves)

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Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Vitor Condeço (ex-Furriel Mil, CCS do BART 1913, Catió 1967/69) > Catió, Quartel > 1968> Foto 2-A > Identificação dos edifícios do quartel, existentes e em serviço em Janeiro de 1968:


1 - Porta de Armas
2 - Parada
3 - Edifício do Comando
4 - Camarata de Oficiais
5 - Antiga messe de Sargentos
6 - Camarata de Sargentos
7 - Camarata de Sargentos
8 - Nova messe e bar de Oficiais
9 - Parque Daimler
10 - Caserna nº 3
11 - Caserna nº 2
12 - Balneários
13 - Prisão
14 - Geradores
15 - Caserna nº 1
16 - Refeitório
17 - Padaria
18 - Quartos
19 - Quartos do 7,5
20 - Antiga messe de Oficiais
21 - Posto de socorros e enfermaria
22 - Zona Obuses 8.8cm [e depois 14 cm]
23 - Zona Morteiros 10,7cm e 81
24 – Paiol Velho


Foto e legenda: © Vítor Condeço (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Benito Neves, membro da nossa Tabanca Grande, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) (*):


Assunto - Crónica de um Palmeirim de Catió, de Joaquim Luís Mendes Gomes

Caro Luís, os meus cumprimentos extensivos a toda a equipa de colaboradores.

Em 8 de Janeiro p. p., foi publicada no blogue o post P1411, uma crónica do Joaquim Luís Mendes Gomes, onde ele descrevia a cidade de Catió de uma forma ímpar (**).

Está lá tudo... e de que maneira!!!

Já dele tenho a necessária autorização para utilizar o referido texto num trabalho que estou a elaborar e que não é mais que o reescrever a história da CCAV 1484 que, em Catió, rendeu a CCAÇ 728 há 40 anos.

A CCAV 1484 esteve em intervenção no sector de Catió de Junho de 1966 a finais de Julho de 1967.

Por bem ou por mal, como sabia escrever à máquina e trabalhar com um duplicador de tinta, fui encarregado pelo comandante da Companhia, Cap Pessoa de Amorim, de escrever a história da Companhia. Fiz rascunhos (que ainda guardo) que foram analisados, alterados, cortados e recortados e acrescentados pelo comandante até que finalmente saiu a que foi chamada de versão oficial. E tão oficial foi que nela consta que, "aos domingos, as viaturas da Unidade saíam do aquartelamento e passavam pelas tabancas para recolher os jovens que vinham a Catió participar na missa dominical e participar nas actividades da Mocidade Portuguesa."

Isto não corresponde minimamente à verdade e, portanto, entendo que a verdade deve ser reposta.

Da história oficial não foram tiradas mais do que umas 10 cópias, no máximo, distribuídas pelos alferes (4), pelo capitão (1), pelo Batalhão a que estávamos adidos (1), pelo Sector (1) e julgo que foi enviada uma cópia para o CTIG. Obviamente que tirei uma cópia para mim.

Ao fim de 39 anos (em 2006) conseguiu-se fazer um primeiro encontro dos militares da Companhia e, no ano em curso, foi feito um segundo encontro, mas ainda não conseguimos todos os contactos dos elementos da Companhia.

É meu entender que todos os militares que ajudaram a fazer a história da Unidade deverão possuir um exemplar. E como tenho as datas de aniversários de quase todos, é meu propósito, nesses dias, ofertar a cada um essa "prenda" de aniversário.

Não tenho qualquer propósito comercial.

Assim, uma vez que o texto do Joaquim Mendes Gomes foi publicado no blogue, venho pedir a necessária autorização para o poder utilizar, fazendo, na sua transcrição, como é natural, referência quer ao autor, quer ao blogue que o publicou.

E prometo que logo que o trabalho esteja pronto, vo-lo farei chegar. Será um modesto contributo de quem se atascou e bebeu água nas bolanhas do Tombali.

Desde já grato, envio um abraço e felicitações pelo trabalho que vós tendes disponibilizado a quantos passaram por aquela Guiné inesquecível.

Benito Neves
Ex-furriel mil CCAV 1484
1965/67

2. Comentário do L.G.:

Benito: A quem, como tu, bebeu a água do Tombali, nunca se poderia negar a satisfação dum pedido como teu... O Joaquim já o deu OK, nós também... O teu pedido é uma ordem... Venha de lá esse trabalho, com a honestidade intelectual e a autoridade moral que a gente te reconhece.

