sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3155: Bibliografia (29): Ainda o "Rumo a Fulacunda" e o ex-Alf Mil Luís Rainha (Carlos Vinhal/Luís Rainha/Rui Ferreira)

1. Pretende o nosso Blogue ser um dos veículos para que seja reposta a verdade e o bom nome do ex-Alf Mil Luís Rainha, Comandante do Grupo de Comandos Centuriões, tratado indevidamente no livro Rumo a Fulacunda de autoria do nosso Tertuliano Rui A. Ferreira.

Assumimos esta responsabilidade porque:

i - No nosso Blogue foi dada certa notoriedade a este livro, embora tardiamente, já que o lançamento do mesmo se verificou no ano 2000.

ii - Parte dos nossos tertulianos, e leitores ex-combatentes da Guiné, o terão comprado para ler.

Felizmente, e porque temos algum cuidado em proteger as pessoas quando visadas com o nome próprio, não foi publicado no nosso Blogue qualquer parte do livro que ofendesse o bom nome do nosso camarada Luís Rainha ou outro qualquer ex-combatente.

Pensamos, com este poste dar por encerrada a nossa colaboração na compensação moral que o ex-Alf Mil Luís Rainha exigia e tinha direito, desejando que nunca mais se venham a verificar no nosso Blogue ou em algum livro bibliográfico da nossa Guerra Colonial, caso semelhante.

Carlos Vinhal
Co-editor


2. Mensagem do Luís Rainha (1), ex-Alf Mil, dirigida a Luís Graça em 25 de Agosto de 2008

Ex.mo Senhor Dr. Luis Graça

Dig.mo Criador, Editor e Administrador do Blogueforanadaevaotres

Assunto: Livro RUMO A FULACUNDA da autoria do T.Coronel Rui A. Ferreira

Chamo-me Luís Rainha, estive na Guiné, primeiro como Alf Mil do BCAV 705 e, mais tarde, nos Comandos do CTIG como Comandante do Gr Cmds Centuriões.

O que me leva a escrever-lhe é o recente conhecimento que tive da publicação do livro Rumo a Fulacunda escrito pelo Ten-Coronel Rui Alexandrino Ferreira, ao qual tem sido feita publicidade no Blogue.

Tinha, em tempos, ouvido algo sobre esse livro através do meu Camarada e Companheiro de Armas, Virgínio Briote e agora, de uma forma mais precisa através do Júlio Abreu, meu antigo Camarada dos Centuriões, que referiu ser o meu nome citado através de umas peripécias que, segundo o T.Coronel Rui A. Ferreira, teriam ocorrido comigo.

Naturalmente curioso entrei em contacto com a Editora Palimage, procurando saber onde o poderia adquirir. Dois ou três dias depois fui contactado pelo T.Coronel Rui A. Ferreira, que logo se prontificou a enviar-me a publicação.

Acabo de o ler e estou estupefacto ao ver o meu nome aparecer associado a eventuais factos que, segundo Rui Alexandrino Ferreira, teriam ocorrido comigo em determinada zona da Guiné.

Se tal facto ocorreu, quero afirmar aqui que não fui eu o protagonista nem me lembro de ter ouvido qualquer referência a tal acontecimento. Nem das minhas andanças pela Guiné me lembro de alguma vez me ter cruzado com o então Alferes Rui Ferreira.

Aliás, ao continuar a ler voltei a ficar surpreendido com uma passagem que o T.Coronel Rui A. Ferreira escreveu a respeito de um Camarada que muito bem conheci, o então Tenente Maurício Saraiva, que foi meu Instrutor e Camarada de Armas e que muito apreciei.

O senhor T.Coronel Rui A. Ferreira, ao telefone, referiu-me ter ouvido dizer que o Maurício Saraiva teria algures na Guiné um armazém ou arrecadação onde terá guardado armas apreendidas ao PAIGC e do qual se foi socorrendo ao longo da comissão nos Comandos, o que lhe terá servido para as numerosas condecorações que lhe foram atribuídas ao longo das comissões na Guiné e em Moçambique.

Como é que o senhor T. Coronel Rui Alexandrino Ferreira publica um livro com base em histórias que, segundo diz, terá ouvido?

O Maurício Saraiva (3) já cá não está para pedir as provas. Não me foi passada procuração pela mulher e filho para o defender, nem preciso, basta-me ter participado com ele em várias operações e ter apreciado as suas excepcionais qualidades de liderança em situações de combate, que aliás levaram as autoridades militares de então a condecorá-lo com Cruzes de Guerra, Valor Militar e a Torre e Espada.

Cabe aqui acrescentar um facto de que tive conhecimento muitos anos mais tarde. Após os acontecimentos do 11 de Março, o Maurício Saraiva pediu a demissão alegando não se reconhecer no Exército de então. Abandonou o País com um filho ainda pequeno, sem emprego e deficiente após meia dúzia de cirurgias de reconstituição de uma perna, resultante de uma mina A/P. E foi muito depois da situação político-militar estar estabilizada que, a pedido de vários Camaradas o Ministério do Exército procedeu à sua reintegração.

