domingo, 5 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3270: O meu baptismo de fogo (3): Catió, 6 de Junho de 1968 (Jorge Teixeira)




1. Mensagem do Jorge Teixeira, ex-Fur Mil que esteve na Guiné entre 1968/70, para o editor Carlos Esteves Vinhal, com data de 1 de Outubro de 2008

Assunto - Meu Baptismo de Fogo




O meu baptismo de fogo
Catió, 6.06.1968


Cheguei ao largo de Bissau a 6 de Maio de 1968. Fui embarcado num batelão ou LDM, já não me lembro, e desembarcaram-me em Bolama.

Cerca de 15 depois, meteram-me noutro batelão e fui parar a Catió.

Parece, segundo me lembro de contos contados, que nunca Catió havia sido flagelada no tempo da CCS do BART 1913 (1967/69). O meu pelotão de canhões sem recuo era um adido, se bem me lembro chamava-se reforço, desta companhia.

Andei por ali a fazer um treino operacional com o Alferes Ganhão, hoje presidente de uma Camara lá pelo Ribatejo - e como bom alferes com 12 meses de mato (?), nem me conhecia. E também como bom medricas que era, só aprendi a ser desenfiado. Não que ele trocasse alguma conversa comigo, mas pelo que tive de seguir os poucos homens do seu pelotão que enquadraram o meu por uns dias.

Aliás, os Alferes operacionais (?) desta CCS eram cá uns meninos lindos que nem vos conto. Mas isso são outras estórias da história.

No dia 6 de Junho [de 1968] depois do jantar, estava entretido numa converseta com o Rijo, sempre desplicente, de camisa aberta, calções e chinelos, o André e mais um ou dois furrieis velhinhos, na messe antiga de Catió, quando ouvimos uns barulhos.
- Que é esta merda ? - disseram. Acho que foi o André pois era o seu estilo.
- Foda-se, que é ataque - disse alguém.

Corremos todos para o posto onde estava um dos meus canhões e eu perguntei:
- E agora ? - Resposta:
- Sei lá, caralho.

Ninguém sabia o que fazer. Bom, ficámos por ali à espera que alguém desse alguma ordem, que nunca chegou. Lembro-me de muitos rebentamentos e de ver passar as tracejantes e o traaaataaataaa, do que eles diziam ser as costureirinhas. Presumo que deve ter sido coisa de meia hora. Lembro de ter perguntado no final:
- Isto foi um ataque?

Responderam-me, não sei quem:
- Foda-se, nunca houve nada igual.

Conclusão: houve uns feridos ligeiros, mas na população a maior gravidade foi na professora, senhora de boas carnes, que lhe entrou um estilhaço ali bem próximo do pipi. Quem melhor pode dizer e explicar os despoooiiisss, é o Amilcar, se ainda andar por cá, pois foi ele que tratou a senhora.

Este foi o meu baptismo. Se for de interesse, tem-lo aí.

Olha, o numero do batalhão e da CCS não tenho a certeza se é esse. Pedi ao Victor Condeço , a cabecinha pensadora, para confirmar (**). Mas o rapaz está entretido a mandar emails com piadinhas do Sócrates que nem dá fé. Mas acho que nem é importante.

Um abraço camarada
Jorge / Portojo

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Notas de CV:

(*) Vd.poste de 7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3180: Tabanca Grande (84): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil, Guiné, 1968/70

(**) Ex-fur mil da CCS do BART 1913, Catió, 1967/69...

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