sexta-feira, 27 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2991: Com os páras da CCP 122 / BCP 12 no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (7): Depoimento do José Casimiro Carvalho

1. Mensagem, com data de 13 de Maio último, do José Casimiro Carvalho , ex- Fur Mil Op Especiais, CCAV 8350, os Piratas de Guileje (1972/73) :


Ora, tendo eu lido na íntegra o texto que me foi enviado (1), só posso tentar rebuscar na minha memória o que ela me faculta, ou seja:

A hierarquia dos páras eu não posso comentar. Os actos heróicos e/ou de cobardia também não, mas umas verdades este homem diz, tais como as condições desumanas e cruéis em que estávamos colocados, a emboscada a uma patrulha , da qual eu era 2º cmdt, onde morreu o alferes Branco, 1 cabo e dois soldados, além de um ferido (o "pica") africano, que levou um tiro no cú.

Essa patrulha foi constituída ad hoc, com cerca de 16 homens, dois dos quais eu dispensei, pois eram 2 miúdos que se tinham oferecidos como voluntários. Saímos portanto 14 homens (!!!).

O estado dos cadáveres foi retratado tal e qual no texto, a emboscada em que caíram os páras foi interminável, com muitos RPG e dilagramas à mistura. Regressaram com cerca de desasseis feridos, um dos quais um sargento com um tiro numa perna, e que...sorria, pasme-se

A cena das salgadeiras foi verdade, pois até nós nos rimos de tanta urna sem ter ocupantes para elas e depois...foram insuficientes. Os mortos eram regados com creolina, na enfermaria, tal a putrefacção.

A fome, a sede, o cansaço e a desmoralização eram totais. Embora o autor tenha dito que o pessoal não saía das valas, eu acho que foi o contrário, o pessoal fugiu na maioria para o mato pois no quartel era onde caía a metralha.

Fui ferído em combate e fui evacuado ,e bem, pois fui num patrulha, o Orion, julgo eu, onde fui tratado e apaparicado pela Marinha. Fui para Cacine, donde mais tarde me ofereci voluntariamente para regressar ao "inferno", e aí o autor tem razão, eu não sei se foi um acto heróico ou de loucura, mas fui.

Imperava a lei do desenrasca, roubava-se e comprava-se cabritinhos aos pretos que eram cozinhados em bidões. Quando havia morteirada, eram esventrados bidões com vinho e o pessoal deitava-se por baixo com a boca aberta... Patético, mas verdadeiro. De um a dez em verdades, eu dava 7 ao autor.

O Rebocho (2) sabe bem do que se fala neste texto, duma boa parte pelo menos.

Um abraço

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Nota dos editores:


(1) Vd. os dois primeiros postes desta série:

4 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2915: Com os páras da CCP 122/ BCP 12, no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (1): Aquilo parecia um filme do Vietname

5 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2917: Com os páras da CCP 122/BCP 12 no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (2): Quase meia centena de mortos... Para quê e porquê ?

(2) Vd. poste de 20 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2969: Com os páras da CCP 122 / BCP 12, no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (6): O grande comandante Araújo e Sá (Manuel Rebocho)

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