domingo, 22 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2972: Blogoterapia (56): Porra, também somos gente, camaradas! (Mário Fitas)




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > "Foto do Gibi Baldé a quem cortaram as mãos, entre dois brancos, eu e o falecido Sargento-Mor Luís Tavares de Melo, natural dos Açores" (MF).

Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.



1. Mensagem do Mário Fitas (ex-Fur Mil da CCaç 763, Cufar, 1965/66)


Assunto - A Guerra estava militarmente perdida? Pedido de publicação urgente


Como dimensão do tempo, prolongando-se do passado ao presente, o Futuro não é pontual mas linear.O Futuro orienta-se e existe como uma prospectiva, planificação e previsão. O presente projecta-se sobre o Futuro enquanto houver capacidade real de o realizar.Nasce assim a ciência da futurologia. Assim sendo, o Futuro está consubstanciado na literatura de ficção científica, mitologias e utopias. A futurologia solicita à mente humana uma conversão do Tempo, o por-vir.

A Prudência, como correctora de toda a liberdade do homem, sendo uma virtude de razão prática contendo o conhecimento necessário para gerir a conduta humana no meio das suas próprias humanas contingências. Deve ser não só de apanágio de aplicação no ser humano.

Tudo isto começou com o P2706 do camarada Beja Santos sobre um livro do Cor Amaro Bernardo. Pelo P2711 respondi e formulei questões ao camarada Beja Santos, o qual resolveu não responder muito bem! Está no seu direito! Também nada disse sobre o P2713 do Cor Amaro Bernardo. Preferiu o P2760 do Graça Abreu.

Iria escrever um texto que julgaria interessante, mas verificando o P2966: A Guerra estava militarmente perdida? Comentário de um Guineense (Anónimo), editado pelo Virgínio Briote.
Com a Nota: Escreva Sempre...

Recuso-me! Não aceito entrar num Blogue onde haja Anónimos! Não aceito que se ofenda o mais insignificante soldado Português! Recuso-me a entrar em jogos destes! Não estou ao nível deste Anónimo.

Luís, as minhas desculpas, mas tenho direito a uma explicação no Blogue a tudo isto. Junto envio foto do Gibi Baldé, a qum cortaram as mãos, entre dois brancos, eu e o falecido Sargento-Mor Luís Tavares de Melo, natural dos Açores.

Embora o meu estado de espírito...

O abraço de Sempre do tamanho do Cumbijã

Mário Fitas


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > O Mário Fitas, ou melhor, Mário Vicente, o aclamado criador da Pami Na Dondo, a guerrilheira... Recorde-se que ele foi Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763, os Lassas de Cufar (1965/66). É natural de Elvas e ainda tem muitas histórias para contar. O pai e o avô viveram, intensamente, as repercussões da guerra civil espanhola, ali às portas de casa. Como qualquer bom alentejano, o Mário é um excelente contador de histórias.


Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


2. Comentário do editor L.G.:

Mário: Tens razão (ou até podes ter razão...) mas tens de controlar as tuas emoções... Ficaste visivelmente perturbado. E e eu entendo. Mas não podemos reagir assim. Aliás, na frente de batalha, não reagíamos assim. Felizmente que, em geral, as NT (e o nosso IN, na época) não regíam assim. Díziamos: calma, rapaz, está com a cabeça grande...



O VB decidiu, bem ou mal, publicar o comentário de um jovem guineense da diáspora... Ele, como editor, convidado por mim e com provas dadas de isenção, ponderação, bom senso, sensibilidade, experiência, cultura e um notável currículo (profissional e... operacional), tem autonomia para o fazer. Naturalmente isso não o isenta de possíveis críticas. Os editores do blogue não estão acima do resto do pessoal da Tabanca Grande...

Mário: Em princípio, não publicamos comentários anónimos (ou não devíamos)... Mas é tão raro aparecer um guineense que escreva razoavelmente o português (que é a língua materna de apenas 5% dos guineenses!)... O VB entendeu, e bem, que este comentário do tal guineense do exterior, mesmo anónimo, podia e devia ter mais visibilidade...

