quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3484: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (6): Relatório de treino operacional

1. Mensagem do nosso camarada Ferreira Neto, ex-Cap Mil da CART 2340, (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), com data de 15 de Novembro de 2008:

Caro Vinhal:
Continuando a rebuscar as minhas coisas, eis que topo o meu relatório de 17 de Dezembro de 1967, referente ao treino operacional antes da partida para a Guiné.
Cumprimentos generalizados
F. Neto


RELATÓRIO

1. Especialidade da Escola de Recrutas

1 - Deficiências notadas

1.1 - Má preparação dos recrutas apresentados para frequentar a parte da especialidade. Esta má preparação da parte geral notou-se até na simples marcha e ordem unida, factores estes que indicam a falta de disciplina.

1.2 - A instrução da especialidade não pode ser dada em boas condições, pelo facto de não haver instalações adequadas no quartel, mormente nas primeiras semanas em que houve sobreposição com o batalhão da escola anterior. Por este motivo o pessoal só pode dispor de armamento e das instalações, depois da partida do pessoal do batalhão.

1.3 - Houve prejuízo na instrução motivada pela festa de despedida do pessoal do batalhão.

1.4 - A falta de locais apropriados para a instrução, principalmente no que se refere a parte da táctica, foi compensada embora tardiamente nas duas últimas semanas, pelo facto de passar a ser ministrada no campo, fora do quartel.

1.5 - A falta do armamento (metralhadoras, lança-granadas, morteiros), motivou perturbações na instrução, que se resolveu, alterando os horários de instrução das companhias, de forma a todas se poderem servir do armamento disponível.

2 - Instrução de aperfeiçoamento operacional – IAO

Após a semana de preparação com vista à deslocação para o campo onde se fariam os exercícios, e em que se fez o tiro na pista de combate, deslocou-se a companhia para a zona de estacionamento a cerca de 10km do quartel. Foram postos à disposição da companhia os seguintes materiais: Material de acampamento que foi suficiente, cozinha rodada, rádios, munições, viaturas e explosivos. As deficiências foram notórias, mormente no que respeita:

2.1 - Viaturas
3 GMC sem cobertura, uma das quais funcionando em más condições. A viatura para reconhecimento não esteve totalmente à disposição da companhia o que motivou que não se pudessem fazer a maior parte dos reconhecimentos para os exercícios. Não foi fornecido um autotanque para a companhia, sendo o abastecimento de água durante a maior parte do tempo feito por uma só viatura para as três companhias. No entanto o abastecimento foi bem planeado ao ponto de não se fazer sentir a falta de água.

2.2 – Armamento
A parte de armamento pesado (lança granadas, morteiros, metralhadoras, etc.) não foi fornecida, sendo as razões alegadas a sua possível deterioração durante os exercícios. Todos os soldados foram armados de espingarda Mauser, tendo os graduados espingarda automática G3.

2.3 – Munições
Foram recebidas instruções para evitar ao máximo o seu consumo.

2.2 – Explosivos
Foram fornecidos em quantidade razoável.

2.3 – Rádios
Foram fornecidos três rádios, um THC, um NA/PRC e um outro de tipo desconhecido para os operadores.
É certo que todos eles podiam fazer a ligação entre si, mas até uma distância não superior a 2km.
Por este motivo não foi possível tirar rendimento dos exercícios mormente na parte de ligação, como também não foi possível manter o aquartelamento (PC) informado acerca das operações efectuadas pelos pelotões empenhados nos exercícios.
Todos os exercícios foram planeados de véspera, bem como criticados após a sua execução.

No dia 27, fez-se o deslocamento para a zona de estacionamento n.º 1, a 10km do quartel, fez-se a instalação e montagem do dispositivo de segurança. Durante a instalação houve flagelação ao acampamento, tendo o pessoal actuado em conformidade. Durante a refeição houve novos ataques.

Dia 28, deslocamento de dois pelotões para o contacto com o inimigo e o consequente ataque.

Dia 29, montou-se uma série de emboscadas, tendo duas delas funcionado, a 1.ª com êxito, uma segunda foi um fracasso devido à má posição das forças empenhadas. Neste mesmo dia, dois pelotões fizeram o patrulhamento de itinerários, dentro da zona de acção da companhia.

Dia 30, foram efectuados dois golpes de mão distintos, o pessoal empenhado nas acções foram dois pelotões, tendo duas secções de um terceiro pelotão simbolizado o inimigo.
Neste mesmo dia iniciou-se a nomadização à base de dois pelotões, esta nomadização prolongou-se até ao dia seguinte. Este exercício não teve um carácter real, uma vez que devido a dificuldades logísticas não foi possível deslocar a cozinha rodada a fim de alimentar o pessoal empenhado na acção. Desta forma o pessoal às horas da refeição regressava ao acampamento, sendo o exercício neutralizado durante este período. Se houvesse rações de combate distribuídas, seria possível tirar maior rendimento do exercício.

Dia 2 de Dezembro, organizou-se a protecção de pontos sensíveis, sendo o ponto escolhido a fábrica de pimentão, próxima da estação de Torres Novas. Foi talvez o exercício melhor executado no aspecto técnico. Duas secções simbolizando o inimigo não conseguiram danificar o objectivo. As forças empenhadas na defesa foram dois pelotões.

Dia 3, foi destinado a limpeza do material e descanso do pessoal. Aproveitou-se para fazer crítica construtiva acerca dos exercícios efectuados durante a semana.

Dia 4, a companhia deslocou-se para o local de estacionamento n.º 2, a 20km do quartel. Fez a sua instalação e montou o seu dispositivo de segurança.

Dia 5, iniciou-se a nomadização da companhia que foi guiada pelo Cmdt respectivo. Este exercício foi de bastante utilidade. Devido às mesmas dificuldades logísticas, este exercício foi interrompido a fim do pessoal se alimentar.
Devido à alteração do horário, os exercícios de limpeza de uma zona e limpeza de uma povoação não se efectuaram. O pessoal continuou a sua nomadização durante toda a noite de dia 5 para o dia 6, regressando cerca das 8H00 ao acampamento.
Cerca das 16H00, houve uma demonstração sobre a forma de o pessoal se aproximar a um helicóptero.
Seguindo-se pelas 18H30, o deslocamento da companhia para o GACA 2.

Dia 7, durante a manhã, na serra do Aire, o pessoal do pelotão de acompanhamento, fez fogo real com morteiro e lança granadas foguete.
Durante a tarde estava previsto o lançamento de granadas, ofensivas e defensivas, devido ao adiantado da hora não se pode realizar.
Todos os exercícios no campo foram completados com acções do inimigo.

Quartel em Torres Novas, 17 de Dezembro de 1967

O Cmd da Cia. 2340
Joaquim Lúcio Ferreira Neto
Cap mil Art.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P2101: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (5): Punições e Louvores

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