A verdade dos factos, acima de tudo: somos absolutamente contra a falsificação da histórica, mesmo que isso muito nos doa... Nenhum povo, nenhuma sociedade, nenhum grupo, nenhum indivíduo pode viver sob uma ficção construída na base da mentira... Sem o querer desculpar, direi que o teu capitão não fez mais do que tentar dourar a pílula!... Eu também fiz a história da minha unidade: face ao resultado final, o meu capitão ficou atrapalhado, porque eu usara informação classificada e os testemunhos dos operacionais, incluindo eu próprio...

No final, fiz como tu: distribuí, à revelia dele, cópias tiradas a stencil do documento que eu acabara de elaborar, sem qualquer censura, e distribuí a todos os milicianos... Esse é, de resto, um dos sinais premonitórios da crise das sociedades, dos regimes, das instituições: quando os seus dirigentes, a sua elite, não consegue mais enfrentar a realidade... Todos mentíamos na Guiné: o soldado aldrabava o cabo, o cabo aldabrava o furriel, este aldrabava o alferes, que por sua vez aldrabava o capitão, e por aí acima,até ao general...

No meu tempo, o Spínola tinha por hábito aparecer, sem se fazer anunciar, em muitos quartéis e destacamentos... Essa era, de resto, uma das razões por que os soldados o admiravam... O Spínola sabia que a hierarquia militar era, com honrosas excepções, uma cadeia de mentiras e de figuras de opereta...

Um Alfa Bravo dos três editores, Luís, Vinhal e Briote.

____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1673: O blogue do nosso contentamento (Benito Neves, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)


(2) Vd. post de 8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

Guiné 63/74 - P2267: Inquérito online: O que é um camarada



Imagem: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

1. Dos editores do blogue:

Assunto - Sondagem (semanal):

Concordas ou discordas da definição de camarada que dá o António Lobo Antunes (médico, psiquiatra, escritor e ex-alferes miliciano médico, em Angola, no leste, em 1971/73) ?

"Camarada não é bem irmão, amigo, companheiro, cúmplice... é uma mistura disto tudo com raiva, esperança, desespero, medo, alegria, revolta, coragem, indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas" (António Lobo Antunes, 2007) (*)

Período de votação: de 8/10 a 14/10/2007.

Escolhe uma das cinco respostas possíveis (na coluna do lado esquerdo da página principal do blogue):


Discordo totalmente (1)
Discordo (2)
Não sei / Não discordo nem concordo (3)
Concordo (4)
Concordo totalmente (5).

Houve 70 respostas válidas. A grande maioria dos respondentes (87%) concorda ou concorda totalmente com a belíssima definição do António Lobo Antunes.

3. Primeiros comentários dos nossos camaradas:


(i) J. L. Vacas de Carvalho:

Claro que concordo. Nunca uma definição de camarada, como nós a entendemos, foi tão bem descrita. E ainda hoje, 35 anos depois, sinto exactamente isso. Poderá não ser uma lágrima, mas é um abraço, poderá não ser uma revolta, mas é uma recordação, poderá não ser um desespero, mas é uma amizade. Para todos a minha camaradagem. Zé Luís.


(ii) Joaquim Mexia Alves:

Também eu concordo. E acrescento, (se é possível acrescentar ainda mais), é uma entrega: Confio-te a minha vida, e tu confias-me a tua!
Abraço camarada do



Joaquim Mexia Alves

(iii) Torcato Mendonça:

Camaradas: CONCORDO! Gostei das respostas do Vacas de Carvalho e do Mexia Alves. Quando vi, já noite dentro, o post, ia responder. Cansado, entreguei-me a Morfeu. No outro dia escrevi quatro folhas de A5. Abuso e não passei à tecla. Talvez um dia vire escrito...tem a ver, também, com a beleza e qualidade dos escritos e temas do Blogue, nas semanas que estive fora. Foram lidos e digeridos qual ruminante.

Esta definição é, quanto a mim, a cereja em cima do bolo. Sublime. Tenho a crónica do Hospital colada no Livro D'Este Viver... e esta já a colei No Meu Nome É Legião.