Deve tratar-se de um jovem quadro, que vive no exterior, e deve ter sido formado/formatado no exterior (talvez em Cuba, nos países de leste; ou porque não em Portugal ?)... Alguns deles, por terem crescido, vivido estudado em países onde não havia o pluralismo democrático (tal como não havia no Portugal dos anos quarenta/cinquenta em que nascemos...), tendem a ter uma visão ideológica, rígida, pouco crítica, do passado...



Por outro lado, alguns destes quadros guineenses (médicos, engenheiros, juristas, jornalistas, professores, etc.) que vivem no exterior, poderão ter (ou experimental) algum desconforto ou sentimento de culpa por isso mesmo, por serem relativamente privilegiados em relação ao seus irmãos que lá vivem, na miséria de Bissau ou das tabancas do interior, ao mesmo tempo que precisam de ter algum orgulho na geração dos seus pais, dos pais (e mães) fundadores da nacionalidade, de Amílcar Cabral a Pansau Na Isna, de Nino Vieira a Carmen Pereira.

Atenção: é um povo, nosso amigo, nosso irmão, que está a construir a sua identidade !... E que precisa de um mão amiga e fraterna... Vamos recusá-la ? Vamos amputá-la ?

Mário: não vamos dar muito importância a uma ou outra expressão mais excessiva... Vamos manter a cabeça fria. Não vamos puxar de novo pelas G3 e pelas Kalash... Sabes muito bem até onde, até que é tragédia, podem levar as questões de honra, de valores, de peito feito à balas...

Esquece, por favor, um ou outra expressão mais dura, mais agressiva (contra a missionação católica, por exemplo)... Não vamos responder taco a taco... Não vamos contar as cabeças cortadas... Põe-te na pele de um guineense e atravessa os últimos cinco séculos da história da Senegâmbia (onde se incluía a actual Guiné-Bissau, o Senegal, a Gâmbia, a Guiné-Conacri...) cujas fronteiras foram desenhadas a régua e esquadro pelas potências coloniais europeias, do domínio dos mandingas até à "pacificação militar" feita por homens como o Capitão Diabo (1913-1915), da subjugação dos mandingas e demais povos guineenses pelos fulas, da derrota dos fulas aos pés dos tugas, da guerra colonial ao ajuste de contas pós-independência... E já agora fala-nos do teu amigo Gibi Baldé e das atrocidades de que foi vítima, a seguir à independência, segundo presumo.

A Guiné-Bissau, tal como Portugal e os demais estados, tanto os mais antigos como os mais jovens, foi parida na dor, na violência, na conquista, na luta fraticida... Eu sei que há tabus, de que não falamos aqui, até porque sabemos pouco do que lá se passou... Quem não tem esqueletos nos armários ? Eu também gostaria de saber melhor o que se passou em Cassacá, no 1º Congresso do PAIGC, em Fevereiro de 1964, enquanto mais a sul as NT procuravam afirmar a soberania portuguesa sobre a Ilha de Como. Mas isso passou-se no seio de um movimento revolucionário, de que nemhum de nós era membro, militante ou partidário... Espero que os historiadores possam um dia contar-nos a história, sem ser por testemunhos enviesados, por portas e travessas...

O VB aproveitou entretanto para esclarer a origem deste comentário (a um poste do António Graça de Abreu) , o que no princípio não era claro... Volto a publicá-lo a seguir. Recebe um abraço do Luís, do Virgínio e do Carlos, os três mosqueteiros (ou melhor, bombeiros voluntários...).


3. Caro Guineense Anónimo no exterior:

Registamos o seu artigo, escrito sem complexos, e é sem complexos que o publicamos. E aceitamos o seu desafio: preservar a fraternidade entre os dois Povos. Escreva sempre. Mas, de preferência, dê a cara e identifique-se. Presumo que não esteve registado no Google, razão por que o seu nome não aparece no comentário. Vejo, por outro lado, que é mais jovem do que os homens e as mulheres que outrora lutaram, uns contra os outros, e que hoje se respeitam e são capazes até de se abraçar.