O livro Rumo a Fulacunda, para referir apenas as passagens que me dizem directamente respeito, não me pode assim merecer grande crédito. Custa-me a aceitar que um antigo Camarada escreva um livro com base no que se dizia na esplanada do Bento e, mais me custa ver os nomes de antigos Camaradas ligados a possíveis factos com os quais nada tiveram a ver. É pena, porque foi perdida uma oportunidade de abordar com seriedade e isenção aqueles anos dos inícios da Guerra na Guiné.

Dirijo-me ao blogue na convicção e na esperança de que uma parte dos leitores do Rumo a Fulacunda fazem parte da admirável Tertúlia de Camaradas da Guiné e, pelo menos nestes eu possa de alguma forma minorar os estragos que o livro me está a trazer.

Espero a compreensão dos editores e agradeço que publiquem esta pequena mensagem.

Recebam um abraço deste Camarada de armas que ainda hoje sofre por tudo aquilo que passámos.

Luís Manuel Nobreza D’Almeida Rainha
regisreginae@hotmail.com


3. Mensagem do nosso tertuliano Rui A. Ferreira, autor de Rumo a Fulacunda, com data de 21 de Agosto de 2008, enviada ao Luís Graça e já publicada no poste 3144 do dia 22 de Agosto passado, que publicamos novamente para esclarecimento total e definitivo deste lamentável incidente.

Assunto: Rumo a Fulacunda

Meu caro Luís

Todos os esclarecimentos para a verdade são importantes. Os que implicam com o bom-nome a que todos temos direito, ainda o são mais.

E tudo isto, porquê?

Sucedeu-me, e se assumo quanto a isso a responsabilidade do que escrevi, mantendo como verdadeiro e absolutamente coincidente com a realidade, sobre a actuação do grupo de comandos da Companhia de Comandos da Guiné, que em Dezembro de 1965, em reforço da CCAÇ 1420, deu de si fraca mostra do seu valor, mas lamentavelmente confundindo o grupo de Centuriões com o dos Vampiros, atribuí o seu comando ao então Alferes Rainha e não ao outro cujo nome não refiro, porque já não pertence a este mundo. (Quem pertenceu àquela Unidade sabe bem de quem se trata ou tratava).

Pela manifesta falta de rigor nessa troca de nomes de que efectivamente aquele se sente lesado, publicamente lhe peço as mais sentidas desculpas bem como lhe garanto que no próximo livro, que tenho em laboração referente à segunda comissão que cumpri na Guiné, as primeiras palavras serão para repor a verdade.

Agradeço que publiques esta mensagem o mais rápido que te for possível.

Um grande abraço,
Rui Ferreira

OBS:-Sublinhados da responsabilidade do editor CV
________________

Notas dos editores:

(1) - O Alf Mil Luís Rainha depois do C.O.M. em Mafra, fez um estágio de Educação Física Militar e frequentou com aproveitamento o Curso de Op Especiais.
Colocado no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa, foi incorporado no BCAV 705/CCAV 704 e mobilizado para a Guiné. Os primeiros meses passou-os na CCAV 704 e os restantes nos Comandos do CTIG.
Foi formado pelos então Major Monteiro Dinis, Cap Nuno Rubim, Alfs Mil Justino Godinho, Pombo dos Santos e Maurício Saraiva, Sargento Mário Dias e Furriel Miranda (participantes na Op. Tridente, com excepção dos dois primeiros) e foi contemporâneo dos Alfs António Vilaça, Neves da Silva, Vítor Caldeira, V. Briote e do então Cap Garcia Leandro.
Foram-lhe atribuídos dois louvores, um ao serviço do BCAV 705 e outro ao serviço dos Comandos do CTIG atribuído pelo Comandante Militar da Guiné e mais tarde foi condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª Classe.

(2) - Ver poste de 22 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3144: Dando a mão à palmatória (15): Alf Mil Rainha era comandante do Gr Cmds Centuriões (Rui A. Ferreira)

(3) - O editor Virgínio Briote tem em preparação um trabalho sobre o Cor Maurício Saraiva para a série do nosso Blogue, Tugas - Quem é quem.

2 comentários:

Anónimo disse...

Um livro óptimo para ficar guardado nos arquivos do sótão e ser publicado talvez em 2050.
E aí sim juntar dois ou três historiadores e tinham tema para um grande debate.
Porque no reino dos vivos já não havia quem pudesse dizer,
(eu estava lá) e repor a realidade da história.
A verdade é muito bonita.
Um abraço
Colaço

Anónimo disse...

parabéns ao Carlos Vinhal pela forma serena e firme como conduziu este infeliz incidente.