Transformou-se o Lobo Antunes; entende melhor quem sofre, sabe hoje a infinidade de uma noite num hospital e, na entrevista ora dada, abre-se...bem eu gosto de o ler. Não devo é escrever e chatear com uma tão longa e parva resposta. Basta dizer – CONCORDO!
Abraços Camaradas do, Torcato Mendonça



(iv) Paulo Santiago:
Numa destas quintas-feiras à tarde (compro a Visão no Sábado) uma amiga,disse-me:
- Vem uma crónica do Lobo Antunes a falar de ti e dos teus amigos.

Achei estranho,acabando por comprar a Visão com antecedência de dois dias. Fiquei tocado com aquela definição de camarada, é tudo aquilo que penso mas, não saberia descrevê-la com aquela simplicidade do autor de Fado Alexandrino.

Tal como o Zé, também me isolei, nos últimos meses de comissão, em Contabane, escapando-me às bravatas do tonto do Lourenço.
Um abraço de amizade e camaradagem
Santiago

_____________

Nota dos editores:

(*) Vd. post de 9 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2169: Antologia (63): Zé, meu camarada, eras um dos nossos e cada um de nós um dos teus (António Lobo Antunes, Visão, 4 Out 2007)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2266: Bibliografia (11): Quem conhece o Inácio Maria Góis, autor de O meu diário, CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66) ? (René Pélissier)

René Pélissier - História da Guiné: Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936. Lisboa: Editorial Estampa. 2 volumes, c. 600 pp. Preço de capa de cada volume: 14,27 € (mais IVA).

Foto das capas: Editorial Estampa (2006) (com a devida vénia...)


1. Mensagem do historiador francês René Pélissier , que muito nos honra. Apelamos à melhor colaboração de todos os amigos e camaradas da Guiné.

Prezado Senhor:

Sou o historiador e bibliógrafo francês da Guiné e não consigo encontrar um exemplar de uma edição de autor que a Biblioteca Nacional de Lisboa possui mas sem dar o endereço do autor-editor. Trata-se de:

GÓIS, Inácio Maria: O meu diário: Guiné 1964-66, Companhia de Caçadores 674 s.l. s. d. Aljustrel: Mineira. 2006. 416 pp.

Seria capaz de me dizer onde posso arranjar o livro ou pelo menos como contactar o autor? Alguém no seu blogue deve conhecer este senhor.

Muito obrigado pela sua ajuda
Melhores cumprimentos

Prof Dr René Pélissier
20 rue des Alluets
78630 Orgeval
França


2. Comentário de L.G.:

Caro René Pélissier:

Sentimo-nos muito honrados pela sua presença neste blogue colectivo sobre a guerra da Guiné (1963/74), o maior da Internet em língua portuguesa. Tudo iremos fazer para localizar o autor desta publicação. Já temos aqui alguns elementos que permitem mais facilmente localizá-lo. Por exemplo, sabemos que a Companhia de Caçadores 674 esteve em Fajonquito, no nordeste da Guiné, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri. Inclusivamente identificámos alguns dos camaradas do autor, cujo nome correcto é Inácio Maria (e não Mário...) Góis.

Além disso, o autor deve ser natural de Aljustrel, localidade do Alentejo onde foi editada a obra. Presume-se que seja uma edição de autor. A obra deve ter sido impressa na Gráfica Mineira Lda, com sede na Rua Vasco da Gama, 49, 7600-117 Aljustrel. Tel: + 351 284602569 / Fax: + 351 284602712.

O concelho de Aljustrel pertence ao distrito de Beja e é historicamente conhecido pela sua indústria extractiva. Ainda hoje as minas são o principal sector de actividade económica.

Por outro lado, o número de páginas da publicação é 416, e não 675, como por lapso você nos indicou.

Disponha sempre. Pode contactar-nos em francês, se assim o preferir.
As nossas melhores saudações. Luís Graça.
_________________

Nota dos editores:

(1) Temos na nossa tertúlia um homem, Constantino Neves, que teve um irmão, Sérgio Neves, na CCAÇ 674 (1964/66): vd. post de 24 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2127: Estórias de vida (5): Sérgio Neves, meu irmão, um homem bom (Tino Neves)

Há outros posts com referências a homens da CCAÇ 674, unidade que operou na Zona Leste, Fajonquito:

17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2185: Álbum das Glórias (31): 13 brancos maduros do Puto em almoço de homenagem a Marcelino da Mata (Abreu dos Santos)

10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)