Por norma, não publicamos postes anónimos. Recuperámos o seu comentário, na esperança de que mais guineenses, da terra ou da diáspora, da sua geração e da geração dos seus pais, participem, com serenidade e fraternidade, neste desejável e necessário diálogo sobre o passado, o presente e o futuro dos nossos povos.

Caro amigo guineense da diáspora: Não sei onde vive. Há muito que enterrámos as lanças de combate. Não vamos agora abrir feridas cicatrizadas. Respeitemos a memória daqueles de nós, de um lado e de outro, que morreram na guerra do ultramar/guerra colonial/luta de libertação. Mesmo entre nós, portugueses, há ainda questões que nos fracturam e dividem.

Não é fácil nem confortável fazer o balanço das nossas relações históricas. Por nós, como sabe, recusamos o princípio (monstruoso) da responsabilidade colectiva dos povos... Aplicado à Guiné-Bissau isso iria novamente lançar povos contra outros povos: os mandingas contra os fulas, os fulas contra os balantas, os guineenses que colaboram com o esclavagismo e o colonialismo contra as suas vítimas, e por aí fora... Aprendamos a ler a história, aprendamos com a história, não cometamos os mesmos erros das nossas elites do passado...

Mantenhas. O editor Virgínio Briote.

4. Comentário final, com data de hoje, do Mário Fitas:

Luís, tens absoluta razão em tudo o que dizes, mas também somos gente, e talvez colonizados de uma maneira mais cruel, que é de nos levarem (como País) a baixarmos as calças a tudo quanto é grande.

Não há muito, escrevi e assumo-o para um jornal: Depois de D. João II e de Camões, o pouco que nos resta, é actualidade de Eça de Queiroz e a eternidade da 'Porca' do Bordalo Pinheiro.

Há coisas injustas, na Guiné nós trabalhámos a argila, o Barro. Na Guiné, não havia colonos brancos... Os militares que lá estiveram? É verdade que poderiam ter fugido para França, Alemanha, etc. para toda a Europa! Mas como?...No entanto, ensinaram a ler e deram de comer e alegrias aos Guineenses.

Daquilo que eu iria escrever, constava a autorização do Pansau para o pessoal [da Ilha]do Como ir vender arroz a Catió, para poder ter alguns proventos. Isto porque o Nino se tinha ausentado do Cantanhez para Conacri. Sensibilidades diferentes, e que fazem parte da História dos nossos Povos. Como sabes, e para quem não sabia aqui fica a informação, toda a produção de arroz era obrigatóriamente entregue para o Cantanhez.

Eu não deveria escrever isto, porque não estive na Guiné! Mas, como um fantasma que por lá passou entre 1965 e 1966 me contou, olha aí vai como foi a Pami na Dondo. É que, por vezes, não damos atenção ao que se escreve no Blogue. Mas lá consta da herança de Spínola, em 1968. Os cinco anos para trás, foram excursões de férias!

Tenho pena de não ter o recorte fino do Alberto Branquinho, com palavras simples (e fotos) ele vai demonstrando tudo, com uma postura extraordinária, não mostrando o seu âmbigo.

Luís, as minhas desculpas, eu sei que tu e os dois homens que te acompanham são pessoas com uma extrema sensibilidade e cultura, não tendo culpa em nada do que se está a passar. Mas há gente que pensa que somos... mentecaptos.

Como calculas que se encontrarão o homem extraordinário que é o Mexia Alves, e o homem da escrita Graça de Abreu ?

Mais uma vez as minhas desculpas, e solicito, é para publicar no blogue, pode este escrito também ser agregado. Sou Alentejano de coluna direita, assumo tudo o que escrevo e falo.

Como sempre e extensivo a toda a Tabanca Grande o velho e forte Abraço do tamanho do Cumbijã

Mário Fitas

1 comentário:

Anónimo disse...

Claro que não sou merecedor de tal elogio, mas sou grato, muito grato, (foi assim que o meu pai me ensinou), e por isso aqui deixo um abraço forte e amigo ao Mário Fitas, do tamanho da minha emoção.
Joaquim Mexia Alves